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Guerra dos Farrapos (o outro lado)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Foi proposta a fusão deste artigo com: Guerra dos Farrapos.
Guerra do Farrapos

Data: Setembro 19, 1835 ; Março 1, 1845
Local: Sul do Brasil
Desfecho: Vitória Militar Imperial;
Vitória Política Republicana
Intervenientes

República Rio-Grandense

Império do Brasil
Principais líderes
Bento Gonçalves da Silva
Antônio de Souza Netto
Giuseppe Garibaldi
David Canabarro
Pedro II do Brasil
Lima e Silva
Marques de Sousa
Bento Manuel Ribeiro

Guerra dos Farrapos (o outro lado)

Conflito armado ocorrido no atual território do Rio Grande do Sul no período de 20 de setembro de 1835 a 1 de março de 1845, teve, como em toda guerra, dois exércitos opostos em disputa pelo mesmo território: o brasileiro e o piratinense, sendo aquele o vencedor.

Índice

[editar] Antecedentes

Muitos foram os motivos que formaram o movimento farroupilha:

  1. o descontentamento dos latifundiários com as altas taxações sobre seus produtos, em especial o charque, cujos impostos eram maiores do nacional do que do importado do Uruguai;
  2. o desagrado dos militares com as decisões corporativas e não qualificadas relativas às promoções militares, sendo relegados ao segundo plano no cenário militar imperial;
  3. a instigação de idéias liberais e democráticas por parte de estrangeiros expulsos de seus paises que para lá se exilaram, e por alas oposicionistas do Governo, em especial os chamados jurujubasfarroupilhas -- daí derivando o nome da revolução;
  4. a disseminação de ideiais separatistas, tidos por muitos gaúchos como o melhor caminho para a paz e a prosperidade, a exemplo da Província Cisplatina;
  5. a imposição de presidentes provinciais por parte do Governo imperial que ia contra o direcionamento político da Assembléia Legislativa Provincial do Rio Grande do Sul, desagradando a elite política regional.


[editar] Os farrapos

Farrapos ou farroupilhas eram todos os que fizeram a revolta contra o governo imperial, e que culminou com a Proclamação da República Rio-Grandense. Termo considerado originalmente pejorativo, já era utilizado há pelo menos uma década para designar alas liberais oposicionistas e radicais ao Governo central, destacando-se os chamados jurujubas. No Sul, o termo acabou sendo adotado pelos revoltosos para se contrapor aos chamados caramurus.

A crise de preços do charque, principal produto sul-riograndense à época, motivada por taxações ao produto nacional em detrimento ao importado, foi apenas o gatilho inicial para o envolvimento dos estancieiros no movimento.

Inicialmente, revindicavam a retirada de todos os portugueses que se mantinham nos mais altos cargos do Império e do Exército, mesmo depois da Independência, respaldados pelo Partido Restaurador ou caramuru. Os caramurus almejavam a volta da união a Portugal.

No entanto, é bom notar que entre os farrapos havia os que acreditavam que só tornando suas províncias independentes poderiam, obter uma "sociedade chula", ou seja, administrada por provincianos. Havia, portanto, estancieiros, estancieiros-militares, farroupilhas-libertários, militares-libertários, estancieiros-farroupilhas, abolicionistas e escravos que buscavam a liberdade, e assim por diante, numa combinação e inter-penetração ideológica sem fim. Inicialmente nem todos eram repuiblicanos e separatistas, mas os acontecimentos e os novos rumos do movimento conduziram a esse desfecho. A maçonaria sulista teve importante papel nos rumos tomados, tendendo aos ideais republicanos.

Ainda assim, as idéias não eram estanques. No convívio, nas charlas, nos galpões, nas barracas militares, trocavam-se muitas idéias, debatiam-se e defendiam-se posições distintas. Os ideais não estavam prontos e acabados, mas em formação, e amadureciam nesses encontros. Considere-se ainda que "pensar" não era privilégio de alguns letrados: peões, feitos militares de baixa patente, mesmo analfabetos, assimilavam essas idéias, de uma forma mais rude e simplória, mas ainda assim convencidos da justiça de sua luta.

Se anteriormente somente às personalidades com lastro na força política e econômica, era dada importância, nesta guerra houve o resgate de amplos setores que sempre apareceram como meros coadjuvantes no processo histórico. Então , escravos, mulheres, índios e excluídos em geral , até ali comuns espectadores das atividades dos grandes vultos de nossa história, invadiram a cena, passando a protagonizar papéis de destaque.

