Raízes do Golpe de 1964
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As raízes do golpe de 1964 são muito profundas, são de cunho ideológico e estão arraigadas no país desde o final do século XIX. Segundo historiadores, o golpe militar começou a ocorrer em 1954 (ou até mesmo antes) quando a situação de Vargas estava insustentável devido aos escândalos sucessivos que ocorriam durante seu governo, além das sabotagens de grupos interessados em desestabilizar o Brasil política e economicamente.
[editar] 1955
Em 1955, ainda segundo uma corrente de historiadores brasileiros, as mesmas forças tentaram impedir as eleições através de um novo golpe, pois sabiam que haveria a sua derrota.
A tentativa, porém, foi impedida pela ação do marechal Henrique Batista Duffles Teixeira Lott, que garantiu as eleições e a posterior posse de Juscelino Kubitschek que continuou a desenvolver a indústria brasileira tentando modernizar o parque industrial, com a conhecida política dos cinquenta anos em cinco.
[editar] 1961 e a renúncia de Jânio Quadros
No entanto, em 1961, com a renúncia de Jânio Quadros, numa tentativa infrutífera do que supostamente pretendia ser um auto-golpe, subiria ao poder o vice-presidente João Goulart, o que de certa forma gerou descontentamento entre segmentos contrários ao populismo de Vargas.
Goulart, sucessor político de Getúlio Vargas e cunhado de Leonel Brizola, defendia a realização de reformas de base no Brasil, incluindo a reforma agrária. Ele estava na China quando recebeu a notícia da renúncia de Quadros e era informado também da tentativa de militares contrários a Jango (como era conhecido Goulart) impedirem sua posse. Ranieri Mazilli era o presidente em exercício.
A renúncia de Jânio, cujos reais motivos não foram devidamente esclarecidos pelo ex-presidente (que morreu apenas transmitindo ao neto uma visão "romântica" do ato, pensando em voltar pelos braços do povo), parece ter sido motivada por um discurso lançado por Carlos Lacerda, governador da Guanabara. Preocupado com os acenos de Quadros aos países socialistas - na política externa Quadros queria inverter o seu perfil conservador - , Lacerda, que apoiou a eleição de Quadros, tentou falar com ele em Brasília e, no encontro, o jornalista-governador foi mal recebido pelo então presidente. Irritado, Lacerda anunciou em pronunciamento na TV que Jânio queria dar um golpe, renunciando para depois retornar com poderes fortalecidos. O discurso de Lacerda desnorteou politicamente o governo Jânio Quadros, que já tinha se mostrado, desde o começo, ambíguo e instável.
[editar] João Goulart e o parlamentarismo
Novamente os mesmos setores que, segundo alguns, tramaram o golpe de 1954 tentaram impedir Goulart de tomar posse. Os antigos coronéis que lançaram um memorial condenando a atuação de Jango como Ministro do Trabalho (os oficiais se irritaram com o aumento salarial decretado pelo ministro), generais naquele ano de 1961, queriam impedir a posse do vice de Jânio, considerado substituto constitucional do renunciante.
Uma campanha radiofônica articulada pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, denominada "Cadeia da Legalidade", fez crescer o apoio popular para a posse de Jango, na chamada Campanha da Legalidade. Alguns parlamentares de tendência liberal, entre eles Raul Pilla, tradicional defensor do parlamentarismo no Brasil, deram a solução para garantir a posse de Jango: ele seria presidente, mas não governava. O governo estaria nas mãos do Presidente do Conselho de Ministros.
Jango pôde assim exercer a função de chefe de estado, mas o governo esteve nas mãos de três Primeiros-Ministros: o político mineiro Tancredo Neves (que ironicamente não conseguiu se empossar presidente na redemocratização brasileira), o jurista gaúcho Francisco de Paula Brochado da Rocha e o jurista baiano Hermes Lima.
[editar] O Plebiscito de 1962, o presidencialismo e o início dos protestos
Em 1962, forças políticas descontentes com o parlamentarismo, pressionam no sentido de ser realizado um plebiscito para a escolha da forma de governo, parlamentarismo, ou presidencialismo.
Esse plebiscito estava previsto para 1965, ano das eleições presidenciais (que já tinham candidatos anunciados desde 1960: JK e Lacerda). Mas o descontentamento do povo e das classes dirigentes fez apressar a realização do plebiscito para 1962, influenciando uma campanha em que a opção mais defendida era o não ao parlamentarismo, apoiada tanto por progressistas quanto por esquerdistas e alguns conservadores.
Dessa forma, os eleitores escolheram o presidencialismo. Goulart começou a governar, tentando conciliar os seus interesse ideológicos mais à esquerda com os interesses dos conservadores, mais à direita.
