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João III de Portugal

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Armas Reais Portuguesas

Rei de Portugal

D.João III, Rei de Portugal

Ordem: 15.º Rei de Portugal
Cognome(s): O Piedoso
Início do Reinado: 13 de Dezembro de 1521
Término do Reinado: 11 de Junho de 1557
Aclamação: Lisboa, 19 de Dezembro de 1521
Predecessor: D.Manuel I
Sucessor: D.Sebastião
Pai: D.Manuel I rei desde 1495.
Mãe: D.Maria sua segunda mulher.
Data de Nascimento: 7 de Junho de 1502, terça-feira, às duas da madrugada.
Local de Nascimento: Lisboa, Paço da Alcáçova
Data de Falecimento: 11 de Junho de 1557
Local de Falecimento: Lisboa, Palácio da Ribeira
Consorte(s): D.Catarina de Áustria, Infanta de Espanha
Príncipe Herdeiro: Príncipe D.João (filho)

Sebastião I de Portugal

Dinastia: Avis

D. João III, cognominado O Piedoso ou O Pio pela sua devoção religiosa, (6 de Junho de 150211 de Junho de 1557) foi o décimo quinto Rei de Portugal.

Índice

[editar] Dados biográficos iniciais

Nascido em Lisboa, era filho do rei Manuel I de Portugal e de Maria de Aragão, princesa de Espanha, filha dos Reis Católicos. Na câmara da Rainha, parturiente, Gil Vicente em trajes de vaqueiro representou sua primeira peça, o Auto da Visitação ou Monólogo do Vaqueiro. O batismo em 15 de junho foi realizado na capela de São Miguel do Paço da Alcáçova, tendo como padrinho o doge de Veneza, Leonardo Loredan, representado por Pero Pasquaglio. Foram madrinhas uma tia materna, a Rainha D. Leonor, viúva de D. João II, e a avó paterna, a infanta D. Beatriz, duquesa de Beja. Nas Cortes a seguir convocadas para 15 de agosto, o príncipe foi jurado herdeiro.

Educado em Latim e nos clássicos pelo bispo de Viseu o castelhano Diogo Ortiz de Villegas, morto em 1519, e depois pelo Doutor Luís Teixeira, que lhe ensinou Direito Civil, pelo clérigo Tomás de Torres, que lhe deu noções de matemática, astronomia e geografia, e por João de Menelau, grego de nação. Teve Casa própria após a morte da mãe, em 1517. Iria casar com Leonor de Austria, que depois foi escolhida terceira mulher do próprio pai, apesar de ser noiva destinada ao filho.

Sucedeu em 1521 ao pai, morto no auge de seu poder aos 52 anos, que reinara 26 anos. D. João III, aos 19 anos, foi aclamado a 22 de dezembro, no alpendre da igreja de São Domingos. Jovens dominavam então a dinâmica cena européia: a viúva de seu pai tinha 23 anos, o imperador Carlos V 22 anos, Francisco I de França 28 anos, Henrique VIII da Inglaterra tinha 31 anos.

Manteve a equipe governante do pai: o conde de Tarouca, D. João de Meneses; o conde de Vila Nova (hoje Portimão) D. Martinho de Castelo Branco; o primeiro conde de Vimioso, D. Francisco de Portugal; o segundo barão de Alvito, D. Diogo Lobo, e António Carneiro, secretário de D. Manuel desde 1509.

Ascendeu ao trono numa altura em que Portugal possuía cidades fortificadas no Norte de África e os seus marinheiros tinham navegado nos Oceano Atlântico, Índico e Pacífico, espalhando-se pelas ilhas atlânticas, pelas costa ocidental e oriental de África, Índia, Malásia, Ilhas do Pacífico, China e Brasil. Destacava-se entre as potências europeias do ponto de vista económico e diplomático mas o país não chegava a um milhão e meio de habitantes. Durante o seu reinado Portugal adquiriu novas colónias na Ásia - Chalé, Diu, Bombaim, Baçaim e Macau.

António Mota, Francisco Zeimoto e António Peixoto chegaram ao Japão sendo os primeiros europeus a visitar este arquipélago. Começou a colonização do Brasil. Ao mesmo tempo deu-se o abandono de algumas cidades fortificadas em Marrocos como Safim, Azamor, Arzila, Aguz e Alcácer-Ceguer, devido ao custos da sua defesa contra os ataques dos Xerifes muçulmanos. Com a Inglaterra, intensificam-se as relações comerciais, o mesmo acontecendo com os países do Báltico e a Flandres.

