Sífilis
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CID-10 | A50.-A53. |
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CID-9 | 090-097 |
Sífilis (historicamente chamada de Lues) é uma doença sexualmente transmitida (DST) causada por um espiroqueta chamado Treponema pallidum.
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[editar] Treponema pallidum
O Treponema pallidum é uma bactéria do tipo espiroqueta, ou seja, é uma bactéria com forma de espiral (em média dá 10 a 20 voltas). Têm cerca de 10 micrómetros de comprimento mas apenas 0,2 micrómetros de largura. Movendo-se ao longo do eixo longitudinal, tipo "saca-rolhas".
A destruição pela infecção do T. pallidum resulta principalmente dos danos causados pelo próprio sistema imunológico, tentando destruí-lo.
[editar] Transmissão
A transmissão quase sempre é através do contato sexual, porém pode ser transmitida também da mãe para o feto. Neste caso dá-se o nome de sífilis congénita.
A bactéria é móvel e invade a submucosa por micro rupturas invisíveis na mucosa.
[editar] Epidemiologia
Afeta unicamente o ser humano.
Há cerca de 30 casos por 100.000 habitantes por ano nos EUA e Europa.
[editar] Progressão e sintomas
Os sinais e sintomas de sífilis são vários, dependendo do estágio em que se encontra.
Nos Estados Unidos, são informados aproximadamente 36.000 casos de sífilis por ano, e o número atual é presumivelmente mais alto. Seis em cada dez casos informados acontecem em homens.
Se não tratada adequadamente, a sífilis pode causar sérios danos ao sistema nervoso central (SNC) e ao coração. A sífilis sem tratamento pode ser fatal. Se você acha que poderia ter sífilis, ou se descobre que o parceiro sexual teve ou poderia ter tido sífilis, procure um médico o mais cedo possível.
[editar] Sífilis primária
A sífilis primária manifesta-se após um período de incubação variável de 10 a 90 dias, com uma média de 21 dias após o contato. Até este período inicial o indivíduo permanece assintomático, quando aparece o chamado "cancro duro" (apesar de em Portugal a palavra cancro também significar câncer ou neoplasia, trata-se aqui de uma doença infecciosa).
O cancro é uma pequena ferida ou ulceração firme e dura que ocorre no ponto exposto inicialmente ao treponema, geralmente o pênis, a vagina, o reto ou a boca.
O diagnóstico no homem é muito mais fácil, pois a lesão no pênis chama a atenção, enquanto que a lesão na vagina pode ser interna e somente vista através de exame com um espéculo ginecológico. Pode ocorrer linfonodomegalia satélite não dolorosa. Esta lesão permanece por 4 a 6 semanas, desaparecendo espontaneamente. Nesta fase a pessoa infectada pode pensar erroneamente que está curada.
Ocorre disseminação hematogênica.
[editar] Sífilis secundária
A sífilis secundária é a seqüência lógica da sífilis primária não tratada e é caracterizada por uma erupção cutânea que aparece de 1 a 6 meses (geralmente 6 a 8 semanas) após a lesão primária ter desaparecido. Esta erupção é vermelha rosácea e aparece simetricamente no tronco e membros, e, ao contrário de outras doenças que cursam com erupções, como o sarampo, a rubéola e a catapora, as lesões atingem também as palmas das mãos e as solas dos pés. Em áreas úmidas do corpo se forma uma erupção cutânea larga e plana chamada de condiloma lata. Manchas tipo placas também podem aparecer nas mucosas genitais ou orais. O paciente é muito contagioso nesta fase.
Outros sintomas comuns nesta fase incluem febre, garganta dolorida, mal estar, perda de peso, anorexia, dor de cabeça, meningismo, e linfonodomegalia. Manifestações raras incluem meningite aguda, que acontece em aproximadamente 2% de pacientes, hepatite, doença renal, gastrite, proctite, colite ulcerativa, artrite, periostite, neurite do nervo ótico, irite, e uveíte.
