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Camilo Castelo Branco

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Camilo Castelo Branco, gravura de Francisco Pastor.
Camilo Castelo Branco, gravura de Francisco Pastor.

Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (Lisboa, 16 de Março de 1825São Miguel de Seide, 1 de Junho de 1890) foi um escritor português.

Teve uma vida atribulada que lhe serviu muitas vezes de inspiração para as suas novelas. Foi o primeiro escritor de língua portuguesa a viver exclusivamente dos seus escritos literários. Apesar de ter de escrever para um público, sujeitando-se assim aos ditames da moda, conseguiu ter uma escrita muito original.

Índice

[editar] Esboço Biográfico

Camilo Castelo Branco teve uma vida atribulada, passional e impulsiva. Uma vida tipicamente romântica.

Foi órfão de mãe quando tinha um ano de idade e órfão de pai quando tinha dez anos, o que lhe criou um carácter de eterno insatisfeito com a vida. Estando órfão, foi recebido por uma tia de Vila Real, e depois por uma irmã mais velha em Vilarinho de Samardã, em 1839 recebendo uma educação irregular através de dois padres de província.

Na sua adolescência formou-se lendo os clássicos portugueses e latinos, lendo literatura eclesiástica e em contacto com a vida ao ar livre transmontana.

Aos dezesseis anos contrai matrimónio com Joaquina Pereira que cedo abandona. O seu carácter instável e irrequieto leva-o a amores tumultuosos (Patrícia Emília, a freira Isabel Cândida).

Ainda a viver com Patrícia Emília de Barros, Camilo publicou n'O Nacional, correspondências contra José Cabral Teixeira de Morais, governador civil. Devido a esta desavença é espancado pelo «Olhos-de-Boi», capanga do governador. As suas irreverentes correspondências jornalísticas valeram-lhe, em 1848, nova agressão a cargo de Caçadores 3. Camilo abandona Patrícia nesse mesmo ano, fugindo para casa da irmã, residente agora em Covas do Douro.

Camilo tenta cursar medicina no Porto. A partir de 1848 faz uma vida de boémia, repartindo o seu tempo entre os cafés e os salões burgueses, dedicando-se no entanto ao jornalismo.

Apaixona-se por Ana Plácido, e quando esta se casa, tem, de 1850 a 1852, uma crise de misticismo, chegando a cursar o seminário que abandona. Ana Plácido é mulher de um negociante chamado Pinheiro Alves, um brasileiro (daí aparecer a personagem tipo do brasileiro tantas vezes nas suas novelas, quase sempre de maneira depreciativa). Ele seduz e rapta Ana Plácido e, depois de algum tempo a monte, são capturados pelas autoridades e julgados. Este caso emocionou a opinião pública pelo seu conteúdo tipicamente romântico do amor contrariado que se ergue à revelia das convenções sociais. Ficam presos na cadeia da relação do Porto, onde escreveu Memórias do Cárcere, tendo conhecido o famoso delinquente Zé do Telhado. Depois de absolvidos do crime de adultério, Camilo e Ana Plácido passam a viver juntos.

Entretanto Ana Plácido tem um filho, de origem incerta, teoricamente de seu antigo marido Pinheiro Alves, ao que se somam mais dois de Camilo. Com uma família para sustentar Camilo vai escrever a um ritmo alucinante.

Quando o ex-marido de Ana Plácido, Pinheiro Alves, falece em 1863, o casal vai viver para a sua casa, em São Miguel de Seide. Em 1885 obtém o título de visconde de Correia Botelho. Em 9 de Março de 1888 casa-se com Ana Plácido.

Camilo passa os últimos anos da sua vida ao lado de Ana Plácido. No entanto, não encontra a estabilidade emocional por que anseia. As dificuldades financeiras são muitas e os filhos dão-lhe enormes preocupações: considera Nuno irresponsável e Jorge sofre de uma doença mental. A progressiva e crescente cegueira (causada pela sífilis), impede Camilo de ler e de trabalhar capazmente, o que o mergulha num enorme desespero. Às 15h15 de 1 de Junho de 1890, depois da visita de um oftalmologista que lhe confirmara a gravidade do seu estado, Camilo desfere na têmpora direita um tiro de revólver, acabando por morrer às 17h00 do mesmo dia.

[editar] Camilo: Realismo ou Romantismo?

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Terá sido Camilo Castelo Branco, Realista ou Romântico? A sua Obra é predominantemente romântica isso parece incontestável, no entanto não o é totalmente.