[editar] A Revolta Farroupilha

Na noite de 18 de setembro de 1835, houve uma reunião histórica na Loja Maçônica Philantropia e Liberdade, da qual Bento Gonçalves da Silva era Grão-Mestre. Ficava na Rua da Igreja, n° 67 Atual Rua Duque de Caxias, no trecho que começa no Solar dos Câmara, em Porto Alegre. O número nos remete, provavelmente, ao prédio antigo da Assembléia Provincial, existente até hoje. Presentes José Mariano de Mattos (um ferrenho separatista), José Gomes de Vasconcelos Jardim (primo de Bento e futuro Presidente da República Rio-Grandense), Vicente da Fontoura (farroupilha, mas anti-separatista), Pedro Boticário (fervoroso farroupilha), Paulino da Fontoura (irmão de Vicente, cuja morte seria imputada a Bento Gonçalves, estopim da crise na República), Antônio de Sousa Netto (imperialista e farroupilha, mas simpatizava com as idéias republicanas) e Domingos José de Almeida (separatista e grande administrador da República).

Decidiu-se por unanimidade, nesta reunião, que daí a dois dias, no dia 20 de Setembro, de 1835 tomariam militarmente Porto Alegre e destituiriam o Presidente Provincial Fernandes Braga.

Em várias cidades do interior as milícias estavam alertas para deflagrarem a revolta. Bento comandava uma tropa reunida em Pedras Brancas, hoje cidade de Guaíba.

Gomes Jardim e Onofre Pires eram os comandantes farroupilhas aquartelados com cerca de 400 homens no morro da Azenha, o atual Cemitério São Miguel e Almas. Mantinham, no dia 19 de Setembro de 1835, um piquete nas imediações da ponte da Azenha, com orientação para interceptar quem por ali transitasse, evitando que se alertasse o Presidente de suas presenças.

Estavam, portanto, os farroupilhas, a uma prudente distância da vila. O piquete avançado, com 30 homens, posto nas imediações da ponte da Azenha era comandado pelo Manoel Vieira da Rocha, o Cabo Rocha e aguardava o amanhecer do dia 20 para investir, junto com o restante da tropa, contra os muros da vila.

Porém Fernandes Braga ouvira comentários e insinuações. Desconfiado, mandou uma partida de 9 homens sob o comando de José Gordilho de Barbuda, o Visconde de Camamu, fazer um reconhecimento, mesmo à noite. Descuidados e inexperientes, os guardas se fizeram notar. Alertas e de prontidão, o piquete republicano carregou vertiginosamente sobre os imperiais, que fugiram em desabalada correria, resultando 2 mortos e cinco feridos. Um dos feridos, o próprio Visconde, alerta Fernandes Braga. Eram 11 horas da noite de 19 de Setembro de 1835.

Braga não dormiu. Logo ao amanhecer estava junto ao arsenal de guerra, hoje Ponta do Gazômetro , Porto Alegre,, tentando reunir homens para a resistência. Porém, até o meio da tarde somente 17 homens se apresentaram para defender a cidade. Vendo armas e munição escassa, Braga resolve fugir a bordo da escuna Rio-Grandense, seguido pela canhoneira '19 de Outubro', indo parar em Rio Grande, maior cidade da Província, então. Não sem antes voltar ao palácio do Governo, pegar alguns documentos e todo o dinheiro dos cofres da Província.

Os farroupilhas adiaram a investida combinada, devido ao inusitado da noite anterior. Somente ao amanhecer o dia 21 de Setembro de 1835, chegam às portas da cidade, Bento Gonçalves da Silva e demais comandantes, seguidos por suas respectivas tropas. Porto Alegre abandonada, sem resistência, entregou-se aos revolucionários.

Estava praticamente cumprida a missão. Apenas alguns focos de resistência em Rio Pardo e São Gabriel, além de Rio Grande, mantinham os farroupilhas ocupados. A Câmara Municipal reúne-se extraordinariamente para ocupar o cargo de Presidente. Na ausência dos vices imediatos, assume o quarto vice, Dr. Marciano Pereira Ribeiro. Logo expedem uma carta ao Regente Imperial explicando os motivos da revolta e solicitando a nomeação de um novo Presidente.

[editar] A animosidade continua

De Rio Grande, Fernandes Braga embarca para o Rio de Janeiro, capital do Império do Brasil. Uma vez na Corte, Braga passa a sua versão da história, bastante diferente da carta enviada por Bento Gonçalves, o que faz o Império decidir-se por combater e esmagar a revolta.

O novo indicado José de Araújo Ribeiro, veio acompanhado de um verdadeiro aparato de guerra, com brigues e canhoneiras, armamento e muitos soldados imperiais. Os Farroupilhas gaúchos temiam o mal-entendido, a perseguição, a prisão e a morte exemplar, muito utilizada pelo Império em outras revoltas.

