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Maurício de Nassau

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Maurício de Nassau em Kleve, Alemanha, onde faleceu aos 75 anos.
Maurício de Nassau em Kleve, Alemanha, onde faleceu aos 75 anos.

Apelidado o Brasileiro para se distinguir de Maurício de Nassau, o Silencioso ou o Taciturno, seu primo (filho de Guilherme, príncipe de Orange, também chamado o Silencioso, fundador da independência dos Países Baixos).

Índice

[editar] Origem familiar

O conde João Maurício de Nassau-Siegen (em alemão Johann Moritz von Nassau-Siegen; em neerlandês Johan Maurits van Nassau-Siegen), nasceu em Dillenburg perto de Frankfurt e Siegen (hoje Alemanha, atual estado do Hessen) em 17 de junho de 1604. É erro pensar que fosse holandês, pois sua família tinha origem alemã, havia muito fixada na região do Reno. Também erro chamá-lo príncipe, título que lhe será concedido somente em 1653 pelo Imperador Fernando ou Ferdinando III. Faleceu a 20 de dezembro de 1679 na sua propriedade de Berg und Tal, nos arredores de Kleve (hoje Alemanha), sepultado em Bergendaal. Os restos mortais foram transladados para Siegen.

Seu pai era Jan ou João, chamado pelos genealogistas o do Meio, conde de Nassau-Siegen; filho de João, chamado O Velho, pai de 20 filhos. Sua mãe, segunda esposa do pai, foi Margaretha van Holstein, princesa de Holstein-Sonderburg, filha do duque de Schleswig-Holstein e de uma princesa da dinastia de Brunswick. João Maurício foi o 13º filho de seu pai, mas primogênito do segundo casamento.

[editar] Formação

Pouco se sabe da sua infância, passada em Siegen. Recebeu boa educação nas Universidades da Basiléia, onde chegou aos 10 anos, famosa desde os tempos de Erasmo, e de Genebra - importantes centros calvinistas no século XVII. Em Genebra, o rigor da época de Calvino estava atenuado pela presença de Teodoro de Bèze, grande teólogo protestante. Em 1616 ingressou no Collegium Mauritianum, criado por seu cunhado Maurício de Hesse-Kassel para filhos da nobreza protestante, participando da vida da corte da landgravina, sua meia-irmã Juliana.

Sua formação protestante, além dos laços de parentesco com famílias nobres neerlandesas, levaram-no a ingressar na carreira militar a serviço dos Países Baixos, à época da guerra dos Trinta Anos. Havia três gerações os Nassau alemães militavam nos exércitos dos Países Baixos. Muito cedo obteve um primeiro posto como alferes de cavalaria.

[editar] Vida nos Países Baixos

João Maurício de Nassau-Siegen.
João Maurício de Nassau-Siegen.

A indústria naval dos Países Baixos era a mais eficiente da Europa, para atender ao comércio de grãos e às atividades pesqueiras. Havia indústria têxtil em Leiden e Haarlem, a de porcelana de Delft. Havia indústrias de processamento de açúcar e fumo. Houve ondas de imigração qualificada - refugiados calvinistas dos Países Baixos espanhóis (hoje Bélgica), da Alemanha, da Escandinávia. Os Países Baixos eram altamente urbanizados: Amsterdã, com 120 mil habitantes, era seu centro cosmopolita. O grau de alfabetização seria o mais elevado da Europa: havia no país escolas primárias, escolas latinas ou secundárias, escolas superiores - as universidades de Leiden, Utrecht, Franeker, Groningen. Deve-se ao chamado Século de ouro neerlandês «o telescópio, o microscópio, termômetro, barômetro, relógio de pêndulo, cálculo logarítmico, integral e diferencial», segundo Paul Zumthor. A liberdade da mulher causava perplexidade aos estrangeiros. Uma organização exemplar, politicamente: república em era em que crescia o absolutismo, de organização estatal reduzida e descentralizada. É certo que havia desproporção entre as repúblicas, pois a Holanda detinha 40% da população, metade do produto nacional, contribuindo com 57% do orçamento do país e exercia « papel federador através do seu Grande Pensionário, que se tornara a primeira magistratura civil da nação, ao passo que a dinastia de Orange, cujos príncipes sucediam-se no stadhouderschap, servia de contrapeso.» (Evaldo Cabral de Mello, obra citada abaixo)

