Escravo Fiel e Discreto
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Escravo Fiel e Discreto é uma expressão encontrada na Bíblia que as Testemunhas de Jeová aplicam para designar todos os cristãos vivos como grupo na terra, em qualquer tempo determinado, homens e mulheres, que alegadamente foram escolhidos por Jeová e ungidos com Espírito Santo, tornando-se Seus filhos adoptados e irmãos de Jesus Cristo. Segundo as Testemunhas, tais cristãos constituem uma classe colectiva que é responsável pela administração dos interesses do Reino de Deus na Terra. Após a sua morte, serão ressuscitados para uma vida imortal no céu, para reinarem sobre a Terra junto com Jesus Cristo.
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[editar] Fundamento bíblico da expressão
Ao falar sobre a sua segunda vinda e do consequente fim do mundo ou do sistema social de coisas que o compõe, Jesus Cristo apresentou uma pequena parábola ou ilustração que é de significado especial para as Testemunhas de Jeová. Segundo o relato do Evangelho de Lucas, Jesus explicou:
- Lucas 12:32-40
- "Os vossos lombos estejam cingidos e as vossas lâmpadas acesas; e vós mesmos sede como homens que esperam pelo seu amo, ao voltar ele do casamento, para que, ao chegar e bater, possam imediatamente abrir-lhe. Felizes são aqueles escravos, cujo amo, ao chegar, os achar vigiando! Deveras, eu vos digo: Ele se cingirá e os fará recostar-se à mesa, e chegando-se, ministrar-lhes-á. E, se chegar na segunda vigília, ou mesmo na terceira, e os achar assim, felizes são! Mas, sabei isto, que, se o dono de casa tivesse sabido em que hora viria o ladrão, teria ficado vigiando e não teria deixado que se arrombasse a sua casa. Vós também, mantende-vos prontos, porque o Filho do homem vem numa hora que não achais provável. (NM - Tradução do Novo Mundo)
O apóstolo Pedro chamou de "parábola" aquilo que Jesus tinha acabado de dizer, porque o relato de Lucas prossegue:
- Lucas 12:41
- "Disse-lhe Pedro: Senhor, dizes essa parábola a nós, ou também a todos?" (ACF – Almeida Corrigida Fiel)
Para as Testemunhas afigura-se lógico que o que Jesus disse em resposta seria considerado como parábola, retratando ou ilustrando certas realidades a ocorrerem no futuro, na antecipação do seu regresso ou advento. A resposta aplicar-se-ia a um "mordomo" como classe colectiva, o que se infere pela expressão "nós", ou seja, os doze apóstolos, ou a todos os que então, ou com o passar dos anos, representassem a Jesus. Os Evangelhos registam a resposta de Jesus à pergunta de Pedro da seguinte forma:
- Lucas 12:42-44
- "O Senhor replicou: Qual é o administrador sábio e fiel que o senhor estabelecerá sobre os seus operários para lhes dar a seu tempo a sua medida de trigo? Feliz daquele servo que o senhor achar procedendo assim, quando vier! Em verdade vos digo: confiar-lhe-á todos os seus bens." (BAM – Bíblia Ave Maria)
O evangelho de Mateus regista as palavras de Jesus da seguinte forma:
- Mateus 24:45-47
- "Quem é realmente o escravo fiel e discreto a quem o seu amo designou sobre os seus domésticos, para dar-lhes o seu alimento no tempo apropriado? Feliz aquele escravo, se o seu amo, ao chegar, o achar fazendo assim! Deveras, eu vos digo: Ele o designará sobre todos os seus bens." (NM)
Portanto, segundo o entendimento das Testemunhas de Jeová, Jesus prometeu que haveria um "escravo" designado para fornecer alimento espiritual, um mordomo ou administrador que seria tanto fiel como sábio e discreto. Este "escravo" cuidaria dos domésticos ou servos do dono da casa e receberia a administração de todos os bens do seu amo.
[editar] Identificação do Escravo Fiel e Discreto
Para as Testemunhas de Jeová, a classe do "escravo fiel e discreto" é um sinónimo de "cristãos ungidos" com espírito santo. Aplicam a expressão ao que consideram ser a verdadeira Igreja ou congregação Cristã, um Israel espiritual figurativo. Todos estes cristãos ungidos, vivos numa determinada época, constituem a classe do "escravo" que, por fim, completarão o grupo de "cento e quarenta e quatro mil" reis e sacerdotes celestiais, que reinarão sobre os habitantes da Terra junto com Jesus Cristo. Este número é mencionado no livro bíblico de Revelação ou Apocalipse (7:4-8; 14:1-4).