Houve, por isso, alguma demora na Assembléia Provincial a discutir a aceitação ou não do novo indicado, o que ocasionou a assunção de Araújo Ribeiro à Presidência perante a Câmara Municipal de Rio Grande (15 de Janeiro de 1836), Uma posse ilegítima e inconstitucional. Daí em diante temos dois governos “legítimos” e simultâneos na Província, [[situação que perduraria até o final da guerra, em 1845.

Como Presidente Imperial da Província, Araújo Ribeiro tratou de recompor seu exército, reunir os oficiais gaúchos contrários aos farroupilhas João da Silva Tavares, Francisco Pedro de Abreu (o “Chico Pedro” ou Moringue), o então Major Manuel Marques de Sousa , que viria a recber o título de Conde de Porto Alegre, Bento Manuel Ribeiro ( que iria trocar de lado na disputa duas vezes), Manuel Luiz Osório (O Gen. Osório, hoje patrono da Cavalaria Rio-Grandense), e mesmo contratar mercenários vindos do Uruguai. Administrativamente mandou fechar a Assembléia Provincial, e destituiu Bento Gonçalves do Comando da Guarda Nacional, nomeação feita por Marciano Ribeiro]], desautorizando-o. Inicia aí a resistência em Rio Grande e a perseguição aos revoltosos.

Em Abril de 1836, o comandante-das-armas farroupilhas, João Manuel de Lima e Silva (tio de Luís Alves de Lima e Silva), que viria a ser o Duque de Caxias, prende o Major Manuel Marques de Sousa, que é trazido junto com os demais prisioneiros ao navio-prisão chamado “Presiganga”. Utilizando um guarda corrupto, soltam-se os prisioneiros, e sob o comando de Marques de Sousa, retomam a cidade de Porto Alegre das mãos dos farroupilhas. Era a noite de 15 de Junho de 1836.

Dias depois Bento Gonçalves tentar retomar a capital, é rechaçado, e começa um sítio ao redor da cidade que ficou na história como um dos mais longos sítios militares a uma cidade brasileira. Ao todo 1.283 dias, terminando somente em Dezembro de 1840.

[editar] A Guerra dos Farrapos

Não havia mais sentido manter os ideais farroupilhas iniciais da revolta. Fernandes Braga fora substituído por um indicado pior ainda, que agora os ameaçava, com as bênçãos do Império, perseguir e esmagar a revolta.

Se não houvesse outros motivos para o início da luta, só lhes caberia agora depor as armas imediatamente, e sofrer as conseqüências... Mas, sabia-se, o sentimento republicano e separatista era generalizado entre os revoltosos. Estes sentimentos e ideais viriam gerar a Guerra dos Farrapos e provocariam o nascimento de um novo país independente, a República Rio-Grandense.

O sentimento separatista, republicano e federativo cresce em adesões massivas por entre as tropas farroupilhas, cresce também a pressão aos comandantes, antes imperiais, para adoção dos novos sistemas e modelos. Entre eles o comandante da Primeira Brigada Farroupilha Antônio de Souza Netto.

[editar] A proclamação da República

Ver artigo principal: República Rio-Grandense.

Destacado por Bento Gonçalves da Silva, Antônio de Sousa Neto desloca-se, no início de setembro de 1836 à região de Bagé, onde o imperialista Silva Tavares, vindo do Uruguai, faz grande alarde, desfiles, e gabolices. A Primeira Brigada de Netto, com 400 homens atravessa o Arroio Seival e encontra as tropas de Silva Tavares (560 homens) sobre uma coxilha. Era a tarde de 10 de Setembro de 1836. Observam-se por minutos, e Silva Tavares desce a coxilha em desabalada carga. Netto ordena também a carga de lança e espada, sem tiros! As forças se encontram em sangrento combate. Inicialmente há uma pequena vantagem para os imperiais, mas um acontecimento muda a sorte da batalha. O cavalo de Silva Tavares, com o freio rebentado na peleia, dispara em velocidade, causando a impressão de fuga, mesmo entre seus comandados. A confusão entre eles é aproveitada pelos cavaleiros de Netto com força redobrada. Os farrapos ficam quase intactos, enquanto do outro lado há 180 mortos, 63 feridos e 100 prisioneiros.

Donos do campo, os farroupilhas comemoram vibrantemente a vitória. Cresce a idéia separatista de conquistar e manter um país rio-grandense independente, livre e feliz entre as nações do mundo.