Nassau integrou o exército dos Países Baixos no conflito com a Espanha: fez a campanha militar de Breda (1625), para retomar a cidade dos espanhóis; a reconquista das praças fortes estratégicas ao longo dos rios começou a partir de 1626, pois, com a crise em Mântua, a Espanha para lá deslocou tropas. A reviravolta se deu em 1629, quando os neerlandeses ocuparam s'Hertogenbosch. Em 1626 foi promovido a capitão, em 1629 era coronel. Em 1632 foi tomada Maastricht e tomou a fortaleza Schenckenshans, numa ilha do Reno, em (1636), confirmando o seu prestígio e experiência militares. A vitória teve repercussão e fez seu nome respeitado. O conflito prosseguiu até 1648, quando pela Paz de Münster (Friede von Münster) a Espanha reconheceu a independência da República, que prometeu respeitar a suserania espanhola ao sul de sua fronteira meridional.

[editar] O interesse artístico

Data desse período a predileção de Nassau pelo convívio com artistas e homens de letras. Frederico Henrique de Orange, stadhouder desde 1625, filho de uma Coligny, neto do chefe protestante que patrocinou a instalação dos franceses no Rio de Janeiro, casado com a condessa alemã Amélia de Solms-Braunfels, tinha pretensões dinásticas e mantinha uma corte aristocrática na República burguesa. Nela brilhava, por exemplo, Constantino Huygens, figura renacentista, incentivador da carreira de Rembrandt, um dos animadores de um círculo que, nas cercanias de Amsterdã, contava com Joost van den Vondel, o poeta nacional dos Países Baixos, o humanista Caspar van Baerle, que sob o nome latinizado de Barlaeus escreverá a história do governo de Nassau no Brasil.

Em 1632 Nassau, entusiasta da arquitetura, começou a construir a luxuosa Mauritshuis, em Haia, projeto do famoso arquiteto Jacob van Campen, seguidor do estilo italiano de Palladio. Na obra comprometeu seus recursos, pois lhe custaria meio milhão de florins.

[editar] A Companhia Holandesa das Índias Ocidentais

Por isso aceitou o convite da Companhia das Índias Ocidentais (WIC) para administrar domínios conquistados no Brasil (1636), percebendo ajuda de custo de 6.000 florins (equipamento), salário mensal de 1.500 florins , o que Boxer considera principesco; o soldo de Coronel do Exército, além de uma participação de 2% sobre os lucros. Corriam ainda por conta da WIC suas despesas de mesa e criadagem (trouxe 18 criados), os salários do predicante Francisco Plante, de seu médico Guilherme van Milaenen, de seu secretário Tolner.

Nassau prestou juramento perante os XIX em 4 de agosto de 1636 comprometendo-se pelo prazo de cinco anos de ser o governador, capitão e almirante general das localidades conquistadas e por conquistar pela Companhia das Índias Ocidentais no Brasil, e de todas as forças de terra e mar que a Companhia tem ou terá em pé de guerra». Tinha então 32 anos.

Começariam no embarque seus motivos de frustração: em vez da armada de 32 velas e dos 7 mil homens prometidos, a WIC lhe entregou 12 navios com 2700 soldados.

[editar] Período no Brasil

Nassau partiu do porto de Texel (25 de outubro de 1636), chegando ao Recife (23 de janeiro de 1637) com o título de Governador, Almirante e Capitão-General dos domínios conquistados pela Companhia das Índias Ocidentais (WIC) no Brasil.

O Conde Maurício de Nassau.
O Conde Maurício de Nassau.

