Movimento zapatista
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- Nota: Se procura outros significados, consulte Zapatista (desambiguação).
O Movimento Zapatista inspirou-se na luta de Emiliano Zapata contra o regime autocrático de Porfirio Díaz que encadeou a Revolução Mexicana em 1910. Os zapatistas tiveram mais visibilidade para o grande público a partir de 1 de janeiro de 1994 quando se mostraram para além das montanhas de Chiapas com capuzes pretos e armas nas mãos dizendo Ya Basta! (Já Basta!) contra o NAFTA (acordo de livre comércio entre México, Estados Unidos e Canadá) que foi criado na mesma data.
O movimento defende uma gestão democrática do território, a participação direta da população, a partilha da terra e da colheita.
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[editar] Histórico
Depois da revolução mexicana e a derrubada do regime ditatorial de Porfirio Díaz o México entrou em conflitos internos durante mais de duas décadas. No fim da revolução, o Partido Revolucionário Institucional (PRI) tomou o poder e controlou o país até as eleições de 2000, quando foi eleito o presidente Vicente Fox do Partido da Ação Nacional.
Um marco histórico para o movimento foi a marcha dos zapatistas percorrendo 6.000 quilômetros em 37 dias passando por 13 estados do México até à capital Cidade do México, onde tinha reunião marcada com o presidente Vicente Fox, contando com personalidades como José Saramago, Manuel Vázquez Montalbán, Bernard Cassen, Alain Touraine, Carlos Monsivais, Elena Poniatowska, Carlos Montemayor e Pablo González Casanova. Marcos disse que foi uma caminhada [1] "das montanhas do sudeste mexicano a construção de um novo mundo".
Naomi Klein em matéria para o The Guardian[2] não parecia nem um pouco com um líder-político com um discurso populista como a história da América Latina nos lembra bem, e sim, com a magia de um poeta.
Ao fim da marcha tinham uma reunião com o presidente Vicente Fox.
A mudança de estratégia dos zapatistas pode ser observada como um todo, desde a revolução mexicana em 1910 até ao começo dos "novos zapatistas" com a guerrilha do EZLN onde tinham como fundamental a organização política e militar da população para a tomada revolucionária do poder e ao longo da década de 1990 predominam práticas, formas de organização, discursos e objetivos que têm a comunicação e a criação de mecanismos de participação, democracia com objetivo principal.
Em julho de 2005 os Zapatistas apresentaram a Sexta Declaração da Selva de Lancardona. Nesta nova declaração, o EZLN chamou todos para uma campanha nacional em oposição à campanha presidencial de 2005. Na preparação da campanha foram convidados mais de 600 organizações de esquerda, grupos indígenas e organizações não governamentais para viajar pelos 32 Estados mexicanos a fim de discutirem suas reivindicações.
[editar] Terras indígenas
As comunidades indígenas estão espalhadas por todos os Estados mexicanos com maior concentração nos Estados de Guerrero, Puebla, Oaxaca, Chiapas, Yucatan e no Estado do México. Os zapatistas concentram-se no sul e sudeste, principalmente Oaxaca e Chiapas. As áreas zapatistas do sul são montanhas e de difícil acesso, áreas estratégicas para a guerrilha zapatista como proteção contra o Exército Mexicano: existe a Serra de Madre do Sul, que se estende por 1.200 quilômetros pela costa sul, e a sudeste pela Cordilheira de Tehuantepec com 2.000 metros de altura e ao longo de 150 km em Oaxaca, além das montanhas: Pico de Orizaba, Serra Madre de Chiapas, Vulcão de Tacuma e Meseta Central.
[editar] Línguas e dialetos
As línguas indígenas do México pertencem a três grupos: Hokano, Otomangue e Yutonahua. As línguas Hokanas são Seri, Tequistlateca e Yumana e são faladas nas regiões do oeste dos Estados Unidos, costa do Estado de Sonora e centro de Oaxaca. As línguas Otomangue são Amuzga, Chinanteca, Mixteca, Otopame, Popoloca chocholteco, Ixcateco, Mazateco e Popoloca, Tlapaneca, Zapoteca, faladas nas regiões da Serra Madre do Sul, na fronteira entre Guerrero e Oaxaca, noroeste de Oaxaca, Puebla, Guerrero, Veracruz, Querétaro, Hidalgo, Tlaxcala e Acapulco. As línguas Yutonahua são Corachol, Náhuatl, Pimana, Taracahita, e são faladas nas regiões de Nayarit, Jalisco, Estado do México, Durango, Guerrero, Michoacán, Morelos, Oaxaca, Puebla, San Luis Potosí, Tabasco, Tlaxcala e Veracruz. Em Chiapas a predominância são das línguas Maias.