À noite as questões ideológicas são revistas. Lucas de Oliveira, Joaquim Pedro, Teixeira Nunes cercam Netto. Não há outra saída a não ser enveredar pela senda da independência, não há outro desejo popular a não ser o desejo de liberdade, de abolição da escravatura e de democracia sob o sistema republicano. Se tivesse que acontecer, a hora era aquela, a hora da vitória, do júbilo, da afirmação. Netto é simpático à idéia, mas resiste diante de uma provável reprovação de seus pares. Pensa que tal proclamação de uma nova República deveria partir de Bento Gonçalves, o grande comandante de todos os farrapos. Contraporam que Bento já se decidira pela República e que hierarquia rígida era coisa do Império. O sistema republicano centra-se no povo, suas vontades e necessidades, e não na elite governativa.

Finalmente, aquiescendo o Cel Netto, passaram a escrever a Proclamação da República Rio-Grandense que seria lida e efetivada por ele, perante a tropa perfilada, 11 de Setembro de 1836.

Após a cerimônia de Proclamação, irrompem todos em gritos de euforia, liberdade, e vivas à República, com tiros para o alto e cantorias. Logo chega à galope o sargento Teixeira Nunes, empunhando pela primeira vez a bandeira tricolor, mandada fazer às pressas em Bagé. Passa então a desfilar por entre seus companheiros com a bandeira verde, vermelha e amarela da República Rio-Grandense, comemorando sua independência.

A partir deste momento, temos a falência imediata da Revolta Farroupilha, e o início da Guerra dos Farrapos, propriamente dita.

A mudança de posicionamento foi imediata.

  • Já não desejavam mais substituir o Presidente da Província por outro, pois agora haveriam de ter um Presidente da República independente.
  • Os combatentes não era mais revoltosos farroupilhas, mas soldados do Exército Republicano Rio-Grandense.
  • O pavilhão que defendiam não era mais a bandeira imperial verde-amarela, mas a quadrada bandeira republicana verde, vermelha e amarela em diagonal (sem o brasão no meio).
  • Não lutavam mais por reconhecimento e atenção, mas pela defesa da independência e soberania de seu país.
  • Já não era mais a luta de revoltosos em busca de justiça, mais uma guerra de exército defensor (republicano) contra exército agressor (imperial);

[editar] Traição de Fanfa

No dia 12 de Setembro, um dia após à Proclamação da República Rio-Grandense,por Antônio de Sousa Netto conseqüente à vitória na Batalha do Seival, houve a solenidade de lavratura e assinatura da Ata de Declaração de Independência, pela qual os abaixo-assinantes declaram não embainhar suas espadas, e derramar todo o seu sangue, antes de retroceder de seus princípios políticos, proclamados na presente declaração.Fez-se várias cópias da Ata e foram enviadas às câmaras municipais e aos principais comandantes do Exército Republicano.

Como resposta imediata, as câmaras de Jaguarão, Alegrete, Cruz Alta, Piratini, entre outras, convocaram sessões extraordinárias onde puderam analisar e corroborar os feitos, fazendo constar em Atas Legislativas suas adesões, proclamando a independência política da Província, por ser a vontade geral da maioria.

Na sessão extraordinária da Câmara de Piratini, na primeira capital da República Rio-Grandense, em 6 de Novembro de 1836, procedeu-se formalmente a votação para Presidente da República, conforme os parâmetros da época. A concorrida eleição foi vencida por Bento Gonçalves da Silva(mesmo sem estar presente e sem campanha) e primeiro vice-presidente José Gomes de Vasconcelos Jardim, assume o vice interinamente com a incumbência de convocar uma Assembléia Constituinte para formar a Constituição da República Rio-Grandense.

