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Fernão Mendes Pinto

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Fernão Mendes Pinto
Fernão Mendes Pinto

Fernao Mendes Pinto (Montemor-o-Velho, 1509Almada, Pragal 8 de Julho de 1583) foi um aventureiro e explorador português.

Passa por ter feito parte da primeira expedição portuguesa que logrou alcançar o Japão, em 1543, sendo como tal um dos responsáveis pela introdução das armas de fogo naquele país.

Ainda pequeno, um seu tio levou-o para Lisboa onde o pôs ao serviço na casa de D. Jorge de Lencastre, Duque de Aveiro, filho do rei D. João II. Manteve-se aqui durante cerca de cinco anos, dois dos quais como moço de câmara do próprio D. Jorge, facto importante para a comprovação da sua descendência de uma classe social que contradizia a precária situação económica que a família então detinha.

Em 1537, parte para a Índia, ao encontro dos seus dois irmãos. De acordo com os relatos da sua obra Peregrinação, em 1538 foi numa expedição ao mar Vermelho participando num combate naval com os otomanos, ficando prisioneiro, foi vendido a um grego e por este a um judeu que o levou para Ormuz, onde foi resgatado pelos portugueses.

Acompanhou a Malaca Pedro de Faria, de onde fez o ponto de partida para as suas aventuras, tendo percorrido, durante 21 acidentados anos, as costas da Birmânia, Sião, arquipélago de Sunda, Molucas, China e Japão. Numa das suas viagens a este país conheceu S. Francisco Xavier e, influenciado pela personalidade, decidiu entrar para a Companhia de Jesus e promover uma missão jesuíta no Japão.

Em 1554, depois de libertar os seus escravos, vai para o Japão como noviço da Companhia de Jesus e como embaixador do vice-rei D. Afonso de Noronha junto do rei de Bungo. Esta viagem constituiu um desencanto para ele, quer no que se refere ao comportamento do seu companheiro, quer no que respeita ao comportamento da própria Companhia. Desgostoso, abandona o noviciado e regressa a Portugal.

Com a ajuda do ex-governador da Índia Francisco Barreto, conseguiu arranjar documentos comprovativos dos sacrifícios realizados pela pátria, que lhe deram direito a uma tença, nunca recebida. Desiludido, foi para Vale de Rosal, em Almada, onde se manteve até à morte e onde escreveu, entre 1570 e 1578, a obra que nos legou, a sua inimitável Peregrinação. Esta só viria a ser publicada 20 anos após a morte do autor, receando-se que o original tenha sofrido alterações às quais não seriam alheios os Jesuítas.

Deixou-nos um relato tão fantástico do que viveu (a Peregrinação, publicada postumamente em 1614), que durante muito tempo não se acreditou na sua veracidade; de tal modo que até se fazia um jocoso dito com o seu nome: Fernão Mendes Minto, ou então ainda: Fernão, mentes? Minto!.

[editar] Análise do contexto de produção da Peregrinação

Mendes Pinto fora contemporâneo do auge da expansão marítima portuguesa e da paradoxal decadência interna que assolava as terras lusitanas. Chega a presenciar a unificação de Portugal com a Espanha sob o governo de Felipe II de Espanha (1556-1598). A presença da Inquisição fez-se particularmente forte nesse período, promulgada por decreto papal de Paulo II em 1536, um ano antes da partida do autor, e efetivada em 1547, sob a instância de D. João III.

Acredita-se que a Peregrinação tenha começado a ser escrita entre 1569 e 1578, sendo esta última data referida na própria obra. O texto original foi deixado a Casa Pia dos Penitentes que irão publicá-lo 31 anos após a morte de seu escritor. Tamanha demora em sua publicação é creditada ao temor de Mendes Pinto frente à Inquisição.

De fato o temor de Pinto provou-se justificado uma vez que a versão impressa tem muitas sentenças apagadas e “corrigidas”. Mais gritante ainda é o completo desaparecimento de referências a Companhia de Jesus, uma das mais ativas ordens religiosas no Oriente, e que possuía claras relações com Fernão Mendes Pinto. O tamanho da obra também era um obstáculo considerável naquela época, ainda mais sem o auxílio financeiro de nenhuma instituição ou mecenas.

Independente disso a Casa Pia submete os escritos de Pinto ao crivo da Inquisição, que o aprova em 1603, o mesmo ano em que o processo de análise se iniciou. Somente em 1614 o famoso editor Pedro Calrbeck aceita a empreitada, ainda que o contexto da época não lhe fosse favorável. O livro, organizado pelo frei Belchior Faria, fora publicado com o seguinte título (na íntegra e em português arcaico): "Peregrinaçam de Fernam Mendez Pinto em que da conta de muytas e muyto estranhas cousas que vio & ouvio no reyno da China, no da Tartaria, no de Sornau, que vulgarmente se chama de Sião, no de Calaminhan, no do Pegù, no de Martauão, & em outros muytos reynos & senhorios das partes Orientais, de que nestas nossas do Occidente ha muyto pouca ou nenhua noticia. E tambem da conta de muytos casos particulares que acontecerão assi a elle como a outras muytas pessoas. E no fim della trata brevemente de alguas cousas, & da morte do Santo Padre Francisco Xavier, unica luz & resplandor daquellas partes do Oriente, & reitor nellas universal da Companhia de Iesus."

Pesavam contra a obra o grande distanciamento temporal e as drásticas mudanças no cenário oriental que Fernão Mendes presenciara e o daquele momento, com as fortes presenças dos ingleses e holandeses na região. Além disso, seus escritos fariam concorrência com autores muito mais recentes e eruditos, como João de Barros, Luís Vaz Camões e Castanheda. A Peregrinação deixara de tratar de um assunto de momento para se tornar a descrição de um tempo passado.

Contrariando as expectativas, a Peregrinação torna-se um sucesso recebendo 19 edições em seis línguas. Abrem-se imediatamente discussões a respeito da veracidade dos eventos narrados. Essa questão é trabalhada por autores como P.G. Adams, Mary Campbell, Maurice Collis e A. Pagden, não se limitando apenas à Peregrinação, mas abrangendo o gênero de relatos de viagem como um todo. Serão levantadas dúvidas e questionamentos que resultarão em uma delimitação mais profunda entre o registro histórico e a ficção.

Percebe-se com isso uma clara mudança nos referenciais da narrativa, não mais os mesmos pelos quais Mendes Pinto se pautava. Já não era mais suficiente para o leitor desse tempo a alegoria medieval. Ele agora exigia uma factualidade efetiva e comprovável, pois ele se sentia estimulado a ir ver por conta própria essas terras desconhecidas e explorar suas riquezas. Nesse contexto, a precisão do testemunho ocular fazia-se fundamental.

[editar] Ver também

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