[editar] Instituição da classe do Escravo
Segundo a perspectiva das Testemunhas, o "escravo fiel e discreto" surgiu no dia de Pentecostes de 33 EC, cinquenta dias após a ressurreição de Jesus. Durante aquela festividade, no dia 6 de sivã conforme o calendário judaico, o espírito santo foi derramado sobre uns 120 dos discípulos de Jesus, num quarto de andar superior em Jerusalém. Naquele instante nasceu uma nova nação de homens e mulheres ungidos com espírito santo. A partir desse dia, os seus membros começaram a falar com destemor aos habitantes de Jerusalém sobre "as coisas magníficas de Deus" (Atos 2:11). Para as Testemunhas, aquela nova nação, uma espiritual, tornou-se o "servo ou escravo" que divulgaria às nações a mensagem de Jeová e do Seu Filho, Jesus Cristo, e proveria alimento ou orientação no tempo devido a todos os crentes (1 Pedro 2:9). Esta nação passou a ser chamada apropriadamente de "Israel de Deus" (Gálatas 6:16), em contraste com o Israel natural que havia sido rejeitado devido à sua deslealdade para com Deus e para com o Seu Filho.
Segundo o actual entendimento das Testemunhas, este "escravo fiel e discreto" não poderia ser uma só pessoa, porque o escravo começou a servir alimento espiritual após a primeira vinda de Jesus e, segundo Ele, continuaria activo quando o Amo voltasse. As Testemunhas de Jeová crêem que Jesus já está presente e assumiu a sua posição celestial como Rei em 1914. Além disso, crêem que em breve se dará a segunda vinda de Jesus, de forma invisível, para julgar a humanidade. Isso significa que o escravo teria de realizar cerca de dois milénios de serviço fiel que, naturalmente, não poderia ser prestado por uma única pessoa. Portanto, para elas, a única conclusão razoável é que Jesus se referiu a um grupo de cristãos que colectivamente seriam "o escravo fiel e discreto". Citam até um precedente bíblico para a designação no singular de um grupo colectivo. Referem-se à nação que precedeu o Israel de Deus, ou seja, os israelitas naturais. Mencionando a Bíblia, lembram que Jeová é citado como se referindo à inteira nação de Israel, 700 anos antes da vinda de Jesus, como "minhas testemunhas", considerando-os logo em seguida como um singular "servo a quem escolhi". (Isaías 43:10) (NM)
[editar] Durante os séculos seguintes
As Testemunhas reconhecem que não possuem um quadro histórico nítido sobre como os da classe do "escravo fiel e discreto" existiram e serviram durante os séculos após a morte dos apóstolos do Amo, Jesus Cristo. Aparentemente, uma geração da classe do "escravo" alimentou a próxima geração dela. (2 Timóteo 2:2) Crêem que, ao longo dos séculos, existiram homens e mulheres fiéis e que muitos lutaram pela divulgação da Bíblia e dos seus ensinos. Vários chegaram a morrer para defender os seus ideais baseados na Bíblia. Pensam que apenas Deus poderá determinar quais destes também terão sido ungidos com o Seu Espírito Santo.
Estão convencidas que, na última metade do Século XIX, houve pessoas tementes a Deus que amavam o alimento espiritual da Bíblia Sagrada e que desejavam alimentar-se dele. Estas pessoas, na ocasião lideradas por Charles Taze Russell, formaram turmas de estudo bíblico, separadas das igrejas ditas cristãs, e progrediram no entendimento do que consideram ser as verdades fundamentais das Escrituras Sagradas. Referem que os sinceros e altruístas entre estes estudantes da Bíblia estavam ansiosos de compartilhar estas porções de alimento espiritual com outros e que, por isso, possuíam o espírito fiel do "escravo" designado para fornecer o necessário "alimento" espiritual "no tempo apropriado".
[editar] Na actualidade
As Testemunhas de Jeová crêem que a parábola mencionada por Jesus se refere à única congregação verdadeira dos seus seguidores ungidos. A partir de Pentecostes de 33 EC e continuando durante os quase 20 séculos desde então, esta congregação semelhante a um escravo tem alimentado espiritualmente os seus membros, fazendo isso com fidelidade e discrição. Para elas, a identidade deste "escravo" tornou-se clara especialmente durante o início do Século XX. Deveria ser um conjunto de cristãos que mostrassem estar vigilantes, pregassem activamente o Evangelho, ou o que designam por boas novas do Reino de Deus, e que provessem fielmente o necessário alimento espiritual a todos na congregação cristã, ou seja, aos "domésticos". Estes "domésticos" seriam esses mesmos seguidores ungidos de Cristo mas agora observados apenas como indivíduos.
Assim, segundo esses padrões, as Testemunhas de Jeová consideram que apenas o grupo de cristãos, entre elas mesmas, que afirmam ser ungidos com espírito santo e possuem a esperança de reinar com Jesus Cristo no céu, podem realmente constituir o "escravo fiel e discreto". Tais homens e mulheres afirmam possuir a responsabilidade de efectuar e tomar a dianteira na obra de evangelização ordenada por Jesus:
- Mateus 28:18-20
- "E Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Ide, portanto, e fazei discípulos de pessoas de todas as nações, batizando-as em o nome do Pai, e do Filho, e do espírito santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos ordenei. E eis que estou convosco todos os dias, até à terminação do sistema de coisas." (NM)
Ao mesmo tempo, estes cristãos fornecem alimento espiritual através da página impressa e outros variados meios de divulgação doutrinária, bem como por meio de instrução fornecida em reuniões de congregações pequenas ou em grandes ajuntamentos de milhares de pessoas. Nestas tarefas, são orientadas por um grupo de homens que constituem o que chamam de Corpo Governante das Testemunhas de Jeová. Na sua perspectiva, todas as Testemunhas que professam ser ungidas e possuir esperança celestial são, colectivamente, o "escravo fiel e discreto", no entanto, entre os seus pares, possuem um Corpo Governante para as funções de administração geral das actividades de pregação e ensino. Afirmam que este procedimento é algo similar ao que acontecia no período apostólico: todos os cristãos na época eram ungidos e portanto pertenciam à classe do escravo mas existia um grupo de "apóstolos e anciãos de Jerusalém" (Bíblia de Jerusalém, nova edição revista e ampliada, de 2002) que tomava as decisões indispensáveis, enviava representantes para fortalecer congregações e missionários para pregar o Evangelho onde fosse necessário.