Bento Gonçalves não pudera estar presente devido a um fato circunstancial. Ao tomar conhecimento do ato da Proclamação da República Riograndense , Bento Gonçalves levanta o sítio que impingia a Porto Alegre, e passa a deslocar-se, beirando o Rio Jacuí, para junção de forças com Netto. Fatalmente ele precisava atravessar o rio na Ilha de Fanfa, no município de Triunfo por causa da época de cheias. Ciente dos acontecimentos, Bento Manuel agora a serviço do Império, desloca suas tropas a partir de Triunfo, de modo a impedir a passagem de Bento Gonçalves. Araújo Ribeiro, alertado por Bento Manuel , envia a Marinha, comandada pelo mercenário inglês John Grenfell, com 18 barcos de guerra, escunas e canhoneiras guardando o lado sul da Ilha, só percebida pelos Farrapos depois de estarem na ilha. Fechando o cerco por terra, Bento Manuel ficou senhor da situação. Era 3 de Outubro de 1836. Apesar da “ratoeira” em que estavam, os farrapos resistem bravamente, sabedores da proximidade das tropas de Crescêncio de Carvalho, repelem os "marines" que desembarcam na ilha pela costa sul e qualquer tentativa de travessia pelo norte. Naquela noite, porém, Bento Manuel levanta a bandeira de “parlamento”. Bento Gonçalves aceita negociar. O acordo foi feito e assinado na tenda de Bento Manuel. Os Farrapos entregariam as armas, capitulariam, e voltariam livres para suas casas. Segundo Bento Manuel a guerra estaria terminada, com a vitória do Império. Ele pacificara a Província, e receberia as glórias da Corte. Porém, Bento Gonçalves não era tão ingênuo. Aceitaria as condições, sairia perdedor dali, mas estariam vivos para recuperar o tempo e o terreno perdido.

Pela manhã do dia 4 de Outubro era formalizada a capitulação. Alguns guerreiros, no entanto, a entregar a arma ao inimigo, preferia jogá-la no rio. No momento em que confraternizavam as tropas (Bento Gonçalves sempre teve a esperança de trazer o primo e amigo para o convívio republicano), chega Araújo Ribeiro ,em pessoa, trazido por [John Grenfell. Imediatamente ordena a prisão dos Farrapos, desprevenidos e desarmados, não aceitando o combinado entre os dois Bentos. Bento Manuel colabora com a captura do maior número possível de Farrapos: Bento Gonçalves, Tito Lívio, Pedro Boticário, Antônio Côrte Real, José Calvet, Dr. Marciano Ribeiro, entre outros.

A Batalha do Fanfa , embora seja conhecida como “Derrota do Fanfa”, o nome correto é “Traição do Fanfa”, uma vez que houve um acordo descumprido.

A luta, porém, continuou mais acirrada. Os rio-grandenses a cavalo, no pampa, eram soberanos! O Império despejava rios de dinheiro para recrutar mais e mais soldados paulistas e baianos, para comprar mais armas, mais munições, com pouquíssimo resultado prático.

[editar] Gonçalves assume a presidência

Bento chegou à prisão do Forte de São Marcelo, na Bahia, em 26 de Agosto de 1837, conseguindo fugir a 10 de Setembro do mesmo ano, com a ajuda indispensável dos irmãos da maçonaria. Chegando de volta ao Rio Grande do Sul a 16 de Novembro de 1837, logo assume seu posto de Presidente da República.

A 29 de Agosto de 1837 lança seu mais importante manifesto aos rio-grandenses onde justifica as irreversíveis decisões tomadas em favor da libertação do seu povo, e coloca a nação gaúcha no seu verdadeiro lugar entre as demais nações da Terra: -Toma na extensa escala dos estados soberanos o lugar que lhe compete pela suficiência de seus recursos, civilização e naturais riquezas que lhe asseguram o exercício pleno e inteiro de sua independência, eminente soberania e domínio, sem sujeição ou sacrifício da mais pequena parte desta mesma independência ou soberania a outra nação, governo ou potência estranha qualquer.Faz neste momento o que fizeram tantos outros povos por iguais motivos, em circunstâncias idênticas.(E no trecho final, um juramento importante lembrado e cobrado pelos Farrapos de todos os tempos:) -Bem penetrados da justiça de sua santa causa, confiando primeiro que tudo, no favor do juiz supremo das nações, eles têm jurado por esse mesmo supremo juiz, por sua honra, por tudo que lhes é mais caro, não aceitar do governo do Brasil uma paz ignominiosa] que possa desmentir a sua soberania e independência. Estas palavras têm reflexo mais tarde, quando da assinatura do Tratado de Ponche Verde.

Mais oito anos duraria a Guerra pela Independência da República Rio-Grandense.

