História do Amazonas
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A História do Amazonas é o domínio da História concentrado na evolução do estado do Amazonas, na região norte do Brasil. A rigor, a História amazonense começa antes do descobrimento do Brasil, quando o atual território do estado era povoado por índios das nações jê e aruaque, entre outros.
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[editar] Primeiras explorações
Originalmente, a área que hoje é o Amazonas não fazia parte das terras portuguesas pelo Tratado de Tordesilhas, ficando sob domínio espanhol. Desde cedo, no entanto, os portugueses se aventuravam a subir o rio Amazonas em busca das chamadas drogas do sertão (como urucum e guaraná). O primeiro europeu a descer todo o curso do rio teria sido Francisco de Orellana, a mando da Espanha, entre 1539 e 1541, dos Andes até o Oceano Atlântico. Julgava-se, na época, que a mítica cidade de El Dorado ficaria em algum ponto entre o Amazonas e as Guianas. Orellana afirmou ter encontrado e combatido uma tribo de mulheres guerreiras e por isso batizou o rio de "Rio das Amazonas", em referência às personagens da mitologia grega. O companheiro de Orellana Gonzalo Hernández de Oviedo y Valdés divulgou relatos da expedição, com descrição das riquezas e dos habitantes da região, que foram publicados em Veneza em 1556. Uma nova expedição em 1561 tentou repetir a façanha de Orellana, mas quase não conseguiu: o comandante, Pedro de Ursua, foi morto em combate com os índios e seu sucessor, Lope de Aguirre, enlouqueceu vítima de delírio tropical. Outros europeus rivais dos ibéricos, como franceses, ingleses e holandeses também faziam incursões freqüentes. Algumas feitorias foram instaladas nas margens dos maiores rios da região, para extrair madeira e especiarias, como o cravo e resinas (desde 1596)). Assim, desde cedo economia amazonense se baseou no extrativismo e não na manufatura.
Com a União Ibérica, em 1580, a linha de Tordesilhas perdeu efeito e os portugueses começaram a se expandir cada vez mais para oeste, e tiveram de disputá-lo com holandeses e britânicos, que extraíam madeira e pescavam. Em 1612, o rei Jaime I da Inglaterra comissionou Robert Harcourt para explorar a região. No mesmo ano, os franceses fundaram a França Equinocial no Maranhão e os portugueses, após tomá-la, decidiram seguir a conquista rumo ao Amazonas em 1616, sob Francisco Caldeira de Castelo Branco. O território foi incorporado ao Estado do Maranhão criado em 1621 por Filipe II (Marañón era o nome dado pelos espanhóis ao rio Amazonas, e continua a sê-lo até hoje no Peru). Entre 1637 e 1639, uma nova expedição comandada por Pedro Teixeira subiu todo o rio Amazonas, chegando até Quito, no Equador, e voltou. Também fundou a cidade de Franciscana, já em território peruano. Por essa época, os portugueses já tinham se instalado em Belém do Pará, no delta do Amazonas, e começavam a fazer expedições regulares no Amazonas e no baixo rio Madeira. Fundaram o forte de São José de Macapá, na margem esquerda da foz, e expulsaram os holandeses lá presentes. Com a Restauração Portuguesa, em 1640, o Estado do Maranhão voltou à soberania de Lisboa, agora expandido.
Entre 1648 e 1652, o bandeirante paulista Antônio Raposo Tavares saiu em seu périplo e, subindo a bacia do rio Paraguai, atingiu o Guaporé (atual Rondônia), percorreu o Altiplano, e de lá alcançou e desceu o Amazonas até Gurupá, no Pará, junto à foz. Foi a primeira expedição luso-brasileira de amplo reconhecimento.
[editar] Ocupação portuguesa
Em 1669, foi fundado o forte de São José da Barra do Rio Negro, na área onde hoje fica Manaus, pelo capitão português Francisco da Mota Falcão. A fortificação serviu como base para o (esparso) povoamento da bacia amazônica, permitindo a subida dos rios Negro e Branco, no atual Roraima, de onde se chegava ao Orinoco. Também começou a ocupação dos rios Solimões (Alto Amazonas) e Madeira. Os primeiros colonos enfrentaram hostilidade dos nativos, como as tribos dos torás e manaós (que deram origem ao nome da capital) do cacique Ajuricaba, que investiam contra os povoamentos e destruíam casas e instalações.
Para catequisar (e pacificar) os índios, os jesuítas (principalmente espanhóis) construíram missões, principalmente nas bacias do Solimões e do Juruá, liderados pelo padre Samuel Fritz. No entanto, a atividade missionária foi vista como ocupação estrangeira e a Coroa portuguesa determinou a expulsão dos jesuítas da região. As campanhas militares contra as missões ocorreram entre 1691 e 1697, comandadas por Inácio Correia de Oliveira, Antônio de Miranda e José Antunes da Fonseca no Solimões e Francisco de Melo Palheta no Alto Madeira. Belchior Mendes de Morais garantiu a posse portuguesa sobre a bacia do Napo. Os missionários espanhóis foram substituídos por outros, portugueses, principalmente carmelitas e mercedários. Nasceram nessa época as povoações que dariam origem às atuais Barcelos (então chamada Mariuá), Tefé, São Paulo de Olivença, Coari, [Borba]], Airão e Carvoeiro.