A administração da WIC no Brasil era confusa: estava a cargo de um colegiado, o Conselho Político, de nove membros indicados pelas câmaras regionais da companhia. A presidência era rotativa, e as competências incluíam funções administrativas, fazendárias e judiciárias. Para as decisões de natureza militar, exigiam a presença dos comandantes das forças. Haviam divergências entre o Conselho e o comando militar e entre o Conselho e o Conselho dos XIX, na metrópole.

Estabeleceu relações amistosas entre neerlandeses, comerciantes e latifundiários. Estes restauraram seus engenhos com empréstimos concedidos pela WIC, utilizados também na venda a crédito dos engenhos abandonados, visando restabelecer a produção de açúcar. Nassau incrementou no Nordeste a economia açucareira, introduziu métodos aperfeiçoados de cultivo da cana-de-açúcar e do fumo.

Apesar de calvinista, permitiu a liberdade de culto entre holandeses, franceses, italianos, belgas, alemães, flamengos e judeus, que oriundos da Península Ibérica e do norte europeu, foram atraídos para a Nova Holanda por clima de tolerância religiosa que não havia na Europa. Neste período foi fundada uma sinagoga no Recife, considerada a primeira das Américas.

Decidido a transformar o Recife em uma moderna capital, determinou o projeto da cidade Maurícia (Mauritsstad), responsável pelos atuais traçados urbanísticos dos bairros de Santo Antônio e São José, onde drenou terrenos, construiu canais, diques, pontes, palácios(Friburgo e Boa Vista), jardins (botânico e zoológico), um museu natural e um observatório astronômico. Organizou serviços públicos essenciais como o de bombeiros e de coleta de lixo.

[editar] Comitiva

Erudito e humanista, interessava-se pelas ciências e pelas artes. Nomeado, juntou imediatamente um pequeno grupo de cientistas, arquitetos, médicos e pintores, gente capaz de documentar a vida na colônia: seus animais, flora, suas raças.

O cientista Willem Piso estudara em Leiden e em Caen e praticava medicina em Amsterdã; o paisagista Frans Post, de vinte e poucos anos, vinha recomendado por seu irmão Pieter Post e era tão desconhecido como o retratista Albert Eckhout. A Luís XIV, porém, Nassau diria mais tarde que contara no Brasil com seis pintores - talvez incluisse um pintor primitivo, Zacharias Wagener, seu dispenseiro. Viriam ainda Sebastianzoon Cornelis Goliath e o cientista George Markgraf, astrônomo saxão que, com Piso, seria o autor da Historia Naturalis Brasiliae (Amsterdã, 1648), primeira obra de caráter científico sobre a natureza brasileira. O nome de Markggraf é sobretudo ligado a sua descrição do eclipse solar de 1640. Vieram ainda três vidraceiros e um entalhador. Ao humanista Gaspar Barlaeus, Nassau encomendou escrever a história de seu governo no Brasil.

Charles Boxer exagera ao assegurar que Nassau congregou uma equipe de 46 eruditos, cientistas, artistas e artesãos! O mais importante do legado de Nassau é não apenas o calibre artístico de Post, que se concentrou na paisagem, ou de Eckhout, que se concentrou na flora, fauna e gente do Brasil, mas o fato de que a exploração cientifica e artística eram complementares, pois artistas e cientistas eram empregados por um homem, Nassau, que tinha o mesmo interesse por ambos os aspectos e os tornou parte de um mesmo projeto.

[editar] Consolidação da conquista

Passou imediatamente à ofensiva contra a tropa hispano-luso-brasileira aquartelada em Porto Calvo, Alagoas, comandada pelo conde de Bagnuolo, oficial napolitano, que comandava uns 4 mil homens mas preferiu retirar-se. Nassau em seu encalço marchou para o rio São Francisco, desceu em terra em Jaraguá, cavalgou pela costa até Penedo. Ali se demorou dois meses, na construção de uma fortaleza a que deu seu nome, encetou relações com os tapuias, e assentou no grande rio o limite meridional do Brasil holandês. Regressou a Recife no início do inverno e se dedicou à tarefa imensa de recompor a administração civil e militar e ao complexo problema do abastecimento da colônia.

