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Ilha de Itaparica

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vista parcial da Ilha de Itaparica
vista parcial da Ilha de Itaparica

A Ilha de Itaparica está localizada no estado da Bahia, Brasil.

[editar] História

Descoberta em 1º de novembro de 1501 por Américo Vespúcio, a Baía de Todos os Santos é composta por 44 (quarenta e quatro) ilhas – dentre elas a de Itaparica, a maior ilha marítima do litoral brasileiro, com 36 km de comprimento, 246 km² de área e 55 mil habitantes, 2 municípios e 35 localidades.

A ilha foi emancipada de Salvador em 8 de Agosto de 1833 e elevada à cidade em 30 de julho de 1962, daí foi desmembrada passando a ter os dois municípios: Itaparica e Vera Cruz, que curiosamente funcionam como "capital" para os outros povoados.

Em Tupi Guarani, Itaparica significa “Cerca de Pedra”. Nascida de um pequeno núcleo de povoamento iniciado por padres jesuítas em 1560 onde hoje está localizada a vila de Baiacu – denominada Vila do Senhor da Vera Cruz, na contra costa da Ilha -, ela conheceu, em meados do século XVI a primeira plantação de cana-de-açúcar e a cultura do trigo. Na mesma época também foram trazidos os primeiros espécimes de gado bovino. Foi em Itaparica que se assentou a primeira máquina a vapor em terras brasileiras, no engenho de Ingá-Açu. E foi ainda em Baiacu onde os padres construíram a primeira obra hidráulica do País: uma barragem para suprimento de água potável e para serviços de povoação.

Os corsários ingleses atacaram a ilha de Itaparica em 1597. Entre os anos de 1600 e 1647 foi invadida pelos holandeses. Durante a última destas invasões os holandeses chegaram a construir um forte, na cidade de Itaparica, denominado Fortaleza de São Lourenço.

[editar] Atrações

Itaparica é uma das mais belas ilhas do litoral Brasileiro. Sua costa, em grande extensão, é cercada por recifes de corais, denominados “Recifes das Pinaúnas”, que se prolonga de Bom Despacho até a Ponta de Aratuba. Foi constituída, através do decreto lei 467 de 20 de outubro de 1997, a Área de Preservação Ambiental (APA) de Área de Preservação Ambiental Pinaúnas. A Ilha de Itaparica fica a 45 minutos de Salvador pelo sistema de transporte Ferry Boat, ou pelo sistema de transporte marítimo de Mar Grande; e está ligada ao continente, no estreito do Funil, pela ponte João das Botas via BA-001.

A cidade de Itaparica é a única estância hidromineral à beira mar das Américas, possuindo uma água com características medicinais inigualáveis e únicas em palatabilidade. Ela é carbonatada e sulfatada com boa dose de ácido carbônico, teor de radiatividade na fonte a 20 graus centígrados de 0.82 maches. Tem excepcional poder digestivo e diurético sendo recomendada especialmente para pacientes com problemas no fígado e baço.

[editar] Preservação

Além da importância histórica e singularidade geográfica, a Ilha de Itaparica possui um conjunto histórico e arquitetônico dos mais aprazíveis, praias de águas mornas, folclore diversificado, artesanato próprio e culinária das mais apreciadas em todo o Brasil.

Os registros históricos sobre a ilha são riquíssimos, destacando-se a vinda, em 1510, do navegador português Diogo Álvaro Correia, o “Caramuru” que, enamorado da princesa tupinambáParaguaçu”, filha do cacique Taparica, desposou-a, fundamentando, a partir desta união, a junção das raças européia e indígena, formando então a primeira família genuinamente brasileira.

Você sabia? ... Que os afamados estaleiros da Ilha de Itaparica era também empório de construções navais da colônia: ali se armou à primeira quilha da Marinha de Guerra no Brasil. Nesta época também existiam 5 destilarias de aguardente, além das fábricas de cal (nove, em meados do século XIX). Porém, a maior atividade econômica da Ilha foi à pesca da baleia, sobretudo durante os séculos XVII e XVIII, por este fato, antes de chamar-se de Itaparica era conhecida como Arraial da Ponta das Baleias.

A ilha de Itaparica está localizada a 13 km (via Ferry-boat) de Salvador e é a maior das 56 ilhas da Baía de Todos os Santos. A ilha possui mais de 40 km de praias, com abundante vegetação tropical, onde predominam exuberantes coqueirais e muita história para contar, tendo defronte a cidade de Salvador, ao longe, separada pela Baía de Todos os Santos. “A ilha”, como é carinhosamente chamada pelos seus moradores, veranistas e turistas, tem 246 km² e 55,000 habitantes distribuídos em dois municípios: Itaparica, onde se localiza a única fonte de água hidromineral a beira mar das Américas, Vera Cruz, que se dá o luxo de ter a sede com outro nome, assim: Vera Cruz, capital: Mar Grande.

Entre Itaparica, sede do município e Cacha Pregos, pontos extremos da costa da ilha, existem praias belíssimas com ótimas condições para banho e segurança. Uma linha de recifes lhe serve de quebra mar, diminuindo a força das ondas e formando um viveiro natural de polvos, lagostas e outros mariscos. A maioria destas praias tem águas rasas, mansas e mornas.

A ilha dispõe e oferecem serviços de qualidade em todos os níveis – restaurantes com deliciosos frutos do mar, passeios de barco, pára-quedismo e uma infinidade de opções de entretenimentos.


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HISTÓRIAS DA ILHA DE ITAPARICA (João Ebner)

Ilha mística ajacob@correiodabahia.com.br Adriana Jacob


Personagens de Itaparica revelam identidade cultural do povo brasileiro

Só o processo de miscigenação poderia explicar tanto misticismo num lugar. Os mistérios da Ilha de Itaparica, templo brasileiro do culto aos eguns, têm a ver com a religiosidade de negros e índios tupinambás, os primeiros habitantes da região. Mas o que impressiona mesmo, além da vocação mística, são as belezas naturais, as ruínas históricas e a rica cultura popular.