Camilo gostaria de se situar acima das escolas literárias. No entanto os modelos clássicos vão ter sempre peso na sua produção literária, mas, também se deixa impressionar pela literatura misteriosa e macabra de Ann Radcliffe. Foi imensamente influenciado por Almeida Garrett, no entanto a fidelidade à linguagem e aos costumes populares ao cheiro do torrão (como aponta Jacinto do Prado Coelho) vão permanecer como uma das suas maiores qualidades. A Crítica tem apontado que se por um lado Camilo nos enredos das suas novelas, com as suas peripécias mais ou menos rocambolescas, está claramente numa filiação romântica por outro lado nas explicações psicológicas, na maneira como analisa os sentimentos e acções das personagens, pelas justificações e explicações dos acontecimentos, pela crítica a determinado tipo de educação, não pode ser considerado simplesmente como romântico. Jacinto do Prado Coelho considera-o “ideologicamente flutuante, Camilo mantém-se um narrador de histórias românticas ou romanescas com lances empolgantes e situações humanas comoventes” e também diz que “O romantismo de Camilo é um romantismo em boa parte dominado, contido, classicizado”, e que há ao “lado do seu alto idealismo romântico a viril contenção da prosa, um bom-senso ligado às tradições e a certo cânones clássicos, um realismo sui generis, de vocação pessoal que parece na razão directa da autenticidade do seu romantismo.

Eça de Queiroz publica a primeira versão de O Crime do Padre Amaro, já depois da sua exposição nas Conferências do Casino acerca do Realismo como nova expressão da arte. Isso faz com que Camilo, de certa maneira sentindo-se a perder terreno para o único prosador que lhe podia ser rival, envereda em duas novelas Eusébio Macário e A Brasileira de Prazins por tentar ser mais realista. E o que é que é mais extremado que o Realismo? O Naturalismo. O resultado é de um certo efeito cómico porque Camilo, com a sua maneira de escrever particular, não se contém e acaba por fazer uma paródia do Naturalismo.

No prefácio de Eusébio Macário, Camilo afirma que não tentou ridicularizar a escola Realista, e alega que: “tenho sido realista sem o saber. Nada me impede de continuar”, e ainda que “Eu não conhecia Zola; foi uma pessoa da minha família que me fez compreender a escola com duas palavras: “É a tua velha escola com uma adjectivação de casta estrangeira, e uma profusão de ciência (...) Além disso tens de pôr a fisiologia onde os românticos punham a sentimentalidade: derivar a moral das bossas, e subordinar à fatalidade o que, pelos velhos processos, se imputava à educação e à responsabilidade” compreendi e achei eu, há vinte e cinco anos, já assim pensava, quando Balzac tinha em mim o mais inábil dos discípulos.”

Portanto: Camilo tenta apanhar o combóio da nova escola Realista, e fá-lo de uma maneira que não é isenta de chacota.

[editar] Temas recorrentes em Camilo

  • a bastardia
  • a orfandade
  • os direitos do coração por oposição às convenções sociais
  • as relações familiares
  • o sentido metafísico de raíz cristão
  • o anticlericalismo
  • o sentir popular

[editar] Obras

Wikiquote
O Wikiquote tem uma coleção de citações de ou sobre: Camilo Castelo Branco.
Wikisource
O Wikisource possui trabalhos escritos por este autor: Camilo Castelo Branco
  • Anátema (1851)
  • Mistérios de Lisboa (1854)
  • A Filha do Arcediago (1854)
  • Livro negro de Padre Dinis (1855)
  • A Neta do Arcediago (1856)
  • Onde Está a Felicidade? (1856)
  • Um Homem de Brios (1856)
  • Lágrimas Abençoadas
  • Cenas da Foz
  • Carlota Ângela
  • Vingança
  • O Que Fazem Mulheres (1858)
  • O Morgado de Fafe em Lisboa (Teatro, 1861)
  • Doze Casamentos Felizes (1861)
  • O Romance de um Homem Rico (1861)
  • As Três Irmãs (1862)
  • Amor de Perdição (1862)
  • Coisas Espantosas
  • O Irónico (1862)
  • Coração, Cabeça e Estômago (1862)
  • Estrelas Funestas
  • Anos de Prosa (1863)
  • Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado (1863)
  • O Bem e o Mal (1863)
  • Estrelas Propícias (1863)
  • Memórias de Guilherme do Amaral (1863)
  • Agulha em Palheiro (1863)
  • Amor de Salvação (1864)
  • A Filha do Doutor Negro (1864)
  • Vinte Horas de Liteira (1864)
  • O Esqueleto (1865)
  • A Sereia (1865)
  • A Enjeitada (1866)
  • O Judeu (1866)
  • O Olho de Vidro (1866)
  • A Queda dum Anjo (1866)
  • O Santo da Montanha (1866)
  • A Bruxa do Monte Córdova (1867)
  • A doida do Candal (1867)
  • Os Mistérios de Fafe (1868)
  • O Retrato de Ricardina (1868)
  • Os Brilhantes do Brasileiro (1869)
  • A Mulher Fatal (1870)
  • O Regicida (1874)
  • A Filha do Regicida (1875)
  • A Caveira da Mártir (1876)
  • Novelas do Minho (1875-1877)
  • Eusébio Macário (1879)
  • A Corja (1880)
  • A Brasileira de Prazins (1882)