Ainda em 1637 implantou uma reforma administrativa e começou a tratar da tarefa verdadeiramente prioritária, a reativação do sistema açucareiro pois a quase totalidade dos 150 engenhos do Brasil holandês estava destruída pela guerra, 15 mil habitantes tinham fugido, dos quais 1/3 eram escravos. A WIC não via com bons olhos a confirmação dos direitos dos luso-brasileiros, mas Nassau percebeu que sem eles, e sem o que chamava a classe média rural (lavradores de cana, mestres-de-açúcar, feitores, artesãos, lavradores de víveres) não seria possível repor a indústria. Em 1637-1638 mandou leiloar os engenhos dos proprietários ausentes ao preço médio de 30 a 40 mil florins. Com isso arrecadou 2 milhões de florins. Os compradores foram sobretudo judeus, neerlandeses e luso-brasileiros, mas no decorrer dos meses os dois primeiros terminariam revendendo as propriedades aos terceiros - como no caso de João Fernandes Vieira, por exemplo.

A oferta de crédito ainda dependia da definição do regime de comércio a ser adotado no Brasil holandês. A intervenção de Nassau, junto com a influência de Amsterdã e dos Estados da Holanda, foi decisiva para que os Estados Gerais ratificassem em abril de 1638 (contra as pretensões da WIC)a política de livre-comércio adotada há quatro anos. Pois a Holanda era verdadeiramente a pátria do livre-comércio e a comunidade mercantil de Amsterdã não hesitaria em devolver o Nordeste a Portugal só para ter o direito de comerciar nas colônias hispano-portuguesas. Nassau estava convencido de que o monopólio desejado pela WIC seria a perda do Brasil holandês, pois a fase era de escassez de açúcar e de preços crescentes, além de que daria estímulo à imigração de colonos neerlandeses, desencadeando um círculo virtuoso na economia. E, favorável também a uma oferta abundante de escravos africanos, em 1637 enviou o coronel Hans Koin à chefia de uma expedição naval que conquistou o forte de São Jorge da Mina, na África, capitulando a guarnição portuguesa a 28 de agosto. A Mina foi colocada sob o controle de Recife, mas sua conquista não correspondeu às expectativas econômicas neerlandesas, já que o desempenho do escravo da Guiné era reputado pelos portugueses inferior aos escravos de Angola.

Logo Nassau foi obrigado a se defender da tropa de Bagnuolo em Sergipe, perdendo a ilusão de que o São Francisco ofereceria proteção ao Brasil holandês. Ficou claro que, enquanto Recife permanecesse em nãos neerlandesas e a Bahia em mãos dos portugueses, nenhum dos dois lados poderia se sentir seguro.

Para o norte de suas possessões, fez em 1638 viagem a Paraíba e ao Rio Grande, examinando suas fortificações e fortificando sua aliança com os tapuias, inabalavelmente hostis aos luso-brasileiros. Fortaleza se rendera desde dezembro de 1637. Voltando ao Recife, Nassau recebeu a notícia da poderosa armada hispano-lusitana que se aprestava em Lisboa e Cádiz com destino ao Brasil. Filipe IV e Olivares haviam finalmente decidido lançar uma ofensiva dupla, afinal a última dos Áustria madrilenhos: uma armada chefiada por D. Antônio de Oquendo tentaria reabrir as comunicações marítimas com o norte da Europa e outra armada, chefiada por D. Fernando Martins de Mascarenhas, o conde da Torre, deveria restaurar o domínio lusitano no Nordeste. Nassau tomou assim a arriscada decisão de se antecipar e conquistar a Bahia.