Lenda tupinambá

Pai de Catarina Paraguaçu teria sido o cacique da tribo que habitava a região

Taparica fechou os olhos pela última vez. A notícia se espalha rapidamente, e de todo lado chega homens, mulheres e crianças. De todo canto da ilha vem gente. Catarina já está lá, observa o ritual pelo qual seu pai tem que passar. O corpo é lambuzado com mel da cabeça aos pés e coberto com pasta de algodão e penas multicores de pássaros. Depois, como manda a tradição, é colocado de cócoras dentro de um grande pote, o caixão dos indígenas. Ao lado dela, as armas que o guerreiro servia nos combates e também os objetos que ele mais usava e amava na vida. A multidão cresce e impressiona até os mais antigos: chegam os chefes de outras tribos, mesmo as mais distantes, enfeitados como que para uma festa. Afinal, não se trata da morte de um guerreiro qualquer, mas do chefe dos tupinambás, primitivos senhores da ilha, chefe não só de uma tribo, mas de várias nações indígenas. Um verdadeiro líder. Por isso, a multidão entoa cantos tristes e chora, por isso a família do guerreiro chorou, durante cerca de um mês, noite e dia, junto à sua sepultura. Catarina Paraguaçu, filha de Taparica, cortou o cabelo em sinal de luto.

É assim que Viriato Correia, nas Belas histórias da história do Brasil, descreve a morte do cacique Taparica, em um trecho transcrito pelo escritor Ubaldo Osório no livro A Ilha de Itaparica. Mas, para o historiador Cid Teixeira, não há prova de que a história tenha sido mesmo assim. "Na verdade, não há documento que prove que Taparica existiu". A existência do grande líder dos Tupinambás, se lenda ou realidade, é apenas um dos muitos mistérios que permeiam a ilha de Itaparica. O certo é que, nos antigos mapas da Baía de Todos os Santos, na época do descobrimento, está assinalado Taparica. Em 1552, o então governador Thomé de Sousa do ao seu primo e protetor, D. Antonio de Athayde, o Conde de Castanheira, a sesmaria da Ilha Taparica, depois transformada em capitania hereditária.

Alguns dizem que o nome era uma corruptela de Caparica, a terra portuguesa que fica bem defronte de Lisboa e que guardaria semelhanças com a ilha. Só depois de quase um século, é que começou a ser usado, em documentos oficiais, o nome Itaparica, palavra de origem tupi que significa cerca feita de pedras. Essa cerca é o Recife das Pinaúnas, que protege a costa da ilha pelo mar, desde Gameleira, na altura da Igreja de Santo Antônio dos Vellasques, até Aratuba.

Desde o princípio de sua história, a ilha guarda lendas e mistérios. Uma história de luta pela liberdade que se inicia com os índios, mas mistura-se com os colonizadores brancos e depois com os escravos negros. A começar pela posição geográfica estratégica - quem tivesse o controle da ilha teria o controle da Baía de Todos os Santos - aquela terra, ponto de interesse para os jesuítas, seria o palco de grandes acontecimentos que ajudariam a traçar as linhas da história da Bahia e do Brasil.

Foi na Ponta das Baleias que surgiram heroínas como Maria Felipa, negra que lutou destemida ao lado dos homens pela independência. Mulheres como dona Da Hora, que até hoje faz o aponã, um tipo de bolo do povo de santo, para sobreviver e sustentar, sozinha, a família. Ou dona Angelina, que veio da Itália para adotar a ilha como sua terra. Mulheres como as marisqueiras que enfrentam e desvendam, há séculos, os segredos dos mangues para tirar o sustento dos filhos e maridos. Como diz o fotógrafo Luiz Pereira, que adotou a localidade como terra do coração há 18 anos, as mulheres ainda hoje movem a ilha. "Itaparica é dominada por Iemanjá, porque está cercada pelo mar, mas também por Oxum, por causa da água doce em abundância que existe no interior da ilha, e reina aqui ainda o espírito guerreiro de Iansã".

Mas não só as mulheres são guerreiras na ilha. Alguns homens como os escritores Xavier Marques - autor de livros como Jana e Joel e Sargento Pedro, premiado pela Academia Brasileira de Letras - e Ubaldo Osório - avô de João Ubaldo Ribeiro -, além do educador Carneiro Ribeiro também escreveram seu nome na história da terra. Ubaldo Osório, apaixonado confesso pela ilha, é o autor da mais significativa pesquisa sobre sua terra natal, o livro A Ilha de Itaparica. Não se pode esquecer também a importância dos caboclos, resultado da mistura entre índios e brancos, que tiveram papel decisivo nas lutas pela independência.

Não é à toa que grande parte da história de uma das principais obras do escritor João Ubaldo Ribeiro, Viva o povo brasileiro, se passa em Itaparica. Ubaldo, que costuma citar moradores da ilha em suas crônicas, fala, no livro, sobre a construção da identidade do povo brasileiro. É na ilha que nasce a heroína Maria da Fé, que desafia o poder dominante para fazer parte, ao lado de outras mulheres e homens, da Irmandade do Povo Brasileiro. É ela que surpreende a todos ao aparecer no enterro de seu avô, com disfarce de capitão, desafiando o Exército.

"Povo do Baiacu, povo de Vera Cruz, povo da Ilha de Itaparica, povo da minha terra, quero vossos ouvidos para neles soprar a revolta que salva! - disse ela, e não ouve quem, pelas encostas daquele morro funéreo, não sentisse o couro fibrilar como o de um cavalo e não tivesse a cabeça puxada para a frente pela voz vibrante que varava as nuvens". É com esse espírito enérgico que Maria da Fé fala ao povo da ilha. E é como esse mesmo espírito que João Batista dos Santos, ou simplesmente João da Escola, conseguiu atravessar o século e é a imagem viva da saga dos itaparicanos.

Hoje, nos 246 km2 da ilha vivem 55.000 pessoas. Dividida desde 1962 em dois municípios da região metropolitana de Salvador, Itaparica e Vera Cruz, a maior parte da população (36.600) vive em Vera Cruz, nos distritos de Cacha-Pregos, Mar Grande e Jiribatuba. São homens e mulheres que sofrem com o desemprego, maior problema da ilha, ao lado dos problemas de coleta do lixo e, conseqüentemente, de preservação ambiental. Esses homens e mulheres andam sobre as mesmas terras que já foram marcadas com sangue, mas que também trazem alegria e encantamento aos que andam sobre sua areia ou se banham em seu mar, ainda hoje de águas cristalinas. Uma terra dona de uma água, a da Fonte da Bica, que, como garantia o médico Aristides Maltez, tem propriedades curativas. Uma terra que também tem seu lado mágico e místico, onde templos católicos misturam-se aos cultos ancestrais do candomblé.

