Antônio Chimango
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Poema campestre de sátira política que surgiu entre 1910 e 1915 , com pseudo-autoria de Amaro Juvenal (pseudônimo), e atribuído a Ramiro Barcellos, inimigo político de Antônio Borges de Medeiros. Adota o estilo do poema platino Martin Fierro, em que há uma narração crítica e jocosa de fatos que se passam no dia-a-dia de uma estância. Em Antônio Chimango, entretanto, o autor agudiza a crítica política. Borges e os borgistas eram chamdos de chimangos pelos opositores. Borges era apresentado graficamente como uma ave com roupagem gauchesca; posteriormente verificou-se o desenho da ave ser uma possível adaptação de uma figura publicada à época pelo Almanaque Bertrand, editado em Portugal; entretanto a semelhança dos personagens não passa da aparência gráfica.
A obra tem publicações recentes por diferentes editoras.
Trecho da obra bastante citado:
"C’o tempo o coronel Prates*,
Se foi sentindo pesado;
Tinha muito trabalhado
Naquela vida campestre,
Onde ele, com mão de mestre,
Tinha tudo preparado.
Um dia chamou o Chimango**
E disse: “Escuta, rapaz,
Vais ser o meu capataz;
Mas, tem uma condição:
As rédeas na minha mão,
Governando por detrás.
(...)
Sei que tu és maturrango,
Porém, dou-te a preferência.
Nisto está minha ciência,
Escolhendo-te entre os outros;
Eles sabem domar potros,
Mas, tu tens a obediência.
(...)
Então chamou o Aureliano,
Pardo velho muito antigo,
Que conservava consigo
Assim como secretário;
Espécie de relicário
De família, muito amigo.
“Tu, que és um conhecedor
De como tudo se faz,
Ensina-me a esse rapaz
As manhas de governar,
Que ele vai desempenhar
O cargo de capataz.”
(...)
À sombra de uma figueira
Sentados num cabeçalho,
O Aureliano, sem atalho,
Disse: “Agora, meu menino,
Eu te vou dar o ensino
Do que aprendi no trabalho.
(...)
Quando um erro cometeres
(O que bem se pode dar)
Não deves ignorar
Como se sai da rascada:
A culpa é da peonada;
O patrão não pode errar.
Quando vires um peão,
Mesmo o melhor no serviço,
Ir pretendendo por isso
Adquirir importância...
Bota pra fora da Estância,
Mas, sem fazer rebuliço.”
(...)
Um dia..., ansim de repente,
Esta notícia correu:
– O coronel Prates morreu!
(...)
Pobre Estância de São Pedro***
Que tanta fama gozaste!
Como assim te transformaste
Dentro de tão poucos anos,
De destinos tão tiranos
Não há ninguém que te afaste!
(...)
Na mão do triste Chimango
O arvoredo está no mato;
O gado... é só carrapato;
O campo... cheio de praga.
Tudo depressa se estraga,
No poder de um insensato.
(...)
E ansim, tudo na Estância
Vai mermando devagar,
Tudo de pernas pra o ar,
Nem tem mais vergonha a gente;
Mas, o Chimango... contente
Que é coisa de admirar!"
(*) Pode ser referência a Júlio Prates de Castilhos
(**) Pode ser referência a Borges de Medeiros
(***) Pode ser referência ao estado do Rio Grande do Sul