Devida perda de tempo, resultando na demora em implantar as reformas de base, os grupos de esquerda, inclusive dentro do próprio PTB começaram a se afastar do governo e atuar em protestos reinvindicativos. Jango chega a ter sérias discussões até com o cunhado Leonel Brizola, irritado em ver o presidente impotente em pôr em prática as prometidas reformas.
[editar] Inflação, greves e a CIA
Iniciou assim uma aceleração da inflação que começa a escalar, as medidas econômicas do governo foram duramente atacadas pelos grupos mais à esquerda, pois viam nestas a continuação de uma política que eles mesmos combatiam.
A esquerda então, iniciou os movimentos de greves, comandadas pela CGT, o que repercutia mal nos setores patronais.
No Brasil era o período de eleições estaduais, Kennedy, presidente norte-americano, ingerindo diretamente na política interna brasileira ordenou o financiamento das campanhas dos governos estaduais em candidatos contrários a Jango.
"Segundo o ex-agente da CIA, Philip Agee, os fundos provenientes de fontes estrangeiras foram utilizados na campanha de oito candidatos aos governos dos 11 estados onde houve eleições, em apoio a 15 candidatos ao Senado, a 250 candidatos à Câmara e a mais de quinhentos candidatos às Assembléias Legislativas."
Foi doado dinheiro para o IBAD e para a viabilização econômica do IPES com a finalidade de desestabilizar o governo brasileiro.
Como a bancada de esquerda aumentou, as doações de campanha resultaram numa CPI. Esta apurou que as doações vinham dos bancos "Royal Bank of Canada", "Bank of Boston" e "First National City Bank".
[editar] Estatizações de Leonel Brizola
Leonel Brizola de forma abrupta, estatizou as companhias telefônica e de energia elétrica do Rio Grande do Sul, o motivo alegado na época, foi que estas empresas promoviam dumpping causando falência de pequenas empresas de geração elétrica e telecomunicações gaúchas.
As empresas encampadas eram pertencentes a grupos norte-americanos, criando desta forma um clima tenso entre Brasil e Estados Unidos.
Em seguida, Brizola denuncia a corrupção ocorrida no acordo de indenização feito com as multinacionais norte-americanas, antigas proprietárias das companhias do Rio Grande do Sul. O ministério, devida corrupção comprovada, foi demitido e o acordo de indenização foi suspenso. Esta atitude desagradou aos empresários e governantes dos Estados Unidos, que protestaram contra o governo brasileiro.
[editar] Os sargentos
Ao mesmo tempo em que houve o escândalo da corrupção de funcionários de alto escalão do governo brasileiro e empresários norte-americanos, iniciou um movimento dos sargentos, ideologicamente ligados a Brizola, que pleiteavam o direito de ser eleitos, pois posses haviam sido impedidas pelo Supremo Tribunal Federal.
[editar] Os estudantes
Iniciou também na mesma época, um movimento estudantil de orientação esquerdista, que realizava protestos e quebra-quebras nas ruas. Todos os eventos geraram um mal estar na classe média brasileira bombardeada pelos meios de comunicações e pela imprensa de que o Brasil estaria prestes a um golpe de estado com a implantação do comunismo semelhante ao soviético ou chinês.
[editar] Os grupos dos onze
Brizola ainda cria o movimento dos "grupos dos onze", que consistia na organização popular em grupos de onze pessoas, para fiscalizar parlamentares e militares (já prevendo tentativas de golpes) e pressionar o governo e o congresso pelas reformas de base.
[editar] O PSD, UDN, PTB
Os políticos do PSD, mais conservadores, temendo uma radicalização à esquerda, deixam de apoiar o governo, tornando a situação política de Goulart insustentável, já que ele não tinha apoio total do PTB, nem dos comunistas para governar de forma conciliatória.
Também a UDN e o PSD temiam pelo crescimento do PTB, já que Leonel Brizola era o favorito para as eleições presidenciais que aconteceriam. Brizola já tinha seu slogan "Cunhado não é parente! Brizola presidente!", este era em função de seu vínculo familiar com Jango, seu cunhado.
[editar] A imprensa
A imprensa iniciou uma campanha através de informes publicitários (publicidade paga) de que Jango estaria partindo para o radicalismo ideológico que levaria o Brasil para um golpe de estado, com a implantação de um regime político nos moldes de Cuba e China.
[editar] O Perigo Comunista
Por causa dos eventos ocorridos e a campanha maciça no rádio, cinema, imprensa, televisão do perigo comunista, representado por Jango (Um dos maiores Latifundiários do Brasil), a opinião pública representada pela classe média, orientada pelo IPES começou a se mobilizar.