Reminiscências centenárias

Moradores antigos como João da Escola, 101 anos, representam a memória viva do lugar.

A manhã mal acaba de começar, mas seu João Batista dos Santos já está acordado há muito tempo. Sentado na varanda da casa modesta em que vive, na localidade de Riachinho, na estrada de acesso a Mar Grande, tem um cajado entre as mãos calejadas e, na cabeça, um chapéu antigo de abas pretas. Muito lúcido, troca uma palavra com um ou outro neto ou bisneto que aparece. "Tô com mais de cem anos. Nasci no dia 26 de agosto, não sei da data não que eu num sei ler. Nasci ali adiante, na Beribeira, perto da Misericórdia". Dona Antônia Sacramento dos Santos, 74 anos, companheira de Seu João há 59, esclarece: "Ele vai fazer 101 anos, mas aumentaram quatro anos na carteira de trabalho por causa da aposentadoria dele".

Seu João da Escola, como é mais conhecido, não aparenta a idade que tem, ouve bem, enxerga sem dificuldade, anda todo dia pela roça e garante que ainda trabalha. "Ele até que quer trabalhar, mas num agüenta mais, nem os filhos querem que ele trabalhe", diz a esposa. O apelido foi da época em que andava pela ilha toda, sempre no lombo de um jegue, vendendo coco, manga, aipim, banana, carvão, tudo que pudesse comercializar. Como levava mesmo jeito pra coisa, ficou sendo João da Escola, por causa da esperteza, mesmo sem nunca ter freqüentado um colégio. E o apelido pegou mesmo. "Nesse mundo todo, de Cacha-Prego até Itaparica, se você perguntar quem é João da Escola, todo mundo sabe, todo mundo é amigo dele, porque ele era muito sabido pra vender". A vida tranqüila que leva hoje em nada lembra a labuta que seu João enfrentou para criar os 12 filhos que teve, só com dona Antônia. Antes, teve dois filhos com outras mulheres.

"E João da Escola ainda é vivo?", espanta-se dona Joanila Guerra, que viveu por 15 anos na ilha e ainda hoje mantém uma casa de veraneio no local. Há mais de 50 anos, quando trabalhava na pensão, comprava carvão na mão dele e ele já tinha o cabelo branco. Seu João atravessou o século à custa de muito trabalho e, mesmo assim, não se mostra cansado ou indisposto. Diz que sabe fazer carvão até hoje. O homem que hoje descansa na varanda construiu uma família grande: são mais de 70 netos e 22 bisnetos. O segredo pra chegar aos cem com saúde e disposição? Desde hábitos mais comuns, como dormir depois do almoço, ir se deitar cedo e acordar cedo, não fumar charuto e nem beber cachaça - há pelo menos dez anos, porque antes bebia e fumava - até costumes mais estranhos. "Não como feijão há 50 anos, nem galinha, nada que tem penas".


Crioula guerreira

Quase 30 anos antes de seu João nascer, no dia 4 de janeiro de 1873, a ilha perde uma de suas guerreiras, Maria Felipa de Oliveira. Quando morreu, já havia 50 anos que ela entrara para a história de Itaparica. Ubaldo Osório descreve Maria Felipa como uma crioula estabanada, alta e corpulenta que usava torço e uma saia rodada. A entrada dela na luta armada começa a se delinear quando os portugueses assaltam a ilha, na madrugada do 10 de junho de 1822. Sob o comando de Joaquim José Teixeira, o Trinta Diabos, eles destroem tudo o que encontram pela frente, invadem igrejas, espancam, ferem e matam o sentinela da velha praça de guerra. Os habitantes da Ponta das Baleias, localidade que hoje fica no município de Itaparica, sem forças para resistir à invasão, embrenham-se pela mata. Maria Felipa sai da casa onde vivia, na antiga Rua da Gameleira, determinada. Apresenta-se como voluntária à resistência organizada que começa a se formar: reconquistariam a ilha ou morreriam todos. Mesmo com armas precárias e em menor quantidade, no dia 10 de agosto conseguem voltar a Itaparica, depois de batalhas heróicas como a travada no estreito do Funil, onde hoje existe a ponte de mesmo nome que liga o continente à ilha.

Mas o retorno a Ponta das Baleias era só o começo da verdadeira luta pela independência. "Reconquistamos a Ilha, e agora teremos que conservá-la em nosso poder. Custe o que custar" conclama o brigadeiro Sousa Lima, comandante das forças libertadoras. Nas praias de águas tranqüilas, os antigos pescadores transformam-se em combatentes - que conheciam bem o local - e levantam trincheiras, desde a Ponta do Manguinho até a Enseada do Bom Despacho. Os portugueses mandam comunicados e ordens para que os itaparicanos abandonem imediatamente a ilha. Mas povo de Itaparica está decidido a lutar até o fim. Eles sabiam que se perdessem os domínios da ilha, o inimigo ficaria em posição privilegiada para conquistar o restante da Bahia, a capital e o recôncavo.

Heroínas

Ao amanhecer do dia 7 de janeiro de 1823, aparecem os navios à vela, trazendo bandeiras de guerra, e começa o último dos ataques. A fortaleza de São Lourenço responde aos tiros e o mesmo fazem as baterias da Quitanda e da Fonte da Bica. Barros Galvão, que protege o aquartelamento de Amoreiras contra a esquadra lusitana, sabe que a luta não vai ser fácil, e encoraja os voluntários. "Soldados da Independência! O inimigo quer expulsar-nos desta terra onde nascemos e apoderar-se dela para trucidar, com as nossas próprias armas, a Bahia e o Brasil Independentes! Juremos, perante o céu, que ele só pisará nestas praias, quando não restar mais, de pé, nenhum de nós ". Em meio a toda essa luta, Maria Felipa faz proezas. Como justificativa, dizem que tinha um ódio instintivo ao lusitano. Na ilha, não havia homem ou mulher que não admirasse seu desassombro e sua coragem, principalmente depois que comandou, com bravura, guardas na Praia do Convento, na Campanha da Independência que se sagrou vitoriosa em 7 de janeiro de 1823, data lembrada com festa e orgulho até hoje na ilha.

