Síntese evolutiva moderna
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A síntese evolutiva moderna (freqüentemente chamada de síntese moderna ou síntese evolutiva, síntese neodarwiniana ou neodarwinismo), geralmente denota a combinação da teoria de evolução de espécies por meio de seleção natural de Charles Darwin, a genética como base para a herança biológica de Gregor Mendel e a genética populacional.
Entre os personagens mais importantes para o desenvolvimento da síntese moderna destacam-se Thomas Hunt Morgan, Ronald Fisher, Theodosius Dobzhansky, J.B.S. Haldane, Sewall Wright, William D. Hamilton, Cyril Darlington, Julian Huxley, Ernst Mayr, George Gaylord Simpson e G. Ledyard Stebbins. Essencialmente, a síntese moderna introduziu a conexão entre duas importantes descobertas: as unidades de evolução (genes) com o mecanismo de evolução (seleção natural). Ela também representa a unificação de vários ramos da biologia que, anteriormente, tinham pouco em comum, em particular, a genética, a citologia, a sistemática, a botânica e a paleontologia.
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[editar] História
George John Romanes cunhou o termo neo-Darwinismo para se referir a teoria de evolução preferida de Alfred Russel Wallace. Wallace não aceitava a idéia Lamarquiana de herança de características adquiridas, uma possibilidade que Charles Darwin, Thomas Huxley não rejeitariam. O mais importante "neo-Darwiniano" da era pós-Darwin foi August Weismann, que argumentava que o material hereditário era totalmente separado do desenvolvimento do organismo. Isto era visto por muitos biológos como uma posição extremada, contudo, e variações do neo-Lamarquismo, ortogênese (evolução "progressiva") e saltacionismo (evolução por "saltos" ou mutações), eram discutidas como alternativas.
Em 1900, a herança mendeliana foi "redescoberta" e foi inicialmente vista como que suportando a forma de evolução por "saltos". A escola biométrica, liderada por Karl Pearson e Walter Frank Raphael Weldon, argumentava contra ela vigorosamente afirmando que a evidência empírica indicava que variações eram contínuas em muitos organismos. A escola mendeliana, liderada por William Bateson, contra-argumentava dizendo que em alguns casos a evidência Mendeliana era irrefutável e que trabalhos futuros revelariam que ela era mais correta. O mendelismo foi adotado por muitos biológos, mesmo embora ele ainda estivesse pouco desenvolvido em seus primeiros estágios. A sua relevância ainda era fortemente debatida.
Uma conexão crítica entre a biologia experimental e a evolução, assim como entre a genética Mendeliana, a seleção natural e a teoria cromossômica da herança surgiu do trabalho de T. H. Morgan's com a mosca da fruta Drosophila melanogaster. Em 1910, Morgan descobriu uma mosca mutante com olhos brancos (a Drosophila selvagem tem olhos vermelhos) e concluiu que esta condição — embora aparecendo apenas em machos — era herdada precisamente como uma característica mendeliana recessiva. Nos anos seguintes, ele e seus colegas desenvolveram a teoria cromossômica mendeliana de herança e Morgan e seus colegas publicaram O Mecanismo de Herança Mendeliana (The Mechanism of Mendelan Inheritance) em 1915. O trabalho de Morgan foi tão popular que é considerado um marco da genética clássica. Por volta da mesma época, muitos biológos aceitavam que genes situados linearmente nos cromossomos eram os mecanismos primários de herança, embora como isso poderia ser compatível com a seleção natural e a evolução gradual permanecesse algo a ser compreendido.
Este problema seria parcialmente resolvido por Ronald Fisher, que em 1918 publicou o artigo The Correlation Between Relatives on the Supposition of Mendelian Inheritance que mostrava, através de um modelo, como variações contínuas poderiam ser o resultado da ação de muitos loci discretos. Este ensaio é considerado o ponto de partida da síntese moderna, uma vez que Fisher foi capaz de fornecer um modelo estatístico rigoroso para a herança Mendeliana, satisfazendo tanto as necessidades (e métodos) da biométrica quanto da escola Mendeliana.
O estudante de Morgan, Theodosius Dobzhansky, foi o primeiro a aplicar a teoria de cromossomos de Morgan e a matemática da genética populacional a populações de organismos na natureza, em particular, a Drosophila pseudoobscura. Seu trabalho de 1937, Genetics and the Origin of Species, é normalmente considerado o primeiro trabalho maduro do neo-darwinismo e junto com os trabalhos de Ernst Mayr (Systematics and the Origin of Species – sistemática), G. G. Simpson (Tempo and Mode in Evolution – paleontologia) e G. Ledyard Stebbins (Variation and Evolution in Plants – botânica) são considerados os quatro trabalhos fundamentais da síntese moderna. C. D. Darlington (citologia) e Julian Huxley também escreveram sobre o assunto; Huxley cunhou os termos síntese evolutiva e síntese moderna em seu trabalho Evolution: The Modern Synthesis em 1942.
