Thomas More
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Sir Thomas More, por vezes latinizado em Thomas Morus ou aportuguesado em Tomás Moro (Londres, 7 de Fevereiro de 1478 — Londres, 6 de Julho de 1535) foi por um breve período o "Lord Chancellor" (chanceler do reino - alto cargo governativo) da Inglaterra do Rei Henrique VIII e teve reputação na Europa de autor humanista. Foi canonizado como santo da Igreja Católica.
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[editar] "De família não célebre, mas honesta"
Assim Thomas Morus se referia a si mesmo: "de família honrada, sem ser célebre, e um tanto entendido em letras." Era filho do juiz Sir John More, nomeado cavaleiro por Eduardo IV, e de Agnes Graunger. Casou-se com Jane Colt em 1505, em primeiras núpcias, foram seus filhos: Margaret, Elizabeth, Cecily e John. Jane falece em 1511, casa-se em segundas núpcias com Lady Alice Middleton. More era homem de muito bom humor e solícito com a família, muito próximo e amigo dos filhos. Deu-lhes educação excepcional e avançada para época e não distinguia a educação dos filhos da das filhas. A todos indistintamente fez estudar latim, grego, lógica, astronomia, medicina, matemática e teologia. Sobre esta família escreveu Erasmo: "Verdadeiramente, é uma felicidade conviver com eles."
Fez carreira como advogado respeitado, honrado e competente e exerceu por algum tempo a cátedra universitária. Em 1504 fazia parte da Câmara dos Comuns da qual foi eleito Speaker e adquire a fama de parlamentar combativo. Em 1510 foi nomeado Under-Sheriff de Londres, no ano seguinte juiz membro da Commission of Peace. Entrou para a corte de Henrique em 1520 foi várias vezes embaixador do rei e tornou-se cavaleiro (Knight) em 1521, fazendo assim jus ao título de "Sir", é nomeado Vice-tesoureiro e depois Chanceler do Ducado de Lancaster e, a seguir, Chanceler da Inglaterra.
A sua mais famosa obra é "Utopia" (1516) que quer dizer "em lugar nenhum". Neste livro cria uma ilha-reino imaginária que alguns académicos modernos viram como uma proposta idealizada de Estado e outros como sátira da Europa do século XVI. Um dos aspectos desta obra de More é que ela frequentemente usa uma alegoria quer de uma assumida voz autoral (como no Diálogo do conforto, ostensivamente uma conversa entre tio e sobrinho) ou está altamente estilizada ou ambos. Isto significa que é possível argumentar praticamente qualquer visão desta obra.
Como académico ele foi inicialmente um humanista no sentido consensual do termo. Latinista, escreveu uma História de Ricardo III em texto bilíngüe latim-inglês, em que Shakespeare, mais tarde se basearia para escrever a peça de igual nome. Foi um grande amigo de Erasmo de Roterdão que lhe dedicou o seu "In Praise of Folly" -- a palavra "folly" é Moria em grego. Era leitor das obras de Santo Agostinho e traduziu para o vernáculo A Vida de Pico della Mirandolla, obras que exerceram sobre ele grande influência. Escolheu John Colet, sacerdote, como diretor espiritual, que lhe estabeleceu um plano intenso de práticas de piedade.
De Morus teria dito Erasmo: "É um homem que vive com esmero a verdadeira piedade, sem a menor ponta de superstição. Tem horas fixas em que dirige a Deus suas orações, não com frases feitas, mas nascidas do mais profundo do coração. Quando conversa com os amigos sobre a vida futura, vê-se que fala com sinceridade e com as melhores esperanças. E assim é More também na Corte. Isto, para os que pensam que só há cristãos nos mosteiros."
[editar] O assunto do rei
Thomas Wolsey, Arcebispo de York, falhou na sua tentativa de conseguir o divórcio e anulação do casamento com Catarina de Aragão a que Henrique VIII pretendia e foi forçado a demitir-se em 1529. More foi nomeado chanceler em sua substituição, sendo evidente que Henrique ainda não se tinha apercebido da posição reta de More nesta matéria (pois imaginava que More venderia sua consciência como tantos outros o fizeram).
A sua chancelaria (1529-32) distinguiu-se, pois na época em que foi chanceler nunca se vira no Reino coisa igual, More conseguiu trabalhar de forma exemplar, tratando, pessoalmente, de todos os litigios existentes, até mesmo os herdados, sendo extremamente eficiente, imparcial e justo em suas decisões.
Sendo profundo conhecedor de teologia e direito canónico e homem religioso - ao ponto de se mortificar por Deus - usava por baixo das roupas galantes uma camisa-cilício - More via no anulamento do sacramento do casamento uma matéria da jurisdição do papado, e a posição do Papa Clemente VII era claramente contra o divórcio em razão da doutrina sobre a indissolubilidade do matrimônio.
A reacção de Henrique foi colocar-se a si mesmo na liderança da Igreja em Inglaterra. Apenas o sacerdócio foi requerido a submeter-se ao Acto de Supremacia declarando o soberano como o chefe da Igreja. More, como leigo, não tinha de se submeter a este juramento, mas ele demitiu-se da chancelaria a 16 de Maio de 1532, preferindo não servir o novo regime.