Nem todas as heroínas da Ilha de Itaparica pegam em armas de fogo. Para dona Maria da Hora da Conceição, que acaba de completar 81 anos, a arma de sobrevivência se chama aponã. Foi através da venda do bolo feito de coco, que dona Da Hora, como é mais conhecida, sustentou os cinco filhos e até hoje se mantém. Desde 1932, quando muita gente nem sonhava nascer, Da Hora já tomava conta de crianças. Foi com essa idade que saiu de Vila de Abrantes acompanhada pelos pais e chegou a Itaparica, ao mesmo bairro em que vive até hoje, o Alto de Santo Antônio. Como Salvador, a cidade de Itaparica está dividida entre a parte alta e a baixa. Tradicionalmente, no alto, estão as pessoas de classe mais baixa, em geral os nativos da ilha, com suas casas mais humildes. A parte baixa, onde estão as praias, a Fonte da Bica, o Boulevard e as casas mais elegantes, é o recanto dos veranistas. Não é à toa que fica quase deserta a maior parte do ano. Era para a parte baixa da cidade que dona Da Hora, depois de abandonar a carreira de babá, descia para vender seus bolos de aipim, carimã, milho, bolinho de estudante e o aponã ou apanã. Ela lembra com saudade da época em que ia esperar a chegada do navio, cheio de veranistas, na ponte antiga, defronte dos tamarindeiros. "Chegava com meu tabuleiro e vendia tudo. Era um tempo melhor, agora entra prefeito, sai prefeito, e tá tudo na mesma...". Depois, quando os navios pararam de chegar e vieram os ferry-boats, ela muda o local de venda para o Campo Formoso. Mas um isso terminou em uma tarde, quando Da Hora foi atropelada por uma bicicleta. Teve que ser internada e nunca mais pôde carregar um tabuleiro na cabeça. Por causa do acidente, foi obrigada a trabalhar em casa, e é lá que ainda vende suas guloseimas. O mesmo aponã de 70 anos atrás ainda ajuda a sustentar os netos e bisnetos. Quantos são? Até Da Hora já perdeu a conta.

Terra dos profetas

Religiosidade popular fez nascer em Itaparica vários personagens curiosos.

"Não vou embora daqui, mas vou mudar, eu tenho minha casa. Quando yo acabar de criar os anjos e passar minhas iemanjás, elas também vão embora pra cima, logo também passo, vou embora pra cima." Essas palavras são de Gabriel Rome, há 25 anos o guardião solitário da igreja de Santo Antônio dos Vellasques, na ilha de Itaparica. É nas ruínas da capela construída no século XVII, na praia, banhada pelas águas do mar, que ele passa as noites e os dias, quando chove e quando faz sol, sem nunca sair para visitar a cidade mais próxima, Mar Grande.

A vida de Gabriel não parece fazer parte do mundo real. De fato, chegar à igreja de Santo Antônio dos Vellasques é como entrar em uma outra dimensão, um mundo diferente, que começa deixando a cidade de Mar Grande, acompanhando a beirada do mar em direção às Mercês e à Gameleira. É nas Mercês que estão as ruínas do antigo moinho de vento, onde havia o cultivo de trigo no século XVI. Uma parte do cais se rendeu ao vaivém das ondas e caiu. Na beira do mar, resquícios de uma antiga ponte. "Alguns chegaram a puxar as baleias aí, os barcos de vapor que iam para o recôncavo atracavam nesse local e por essa ponte a produção do trigo era escoada", conta o fotógrafo Luiz Pereira, um estudioso da história da ilha.

Aos poucos, a igreja começa a se delinear em uma paisagem que surpreende até o mais insensível visitante: de um lado, muito verde, coqueiros e árvores, do outro, um mar que é uma mistura inexata de verde e azul. Quando a maré começa a subir, a água banha a construção secular e suavemente ajuda a enfraquecer a base já desgastada da igreja. Do outro lado da Baía de Todos os Santos, Salvador parece muito distante e silenciosa. É em meio a esse cenário que surge Gabriel, logo depois de um mergulho no mar, do alto de seus 74 anos, com sua barba muito longa e branca, a cabeleira alva: a imagem bronzeada de um profeta tropical. Fala com um sotaque diferente, às vezes italiano, às vezes incompreensível. "Gabriel foi meu nome, agora sou o anjo São José da Barba Santa Luz Divina".

Tem um motivo para estar onde está: fui morto e fui operado, então recebi a luz divina e fui marcado. Em troca, segue algumas regras: não come nenhum tipo de carne, nem peixe. Só come arroz, feijão e verduras. "O homem tem que ser homem, pra honrar a barba, não é?". Gabriel conta que quando chegou a Santo Antônio dos Vellasques, já não havia mais missas na igreja, que estava abandonada. Em troca de tomar conta do lugar há quase três décadas? "Recebo nada, recebo coice, pedrada, mas também recebo a mãe Iemanjá".


Vida de guardião Luiz Pereira, morador de Mar Grande há 18 anos, diz que nunca soube de Gabriel ter deixado a igreja, desde que está lá. "Uma vez ele estava muito doente, mas se recusou a ir ao hospital". O guardião gosta de receber visitas e diz, em tom quase profético: "Pela educação, merecem a bênção as pessoas que vêm aqui. Deus abençoe e guie vocês". Gabriel não sabe, mas outro guardião, uma espécie de guardião da história e das histórias da Bahia, Cid Teixeira, talvez gostasse de levar uma vida parecida com a dele. É que Teixeira é um admirador da beleza diferente da capela de Santo Antônio dos Vellasques e revelou que já tem planos, caso fique milionário. "Quando ganhar na Sena vou comprar aquela igreja para morar lá".