[editar] Sífilis terciária
A sífilis terciária acontece já um ano depois da infecção inicial mas pode levar dez anos para se manifestar, e já foram informados casos onde esta fase aconteceu cinqüenta anos depois de infecção inicial.
Esta fase é caracterizada por formação de gomas sifilíticas, tumorações amolecidas vistas na pele e nas membranas mucosas, mas que podem acontecer em quase qualquer parte do corpo, inclusive no esqueleto ósseo. Outras características da sífilis não tratada incluem as juntas de Charcot (deformidade articular), e as juntas de Clutton (efusões bilaterais do joelho). As manifestações mais graves incluem neurosífilis e a sífilis cardiovascular.
Complicações neurológicas nesta fase incluem a paresia generalizada demencial que resulta em mudanças de personalidade, mudanças emocionais, hiperreflexia e pupilas de Argyll-Robertson, um sinal diagnóstico no qual as pupila contraem-se pouco e irregularmente quando os olhos são focalizados em algum objeto, mas não respondem à luz; e também a "Tabes dorsalis", uma desordem da medula espinhal que resulta em um modo de andar característico. Complicações cardiovasculares incluem aortite, aneurisma de aorta, aneurisma do seio de Valsalva, e regurgitação aórtica, uma causa freqüente de morte. A aortite sifilítica pode causar o sinal de Musset (um subir e descer da cabeça, acompanhando os batimentos cardíacos, percebido por Musset primeiramente em prostitutas parisienses).
[editar] Sífilis congênita
Sífilis congênita é a sífilis adquirida no útero e presente ao nascimento. Acontece quando uma criança nasce de uma mãe com sífilis secundária ou terciária. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, 40% dos nascimentos de mães sifilíticas são nadomortos, 40 a 70% dos sobreviventes estão infetados e 12% destes morrerão nos primeiros anos de vida. Manifestações de sífilis congênita incluem alterações radiográficas, dentes de Hutchinson (incisivos centrais superiores espaçados e com um entalhe central); "molares em amora" (ao sexto ano os molares ainda tem suas raízes mal formadas); bossa frontal; nariz em sela; maxilares subdesenvolvidos; hepatomegalia (aumento do fígado); esplenomegalia(aumento do baço); petéquias; outras erupções cutâneas; anemia; linfonodomegalia; icterícia; pseudoparalisia; e snuffles, nome dado à rinite que aparece nesta situação. Os "Rhagades" são feridas lineares nos cantos da boca e nariz que resultam de infecção bacteriana de lesões cutâneas. A morte por sífilis congênita normalmente é por hemorragia pulmonar.
[editar] Sífilis decapitada
Chamamos de sífilis decapitada à sífilis adquirida por transfusão sanguínea, já que não apresenta a primeira fase e começa direto na sífilis secundária. Este tipo de transmissão atualmente é quase impossível, já que todo sangue é testado antes de ser disponibilizado aos bancos de sangue.
[editar] Sífilis latente
Estado tipo portador, em que o indivíduo está infectado e é infeccioso mas não apresenta sintomas significativos.
[editar] Diagnóstico
Antes do advento do teste sorológico (sorologia de lues ou VDRL – acrónimo inglês para laboratório de investigação de doença venérea), o diagnóstico era difícil e a sífilis era confundida facilmente com outras doenças. O VDRL baseia-se na detecção de anticorpos específicos do T.syphilis. É usada a cardiolipina, um antigénio específico da bactéria, que reage com anticorpos contra ela em soro, gerando reacções de aglutinação visíveis. Este teste pode dar falsos positivos, e são realizados testes mais específicos caso surjam resultados positivos.
A espiroqueta não pode ser cultivada e é vista ao microscópio de fundo escuro ou com sais de prata em amostras. Contudo a sua baixa concentração significa que este teste não é útil no diagnóstico, dando muitos falsos negativos.
[editar] Tratamento
A sífilis é tratável e é importante iniciar o tratamento o mais cedo possível, porque com a progressão para a sífilis terciária, os danos causados poderão ser irreversíveis, nomeadamente no cérebro.