[editar] A luta pela Bahia

Nassau organizou as guardas cívicas do Recife, da Paraíba e de Itamaracá para reforçar a tropa que deixava e partiu em 8 de abril na chefia de uma frota naval de 36 unidades com 3600 europeus e mil índios. Começou o assalto a Salvador em 16 de abril, desembarcando em Água dos Meninos e obtendo a rendição dos fortes de Santo Alberto, São Filipe e São Bartolomeu. Mas como Bagnuolo e o Governador-Geral haviam superado suas divergências, o exército de Pernambuco e a guarnição local estavam unidos contra o invasor e o avanço neerlandês foi detido. Só na noite de 17 para 18 de maio o invasor perdia 300 homens.

Os navios do almirante Lichthart saquearam os engenhos do Recôncavo sem conseguir impedir a entrada de reabastecimento. Nassau retirou-se, convencido de que caso a vitória fosse alcançada nas circunstâncias existentes, só «faria ricos os soldados e pobre a Companhia», evacuando sua tropa de modo tão eficiente que os sitiados só iriam perceber na manhã seguinte que estavam livres.

Perante o Conselho dos XIX, Nassau defendeu-se atacando: era impossível expandir os domínios da WIC por meio de um exército desfalcado por doenças tropicais, perdas em combate e expiração do prazo trienal de recrutamento. Dos soldados prometidos em 1636, a Companhia ainda lhe devia 1200. Não era melhor a situação da esquadra, que reclamava 18 grandes naus. Nassau solicitou mais 3600 soldados, para perfazer os 7 mil que considerava necessários, total de que jamais disporia. A Companhia já se encontrava no círculo vicioso de que, para retomar a ofensiva, era preciso dinheiro mas os acionistas só compareceriam quando houvesse êxitos militares no Brasil.

Os historiadores costumam datar do episódio baiano o início das graves dificuldades de Nassau com a Companhia. Mas como a falhada expedição fora rentável, pela pilhagem do Recôncavo e pelo apresamento de boa quantidade de escravos revendidos no Recife, Nassau decidiu renovar a ofensiva para evitar que o Governador-Geral português começasse represálias contra o interior pernambucano, prejudicando a safra de 1638-1639, que se previa ser abundante.

[editar] A armada hispano-lusitana e reforços neerlandeses

Em 10 de janeiro de 1639 apareceram as velas da armada que zarpara de Lisboa a 8 de setembro de 1638 e se reunira em Cabo Verde a outra armada, castelhana. Teriam de 8 a 9 mil homens. O conde da Torre veio a Recife apenas numa demonstração de força até o meio dia, seguindo então viagem para Salvador, sempre à vista do litoral. Nos meses seguintes os informantes de Nassau lhe contaram das penosas circunstâncias materiais e morais da armada, das más relações de Torre com o governador, que o acusava de covardia por não ter atacado imediatamente o Brasil holandês.

Em março Nassau recebeu reforços: 1200 soldados e sete navios, enviados sob o comando do coronel Arciszewski, nomeado general, que era veterano da guerra no Nordeste e cheio de experiência brasileira, ao contrário de Nassau - que o vencera entretanto na disputa pelo lugar de comandante do Brasil holandês. Em julho, graças à interceptação de uma carta do conde da Torre, Nassau teve o quadro preciso da força do inimigo: 46 navios, dos quais 26 galeões, com 5 mil homens. A armada tinha instruções para permanecer dois anos no litoral brasileiro.

Em novembro de 1639 a armada seguiu para Pernambuco, seguida por terra por soldados da tropa de Bagnuolo, chefiados pelos três veteranos André Vidal de Negreiros, Antônio Filipe Camarão e Henrique Dias que se ilustrariam mais tarde na Guerra da Restauração, uma vez partido Nassau. Eram 87 navios, com 5 mil soldados, fora a tripulação, e 12 peças de artilharia. Nassau optou por se defender por mar. Para compensar a inferioridade dos meios, se absteria de abordar os navios inimigos e os poria a pique - o que era péssimo, financeiramente, para a WIC. Tinha 41 navios, 2800 homens embarcados, postados ao largo de Olinda. Os navios se deram caça de Alagoas à Paraíba, em uma série de quatro batalhas navais entre Itamaracá e Rio Grande. no dia 13 de janeiro de 1640, diante de Ponta das Pedras; no dia 14, na altura da cidade de Paraíba; dia 17, ao largo de Cunhaú, hoje praia da Pipa. Houve poucas baixas. Cada uma teve resultados indecisos mas seu somatório seria favorável aos neerlandeses pois a armada não pode desembarcar e se dispersou, afinal. O conde da Torre desembarcou na baía de Touros uma tropa de 1200 soldados, comandados por Luís Barbalho Bezerro, que regressou à Bahia pelo interior do Brasil holandês em marcha heróica de mais de 400 léguas.