Além da beleza, a capela também é rica em história. Em 13 de junho de 1633, o padre Antonio Vieira, antes de ser indiciado pela Santa Inquisição, celebra uma missa lá. Além das festas do padroeiro, em junho, havia uma festa em homenagem a Nossa Senhora da Boa Morte, no dia 14 de agosto. Romeiros de toda a ilha e de outras localidades iam e dormiam na própria igreja, faziam festa, armavam barracas e ficavam em vigília até o dia 15, para a Festa de Assunção de Maria. No meio do século XVIII, houve uma grande reforma na construção com o objetivo de criar cômodos para o funcionamento da irmandade de Santo Antonio dos Vellasques, um local que servisse de pousada para os romeiros e a residência do capelão.

Apesar de secular, a Igreja não é a mais antiga da ilha. Em 1560, o jesuíta português Luiz da Grã e seus companheiros de catequese aportam na ilha e levantam, no alto de uma colina, um povoado sob a invocação do Senhor da Vera Cruz. Logo depois, começa a construção de uma igreja e, em 1561, quando as obras terminam, o segundo bispo do Brasil, d. Pedro Leitão, viaja para participar da inauguração. Dizem que ele enjoou tanto na viagem que chegou a botar sangue pela boca, mas foi bem recebido pelos índios e logo estava cuidando dos afazeres religiosos: bênçãos, confissões e 530 batismos, que só terminaram às 22h. No dia seguinte, mais trabalho: foram celebrados 79 casamentos.

Era a igreja católica conquistando novos fiéis: os índios. Em 1562, vendo o sucesso da empreitada cristã, uma feiticeira começa a ficar enfadada quando percebe que os indígenas, com a nova religião, não a procuravam mais e seu marido, também cristianizado, resolve separar-se dela. Por isso, decide colocar fogo na igreja. Mas não seria o fim do monumento: um ano após o incêndio, ele é reerguido. Mais de 400 anos depois, em uma colina da Vila de Baiacu, ainda é possível ver a Matriz de Vera Cruz, igreja que acabou dando nome à freguesia de Vera Cruz, e depois a um dos municípios da ilha. A paisagem que hoje se vê é bem diferente daquela do século XVI: no alto da colina cercada de verde, as ruínas da igreja estão envoltas em gameleiras. As árvores estão de tal forma embrenhadas nas paredes seculares que o monumento parece fazer parte da natureza. Sem portas, janelas ou piso, a capela tem como teto natural as árvores. O mais impressionante é a certeza, ao adentrar no silêncio meditativo da igreja, de que aquele continua sendo um local sagrado, mas de um jeito diferente: hoje, na capela que já foi visitada pelo padre José de Anchieta, há rituais do candomblé celebrados em um altar improvisado. Mesmo com o passar dos anos, uma das festas mais tradicionais da ilha, a procissão de Nosso Senhor da Vera Cruz, ainda é comemorada lá, com a celebração de uma missa no dia 14 de setembro. Bem perto dali, os mesmos jesuítas que ergueram a igreja fizeram um dos primeiros diques artificiais do Brasil, chamado hoje de Lago dos Jesuítas. Uma lenda diz que quando eles foram perseguidos pelo Marquês de Pombal e intimados a devolver todo o ouro à Coroa, preferiram jogar o tesouro no fundo do Dique. "Muita gente já mergulhou aí pra procurar, mas todas as tentativas foram frustradas", conta Pereira.

Quase cinco décadas depois da chegada dos jesuítas à ilha, em 1606, como explica o escritor Ubaldo Osório, o português João Francisco de Oliveira constrói a primeira armação de baleias na Ponta da Cruz, no mesmo local onde hoje está o Hotel Icaraí, edificado em 1957. Foi ele que construiu, no começo do século XVII, a Casa do Contrato das Baleias, onde centenas de operários, a maioria escravos vindos da África, faziam azeite com a gordura dos cetáceos e moqueavam a carne do animal. Em 1808, em visita à ilha, o rei d. João VI hospeda-se nessa mesma casa, que apenas começava a entrar para a história. Na Campanha da independência, em 1823, o casarão funcionou como hospital de sangue. Dez anos depois, em 4 de agosto de 1833, é instalada no velho solar a Câmara da Denodada Vila de Itaparica. Em fevereiro de 1838, na Sabinada, a casa fica sendo sede provisória do governo da Província da Bahia.

Muito longe dali, na colônia de pescadores de Trecna, na Itália, dona Angelina Labarba nem imagina que fará parte dessa história. Ela tem apenas sete anos quando parte com os pais e irmãos em direção ao Brasil, como tantos imigrantes italianos, à procura de emprego nas plantações de café. Foram para Minas Gerais e depois de anos de trabalho, dona Angelina conhece o libanês com quem se casaria, na cidade de Leopoldina. A profissão do marido, mascate, acabou levando-a para Recife, Salvador e, por último, Itaparica. "Eles abriram uma das primeiras pensões de Itaparica, a pensão Jacob. Dizem que dom Pedro II se hospedou lá, eu não sei", diz seu Líbio Jacob, filho único de Angelina. Ele não sabe, mas nesse caso, as histórias que o povo conta são verdadeiras. Não só dom João VI se hospedou no antigo solar, como dom Pedro I e dom Pedro II. Dom Pedro I faz uma visita à Bahia em 1826 para agradecer o apoio nas lutas pela independência. Em Itaparica, é recebido com festa na Ponta das Baleias e abraça, feliz, o herói de guerra Barros Galvão. Passa pela fortaleza de São Lourenço, reza na igreja da Piedade e bebe das águas da Fonte da Bica. Em 5 de novembro de 1859, dom Pedro II descansa no mesmo quarto que, em 1808, dormiu d. João VI. Não se sabe a data exata em que a pensão começou a funcionar, mas é certo que em 1882, dona Angelina já recebia hóspedes no solar, que aos poucos foi ganhando fama e conquistando clientela. Era o começo de um período áureo na ilha.