Pelo lado imperial, Araújo Ribeiro foi substituído a 5 de Janeiro de 1837 pelo Brigadeiro Antero de Brito, acirrando mais a disputa. Se Araújo era, acima de tudo, conciliador, Brito que acumulava os cargos de Presidente e Comandante das Armas, passou a perseguir e prender até mesmo civis simpatizantes das idéias farroupilhas, confiscando seus bens e alguns até mesmo desterrando. Em contrapartida os Farrapos eram senhores do pampa, recebiam maciças adesões de militares descontentes com a nomeação de Brito, e ainda em Janeiro de 1837, ganham o apoio dos habitantes de Lajes de Santa Catarina, que seria um importante ponto onde os Farrapos comprariam armas e munições. O principal perseguido por Antero de Brito era o Comandande das Armas Imperiais anterior a ele, nada menos que Bento Manoel Ribeiro. Vaidoso, e prepotente, Bento Manoel não aceitava a auto-nomeação de Brito, e continuava a dar suas próprias ordens às tropas. Brito, então, sai pessoalmente ao seu encalço. Bento foge mudando de direção, como numa brincadeira de gato e rato. Situação que se arrasta até o dia 23 de Março de 1837 quando, num golpe de mestre, Bento Manoel Ribeiro deixa um piquete para trás, sob o comando do Major Demétrio Ribeiro que, de surpresa, cai sobre as tropas de Brito e prende o Presidente Imperial da Província. Com isso novamente o traidor é aceito no seio farrapo, passando a combater novamente os imperiais, ao lado de Bento Gonçalves.

[editar] Queda da Tranqueira invicta

É assim que o vemos ajudando, ao lado de Antônio de Sousa Netto, na conquista de Rio Pardo, a ex-tranqueira invicta, a 30 de Abril de 1838.

Este fato foi importante por vários aspectos. Rio Pardo formava, com Rio Grande e Porto Alegre, a fronteira de domínio imperial, um ponto de apoio para a conquista do interior, tinha fama de inexpugnável, e a vitória farrapa foi incontestável. Importante também porque em Rio Pardo se encontrava, na ocasião, a Banda Imperial, sob o comando do maestro mineiro Joaquim José Mendanha, que viria a compor, sob a encomenda de Bento Gonçalves da Silva, o Hino Nacional da República Rio-Grandense. Com a letra do republicano Serafim Joaquim de Alencastre, o hino foi executado e cantado pela primeira vez na cerimônia de comemoração do primeiro aniversário da Tomada de Rio Pardo. Hoje a música do hino é a mesma, mas foi composta outra letra, por Francisco Pinto da Fontoura, o Chiquinho da Vovó, para se adequar aos novos tempos.

Cabe ressaltar que também a letra primeira Hono Nacional da República Riograndense destacava a mesma idéia dos discursos de Bento Gonçalves, de não ceder à paz vergonhosa da deposição das armas: “Nobre povo rio-grandense, / Povo de heróis, povo bravo! / Conquistaste a independência / Nunca mais serás escravo”.

[editar] A tomada de Laguna

Mesmo senhores de Rio Pardo, os Farrapos passavam pelo aperto de não ter uma saída para o mar, já que os imperiais se concentravam em Rio Grande. Foi preciso engendrar uma manobra incomum para conquistar um ponto que pudesse ligar o Rio Grande dos farrapos com o mar. Este ponto era Laguna, em Santa Catarina. O primeiro passo era constituir a Marinha Rio-Grandense. Giuseppe Garibaldi conhecera Bento Gonçalves da Silva ainda em sua prisão, no Rio de Janeiro, e obteria dele uma carta de corso para aprisionar embarcações imperiais. O plano era criar um estaleiro junto a uma fábrica de armas e munições em Camaquã, na estância de Ana Gonçalves, irmã de Bento Gonçalves, trazer os barcos pela Lagoa até o Rio Capivari, e dali, por terra, sobre rodados especialmente construídos para isso, até a barra do Tramandaí, onde os barcos tomariam o mar.

Assim foi feito, mas não sem dificuldades.

Os imperiais, informados dos planos farrapos, atacam o estaleiro no Camaquã, comandados por Francisco Pedro de Abreu, o Chico Pedro, também conhecido por Moringue . Eram mais de uma centena de homens, cercando o galpão com 14 trabalhadores entrincheirados. A comandá-los, Giuseppe Garibaldi. Foram horas de ataque e resistência heróica. Quase ao anoitecer, Moringue precipita-se do esconderijo e leva um balaço no peito. Seus companheiros o recolhem e fogem tão rapidamente quanto chegaram.

Já com os lanchões Seival e Farroupilha cortando as águas da Lagoa dos Patos, eram fustigados pela retaguarda pelo temível John Grenfell, Comandante da Marinha Imperial na Província. Fugindo e despistando conseguem enveredar pelo estreito do Rio Capivari, iniciando o caminho por terra. Ainda aí passariam por duras provações, pois era inverno, tempo feio com chuvas e ventos, tornando o chão um grande lodaçal.

Por fim, a 14 de Julho de 1839 os lanchões rumavam à Laguna, sob o comando geral de David Canabarro. O Seival era comandado pelo inglês John Griggs, conhecido como “João Grandão”, e o Farroupilha por Garibaldi. Na costa de Santa Catarina, próximo ao Rio Araranguá, uma tempestade põem a pique o Farroupilha, salvando-se milagrosamente uns poucos farrapos, entre eles o próprio Garibaldi.