Os franceses e espanhóis voltaram a fazer incursões na região, e os portugueses decidiram fechar o rio Madeira à navegação estrangeira em 1732. Mesmo assim, os bandeirantes José Leme do Prado e Manuel Félix de Lima exploraram a área, descendo até Cuiabá no Mato Grosso, e criando um eixo de comércio amazônico, entre Cuiabá, Manaus e Belém. Foram erguidas fortificações portuguesas em Tabatinga, São Gabriel da Cachoeira, Maribatanas e São Joaquim, dando início a novos povoados.
[editar] Capitania junto com Grão-Pará
O Estado do Maranhão virou "Grão-Pará e Maranhão" em 1737 e sua sede foi transferida de São Luís para Belém do Pará. O tratado de Madri de 1750 confirmou a posse portuguesa sobre a área. Para estudar e demarcar os limites, o governador do Estado, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, instituiu uma comissão com base em Mariuá em 1754. Em 1755 foi criada a Capitania de São José do Rio Negro, no atual Amazonas, subordinada ao Grão-Pará. As fronteiras, então, eram bem diferentes das linhas retas atuais: o Amazonas incluía Roraima, parte do Acre e se expandia para sul com parte do que hoje é o Mato Grosso. O governo colonial concedeu privilégios e liberdades para quem se dispusesse a emigrar para a região, como isenção de impostos por 16 anos seguidos. No mesmo ano, foi criada a Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão para estimular a economia local. Em 1757 tomou posse o primeiro governador da capitania, Joaquim de Melo e Póvoas, e recebeu do Marquês de Pombal a determinação de expulsar à força todos os jesuítas (acusados de voltar os índios contra a metrópole e não lhes ensinar a língua portuguesa).
Em 1772, a capitania passou a se chamar Grão-Pará e Rio Negro e o Maranhão foi desmembrado. Com a mudança da Família Real para o Brasil, foi permitida a instalação de manufaturas e o Amazonas começou a produzir algodão, cordoalhas, manteiga de tartaruga, cerâmica e velas. Os governadores que mais trabalharam pelo desenvolvimento até então foram Manuel da Gama Lobo d'Almada e João Pereira Caldas. Em 1821, Grão Pará e Rio Negro viraram a província unificada do Grão-Pará. No ano seguinte, o Brasil proclamou a Independência.
Em meados do século XIX foram fundados os primeiros núcleos que deram origem às atuais cidades de Itacoatiara, Parintins, Manacapuru e Careiro e Moura. A capital foi situada em Mariuá (entre 1755-1791 e 1799-1808), e em São José da Barra do Rio Negro (1791-1799 e 1808-1821). Uma revolta em 1832 exigiu a autonomia do Amazonas como província separada do Pará. A rebelião foi sufocada, mas os amazonenses conseguiram enviar um representante à Corte Imperial, Frei José dos Santos Inocentes, que obteve no máximo a criação da Comarca do Alto Amazonas. Com a Cabanagem, em 1835-1840, o Amazonas manteve-se fiel ao governo imperial e não aderiu à revolta. Como espécie de recompensa, o Amazonas se tornou uma província autônoma em 1850, separando-se definitivamente do Pará. Com a autonomia, a capital voltou para esta última, renomeada como "Manaus" em 1856.
[editar] Autonomia e Ciclo da Borracha
O primeiro presidente (governador) da nova província foi Tenreiro Aranha. Para enfrentar as dificuldades financeiras da administração, ele conseguiu que o governo redirecionasse parte das verbas do Pará e do Maranhão durante alguns anos, para suprir o orçamento amazonense no início. Com este dinheiro, Aranha fundou uma tipografia e fez circular o primeiro jornal do Amazonas, o Cinco de Setembro. O progresso introduziu o comércio fluvial e o "regatão".
Os coletores de drogas do sertão se expandiram para o rio Juruá, o Purus e o Juari, abrindo caminho para a instalação de seringais (estações de extração de látex, seiva extraída das árvores seringueiras que serve como matéria-prima para fabricar borracha). A nova atividade sustentou a economia do Amazonas a partir da década de 1850. Em 1853 foi fundada a Companhia de Navegação e Comércio da Amazônia, com investimento do Barão de Mauá. Em 1866, o rio Amazonas foi aberto à navegação internacional. Empresas estrangeiras, principalmente inglesas, investiam capital na região. A lucratividade da borracha criou fortunas, financiou o crescimento de Manaus (que de vila passou a cidade numa rápida urbanização) e atraiu imigrantes. A província começou a receber imigração de várias partes do Brasil (principalmente nordestinos, fugindo da seca de 1872) e também de países vizinhos, como Bolívia e Peru. A população se estendia cada vez mais para o oeste, levando ao povoamento do Acre, já em território boliviano (o que causou o conflito que levou à Revolução Acreana). No auge, quase 100% da produção mundial de borracha saía da Amazônia.