Mosaico de tradições

Negros e caboclos formam rico universo da cultura popular na Ilha de Itaparica

Cinco e meia da tarde, o Sol está preparado para se pôr. A esta hora todos já vestiram as melhores roupas e estão na ponte, ao lado da Fortaleza de São Lourenço, à espera do grande acontecimento social de todos os dias: a chegada do barco a vapor. É a hora de receber notícias e encomendas de Salvador, trazidas por Popó, de reencontrar amigos e parentes e receber os veranistas. Cheios de dinheiro e amor pelas praias de águas tranqüilas, os visitantes eram presença constante e movimentavam a economia da cidade nas primeiras décadas do século XX. Na ponte, em meio ao vaivém de pessoas, atracavam os barcos a vapor que eram então a única forma de transporte para se chegar à ilha. Quem desembarcava era recebido por tamarindeiros seculares, plantados quando os voluntários itaparicanos partiram para lutar na Guerra do Paraguai. Logo atrás das grandes árvores, a construção espaçosa da pensão, no antigo solar, recebia visitantes ilustres e era o ponto de encontro das famílias abonadas na ilha. Algumas chegaram a construir casas próprias bem perto dali, no Boulevard. Naquele tempo, Itaparica era o point.

O engenheiro Vital Santos Souza, prefeito da ilha entre 1961 e 63, é uma das pessoas que lembram com saudosismo dos bons tempos. "Não havia o progresso, mas tinha uma vida bucólica e sem violência". O sucesso do ponto turístico começa a esmorecer na década de 70, por coincidência ou não, quando a Marinha cria a Central de Desmagnetização de Navios bem em frente ao Forte de São Lourenço, e a antiga ponte, local de encontro, de ver e ser visto em Itaparica, se transforma em área de segurança nacional. Não havia mais barcos a vapor para esperar no cais, nem moças bem vestidas acenando para os navios, e o ferry-boat, que chegou em 1972, atracava - como até hoje - em Bom Despacho, fora da cidade. Ao mesmo tempo, muita gente começa a procurar casas de veraneio em praias do litoral norte, como Buraquinho e Itacimirim. "Até o casco de um navio italiano, o Pandélis, que naufragou na ilha e era uma curiosidade e um atrativo, foi dinamitado", diz Luiz Pereira.

Dona Angelina não chegou a ver o declínio da atividade turística em Itaparica. Em 22 de junho de 1949, quando seu único filho se casou, já idosa, ela se aposenta e passa a pensão para o herdeiro. "Meu quarto ficava na esquina, no andar de cima, com uma vista linda para o mar. Da janela, pegava com a mão os tamarindos das árvores que ficavam - e estão até hoje - bem em frente ao solar", conta dona Joanila Guerra Jacob, a dona Lira, mulher de seu Líbio há 54 anos. Os dois, ainda jovens, chegaram a cuidar da pensão sozinhos por um ano, mas o trabalho era duro. Com pouco dinheiro para pagar os empregados, decidiram vender o negócio a Anita Medeiros, que abriu na casa a pensão Anita. Na década de 60, ainda funcionou no prédio o Ginásio Maria José Osório, mas o prédio secular já dava marcas de cansaço e desgaste. Ficou fechado e quase em ruínas por anos, até que há cerca de quatro anos, foi comprado por empresários que empreenderam uma reforma. Mas o casarão permanece fechado, guardando dentro de suas portas e janelas uma história que ainda não terminou.

Seu Domingos dos Santos, morador antigo de Ponta de Areia, vila vizinha a Itaparica, conheceu dona Angelina. "Já vendi muito peixe fresco a ela. Era uma cliente boa porque comprava em quantidade". Ele fala das lembranças enquanto descansa na varanda da casa onde vive com a família - tem 24 filhos e 62 netos - bem perto da praia. Ao telefone, conversa com uma das netas: "Você num vem ver vovô, não ganha bala. Venha aqui em casa que vovô te dá queimado". Quem ouve seu Domingos se derreter com a netinha não imagina que esse itaparicano é o alapini, autoridade suprema do terreiro Ilê Aboulá, localizado no Alto da Bela Vista, em Ponta de Areia. Seu Domingos é neto de Eduardo Daniel de Paula, fundador naquela localidade, nas primeiras décadas do século XX, do culto aos ancestrais, o culto de babá egum. Eduardo de Paula tornou-se uma figura legendária, um profundo conhecedor dos rituais afro-brasileiros e detentor de um poder mágico de convocar e controlar os espíritos ancestrais, como descreve Júlio Braga no livro Ancestralidade afro-brasileira - o culto de babá egum. Foi vítima da repressão policial, teve seu terreiro invadido e profanado, chegou a ser preso. Aliás, uma das histórias misteriosas que se contam a seu respeito teria ocorrido quando ele foi para a prisão em Salvador. Não havia quem conseguisse dormir por causa do som dos atabaques tocando a noite inteira. Com medo de sofrer algum mal, o delegado logo mandou soltá-lo.

Quem mora na ilha sabe que, nas festas dos terreiros de egum, o respeito é palavra fundamental. Não se pode tocar no babá, sob o risco de perder até a vida como punição. Alguns dizem que a entidade dá choque em quem encosta nela, afinal o babá representa o mundo dos mortos, que não pode se misturar ao dos vivos. Como a tradição dos eguns é muito fechada - sobretudo para as mulheres - e cheia de segredos, pessoas de todo o mundo cruzam a Baía de Todos os Santos para conversar com seus representantes. "Os eguns são ancestrais ilustres divinizados, ligados à moralidade", diz o antropólogo e professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, Renato da Silveira. O culto foi trazido pelos negros iorubanos originários da Nigéria e do Daomé. Em Itaparica, os terreiros da nação ketu Omon Ilê Aboulá e Ilê Oyá são os únicos no Brasil que reverenciam os espíritos dos mortos. A finalidade é homenagear homens que foram figuras destacadas em suas sociedades ou comunidades quando vivos, para que eles continuem presentes entre seus descendentes. Os eguns se manifestam de forma visível mas camuflada, sob uma roupa de tecido feita de tiras. Somente os mortos do sexo masculino fazem aparições, daí a restrição à participação de mulheres no culto. O egum "nasce" através de ritos feitos pelos ojés (sacerdotes) munidos de um instrumento invocatório, um bastão chamado ixã (varas compridas feitas dos galhos de amoreiras ou goiabeiras), que, quando tocado na terra por três vezes, invoca os eguns.