A penicilina G é a primeira escolha de antibiótico. O tratamento consiste tipicamente em penicilina G benzatina durante vários dias ou semanas. Indivíduos que têm reações alérgicas à penicilina (i.e., anafilaxia) podem ser tratados efetivamente com tetraciclinas por via oral.
[editar] História
Há duas escolas sobre as origens da sífilis. Uma defende que é uma doença americana trazida por Colombo ou seus sucessores da América. A outra que é uma doença antiga no Velho Mundo que sofreu mutações que a tornaram mais virulenta no século XVI.
As origens da sífilis não são conhecidas, entretanto poderá ter sido documentada por Hipócrates na Grécia Antiga em sua forma terciária. Seria conhecida na cidade grega de Metaponto aproximadamente 600 a.C., e em Pompéia foram encontradas evidências arqueológicas nos sulcos dos dentes de crianças de mães com sífilis.
Outros historiadores acreditam que o T.pallidum terá causado doenças cutâneas como a pinta e a framboesia em medievais na Europa, afecções que eram classificadas erroneamente como lepra, e que esse T.pallidum terá durante o século XVI sofrido mutação convertendo-se no T.pallidum que causa a sífilis. De facto a sífilis surgiu repentinamente no século XVI, e os europeus não apresentavam resistência contra ela, morrendo em números consideráveis e apresentando sintomas abruptos e floridos completamente diferentes dos observados hoje. Com a endemicidade da doença, ambos parasita e ser humano se terão adaptado um ao outro, surgindo gradualmente a sífilis mais moderada de hoje.
Sua transmissão entre soldados de vários exércitos, cursando com lesões de pele, fez com que surgissem os diversos nomes como "mal espanhol", "mal italiano", "mal polonês" etc.
Originalmente, não havia nenhum tratamento efetivo para sífilis. O comum era tratar com guáiaco e mercúrio. Mas foi somente no século XX que efetivamente surgiu o tratamento para a sífilis.
Em 1906 surgiu o primeiro teste efetivo para a sífilis, o teste de Wassermann. Embora tivesse alguns resultados falso-positivos, era um grande avanço no tratamento e prevenção da sífilis. Esta prova permitiu o diagnóstico antes do aparecimento dos sintomas da doença, permitindo a prevenção da transmissão de sífilis a outros, embora não provesse uma cura para esses infetados.
Como a doença foi melhor entendida, tratamentos efetivos começaram a ser procurados, começando com o uso de drogas contendo arsênico - Salvarsan em 1910. Um tratamento experimentado foi o uso da malária; esperava-se que a intensa febre produzida pela malária fosse suficiente para exterminar o espiroqueta. Embora isto deixasse o paciente com uma infecção por malária, considerava-se que era preferível a malária do que os efeitos a longo prazo da sífilis.
Finalmente, estes tratamentos ficaram obsoletos e esquecidos após a descoberta da penicilina e sua difusão depois de Segunda Guerra Mundial, o que permitiu aos médicos pela primeira vez curar a sífilis efetivamente.
Em um dos episódios mais vergonhosos do século XX, de 1932 a 1972 em Tuskegee (cidade do Alabama, EUA), foi realizado um estudo sobre a sífilis. Num atentado contra a ética médica e a moral, neste estudo, um grupo de negros americanos permaneceu sem tratamento para poder ser avaliado o curso natural da sífilis em um grupo, apesar de já existirem medicamentos para seu tratamento efetivo.
Em 17 de julho de 1998, na revista científica Science, um grupo de biólogos reportou a seqüência exata do genoma do Treponema pallidum.
[editar] Nomes alternativos
A sífilis também é conhecida como cancro duro, avariose, doença-do-mundo, mal-de-franga, mal-de-nápoles, lues, mal-de-santa-eufêmia e pudendagra, entre outros.
[editar] Ligações externas
Imagens interessantes de sífilis terciária
[editar] Ver também
Outras doenças causadas por subespécies do T.pallidum.
- Pinta (doença)
- Frabesia