[editar] Os militares e os políticos
Os Estados Unidos desde 1961 já estavam fomentando o golpe, através dos militares brasileiros, (que estavam descontentes desde 1954), com respaldo político e econômico das forças da UDN, lideradas por Carlos Lacerda, que já havia sugerido uma intervenção norte-americana na política brasileira em entrevista ao correspondente no Brasil do Los Angeles Times, Julien Hart. Isto causou uma crise política com os ministros militares que solicitaram o estado de sítio ao Congresso e a prisão de Lacerda.
[editar] O estado de sítio
O estado de sítio foi recusado pelo Congresso Nacional com a esquerda suspeitando que fosse uma armadilha dos militares para prender os líderes de esquerda como Brizola e Miguel Arraes).
O movimento dos sargentos, e a revolta dos marinheiros, liderados por Cabo Anselmo (que foi acusado ter sido supostamente um agente da CIA, inflitrado - conforme denúncias do Partido Comunista Brasileiro em 1963 e relatos posteriores) legitimavam o golpe militar contra a "quebra de hierarquia". Os generais se declararam indignados com a anistia de Jango aos sargentos e com a visita do presidente a uma reunião dos sargentos no Automóvel Clube. Para eles, isso foi a gota d'água para defenderem um movimento para depor João Goulart da Presidência da República.
[editar] Lincoln Gordon e a ingerência norte-americana na política interna brasileira
O governador mineiro, o banqueiro Magalhães Pinto, segundo Waldir Pires, tramava o golpe com Lincoln Gordon, embaixador dos Estados Unidos, estando inclusive levantada a possibilidade de Minas Gerais declarar independência em relação ao Brasil, que seria prontamente reconhecida. Conforme relatado posteriormente, houve grande influência também do adido militar, coronel Vernon Walters.
[editar] O comício na Central do Brasil e o gatilho que desencadeou o golpe
O comício de Goulart e Brizola, na Central do Brasil, em 13 de março de 1964, foi a chave para dar início ao golpe.
Brizola e Goulart anunciavam as reformas de base, incluindo um plebiscito pela convocação de nova constituinte. A reforma agrária (com a desapropriação de terrenos às margens das rodovias), e a nacionalização das refinarias de petróleo estrangeiras.
Também a UDN e o PSD temiam pelo crescimento do PTB, já que Leonel Brizola era o favorito para as eleições presidenciais que aconteceriam. Brizola já tinha seu slogan "Cunhado não é parente! Brizola presidente!".
Sabendo que o povo apoiaria em massa o projeto, a aliança político-militar (UDN-Militares golpistas) mais o governo norte-americano deflagram o golpe.
[editar] A "Marcha"
Liderados por um capelão americano, padre Patrick Peyton, enviado ao Brasil para criar mobilização popular contra o governo, começa a marchas da família com Deus pela Liberdade para dar legitimidade ao golpe. A mobilização foi respaldada por Adhemar de Barros e Carlos Lacerda.
Os militares juntamente com os políticos organizavam a derrubada de Goulart com o apoio da classe média. A marcha da família teve o apoio dos grandes empresários, que fecharam suas empresas em horário comercial e transportaram as pessoas para a mainfestação.
Como os arquivos do governo de Lindon Johnson comprovariam, vinte anos mais tarde, foi feita uma operação militar chamada Brother Sam para atuar no Brasil. Teria sido um plano de guerra dos EUA contra as forças janguistas no Brasil. Poderia ter havido um sério conflito bélico entre os dois países, e, embora os EUA pareçam ter vantagem, já estavam investindo em recursos financeiros, armamentistas e humanos noutra guerra, contra o Vietnã, onde o país norte-americano saiu derrotado, anos depois.
Somente no ano de 1962, quase cinco mil cidadãos norte-americanos entraram no país, segundo Jorge Ferreira em Rev. Bras. Hist. vol.24 no.47 São Paulo 2004, "A estratégia do confronto: a frente de mobilização popular". Darcy Ribeiro citou ainda que "Foi desencadeado com forte contingente armado, postado no Porto de Vitória, com instruções de marchar sobre Belo Horizonte.".
A Operação Brother Sam objetivava abastecer com combustível e armas a Operação Popeye desencadeada pelos militares brasileiros.
A Frota do Caribe liderada pelo porta-aviões nuclear americano armado com bombas atômicas Forrestal foram enviados à costa brasileira e ficaram próximos do porto de Vitória (ES) aguardando ordens.
Estava assim iniciado o Goplpe Militar de 1° de abril de 1964.
[editar] Bibliografia
- Os Motivos da Revolução, C. Muricy, (Imprensa Oficial, Pernambuco)
- O Papel dos Estados Unidos da América no Golpe de Estado de 31 de Março, Phyllis Parker (Editora Civilização Brasileira, 1977)
- Vozes do Golpe (4 volumes), Carlos Heitor Cony, Zuenir Ventura, Luis Fernando Veríssimo, Companhia das Letras.