Titoísmo
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O titoísmo é a tendência do comunismo aplicada por Josip Broz Tito na Iugoslávia durante seu regime, entre 1945 e 1980. O titoísmo ficou conhecido por ser uma forma muito mais "branda" de regime socialista, combinando a economia estatizada com diversas liberdades civis. Embora originalmente o termo tenha sido inventado pelos stalinistas no final dos anos 1940 como sinônimo de socialismo pervertido e deturpação ideológica, os próprios titoístas acabaram por adotá-lo, com certo orgulho, para designar o tipo de socialismo "leve" implantado na Iugoslávia.
Os titoístas iugoslavos se abrigavam na Liga dos Comunistas da Iugoslávia, nome do partido comunista federal daquele país.
Quando ocorreu o rompimento entre a URSS e a Iugoslávia, em 1948, o rótulo de "titoísta" foi aplicado a opositores internos do regime soviético, que passaram a sofrer perseguição. Por outro lado, dissidentes iugoslavos também foram tachados de stalinistas pelo governo de Tito e igualmente reprimidos, especialmente na prisão de Goli Otok. Em 1955, com a União Soviética sob o governo de Nikita Khruschov, os dois países reataram relações cordiais.
Fora do mundo socialista, e principalmente no Terceiro Mundo, o titoísmo exerceu grande admiração e liderança internacional, principalmente por conseguir conciliar justiça social com certo grau de democracia. Na África, sul da Ásia e América Latina, o socialismo iugoslavo persistiu como modelo político-ideológico para diversas correntes e governos. Aliada ao carisma pessoal de Tito, essa liderança ficou consolidada no Movimento Não-Alinhado, principalmente entre as décadas de 1960 e 1970.
[editar] Princípios
O princípio fundamental do titoísmo é o de que o socialismo deve ser atingido de acordo com as condições políticas, culturais, históricas e geográficas particulares de cada país, e não imposto por orientações externas. Isto foi usado para recusar a imposição de diretrizes à Iugoslávia por parte da União Soviética. O Marechal Tito não aceitou a política do Cominform de submeter os partidos comunistas dos países membros à orientação de Moscou e rompeu com ele, fundando o Informbiro, entidade que durou até 1955.
No caso específico iugoslavo, Tito tinha bastante margem moral para esse tipo de manobra, já que durante a Segunda Guerra Mundial a Iugoslávia não foi libertada dos nazistas pelo Exército Vermelho, como a maior parte do Leste Europeu, mas sim pela resistência armada de combatentes patriotas (partizans) comandados pelo marechal.
Tito procurou manter a Iugoslávia como um país "socialista mas independente" e criou o princípio da autogestão (samoupravljanje, em servo-croata), segundo a qual toda a sociedade deveria ser auto-suficiente pelo próprio trabalho, em todos os níveis: desde uma fábrica até o país inteiro. A Teoria do Trabalho Associado levou a políticas oficiais de fábricas pertencentes aos próprios operários (não apenas gerenciadas por eles) e repartição de lucros entre trabalhadores. Os principais colaboradores de Tito na criação dessas políticas foram Milovan Đilas e Edvard Kardelj. Elas se aproximavam do chamado comunismo de conselhos, enquanto os críticos enxergavam nisso traços de corporativismo.
Outro princípio básico do titoísmo é a convivência harmônica entre as distintas etnias, expressado pelo lema "fraternidade e unidade" (bratstvo i jedinstvo em servo-croata). Ao contrário do que ocorreu na URSS com a russificação das demais nacionalidades (por meio do ensino forçado da língua russa e do predomínio da nação russa sobre os demais povos soviéticos na administração do Estado), na Iugoslávia foi criada uma política obrigatória de pluralidade étnica. Isso era realizado inclusive por políticas de cotas mínimas para cada etnia, inclusive minorias como albaneses, em cargos públicos, escolas e postos de trabalho nas empresas.
O titoísmo também é fortemente laicizante (ou seja, separa a religião dos assuntos de Estado), embora tenha garantido a liberdade de culto. Num país multi-religioso como a Iugoslávia, ortodoxos, católicos e muçulmanos podiam freqüentar suas igrejas e mesquitas, mas a religião não era critério oficial de nenhuma forma. Já Stalin, por outro lado, reprimiu a Igreja Ortodoxa Russa durante décadas, até reaproximar-se dela fortemente durante a Segunda Guerra, em busca de apoio popular.
A propaganda soviética atacava o titoísmo como um agente mascarado do imperialismo ocidental e caricaturava Tito como "o açougueiro da classe operária". De fato, Tito era bem recebido em vários países progressistas do Ocidente, principalmente na Europa, e tido como um interlocutor confiável dentro do mundo socialista. A Iugoslávia não era considerada cercada pela Cortina de Ferro, embora seu governo fosse indubitavelmente comunista.