Teve como amigo e conselheiro, o Conde de Castanheira.

[editar] Reavaliação do Império

Herdou «um império vastíssimo mas demasiado disperso», de modo que o reavaliou com ajuda de conselheiros, abandonando o projeto imperial de seu avô e de seu pai. O novo homem forte dos assuntos relativos à expansão marítima passou a ser Vasco da Gama, que se incompatibilizara com D. Manuel, nomeado em 1524 vice-rei da Índia, onde morreu.

Em 1541, um acontecimento precipitou sua decisão, pois perdeu Santa Cruz de Cabo de Gué. Os xarifes do norte da África em 1518 haviam proclamado a guerra santa contra o infiel, apoderando-se em 1524 de Marraquexe (em 1549, finalmente, retomaram Fez). Cercaram Safim em 1533, forçando D. João a abandonar Azamor, Safim, Alcácer Céguer, Arzila. Havia ao mesmo tempo crise no Estado da Índia, descrito como «um conjunto de territórios, estabelecimentos, bens, pessoas e interesses, administrados, geridos ou tutelados pela Coroa portuguesa no Oceano Índico e mares adjacentes ou nos territórios ribeirinhos, do Cabo da Boa Esperança ao Japão» (Luiz Filipe Thomaz). No Índico, surgira o perigo turco, estimulando os chefes locais a lutarem contra os portugueses. Ceilão, Pacém, Calecute foram abandonados. Econômicamente, a rota do Cabo começava a fraquejar pois a rota do Levante recuperava lentamente... Em 1548 D. João III mandou fechar a feitoria de Flandres. Havia concorrência castelhana no Índico e no Pacífico mas vinha perigo de outras potências como a França.

D. João preocupou-se efetivamente com o pleno domínio do Brasil que dividiu em capitanias-donatárias, as conhecidas Capitanias Hereditárias, e onde estabeleceu um governo central em 1548. «Foi o verdadeiro criador do Brasil, que rapidamente se tornou o elemento fundamental do Império português, assim o sendo até o início do século XIX» (Paulo Drumond Braga, op. cit, pg 145).

[editar] Panorama do reinado

Houve sem dúvida um ar de renovação cultural em seu reinado, preponderante na afirmação do Renascimento português. Na literatura apareceu o poeta mais conhecido mundialmente Luís Vaz de Camões, como também Garcia de Resende, Sá de Miranda, Bernardim Ribeiro e João de Barros, na náutica surgiu Pedro Nunes e na botânica Garcia da Orta, na arquitetura Francisco de Holanda, Miguel de Arruda, João de Castilho. Outros nomes foram Luís Vives, André de Resende, Damião de Góis, João de Ruão e Nicolau Chanterrene. Erasmo lhe dedicou uma de suas obras e o rei teria pensado em o contratar para professor da nova Universidade, a de Coimbra, criada em 1537. Foi em seu reinado que se criaram bolsas de estudo no estrangeiro e o Colégio das Artes.

João III era, no entanto, extremamente religioso, o que o tornou subserviente ao poder da Igreja e permeável à introdução da Inquisição em 1536 pois o movimento luterano era já uma realidade européuia. As consequências sociais foram desastrosas, pois provocou insegurança nos cristãos novos, e econômicamente, obrigando à fuga muitos mercadores judeus, forçando o recurso a empréstimos estrangeiros.

Continuou a política centralizadora e absolutista do seu pai, convocando apenas três cortes em períodos bem espaçados: 1525, 1535 e 1544. A estagnação que caracterizou seu reinado amplificou-se sob seu neto e sucessor, o rei Sebastião.

Afirma-se que sua alegada neutralidade era na verdade política de apoio ao cunhado, Carlos V, e que teria mesmo pensado em uma união ibérica, o que é indefensável face às teorias atuais. Sempre desejou claramente a independência de Portugal, pois jamais fechou as portas à França, a Inglaterra e até à Polônia. Foi, entretanto, um rei que geriu muitas crises - a financeira, pois em seu reinado as despesas ordinárias da Coroa incluíam tenças, moradias, benesses pias, ordenados, obras públicas, universidade, obras em Belém e em Tomar, houve dotes a pagar, a compra do arquipélago do Maluco, socorros às praças do Norte da Africa, as armadas à Índia, a defesa das costas do Brasil e África, a aquisição de trigo nos anos maus... Crise política, pois seu reinado assistiu à emergência de duas potências, a Espanha de Carlos V e o Império Otomano, que tomou Buda e cercou Viena em 1529. Tudo isso em meio a proliferação de peste, maus anos agrícolas, instabilidade meteorológica, até o grande terremoto de Lisboa de 26 de janeiro de 1531.