Em seu relato à Companhia, Nassau atribui o fracasso luso-espanhol à escolha de um comandante ineficaz para comandar força tão poderosa, devido à praxe de nomear aristocratas inexperientes, como Torre, no pressuposto que sua nobreza era mais apta a garantir a disciplina; outro motivo fora a mortandade que atacara a armada em Cabo Verde, obrigando-a a escala em Salvador; e a ação dos ventos, que haviam desfavorecido sempre o inimigo.

[editar] A união ibérica e suas consequências

Nassau soube por via da Inglaterra que em Lisboa, em 1º de dezembro, um complô aristocrático liquidara 60 anos de domínio espanhol e alçara o duque de Bragança ao trono como D. João IV. A adesão da Bahia modificou completamente a guerra, e disso se soube no Recife por carta que ali chegou em 14 de março de 1641, pois Portugal e os Países Baixos eram, potencialmente, aliados contra a Espanha.

Paralelamente, Nassau e o marquês de Montalvão prosseguiram entendimentos secretos. Mas tais gestões não o impediram de expandir os domínios da Companhia e, consciente da iminência de um tratado entre Amsterdã e Lisboa, apressou-se a tirar partido do intervalo que transcorreria. Desde fevereiro passado debatera com o Conselho Supremo a ocupação da ilha de São Tomé...

Ordenou a ocupação de Sergipe, para garantir suprimento de gado. Hesitou entre atacar São Luís ou o Grão-Pará. Em abril de 1640, recebeu ordens para agir contra a Bahia e Sergipe, antes da ratificação do tratado luso-neerlandês.

Em maio, decidiu-se por uma expedição contra Luanda. Entregou o comando ao almirante Jol e ao coronel Henderson, à frente de uma esquadra enorme, das maiores que a Companhia armou em 18 anos de sua existência. Nassau achava que nenhuma iniciativa poderia ser tão proveitosa quanto a conquista de Angola, nem desferir tamanho golpe contra a Espanha. De Angola se exportavam anualmente 15 mil escravos, dos quais 10 mil para as minas e fazendas da América Espanhola e cinco mil para o Brasil - o tráfico era avaliado em 6 milhões de florins, dos quais 1 milhão apenas em impostos. Senhora de Angola, a VOC arruinaria a produção espanhola de prata, base do poderio espanhol na Europa, e a produção portuguesa de açúcar, fazendo com que a Bahia caísse depois. A esquadra tomou Luanda em dezembro de 1641, mas não atacou Massangano (onde se refugiara a guarnição e população portuguesa), conquistando a seguir Benguela e São Tomé, e Axim, na costa da Guiné. Dizem os cronistas que a única resistência foi a do clima, ao qual Jol sucumbiu.

Nassau não conseguiu unificar, subordinando-o a seu comando, um governo unificado em Angola para as possessões africanas, pois os XIX preferiram criar um Distrito Meridional da Costa Africana com capital em Luanda, englobando Angola e São Tomé, sob alegação de que Portugal sempre mantivera separadas suas possessões brasileiras e africanas, para preservar os lucros do tráfico negreiro na metrópole.

Em novembro de 1640, a força naval comandada por Lichthart e Koin tomara a ilha de São Luís, no Maranhão.