[editar] Ver também

[editar] Referências

  • Achega para uma bibliografia das bibliografias Camilianas, Lisboa, Biblioteca Nacional, 1990, 33 p.
  • CABRAL (ALEXANDRE) - Dicionário de Camilo Castelo Branco, Editoria Caminho, Lisboa, 1989.
  • CABRAL (ANTÓNIO) - Camilo de perfil (1914); Camillo desconhecido (1918) e As polémicas de Camilo (1925).
  • Camilo C. Branco? - CATÁLOGO da preciosa Livraria do eminente escriptor Camillo Castelo Branco, ...,Mattos Moreira & Cardosos, Lisboa, 1883, 4-80 p.
  • IN MEMORIAM DE CAMILLO - Edição de Ventura Abrantes, Lisboa, 1925
  • LIMA CALHEIROS (JOSÉ PEDRO DE) - Catálogo das obras de Camilo Castelo Branco, Visconde de Correa Botelho, Porto, 1889, e Additamento e continuação das obras de Camillo Castelo Branco, Porto, 1890.
  • MARQUES (HENRIQUE) - Bibliographia Camiliana, 1ª parte, Lisboa, 1894.
  • MARQUES (HENRIQUE) - As tiragens especiaes da obra de Camillo, in A Revista, Porto, 1903-1904.
  • MOTA (JOÃO XAVIER DA) - Camilliana. Colecção das obras de Camillo Castelo Branco, Rio de Janeiro, 1891.
  • NEVES (ÁLVARO) - Camillo Castello Branco - Notas à margem em vários livros da sua biblioteva recolhidas por ..., Lisboa, 1916, 161 p.
  • NEVES (ÁLVARO) - "Estudos Camillianos - Bibliographia e Bibliotheconomia", Lisboa, 1917, 16 p.
  • PIMENTEL (ALBERTO) - O romance de romancista (1890) e Os amores de Camillo (1899).
  • SANTOS (MANOEL DOS) - Revista Bibliografica Camiliana, Lisboa, 1916, III vols.
  • SANTOS (JOSÉ DOS) - Descrição bibliográfica da mais importante e valiosa Camiliana que até hoje tem aparecido à venda no mercado compreendendo tôdas as obras originais, traduzidas ou prefaciadas por Camilo Castelo Branco tanto em suas primeiras como em susequentes edições, Lisboa, 1939.


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Algumas Obras de Camilo Castelo Branco
Romances: Anátema  • Mistérios de Lisboa  • A Filha do Arcediago  • Livro Negro do Padre Dinis  • A Neta do Arcediago  • Onde Está a Felicidade?  • Um Homem de Brios  • Lágrimas Abençoadas  • Cenas da Foz  • Carlota Ângela  • Vingança  • O que fazem mulheres  • Doze Casamentos Felizes  • O Romance de um Homem Rico  • As Três Irmãs  • Amor de Perdição  • Coisas Espantosas  • Coração, Cabeça e Estômago  • Estrelas Funestas  • Anos de Prosa  • Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado  • O Bem e o Mal  • Cenas Inocentes da Comédia Humana  • Estrelas Propícias  • Memórias de Guilherme do Amaral  • Agulha em Palheiro  • Amor de Salvação  • A Filha do Doutor Negro  • Vinte Horas de Liteira  • O Esqueleto  • A Sereia  • A Enjeitada  • O Judeu  • O Olho de Vidro  • A Queda dum Anjo  • O Santo da Montanha  • A Bruxa do Monte Córdova  • A Doida do Candal  • O Senhor do Paço de Ninães  • Os Mistérios de Fafe  • O Retrato de Ricardina  • O Sangue  • Os Brilhantes do Brasileiro  • A Mulher Fatal  • Carrasco de Victor Hugo José Alves  • Livro de Consolação  • O Demónio do Ouro  • O Regicida  • A Flha do Regicida  • A Caveira da Mártir  • Novelas do Minho  • Eusébio Macário  • A Corja  • A Brasileira de Prazins  • Vulcões de Lama

Outros: Maria! Não me mates, que sou tua mãe!  • O Morgado de Fafe em Lisboa  • Memórias do Cárcere

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