Adoeceu após 1550 e teve grave doença perigosa em 1555. Morreu dois anos depois de acidente vascular cerebral, ou apoplexia, em Lisboa, estando sepultado no Mosteiro dos Jerónimos.

Psicologicamente, foram características pessoais sua enorme bondade, a lentidão na tomada de decisões, a dissimulação no relacionamento com os súditos ou como arma diplomática, a piedade (recebeu do papa em dezembro de 1525 a ´rosa de ouro´). Filho de um gênio político, D. Manuel I de Portugal, foi neto de dois outros, os Reis Católicos de Espanha.

Sua imagem foi atacada no século XIX, acusado por Alexandre Herculano de homem medíocre, inábil, fanático, «inábil para governar por si próprio». Defendido por uma biografia importante escrita em 1936 por Alfredo Pimenta, acrítico, visões menos apaixonadas surgiram na década de 1960 em textos de Joaquim Veríssimo Serrão, Borges de Macedo, Silva Dias e Romero de Magalhães.

[editar] Bibliografia

  • «D. João III», por Paulo Drummond Braga, Hugin Editores Ltda. 2002. Em cuja contracapa se lê: «D. João III (1502-1557) foi rei de Portugal durante mais de 30 anos (1521-1557). Homem indubitavelmente bondoso, propositadamente lento na tomada das decisões, sem pressa nas mudanças profundas, dissimulado no relacionamento com os súbditos e com as potências estrangeiras, persistente, por vezes obstinado, muito prudente e cauteloso, plenamente consciente da sua função de rei, cioso da sua autoridade, extramente piedoso, talvez até mesmo para os padrões da época. Mas foi também um homem capaz de se divertir e com um apurado sentido de humor. Em termos pessoais foi alguém muito infeliz, que viu morrer os dez filhos que gerou e seis dois oito irmãos com quem conviveu. Como governante, coube-lhe a gestão de várias crises: crise financeira, ameaça protestante, perigo turco, concorrência francesa e inglesa no Império, crises no Estado da Índia, peso da vizinhança demasiado forte de Carlos V. A forma como agiu em tudo isto teve sempre ecomo base uma grande dose de sensatez e de realismo que, entre outras coisas, se traduziu na aposta certeira no Brasil, rapidamente tornado o elemento fundamental do Império português, papel que desempenharia durante cerca de dois séculos e meio. Assim, quando se fala da extraordinária e inagável visão política e geo-estratégica de D. D.João II, não se pode, em pararelo, olvidar a de D. João III, verdadeiro «fundador» do Brasil.»

[editar] Descendência

Estátua de D. João III - Coimbra
Estátua de D. João III - Coimbra
  • Filho natural gerado antes do casamento:
    • Manuel, Infante de Portugal, tido em 1523 de D. Isabel Moniz, moça da câmara da Rainha D. Leonor, viúva de D. João II, e filha de um alcaide de Lisboa apelidado O Carranca. Passou seus primeiros anos em Sintra no mosteiro de Penhalonga. Seu nome foi mudado para Duarte para evitar confusão com o nome do herdeiro legítimo: assim, foi chamado Duarte de Portugal (1523-1543), arcebispo de Braga. Permaneceu no mosteiro da Costa em estudos até 1542. Em 1542 o rei o autorizou a visitá-lo na corte. Homem extremamente culto, traduziu para o latim a maior parte da Crónica de D. Afonso Henriques de Duarte Galvão. Recebeu do papa Paulo III a sé de Braga, onde entrou em 12 de agosto de 1543. Faleceu a 10 de novembro desse ano, de varíola.

[editar] Ver também

Commons
O Wikimedia Commons possui multimedia sobre João III de Portugal
Precedido por
D. Afonso
Príncipe herdeiro de Portugal
1502-1521
Sucedido por
D. Afonso
Precedido por
Manuel I
Rei de Portugal e dos Algarves
daquém e dalém-mar em África

1521 - 1557
Sucedido por
Sebastião I



BIOGRAFIAS

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