A capital, Manaus, foi expandida e urbanizada, para ganhar ares de metrópole européia. Igarapés foram aterrados e abriram-se largas avenidas e boulevards. Datam dessa época as construções do Teatro Amazonas, do Palácio Rio Negro, da Alfândega do Porto e do Mercado Municipal Adolpho Lisboa, entre outros prédios exemplares. A população amazonense quintuplicou entre 1870 e 1900, passando de 50 mil para 250 mil.
O corrida da borracha também estimulou expedições científicas para catalogar a biodiversidade amazonense. Em 1883, o professor Barbosa Rodrigues funda o Museu Botânico de Manaus. Cientistas brasileiros e estrangeiros como Carl von Martius, William Chandless, Henry Walter Bates e Louis Agassiz exploram a floresta, quase sempre guiados pelo caboclo Manuel Urbano da Encarnação.
A província do Amazonas se antecipou em quatro anos à Abolição, decretando o fim da escravidão em 10 de julho de 1884 (embora houvesse poucos escravos). A província do Amazonas tornou-se estado com a proclamação da República, em 15 de novembro de 1889. O tenente Ximeno Villerroy foi nomeado interventor do governo federal. A política sofreu sucessivas crises, com disputas patrocinadas pelos empresários da borracha, e surgiram caudilhos locais, como Eduardo Ribeiro (modernizador de Manaus) e Guerreiro Antoni. Em 1910, foi deposto o governador Clemente Ribeiro Bittencourt.
O ciclo da borracha durou até 1913, quando o preço do produto no mercado internacional sofreu forte baixa por causa da concorrência da Malásia (para onde foram contrabandeadas sementes de seringueiras anos antes). A empresa Hevea, grande exploradora do setor, transferiu-se para o Sudeste Asiático. Em 1920, praticamente já não havia mais extração de látex e o Brasil contribuía com apenas 2% da produção mundial. No mesmo ano, o Acre foi desmembrado do Amazonas, tornando-se território e depois estado (em 1962).
[editar] Decadência e Retomada
Com o fim do ciclo da borracha, a economia amazonense voltou a decair. O estado entrou em crise, o erário perdeu arrecadação e praticamente zerou, inclusive chegando a não pagar os funcionários estaduais durante quatro anos seguidos. O Amazonas se juntou a São Paulo na revolta de 1924. Um movimento cívico-regionalista, o glebarismo, reivindicou a retomada da liderança política e cultural pelos nativos da região (até então, a elite local fora formada por imigrantes chegados na corrida da borracha).
Em 1943, como parte da estratégia de defesa na Segunda Guerra Mundial, os territórios fronteiriços do Rio Branco (atual Roraima) e Guaporé (atual Rondônia) também foram desmembrados do Amazonas, provocando protestos em Manaus.
Como forma de tentar retomar o crescimento da região, em 1953 o governo federal criou a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA). Ela servia para liberar verbas de investimento em infraestrutura, como a construção das rodovias Manaus-Porto Velho e Manaus-Boa Vista. Em 1966, o órgão foi substituído pela Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), que foi extinta por Fernando Henrique Cardoso em 2001 e recriada por Lula em 2003. O regime militar (1964-1985) também decidiu construir a rodovia Transamazônica, que no entanto acabou abandonada. O principal impulso ao crescimento veio em 1967, quando foi criada a Zona Franca de Manaus, um pólo para indústrias de alta tecnologia com isenção fiscal. O pólo começa a crescer cinco anos depois, em 1972, já no final do Milagre Econômico.
Gilberto Mestrinho foi a principal liderança política desde os anos 1960 aos 1990, ocupando três vezes o cargo de governador, até ser acusado de corrupção nos anos 1990.
Em 1987, foi anunciada a descoberta de petróleo na região de Coari. Na década seguinte, a Petrobrás instalou o campo de Urucu. Também foi construída a Refinaria Isaac Sabbá, em Manaus. Atualmente, a estatal é responsável por grande parte dos investimentos no estado, inclusive nos projetos PIATAM (de pesquisa ambiental) e na construção do gasoduto Coari-Manaus.
[editar] Bibliografia
- CARDOSO, F.H. & MÜLLER, G.. Amazônia: Expansão do Capitalismo, Brasília: Brasiliense/CEBRAP, 1978.
- FERREIRA REIS, A.C.. A Amazônia e a Cobiça Internacional
- MONTEIRO, Mário Ypiranga. A Capitania de São José do Rio Negro. Manaus: s/ed, 1955.
- SANTOS, Roberto. História Econômica da Amazônia (1800-1920). São Paulo: Queirós, 1980.
- SOUTO LOUREIRO, Antônio José. Síntese da História do Amazonas. Manaus: Imprensa Oficial do Estado do Amazonas, 1978.
[editar] Links externos
- História do Amazonas - pelo Senador Jefferson Peres (Senado Federal)
- Biblioteca Virtual do Amazonas
- História "da" Amazonas