[editar] Tratado de trégua de dez anos com Portugal

Em junho de 1641 o embaixador Tristão de Mendonça Furtado assinou com o governo neerlandês um tratado de trégua por 10 anos, com oposição das duas Companhias comerciais. Em Lisboa, indignada com a perda de Angola, Sergipe e Maranhão, exigia-se o recurso às armas para vingar a traição do novo aliado. Cortesãos e altos funcionários começariam a organizar um levante luso-brasileiro no Brasil holandês que, entretanto, só se concretizaria em junho de 1645, quando Nassau já havia deixado o Brasil.

Montalvão, reabilitado por D. João IV, obtivera a presidência do Conselho Ultramarino e retomou os contactos com Nassau. Ofereceram-lhe inclusive, para afastá-lo, um comando no exército português. Nassau foi, aos poucos, entretendo Montalvão, para buscar os maiores benefícios aos neerlandeses. O Brasil holandês começou a desandar, como observa Evaldo Cabral de Mello em sua obra, em 1642.

A queda dos diversos tipos de açúcar tivera início em 1638. Na safra de 1641-42 as enchentes prejudicaram os canaviais, e a escravaria foi atacada por uma praga de bexigas vinda de Angola. A queda do preço do açúcar arrastou o valor dos imóveis em Recife, que se reduziu de 1/3. A receita fiscal da WIC caiu na mesma proporção. Em quatro anos, o tráfego marítimo com a metrópole se reduziu de 56 para 14 embarcações anuais. Senhores de engenho e lavradores de cana deviam à WIC 5,7 milhões de florins. Em junho de 1644, quando Nassau navegava rumo à Europa, havia falências em Amsterdã. A escassez de dinheiro pressionava a taxa de juros que aumentava, provocavando mais falências. A ferocidade da Companhia não era menor que a do comércio particular e dos arrecadadore de impostos. Desde fins de 1641, Nassau deve ter percebido que a independência de Portugal poderia ter sido um mau negócio para o Brasil holandês.

[editar] Apreciação

Administrador eficiente e conciliatório, sob sua gestão (1637-1644) o domínio neerlandês no Brasil atingiu o auge. Consolidada a ocupação militar de Pernambuco, expandiu a conquista com a anexação do litoral das Capitania do Ceará, Sergipe e Maranhão, mas fracassou na tentativa de conquistar a Bahia (1639) sobretudo por falta de meios.

Diz Evaldo Cabral de Mello: «A política de conciliação que adotou e sua peça fundamental, a tolerância da religião católica, eram certamente um imperativo da dependência em que se achava a produção de açúcar em relação aos senhores de engenho, lavradores de cana e artesãos da nação portuguesa. Mas não se deve afirmar grosseiramente que a atitude de Nassau e das autoridades batavas decorresse apenas das exigências do sistema produtivo. A liberdade de consciência era doutrina oficial da República dos Países Baixos e assim foram proclamada na sua carta fundamental, a União de Utrecht (1579). (...) Sua atitude para com a comunidade judaica, porém, foi menos benevolente.»

Após sete anos, mesmo tendo desenvolvido uma política conciliadora e tolerante, não conseguiu impedir contradições insolúveis. Divergências entre sua forma de governar e os lucros esperados pela WIC levaram-no a deixar o cargo e retornar à Europa em 23 de maio de 1644).

Seu governo está associado ao planejamento urbano do Recife, que Robert C. Smith iria considerar «a primeira cidade digna desse nome na América portuguesa», (...) caracterizada pela liberdade de circulação por meio de pontes e de ruas pavimentadas e traçadas geometricamente, mercados e praças bem plantadas. A descrição da vida em Recife nos tempos de Nassau foi feita por cronistas neerlandeses e por frei Manuel Calado que vivia em Alagoas em seu engenho com 25 escravos mas foi chamado por Nassau ao Recife, onde se ligou especialmente a João Fernandes Vieira.

Seus êxitos inegáveis foram a defesa do Brasil holandês contra o araque da armada luso-espanhola em 1640 e a conquista de Angola, São Tomé e do Maranhão em 1641, graças ao poder naval.