Segundo o Anuário das Testemunhas de Jeová de 2006, 8.524 pessoas em todo o mundo professaram publicamente pertencer a esta classe do "escravo fiel e discreto" por tomarem dos emblemáticos pão e vinho durante a anual Comemoração da Morte de Cristo, realizada em 24 de março de 2005. Nesta reunião estiveram presentes mais de 16.300.000 pessoas, das quais mais de 6.600.000 são pregadores da mensagem das Testemunhas. Assim, estes milhões aceitam a orientação da chamada classe do "escravo fiel e discreto" e do seu Corpo Governante.
[editar] Russell confundido com o Escravo
Para os Estudantes da Bíblia, conforme eram anteriormente conhecidas as Testemunhas de Jeová, Charles Taze Russell, primeiro presidente da Sociedade Torre de Vigia, chegou a ser encarado como o escravo ou o mordomo fiel de Jesus Cristo. O senso de apreço e de dívida para com Russell induziu muitos dos seus associados a considerá-lo como sendo o próprio "escravo fiel e discreto". Este conceito foi bem destacado no livro publicado em julho de 1917 pela Associação Púlpito do Povo, de Brooklyn, Nova Iorque. Este livro foi chamado O Mistério Consumado e proveu um comentário sobre os livros bíblicos de Revelação, Ezequiel e O Cântico de Salomão. Na sua página do editor, o livro foi chamado de Obra Póstuma do Pastor Russell. Este livro contribuiu para que alguns, naquele tempo, defendessem o conceito que uma pessoa única, Charles Taze Russell, era o "servo fiel e prudente" predito por Jesus (Almeida Corrigida Fiel), servo este que distribuiria alimento espiritual à família da fé. Em especial depois de sua morte, a própria revista A Sentinela expressou esse conceito por vários anos. Em vista do destacado papel que Russell desempenhara, parecia aos Estudantes da Bíblia daquela época que este era o caso. Ele não promoveu pessoalmente essa idéia, mas aceitou a aparente razoabilidade dos argumentos dos que a defendiam.
Ainda assim, Russell acreditava que tal título deveria ser aplicado a uma classe e não a um simples homem. Ele publicou este seu entendimento em A Sentinela (em inglês) de novembro de 1881, página 5. No quarto e no quinto parágrafo antes do fim do artigo "Na Vinha", Russell escreveu:
- "Cremos que cada membro deste corpo de Cristo está empenhado na obra bendita, quer directa quer indirectamente, de dar alimento na época devida à família da fé. "Quem é pois o servo fiel e sábio a quem seu Senhor constituiu governante sobre os de sua casa", para dar-lhes alimento na época devida? Não é aquele "pequeno rebanho" de servos consagrados, que cumprem fielmente seus votos de consagração — o corpo de Cristo — e não é o inteiro corpo, individual e coletivamente, dando o alimento na época devida à família da fé — a grande companhia de crentes? Bendito é aquele servo (o corpo inteiro de Cristo) a quem o seu Senhor, ao vir, achar fazendo assim. "Deveras, eu vos digo que o constituirá governante sobre todos os seus bens. Ele herdará todas as coisas.""
Para as Testemunhas de Jeová na actualidade, Russell não possui qualquer tipo de destaque em relação a muitos outros que contribuíram activamente para o que consideram ser a obra divinamente comissionada de evangelizar. Entendem, no entanto, que ele serviu zelosamente como parte da classe do "escravo fiel e discreto" em dar aos domésticos do Amo o "seu alimento no tempo apropriado".
[editar] Ligações externas
[editar] Sítios oficiais das Testemunhas de Jeová
- ((pt)) - Página Oficial das Testemunhas de Jeová
- ((en)) - Página Oficial das Testemunhas de Jeová
- ((en)) - Departamento de Relações Públicas da Sociedade Torre de Vigia
- ((pt)) - Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas Bíblia On-line
- ((en)) - Página Oficial das Testemunhas de Jeová da Grã-Bretanha
- ((de)) - Página Oficial das Testemunhas de Jeová da Alemanha
- ((fr)) - Página Oficial das Testemunhas de Jeová da França
[editar] Outras ligações de interesse
- ((pt)) - Triângulos Roxos - As vítimas esquecidas do Nazismo
- ((en)) - Museu do Holocausto em Washington - Secção reservada às Testemunhas de Jeová