Cassiodoro
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Flavius Magnus Aurelius Cassiodorus Senator (Scyllaceum, 490 — 581), mais conhecido por Cassiodorus ou Cassiodoro, foi um escritor e estadista romano, conselheiro do rei ostrogodo Teodorico o Grande, que se destacou pelos seus dotes jurídicos e literários e ocupou importantes cargos na administração pública ostrogoda da Itália. O apelido Senator no seu nome é antroponímico, não significando que fosse senador.
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[editar] Biografia
Cassiodoro nasceu em Scyllaceum (actual Squillace), no sul da Itália, de uma família aparentemente de origem síria ligada à administração romana, já que seu pai ocupou o cargo de governador província romana da Sicília.
Iniciou a sua vida pública como conselheiro de seu pai, quando este ocupou o cargo de governador da Sicília, tornando-se conhecido pelos seus conhecimentos jurídicos.
Tendo-se fixado em Roma, foi nomeado quaestor por volta do ano 507, exercendo esse cargo até ao ano de 511. Foi feito cônsul no ano de 514.
No ano de 523 Cassiodorus sucedeu no lugar de magister officiorum a Anicius Manlius Severinus Boetius, o famoso Boécio, que tinha entretanto caído em desgraça e que seria executado por traição no ano imediato. Para além disso o sogro de Boetius, e seu mentor já que o tinha educado em sus casa desde os 7 anos de idade, seria também executado no ano seguinte, o que parece indiciar, para além das tensões religiosas entre a ortodoxia cristã e o arianismo de Teodorico, uma deterioração nas relações entre a antiga aristocracia senatorial romana, centrada em Roma, e os aderentes da governação gótica, centrada em Ravena. Apesar do detalhe com que descreve a administração do tempo, a colectânea Variae epistolae de Cassiodorus não dá qualquer indicação sobre estas matérias, não havendo qualquer menção à morte de Boetius na sua correspondência ou nas obras extantes de Cassiodorus, embora se tenha descoberto uma biografia de Boetius da sua autoria.
O lugar de magister officiorum, isto é chefe dos serviços administrativos da corte e do governo, do rei ostrogodo Teodorico o Grande, era um dos mais importantes cargos da administração civil ostrogoda, o qual Cassiodorus manteve durante o resto do reinado de Teodorico e durante a regência de Atalarico, o jovem príncipe que foi seu sucessor.
Cassiodorus mantinha copiosos registos e apontamentos sobre todas as matérias que diziam respeito à administração pública e à política do seu tempo. Os seus dotes literários e jurídicos eram tão considerados na corte gótica que quando estava em Ravena eram-lhe confiados para redacção os documentos mais significativos da administração real.
Quando em princípios do ano de 534, Atalarico morreu, o reino ostrogodo entrou em convulsão e Cassiodorus foi obrigado a passar o resto da sua carreira administrativa a lidar com as intrigas dinásticas entre a nobreza ostrogoda e com os problemas da reconquista bizantina.
Mesmo assim, a sua carreira administrativa culminou com a nomeação para o cargo de prefeito pretoriano para a Península Itálica, cargo que correspondia a uma espécie de primeiro-ministro encarregue da administração civil do reino dos ostrogodos e cargo a que correspondiam grandes honrarias, sendo considerado um fecho de ouro para uma carreira na administração real. As suas últimas cartas oficiais são emitidas em nome de Vitige, tendo já o seu sucessor no cargo de prefeito sido nomeado pela corte em Constantinopla.
Por volta do ano de 537, Cassiodorus partiu para Constantinopla, cidade onde permaneceu durante quase duas décadas, concentrando-se no estudo e na discussão dos problemas religiosos que então afligiam a cristandade e o império. Encontrou-se então com Junilius, o questor de Justiniano I. A sua permanência em Constantinopla contribuiu para o tornar num especialista em questões religiosas, especialmente no que dizia respeito às suas implicações jurídicas, matéria que se reflecte na sua obra escrita.
Usou o resto da sua carreira a tentar criar condições que permitissem ultrapassar as crescentes fracturas sociais que iam aparecendo entre o cristianismo e a sociedade Ocidente e do Oriente, entre a cultura grega e a latina, entre romanos e godos e entre a ortodoxia cristã da maioria da população e o arianismo da nobreza goda no poder.
No seu livro Institutiones refere-se elogiosamente a Dionysius Exiguus, o responsável pela introdução no calendário da contagem dos anos a partir do nascimento de Cristo, o sistema dos Anno Domini que ainda hoje se usa.
Retirando-se de Constantinopla para a propriedade que a sua família possuía na costa do Mar Jónio, fundou ali o mosteiro de Vivarium, dedicando-se à escrita de temas religiosos. A estrutura do Vivarium foi concebida de forma dupla, permitindo a coexistência no mesmo reduto de monges cenobíticos com eremitas.
No seu mosteiro, Cassiodorus criou uma biblioteca que no período final da Antiguidade Clássica pretendia colocar textos gregos à disposição de leitores latinos e preservar para a posteridade textos sagrados e profanos.
Naquele biblioteca, Cassiodorus não só coleccionou todos os manuscritos que conseguiu, mas também escreveu instruções destinadas a guiar os monges na forma correcta de os ler e de os copiar de forma precisa, lançando uma corrente de copistas que permitiriam a sobrevivência de muitas das obras dos clássicos durante ao anos difíceis da Idade Média europeia.
Infelizmente, a biblioteca do Vivarium foi dispersa e perdida, apesar de ainda estar activa por volta do ano de 630, quando os monges para ela trouxeram as relíquias de Santo Acácio de Constantinopla, a quem dedicaram um chafariz artístico, alimentado por uma fonte, que ainda existe. Por essa altura, contudo, o reino godo de Teodorico já tinha colapsado sob a pressão combinada das tensões internas entre cristãos e arianos e pelo assalto dos invasores lombardos.
[editar] Obras
- Laudes (506), um conjunto fragmentar de panegíricos pronunciados em cerimónias públicas;
- Chronica(519), um texto tentando unificar toda a história do Mundo conhecido numa única sequência de governantes, juntando a história romana e goda numa sequência que parece destinada a agradar aos últimos;
- Historia Gothorum (526-533), de que apenas é conhecido um resumo feito por Jordanes;
- Variae epistolae (537), uma colectânea de documentos administrativos do reinado de Teodorico o Grande;
- Ordo generis Cassiodororum;
- Liber de anima (538) ;
- Exposition psalmorum ;
- Institutiones;
- Expositio epistulae ad romanos;
- Codex de grammatica;
- Liber memorialis ou Liber titulorum;
- Complexiones apostolorum;
- De Orthographia;
- Historia ecclesiastica ou Historia tripartita;
- Commenta librorum regum;
- Psalterium archetypum;
- Institutiones divinarum et saecularium litterarum (543-555) ;
- De artibus ac disciplinis liberalium litterarum;
- Codex Grandior, uma versão da Bíblia).
[editar] Referências
- James J. O'Donnell, Cassiodorus, University of California Press, Berkeley, 1979.
- S. J. B. Barnish, Cassiodorus: Variae, University Press, Liverpool, 1992 (ISBN 0-85323-436-1).
[editar] Ligações externas
- Página sobre Cassiodorus por James J. O'Donnell ((en))
- Cassiodorus On-line e-texto por James J. O'Donnell ((en))
- A fonte de Vivarium ((en))
- "Cassiodorus Senator and the Search for 6th Century Détente" ((en))
- Trabalhos de Cassiodorus em Projeto Gutenberg