Para Charles Boxer (ver abaixo) foi sobretudo um «administrador de primeira categoria».

[editar] Retorno

A exoneração de Nassau é uma longa história. Desde abril de 1642, nos XIX o haviam dispensado, com ordem de regressar na primavera de 1643. Com o envio das expedições a Angola e Maranhão e a próxima ratificação do tratado luso-neerlandês, seu papel no Brasil passou a ser visto como desnecessário. Em setembro, porém, não deixou de manifestar aos Estados Gerais seu ressentimento com a direção da Companhia. Nassau projetava um ataque a Buenos Aires, escoadouro ilegal da prata peruana com destino ao Rio de Janeiro e a Luanda, e porta de entrada de escravos destinados ao Peru - pois a Companhia decidiu enviar atacar o Chile, sem consultá-lo, o almirante Hendrick Brouwer, que chegou a Recife e no decurso de 1643 ocuparia Chiloé e Valdívia. A WIC buscava desesperadamente uma saída para sua crise financeira.

Nassau também previa uma iminente insurreição luso-brasileira, em carta aos Estados-Gerais (Fernandes Vieira fazia jogo duplo com ele). Em Salvador, já se instalara como governador-geral Antônio Teles da Silva, encarregado de fomentar tal insurreição, e havia regressado do Reino André Vidal de Negreiros, que articularia a insurreição no terreno. Havia levantes em São Tomé e no Maranhão, e Bengo, em Angola, foi saqueada.

Em 30 de setembro de 1643 Nassau recebeu a carta de dispensa dos Estados Gerais, com a promessa dourada de o designar para importantes funções na Europa. Partiu numa esquadra de 13 naus que transportava carga avaliada em 2,6 milhões de florins e só sua bagagem ocupou duas naus: levava em sua mudança suas coleções, barris de conchas e seixos, botijas de farinha de mandioca, dentes de elefante, toros de jacarandá, pranchas de pau-santo, de pau-violeta, 30 cavalos pernambucanos, cem barriletes de frutas confeitadas inclusive de abacaxi. Fez quarenta anos a bordo e em julho de 1644 desembarcou no porto de Texel.

[editar] Europa

De volta aos Países Baixos, foi promovido a General de Cavalaria, nomeado Comandante da Guarnição de Wesel. Nesse período encarregou Gaspar Barleus da redação da história do seu governo no Brasil, obra publicada em 1647. Diante das dificuldades da WIC no Brasil, chegou-se a cogitar da sua volta, idéia declinada por Nassau diante da limitação de seus poderes.

Ocupou o cargo de Governador de Kleve (1647) tendo exercido as funções de embaixador junto à Dieta de Frankfurt, em 1652 foi escolhido Comandante da Ordem de Malta para o norte da Alemanha, e recebeu do Imperador o título de Príncipe do Sacro Império Romano Germânico. Mesmo com idade avançada e a saúde debilitada, tornou a pegar em armas quando os Países Baixos foram atacados pelo bispo de Münster (1665) e, posteriormente, pelos franceses (1667) e espanhóis (1671). Na guerra contra a França, tornou-se marechal-de-campo. Aos setenta anos de idade foi nomeado governador de Utrecht (1674).

Embora lhe tenham atribuído várias relações amorosas (frei Calado se reporta à filha de um pastor no Recife, Margarida, filha do predicante Soler), morreu de "paixão e tristeza" em 1643 ao ser abandonado pela filha de um oficial neerlandês, sabe-se que permaneceu celibatário.

[editar] Ver também

  • Charles R. Boxer. Os holandeses no Brasil (1624-1654). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1961.
  • Evaldo Cabral de Mello, Nassau - perfis brasileiros. Companhia das Letras, 2006.
  • Gaspar Barléu. História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil. Belo Horizonte: Editora Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1974. 418 p. il.


BIOGRAFIAS

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Governantes de Pernambuco
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