Questão das investiduras
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A Questão das Investiduras foi o conflito que envolveu a Igreja e o Sacro Império Romano-Germânico durante os séculos XI e XII, e que questionava a supremacia do Poder Temporal sobre o Espiritual, ou a supremacia do poder do Imperador sobre o dos eclesiásticos.
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[editar] A ameaça pagã no reino cristão dos romanos
A partir de 476 d.C, ano em que Roma caiu nas mãos dos bárbaros, o paganismo voltou a influenciar certas áreas que, anteriormente, pertenciam ao Império Romano do Ocidente. A Igreja Católica, por sua vez, manteve maioria em outras regiões, porém estava ameaçada pelas incursões germânicas, que poderiam levar ao confisco de suas propriedades. Os bárbaros e sua religião pagã representavam a pulverização e desunião do território e da religião cristã que os unia.
[editar] Os reinos Merovíngio e Carolíngio na Gália
Uma das regiões onde o catolicismo ainda era religião majoritária era a Gália (atual França). O primeiro rei dos francos, Clóvis, pertencente à dinastia dos Merovíngios conseguiu, depois de muitas batalhas, unificar toda a Gália em torno dos francos. Porém, Clóvis era pagão e, para consolidar a unificação deste território, decidiu converter-se ao cristianismo. Nesse evento, a Igreja conseguiu o que queria: livrar-se, de certa forma, do perigo bárbaro. Com a ascensão de Pepino, o Breve ao poder, deu-se a substituição dos Merovíngios pelos Carolíngios, dando origem ao Reino Carolíngio, que mais tarde, com a coroação de Carlos Magno como Imperador dos Cristãos pelo Papa viria a se tornar o Império Carolíngio. Mas, a partir da divisão do Império em 843 pelo Tratado de Verdun (que partilhou o Império entre os herdeiros de Luís, o Piedoso), já se observavam sinais da queda daquele, o que se verificaria nos anos subseqüentes.
[editar] Império Carolíngio, Sacro Império Romano Germânico e a `primeira investidura leiga´
Da crise do Império Carolíngio, surgiria o Sacro Império Romano-Germânico (que duraria até 1806, quando dissolvido por Napoleão Bonaparte), que herdaria a tutela da Igreja Católica. Desde 962, ano em que Oto I foi coroado pelo papa João XII, tornando-se o primeiro imperador do Sacro Império, já era notada a interferência do Imperador (responsável pelo exercício do Poder Temporal) nos assuntos eclesiásticos, como a nomeação de bispos dentro do Império. Essa ingerência recebeu o nome de investidura leiga.
[editar] A Reforma de `Cluny´: eclesiásticos versus imperadores
No mesmo contexto, vemos o surgimento de um movimento clerical que lutava por reformas dentro da Igreja, que estava sendo ameaçada por práticas corruptas (como a simonia), o desregramento e pela influência dos aspectos mundanos ou nicolaísmo, ocasionados pela abertura da `investidura leiga´. Este movimento recebeu o nome de “Ordem de Cluny”, já que sua sede era a Abadia de Cluny, na França. Influenciados pelas idéias reformistas da referida ordem, os papas começaram a lutar pela subtração da influência do imperador nos assuntos referentes à Igreja. Dentro das exigências feitas ao imperador, os cardeais conseguiram a criação do “Colégio de Cardeais”, cuja função era eleger o próximo pontífice. Um dos primeiros papas eleitos pelo Colégio de Cardeais foi Hildebrando da Toscânia, que assumiu com o nome de Gregório VII e se tornou o chefe da Igreja a partir de 1073. Gregório VII empreendeu muitas reformas, sendo que a mais importante foi a que retirou do imperador o direito de nomear bispos e outros clérigos dentro do Sacro Império. O movimento reformista de Gregório VII ficou conhecido como reforma gregoriana. Na Antiguidade os assírios já exerciam preponderância sobre os sacerdotes, e na civilização egípcia, a religião preponderava sobre a realeza; mais perto de nós, traria ainda outros questionamentos da relação de fiés, Estado e Igreja, como a reforma Protestante.
[editar] Concordata de Worms: a vitória dos eclasiásticos
Henrique IV da Germânia, então imperador do Sacro Império Romano-Germânico, continuou a exercer a investidura leiga e, por isso, foi excomungado pelo Papa. Diante da excomunhão, pediu perdão ao papa em Canossa, o que foi concedido pelo pontífice. Rebelou-se novamente, chefiando um exército que invadiu Roma, obrigando Gregório VII a fugir da cidade (e a morrer no exílio, em 1085). Na ausência de Gregório VII, nomeou um bispo alemão para substituí-lo; porém, Clemente III (o referido bispo, que escolheu esse nome ao ser indicado para substituir o antecessor na chefia da Igreja Católica), não recebeu o reconhecimento do Colégio de Cardeais. No auge da Idade Média, em 1122, foi assinada a Concordata de Worms, que pôs fim a Questão das investiduras, marcando o início da sobreposição da autoridade papal sobre a imperial.
[editar] Séculos XII e XIII
A luta entre poder político versus o religioso se estenderia até o século XIII, auge das Cruzadas, do ponto de vista comercial. Essa expansão marítimo-comercial contribuiu para as cidades, a nobreza e os imperadores, que tinham um interesse temporal em comum. Na Itália a luta se tornou tão intensa que originou dois partidos, os Gibelinos (partidários do imperador) e os Guelfos (partidários do papa). Famoso partidário dos Gibelinos, o poeta Dante degli Alighieri, ou Dante Alighieri, seria nessa época exilado por manifestar suas posições políticas.