More escapou de uma tentativa inicial de o conectar com uma conspiração mas em 1534 o Parlamento promulgou o Decreto da Sucessão (Succession Act), que incluia um juramento (1) reconhecendo a legitimidade de qualquer criança nascida do casamento de Henrique VIII com Ana Bolena, e (2) repudiando "qualquer autoridade estrangeira, príncipe ou potentado". Tal como no juramento de supremacia, isto não foi requerido a todas as pessoas, mas apenas àquelas especificamente chamadas a fazê-lo, por outras palavras, todos os funcionários públicos e aqueles em suspeição de não apoiar Henrique.
[editar] Martírio e canonização
More foi convocado, excepcionalmente já que outros leigos não o foram, a fazer o juramento em 17 de abril de 1534, e perante sua recusa foi aprisionado na Torre de Londres, juntamente com o Cardeal e Bispo de Rochester John Fisher, onde continuou a escrever. A sua decisão foi a de manter o silêncio no assunto. Pressionado pelo Rei e por amigos da corte, More decidiu não enumerar as razões pelas quais não prestaria o juramento, ao tempo que não discriminou ninguém por faze-lo. Inconformado com o silêncio de More, foi julgado, condenado e sentenciado, e posteriormente executado em Tower Hill a 6 de Julho. Nem no cárcere e nem na hora da execução perdeu a serenidade e o bom humor e, diante das próprias dificuldades reagia com fina ironia.
Pela sentença o réu era condenado "a ser suspendido pelo pescoço" e cair em terra ainda vivo, depois seria esquertejado e decapitado. Em atenção à importância do condenado o rei, "por clemência", reduziu a pena a "simples decapitação", ao receber a notícia comentou: Não permita Deus que o rei tenha semelhantes clemências com os meus amigos. No momento da execução suplicou aos presentes que orassem pelo monarca e disse que "morria como bom servidor do rei, mas de Deus primeiro."
Sua cabeça foi exposta na ponte de Londres por um mês e depois recuperada pela sua filha, Margaret Roper. A execução de Thomas More na Torre de Londres, no dia 6 de julho de 1535, ordenada pelo rei Henrique VIII da Inglaterra, foi considerada uma das mais graves e irreparáveis sentenças aplicadas pelo estado contra um homem de honra, na medida em que as razões que levaram à sua condenação eram fruto do despotismo e não do senso de justiça.
O leigo Tomás More, devido a sua retidão e exemplo de vida cristã, foi reconhecido como mártir, declarado beato em 29 de dezembro de 1886 por decreto do Papa Leão XIII e, a pedido do Cardeal Bourne, dos arcebispos e bispos da Inglaterra, Escócia e Irlanda, de diversas universidades e admiradores, o Papa Pio XI o canonizou como santo da Igreja Católica em 9 de maio de 1935. O seu dia festivo é 22 de Junho. Em 2000, São Thomas More foi declarado "O patrono celeste dos Estadistas e Políticos" pelo Papa João Paulo II. Deixou vários escritos de profunda espiritualidade e de defesa do magistério da Igreja.
[editar] Obras de More (editadas em várias línguas)
- The Workes of Sir Thomas More Knyght, sometyme Lorde Chauncellour of England, wrytetn by him in the Englysh tongue. Ed. William Rastell, London, 1557.
- Thomae Mori Opera Omnia Latina. Lovaina, 1565. Reimpresso em Frankfurt, 1963.
- Um homem para todas as horas (Correspondência de Tomás Moro). The Correspondence of Sir Thomas More. Princeton: Elizabeth F. Rogers Edit., 1947.
- Thomas More's Prayer Book. Louis L. Martz & Richard S. Sylvester. New Haven, Connecticut, 1969.
- Diálogo da fortaleza contra a tribulação.
- A Agonia de Cristo.
- A Apologia.
- Um homem só (Cartas da torre).
- Os Novíssimos.
- Réplica a Martinho Lutero.
- Diálogo contra as heresias.
- Súplica das Almas.
- Refutação da Resposta de Tyndale.
- Debelação de Salem e Bizancio.
- Tratado sobre a Paixão de Cristo.
- Expositio Passionis.
- Tratado para receber o Corpo de Nosso Senhor.
- Piedosa Instrução.
- Orações.
- Epitáfio.
- Vida de Pico della Mirandola.
- História de Ricardo III.
- Utopia.
[editar] Bibliografia
- BARTSCHMID-KLAPPROTH, Marguerete. A Consciência do rei, Tomás Moro e o seu tempo. (Tradução de Tarcísio Nascimento Teixeira). São Paulo: Paulinas, 1968.
- GIBSON, R. W., J. M. Patrick. St. Thomas More: A Preliminary Bibliography, New Haven, Connecticut, 1961. (USA)
- LEMONNIER, Léon. Tomás More, Chanceler de Henrique VIII. Tradução de Nuno Santos. Lisboa: Editorial Aster, s/d (Título original: "Un resistant catholique". Editions de la Colombe, Paris).
- MORUS, Thomas. Obras Completas. Yale University Press (The Complete Works of St. Thomas More), New Haven, Connecticut. (USA)
- NIETO, José Lino C. Thomas More. São Paulo: Quadrante, 1987.
- PRADA, Andres Vasquez de. Sir Tomas Moro, Lord Canciller de Inglaterra. Madrid: RIALP, 1989. ISBN 84-321-2490-7
- ROTTERDAM, Erasmus of, Desiderius. Enchiridion Militis Christiani. Oxford, 1981.
- STAPLETON, Thomas. Tres Thomae. Vita Tomae Mori. Londres, 1588. The Life and Illustrious Martyrdom of Sir Thomas More. E. E. Reynolds Edit. London 1966.