[editar] Princípios da Síntese Moderna
De acordo com a síntese moderna, como estabelecida nas décadas de 30 e 40, a variação genética em populações surge aleatoriamente através de mutação (atualmente sabemos que isto pode acontecer devido a erros na replicação do DNA) e recombinação genética (cruzamento de cromossomos homólogos durante a meiose). A evolução consiste primariamente em modificações na freqüencia dos alelos entre uma e outra geração como um resultado de deriva genética (genetic drift), fluxo gênico (gene flow) e seleção natural. A especiação ocorre gradualmente quando populações são isoladas reprodutivamente, por exemplo, por barreiras geográficas.
[editar] Outros Avanços
A síntese moderna continuou a se desenvolver e ser refinada depois de sua introdução nas décadas de 30 e 40. Os trabalhos de W. D. Hamilton, George C. Williams, John Maynard Smith e outros culminaram no desenvolvimento de uma visão da evolução centrada em genes na década de 60. A síntese como ela existe hoje ampliou a abrangência da idéia de Darwin de seleção natural, especialmente para contemplar descobertas científicas subsequentes tais como o DNA e a genética que permitem análises rigorosas, em muitos casos matemáticas, de fenômenos tais como a seleção consangüínea (kin selection), o altruísmo, e a especiação.
Uma interpretação particular do neo-Darwinismo mais comumente associada com Richard Dawkins afirma que o gene é única verdadeira unidade de seleção. Dawkins amplia mais ainda as fronteiras do Darwinismo de forma a incluir sistemas não biológicos que exibam o mesmo tipo de comportamento seletivo do 'mais apto' tais como memes em cultura.
Cada vez mais estudos de genes e genomas estão indicando que uma considerável transferência horizontal tem ocorrido entre procariontes[1]. A Transferência Horizontal de Genes é considerada por alguns como um "novo paradigma para a Biologia"[2] e enfatizada por outros como um importante fator entre os "obstáculos ainda não visiveis da engenharia genética". Enquanto a transferência genética horizontal é bem conhecida entre bactérias, foi somente nos últimos dez anos que ela foi reconhecida em plantas e animais superiores. A abrangência para transferência genética horizontal é essencialmente toda a biosfera, com bactérias e vírus servindo tanto como intermediários para o tráfego de genes quanto como reservatórios para a multiplicação e recombinação de genes (o processo de criar novas combinações de material genético)[3].
[editar] Referências
- Allen, Garland. Thomas Hunt Morgan: The Man and His Science, Princeton University Press, 1978 ISBN 0691082006
- Dawkins, Richard. The Blind Watchmaker, W.W. Norton and Company, Reissue Edition 1996 ISBN 0-393-31570-3
- Dobzhansky, T. Genetics and the Origin of Species, Columbia University Press, 1937 ISBN 0-2310-5475-0
- Fisher, R. A. The Genetical Theory of Natural Selection, Clarendon Press, 1930 ISBN 0-1985-0440-3
- Haldane, J. B. S. The Causes of Evolution, Longman, Green and Co., 1932; Princeton University Press reprint, ISBN 0-6910-2442-1
- Huxley, J. S. Evolution: The Modern Synthesis, Allen and Unwin, 1942 ISBN 0-0284-6800-7
- Huxley, J. S., ed. The New Systematics, Oxford University Press, 1940 ISBN 0-4030-1786-6
- Mayr, E. and W. B. Provine, eds. The Evolutionary Synthesis: Perspectives on the Unification of Biology, Harvard University Press, 1980 ISBN 0-674-27226-9
- Mayr, E. Systematics and the Origin of Species, Columbia University Press, 1942; Harvard University Press reprint ISBN 0-6748-6250-3
- Simpson, G. G. Tempo and Mode in Evolution, Columbia University Press, 1944 ISBN 0-2310-5847-0
- Smocovitis, V. Betty. Unifying Biology: The Evolutionary Synthesis and Evolutionary Biology, Princeton University Press, 1996 ISBN 0-691-03343-9
- Wright, S. 1931. "Evolution in Mendelian populations". Genetics 16: 97-159.
[editar] Notas
- ↑ Horizontal gene transfer among genomes: The complexity hypothesis
- ↑ Horizontal Gene Transfer - A New Paradigm for Biology
- ↑ Horizontal Gene Transfer – The Hidden Hazards of Genetic Engineering
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