Uma outra tradição de Itaparica, a dos caboclos, entra para o calendário da ilha em 1940. A partir dessa data, para homenagear e ressaltar a importância dos caboclos na luta pela independência, um grupo resolve ensaiar e se apresentar na Festa de Sete de Janeiro, uma homenagem a eles. Vestidos de índios, eles desfilam pelas ruas da cidade carregando fachos e cantando. No dia Dois de Julho, também vão a Salvador participar dos festejos da independência. Orlando Ferreira Rosa, 60, participa do grupo de caboclos desde os 21. Começou a desfilar por influência do primo e nunca mais parou. Hoje, é ele que toma conta do grupo de 55 caboclos, ao lado de dona Maria Angélica da Rocha Pitta, 67. Enfrentam dificuldades financeiras para conseguir realizar o desfile dos caboclos todos os anos. Seu Orlando faz de tudo para conseguir apoio: visita pessoas e grupos em busca de colaborações, mas diz estar cansado de ter que quase implorar por ajuda. Já a culinária da ilha tem em um de seus pratos mais intrigantes o baiacu. Peixe inofensivo no mar, o mayacu - como era chamado pelos índios tupinambás - é altamente venenoso quando ingerido. Quando há qualquer tipo de erro ao limpar o peixe, a iguaria pode matar. Dona Lira, que aprendeu a tratar o baiacu na ilha, não faz mais as deliciosas moquecas. Parou desde que uma amiga a pediu que não mais ingerisse o peixe depois de ver uma família inteira morrer envenenada. Coisas da ilha.


Fonte milagrosa

Águas medicinais eram recomendadas por Aristides Maltez como tratamento de cálculos

"Tenho obtido ótimos resultados em doentes meus portadores de crises gástricas, de litíase renal e hepática e em hipertensos, com o uso dessas águas. Aconselho mesmo usá-la no período preparatório, visando, além de perturbações funcionais, melhor decurso pós-operatório". A recomendação acima, feita em 1940, é do médico baiano Aristides Maltez, que se referia à água da Fonte da Bica de Itaparica. Nesse tempo, Maltez não era o único médico a recomendar o uso da água como forma de tratamento e prevenção de doenças como o beribéri, causada pela falta de vitamina B1. Por isso, muitas pessoas viajavam até a ilha para beber da mesma água que os índios costumavam beber. Quando foi fundada a primitiva povoação da Ponta da Cruz, em meados do século XVI, a fonte já existia. Cada um seguia um regime, que variava de acordo com o caso. "É preciso que se aprenda a beber. Há indivíduos que bebem em excesso, bebem a todo instante, apresentam verdadeira mania de beber no pressuposto de uma cura rápida. Há os que bebem pouco, têm medo de beber", como explica o médico Eduardo de Sá Oliveira, professor da Faculdade de Medicina da Bahia, no livro A Ilha de Itaparica.

No livro Água Itaparica, de 1940, Diogo de Andrade conta que o Ministério da Agricultura já havia feito estudos sobre as águas. Quem também já havia estudado o assunto era o laboratório da Escola Politécnica da Bahia, o Departamento Nacional de Saúde Pública e o Instituto Oswaldo Cruz, além de outras instituições. Apesar de afirmarem que ainda seria preciso aprofundar os estudos, todos constataram a presença do tório. Por isso, para um melhor aproveitamento de sua ação, o ideal seria tomar a água na própria fonte. "Quando o doente absorve a emanação do tório, ela é integralmente aproveitada pelo organismo e fixada, sobretudo, na medula óssea e nas cápsulas supra-renais, nos pulmões, no fígado e no intestino", diz Andrade.

Com a fama da Fonte da Bica espalhada pelo Brasil, em 19 de abril de 1936 é inaugurada na ilha a instalação da usina de engarrafamento da Fonte da Bica. Agora, as águas poderiam ser bebidas mesmo por quem não tivesse condições de cruzar a Baía de Todos os Santos. Quatro meses depois, no dia 28 de agosto, o governo do estado eleva à categoria de estância hidromineral o município de Itaparica. Bem antes disso, em 1842, 11 anos depois da criação da Denodada Vila de Itaparica, o presidente da Câmara, Luiz Gonzaga da Luz, mandou o mestre José Felipe do Nascimento construir de pedra e cal um reservatório na fonte, que até então havia conservado sua feição primitiva: um simples regato com águas frias e límpidas que corriam nas bicas de bambus para o Poço das Pedras, onde abastecia a população, daí o nome de Fonte da Bica.

Água santa

Nas primeiras décadas do século XVII, Frei Manuel de Santa Maria Itaparica, primeiro poeta que cantou as belezas da ilha, já falava da pureza da "água santa". O prefeito Vital Santos Souza, em 1962, mandou revestir de azulejos do ceramista Udo a fonte. Até hoje, está conservada a inscrição: "Eh! Água fina, faz véia virá minina". Além dos banhos radioativos que se podia tomar no Parque Itagua, da empresa Águas Minerais Itaparica, muita gente procurava a cidade por causa dos efeitos miraculosos dos banhos de lama, na antiga Praia do Convento. Dizem que a lama curava os problemas de polinevrites, inflamações dos nervos, e homens e mulheres podiam ser vistos, no local, cobertos dos pés à cabeça com a lama escura. O naturalista Gregório Bondar, que se curou do problema em Itaparica, investigou em laboratório a lama e descobriu que era rica em iodo e enxofre, além de possuir emanações de rádio.

Vital Santos Souza lembra que algumas pessoas chegavam sem andar à ilha e ficavam boas em 15 dias. Aposentado e morador há 15 anos do subdistrito de Catu, em Vera Cruz, Vital foi por 18 anos o presidente da Companhia de Navegação Baiana e o criador do sistema Ferry Boat. Para ele, o grande problema da ilha foi a separação em municípios diferentes. "Fui o último prefeito da ilha unificada e fui contra essa proposta. Transformaram um município pobre em três miseráveis: Itaparica, Vera Cruz e Salinas da Margarida". Ele explica que, em vez das ações serem feitas em conjunto, hoje existem ações dentro da mesma ilha que entram em conflito. Mesmo assim, Vital acha que existe, em Itaparica, uma vocação natural para o turismo, e diz que os municípios não têm tido sorte com os prefeitos.