[editar] Economia
Um dos princípios dos zapatistas é a autonomia, o que inclui a economia das cidades autônomas, cercadas por quartéis e pelo exército, os municípios rebeldes estabelecem formas de governo alternativas ao padrão mexicano. A economia das cidades zapatistas baseia-se na economia de produção e subsistência e também pela confecção de materiais indígenas à venda para turistas, toda a renda é controlada sem hierarquia, pelas Juntas de Bom Governo.
[editar] Exército Zapatista de Libertação Nacional
O EZLN é um grupo indígena armado, contudo não-violento, com inspirações Zapatistas com sede em Chiapas, o estado mais pobre do México. Incorpora tecnologias modernas como telefones via satélite e Internet como uma maneira obter a sustentação local e estrangeira. Consideram-se parte do largo movimento de antiglobalização.
Sua voz mais visível, embora não seu líder, porque é um segundo-comandante — todos os comandantes são índios maias — é o subcomandante Marcos. O comunicado abaixo do subcomandante em 28 de março de 1994 explica o porque de esconder os rostos e porque todos os zapatistas dizem que se chamam "Marcos": "Marcos é gay em São Francisco, negro na África do Sul, asiático na Europa, hispânico em San Isidro, anarquista na Espanha, palestino em Israel, indígena nas ruas de San Cristóbal, rockero na cidade universitária, judeu na Alemanha, feminista nos partidos políticos, comunista no pós-guerra fria, pacifista na Bósnia, artista sem galeria e sem portfólio, dona de casa num sábado à tarde, jornalista nas páginas anteriores do jornal, mulher no metropolitano depois das 22h, camponês sem terra, editor marginal, operário sem trabalho, médico sem consultório, escritor sem livros e sem leitores e, sobretudo, zapatista no Sudoeste do México." Enfim, Marcos é um ser humano qualquer neste mundo. Marcos é todas as minorias intoleradas, oprimidas, resistindo, exploradas, dizendo ¡Ya basta! Todas as minorias na hora de falar e maiorias na hora de se calar e aguentar. Todos os intolerados buscando uma palavra, sua palavra. Tudo que incomoda o poder e as boas consciências, este é Marcos."
[editar] Presença militar
O atual presidente Vicente Fox foi eleito em 2000 com um discurso dizendo que acabaria com o conflito com os zapatistas em 15 minutos. Depois de eleito, a história se repetia, os zapatistas ficaram de lado pelo governo novamente. Como o conflito não acabou, paramilitares vigiam as fronteiras das terras indígenas constantemente, controlando a entrada de "turísticas" e ativistas nas regiões zapatistas. O conflito não se agrava além de como está por causa das organizações internacionais de apoio a causa zapatista presentes nas áreas indígenas: Chiapas Human Rights Observer Project do Canadá, Zapatista students, Global Exchange, Barrio Warriors de Aztlan, Chiapas Coalition 98 dos Estados Unidos da América, Tactical Media Crew, Colectivo de Solidaridad con la Rebeli Zapatista de Barcelona da Espanha, Direkte Solidarit Chiapas da Alemanha, Korautnomedia chiapasa, Zapatista Solidarity Collective Melbourne da Austrália, Japanese solidarity do Japão, Chiapas Peace House Project da França, Comitê Avante Zapatistas! do Brasil, além de organizações locais de direitos humanos e da Anistia Internacional. Contudo, massacres como o de Acteal e presos políticos são constantes em terras indígenas.
[editar] Massacre de Acteal
O Massacre de Acteal aconteceu em 22 de dezembro de 1997 no vilarejo de Acteal em Chiapas, 46 indígenas tzotziles entre eles 18 crianças, 22 mulheres e 6 homens foram mortos dentro da Igreja de Acteal. A comunidade zapatista local testemunha que 90 paramilitares supostamente membros da Máscara Roja (Máscara Vermelha) fizeram o massacre, durante uma operação que se prolongou por cerca de 7 horas, a curta distância de um posto militar. Os militares ali estacionados não intervieram por forma a evitar o massacre, existindo relatos de que na manhã seguinte alguns deles se encontravam na Igreja, lavando o sangue das paredes. Após indignação da comunidade zapatista, mais de 100 índigenas foram presos em Tuxtla Gutiérrez, capital de Chiapas.