Finalmente atacam por terra, com as forças de Canabarro e por água. Entrando em laguna através da Lagoa de Garopaba do Sul, passando pelo rio tubarão e atacando laguna por tráz, surpreendendo os imperiais que esperavam um ataque de Garibaldi pela barra de Laguna e não pela lagoa, Garibaldi com o Seival, tomando Laguna, com ajuda do próprio povo lagunense, a 22 de Julho de 1839. A 29 deste mês proclama-se a República Juliana, feito um país independente, ligada à República Rio-Grandense pelos laços do Federalismo.

Prepara-se o ataque farrapo à ilha do Desterro, hoje Florianópolis, mas o império contra-ataca de surpresa, com força total. Comandados pelo Gen. Andréa, por terra mais de 3.000 homens e por mar, com uma frota de 13 navios, melhor equipados e experientes, retomam Laguna a 15 de Novembro de 1839, expulsando os farrapos Garibaldi e Canabarro. Garibaldi foge com Anita, que tornar-se-ia conhecida como Anita Garibaldi,uma mulher lagunense casada. Um escândalo para a época. Anita vem a ser sua companheira de todos os momentos, lutando lado-a-lado com o marido seja nos rios e lagos do Rio Grande, como na Itália,onde é considerada heroína.

[editar] 1840: os farrapos perdem território

o Gal.Andréa, que havia retomado Laguna, logo é nomeado o novo Presidente Imperial da Província de São Pedro e Comandante do Exército Imperial na Província.

Entre as frustrações de 1840 estão:

Bento, ainda neste ano de 1840, em decorrência dos insucessos, acena ao Império com a possibilidade de acordo. Muitos autores enganadamente alegam que Bento Gonçalves estava traindo a causa da libertação.Bento pedia ao Dr.Álvares Machado salvo-condutos para que companheiros seus pudessem atravessar impunemente os locais conquistados pelo império a fim de acertar os detalhes com os chefes republicanos de uma rendição coletiva dos Farrapos. Levavam, efetivamente, uma carta com este desígnio. Porém, havia uma outra mensagem oral a ser dada àqueles líderes, que não podia ser escrita. A manobra, porém, foi tão bem pensada e executada que enganaria até mesmo seus companheiros de luta, emotivo uma carta de reprovação escrita por Domingos José de Almeida, então Vice- Presidente e Ministro da Fazenda da República Rio-Grandense. Bento não esconde seu desencanto na pouca confiança dos amigos na carta de resposta: -Mui sensível me foi a suposição que fez S. Exa. de eu ser só por mim capaz de entrar em tratados com os delegados do império e ainda mais quando todas as proposições que se me faziam eram indignas do povo rio-grandense (as proposições feitas a Bento eram as mesmas expressas no Tratado de Ponche Verde – N.A.). -Ora, nem posso imaginar como se me faz tal imputação ao passo que pelo Ten. Cel. Morais fiz ver a S. Exa. e ao General Chefe do Estado Maior a marcha do General Canabarro sobre Labatut e o meu plano de campanha e o que o fim principal das negociações era de ganhar o tempo de que precisava e ter desta sorte a comunicação franca com aquele General e assim fazer meus movimentos com o acerto e segurança que exigiam as circunstâncias em que me achava. – Carta de Bento a Domingos de Almeida, 5 de Janeiro de 1841.

[editar] Intrigas : O duelo entre Bento Gonçalves e Onofre Pires

A República Rio-Grandense não ficou isenta das disputas pelo poder. Começaram a aparecer em sua fileiras pessoas inteligentes e capazes, dispostas a rachar a necessária unidade nacional naquele momento em que a nação gaúcha precisa de todas as suas forças para combater um inimigo reconhecidamente superior em número e riqueza. E foi em Dezembro de 1842, quando se instalou a Assembléia Constituinte, que tiveram mais força as intrigas, boatos, maledicências sem comprovação. Bento Gonçalves renuncia, por conta da campanha de intrigas, à Presidência da República Riograndense a 4 de Agosto de 1843, assumindo seu vice Gomes Jardim. Lança um manifesto dizendo-se acometido de uma enfermidade pulmonar, que talvez já o estivesse incomodando, e incita a nação a se unir em torno do novo Presidente. Passa em seguida a comandar uma divisão do Exército Rio-Grandense.