O atual prefeito de Itaparica, Raimundo Sacramento, diz que o município não tem dinheiro, que a arrecadação é muito baixa. "A receita com o IPTU, por exemplo, é muito pequena porque a comunidade é pobre". Quando questionado sobre os problemas na coleta de lixo e na conservação das ruas, ele diz que há poucos equipamentos para esse tipo de trabalho e que o custo para contratar equipamentos de empresas é alto. Sacramento tem planos para urbanizar o distrito de Amoreiras, reformar a Fonte da Bica e o centro histórico da cidade. Mas, pelo menos por enquanto, não há previsão de um modelo de desenvolvimento auto-sustentável e criação de empregos.

Como alguns moradores dizem, às vezes parece que a ilha está andando pra trás. Um exemplo dessa freada no desenvolvimento é a água da Fonte da Bica, que parou de ser engarrafada. O Grupo Insinuante, que hoje detém os direitos de exploração do local, comprou o terreno da Fonte no começo da década de 90 e chegou a engarrafar a água por dois anos, mas, segundo o diretor de expansão do grupo, Marconi Machado, os custos estavam saindo altos por causa do equipamento ultrapassado. Apesar disso, ele garante que há um projeto de exploração do potencial da fonte de águas medicinais, "que é completamente registrada pelo Ministério de Minas e Energia". O projeto, segundo Machado, deve ficar pronto ainda este ano. "Queremos fazer uma espécie de resort, para que as pessoas fiquem hospedadas no parque ao lado da Bica e aproveitem os benefícios de sua água".

Histórias da ilha

Apaixonado pela ilha desde antes de nascer, "já gostava daqui quando estava na barriga de minha mãe", Vital Souza é também um homem do mar. Como todo bom pescador, tem histórias acumuladas nos 75 anos de vida, e garante que são verdadeiras. Já pesquei um tubarão de uma tonelada; outro tinha um galo e uma tartaruga na barriga. O método era o mesmo utilizado pelos índios: o catueiro, que tinha um anzol especial para prender o peixe". Mas as histórias não param por aí. Amante das aventuras, garante que já passou de avião por baixo da Ponte do Funil. "Falando assim, eu sei, parece que é uma loucura, mas acredite, é uma bobagem".

Quem conhece a história da ilha acaba se acostumando a ouvir histórias de feitos impossíveis, mistérios e coisas que parecem de outro mundo. Mas, na ilha, às vezes se descobre que o que parecia mentira era verdade e a coisa mais óbvia depois parece ter acontecido de forma um pouco diferente. Na ilha, nem tudo parece ser o que é. As praias de águas aparentemente calmas da Praia do Forte - que tem esse nome por estar ao lado da Fortaleza de São Lourenço - não são tão tranqüilas assim. Quem mora lá sabe que todo cuidado é pouco por causa dos peraus traiçoeiros, buracos que aparecem de repente, com correnteza forte.

Bem perto dali, na frente da Igreja de Nossa Senhora da Piedade, até hoje há uma mensagem deixada em 1923: "Este monumento é uma dívida da geração passada que a geração de hoje resgata". No sítio em que foi plantado, ajoelharam-se, há cem anos, os pelejadores da liberdade, para louvar e bendizer a Excelsa Defensora dos lares humildes que os invasores tentaram destruir. Em 1823, não havia igreja nesse local, mas um pequeno nicho com a imagem da santa, para onde se voltavam todas as preces e esperanças das mães aflitas e pescadores que lutaram pela liberdade.

Considerada a padroeira dos heróis de Itaparica, Nossa Senhora teria lutado ao lado dos combatentes. A lenda diz que Venâncio Da Hora, zelador da Piedade, trancava o nicho todos os dias, antes do anoitecer. Ao entardecer do dia 7 de janeiro, depois de cinco horas do fim do tiroteio, com o cessar dos disparos de canhões, um escravo vai pedir ao ancião a chave para fechar o nicho da padroeira, que está escancarado. O velho zelador fica surpreso e não acredita no mensageiro: se ele mesmo tinha trancado a porta? Resolve descer pessoalmente para comprovar. No meio do caminho, encontra os voluntários da guerra com a boa notícia: haviam vencido! Empolgados, os milicianos comentam as proezas da luta, falam da batalha na Praia do Convento, onde uma senhora aparece, no meio da tropa, e luta como ninguém: as balas caíam-lhe aos pés como se fossem atraídas por uma força estranha. Ninguém sabia o nome dela, só que ela lutara até os últimos disparos das barcas inimigas. O zelador não teve dúvidas. Foi a nossa padroeira, por isso o nicho estava aberto!" Surpresos, decidem ir ao nicho e os voluntários reconhecem, nos traços da imagem, a heroína da Praia do Convento. Dizem até hoje que o manto da santa ainda estava sujo de areia e que seu semblante parecia cansado de tanto lutar.

Outros heróis passaram pela ilha. Bento Gonçalves, o líder da revolução Farroupilha, ao fugir do Forte de São Marcelo, em 10 de setembro de 1837, é transportado numa canoa pelos escravos de Manoel Joaquim Tupinambá, senhor das terras de São João do Manguinho. Na Ponta do Manguinho, em Itaparica, ficou escondido até poder voltar para Salvador e fugir. Trinta anos depois, o poeta Castro Alves passará um tempo na ilha. Fica hospedado na casa do amigo e confidente João de Brito, na Rua do Canal, em Itaparica. É nas praias da ilha que ele escreve o poema Vozes Misteriosas. Para entender os mistérios da ilha hoje, é preciso conhecer um pouco de sua história. Como a dos nomes das localidades. Muitos deles herdam nos nomes a tradição católica que chegou com os portugueses. O subdistrito de Catu é, na verdade, Santo Amaro de Catu, freguesia criada antes de 1649, no Episcopado de dom Pedro da Silva e Sampaio, sétimo Bispo do Brasil. Sua igreja foi construída no alto do morro que os primitivos habitantes chamavam de Catu. Em 1689, o padre José de Andrade - grande incentivador da cultura do trigo em Mar Grande - doa a Fazenda Nossa Senhora da Penha à Companhia de Jesus. Era o nascimento da vila que hoje é conhecida como Penha. São muitas as histórias que compõem a grande história da Ilha de Itaparica. Algumas ainda estão esperando para serem contadas.



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