Depois da investigação pela Procuradoria Geral da República do México, entre os supostos participantes na chacina estavam ex-oficiais do exército mexicano e de segurança pública, condenados a pouco mais de três anos de prisão.
[editar] Acordo de San Andrés
O Acordo de San Andrés sobre Direitos e Cultura Indígena foi um documento que o governo do México acordou com o Exército Zapatista de Libertação Nacional en 16 de fevereiro de 1996 em San Andrés Larráinzar, Chiapas para comprometerse a modificar a Constituição do México e outorgar direitos aos povos indígenas sobre autonomia, justiça e igualdade.
[editar] Plano Puebla-Panamá
O Plano Puebla-Panamá é financiado pelo Banco de Desenvolvimento das Américas [3], a proposta do Banco é a integração da região central da América atingindo as regiões de Belize, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá e nove estados do México entre eles regiões autônomas zapatistas como Chiapas e Oaxaca. De acordo com o The Ecologist de Junho de 2001 [4] o projeto implica na evacuação de comunidades indígenas de suas terras para fazer estradas, aeroportos, centros industriais, plantações e áreas protegidas por bases militares.
[editar] Livros
[editar] Em Português
- EZLN: Passos de uma Rebeldia do Emílio Gennari. ISBN 85-873-946-06
[editar] Em Espanhol
- Zapatistas: La Lucha Continua..., David Sanchez.
[editar] Em Inglês
- Ya Basta! Ten Years of the Zapatista Uprising, textos selecionados do Subcomandante Marcos; ISBN 1-904859-13-5
- Our Word is Our Weapon, textos selecionados do Subcomandante Marcos; ISBN 1-85242-814-7
- The Zapatista Reader, editado por Tom Hayden. ISBN 1-56025-33-55
- Profit Over People, Noam Chomsky; ISBN 1-888363-82-7
- Change the World Without Taking Power, John Holloway - Texto on-line na libcom.org ISBN 0-745324-66-5
- Rebellion in Chiapas, a historical reader, John Womack, Jr. ISBN 1-565844-52-1
- The war against oblivion: Zapatista chronicles, 1994-2000, John Ross; ISBN 1-56751-174-0
- The Chiapas Rebellion: The Struggle for Land and Democracy, Professor Neil Harvey. ISBN 0-822322-38-2
- Basta! Land and the Zapatista Rebellion in Chiapas, George A. Collier com Elizabeth L. Quaratiello. ISBN 0-935028-79-X
[editar] Vídeos
- Resistance Through Communication Em Inglês, sem legendas.
- A Place Called Chiapas (1998). Em Inglês, sem legendas.
- Zapatista (1998). Em Inglês, sem legendas. Com falas de Mumia Abu-Jamal e Noam Chomsky.
[editar] Citações
- ↑ Revista Chiapas n.11
- ↑ "The Unknown Icon" para The Guardian dia 3 de março de 2001
- ↑ Plano Puebla-Panamá pelo Banco de Desenvolvimento das Américas
- ↑ The Ecologist de Junho de 2001
[editar] Referências bibliográficas
- Cercas e Janelas: Na linha de frente do debate sobre Globalização do Original: Fences and Windows de Naomi Klein. Editora Record, Rio de Janeiro, 2003. ISBN 85-010-630-7
- A Guerra é o Espetáculo - Origens e transformações da estratégia do EZLN de Guilherme Gitahy de Figueiredo. Dissertação de Mestrado pela Unicamp, 2003. Texto completo em .doc para download.
- TAZ - Zona Autônoma Temporária do Original: TAZ - Temporary Autonomous Zone de Hakim Bey. Conrad Editora, São Paulo, 2001. ISBN 85-871-934-30
- A Guerrilha Surreal de José Chrispiniano. Conrad Editora, São Paulo, 2002. ISBN 85-871-936-51.
[editar] Referências na internet
- EZLN.org.mx (em castelhano)
- Centro de Mídia Independente de Chiapas (em castelhano)
- Rádio Insurgente (em castelhano)
- Ya Basta! (em italiano)
- Desenhos sobre Zapatismo por Carlos Latuff
- Portal sobre Chiapas na Zmag.org (em inglês)
- Comunicados do EZLN (em português)
- Textos do Subcomandante Marcos (em português)