Não contentes, tais traidores, sendo o mais perigoso, o Deputado Antônio Vicente da Fontoura, envenenam e induzem Onofre Pires a destratar e humilhar Bento Gonçalves, chamando-o de assassino (pelo assassinato de Paulino da Fontoura) e ladrão. Desafiado por Bento para um duelo que se realiza no dia 27 de Fevereiro de 1844. Bento, por piedade, não matou Onofre, pois era seu parente e amigo. Socorreu-o quando se viu ferido no braço direito. Infelizmente dias depois viria a falecer por complicações advindas daquele ferimento.

[editar] A surpresa de Porongos

As coisas estavam por isso tudo ficando mais difíceis para os Farrapos. O Barão de Caxias (futuro Duque), nomeado Presidente da Província e Comandante Supremo Imperial, empregava toda sua força de 11.000 homens, conhecimento inteligência e experiência para minar a relativa supremacia farrapa no interior.

Como mais um complicador e quase como golpe de misericórdia, ocorre a surpresa de Porongos. Até hoje vemos ilustres autores adjetivando o fato como alta traição e racismo por parte de David Canabarro. Porém não há provas e pesquisa suficiente para que se chegue a este veredito. De fato David Canabarro tinha tendências imperialistas e era a favor da escravatura, contrariamente à maioria dos farrapos. Isso não significa, porém, que Canabarro não tratava os negros como guerreiros iguais aos brancos. Afinal todos lutavam juntos por uma única causa. Em Novembro de 1844, estavam todos em pleno armistício. Suspensão de armas, condição fundamental para que os governos pudessem negociar a paz. Por isso o relaxamento da guarda no acampamento da curva do arroio Porongos. Recolheram os cartuchos de munições para colocá-los ao sol para secar. Cartuchos molhados, o tiro falha. Canabarro e seus oficiais imediatos foram a uma estância próxima visitar a mulher viúva de um ex-guerreiro farrapo. O sargento negro Teixeira Nunes e seu corpo de Lanceiros Negros descansavam. Foi então que apareceu Moringue, de surpresa, quebrando o decreto de suspensão de armas. Mesmo assim o corpo de lanceiros negros, cerca de 100 homens de mãos livres, pelearam, resistiram e bravamente lutaram até a morte. Foram presos mais de 300 republicanos entre brancos e negros, inclusive 35 oficiais.

Deslocando-se mais para o Norte, Francisco Pedro de Abreu, o Chico Pedro ou Moringue acampa numa outra curva do mesmo arroio. Mesmo com aquela retumbante vitória estava descontente por não ter pego o principal inimigo, aquele que ele jamais derrotara, David Canabarro. Teve então uma brilhante idéia que, se bem posta em ação, poderia desmoralizar Canabarro e talvez até afastá-lo do comando do Exército Republicano. Chamou em sua barraca um sargento que, sabia, imitava muito bem as assinaturas dos Comandantes. Deu-lhe uma folha de papel e foi ditando uma carta oficial e secreta. A correspondência seria de Caxias para ele, Francisco Pedro de Abreu instruindo-lhe a se dirigir àquele lugar, exatamente naquela hora, e praticar a surpresa sobre os comandados de Canabarro, pois ele o havia combinado com Caxias. Recomenda-lhe que poupe os comandantes (justamente os que não estavam na hora da surpresa). Em seguida manda-o assinar como se fosse o Barão de Caxias, seu comandante. Em Piratini passa na casa de um professor reconhecidamente favorável aos Farrapos, de grande influência na comunidade, e o mostra a carta que, supostamente Barão de Caxias o teria enviado, comprometendo Canabarro. O Professor mordeu a isca, e imediatamente levou a carta ao conhecimento do governo republicano.

Esta intriga foi tão bem feita e tão forte que até hoje enganam-se os mais renomados historiadores que, cautelosamente, ficam em cima do muro ou acreditam sem qualquer contestação na farsa da entrega racista de Canabarro do ataque de Porongos.

O General Canabarro reuniria ainda todo o restante de seu exército, cerca de 1.000 homens, e atacaria Encruzilhada a 7 de dezembro de 1844, tomando-a e mostrando assim que a sua intenção não era entregar-se.

[editar] Paz de Ponche Verde

Ver artigo principal: Tratado de de Ponche Verde.

Por fim, a 1 de Março de 1845, assinou-se a paz: o Tratado de Ponche Verde ou Paz de Ponche Verde. Entre suas principais condições estavam a anistia plena aos revoltosos, a libertação dos escravos que combateram no Exército piratinense e a escolha de um novo presidente provincial pelos farroupilhas. A maioria dos requisitos não foram cumpridos pelo Império, todavia.

[editar] Referências

  • Anais do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul
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