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Francis Bacon (filósofo)

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Francis Bacon
Francis Bacon

Francis Bacon (Londres, 22 de Janeiro de 1561 — Londres, 9 de abril de 1626) foi um político, filósofo e ensaísta inglês, barão Verulam, visconde de St. Albans. Desde cedo, sua educação orientou-o para a vida política, na qual exerceu posições elevadas. Em 1584 foi eleito para a câmara dos comuns.

Sucessivamente, durante o reinado de Jaime I, desempenhou as funções de procurador-geral (1607), fiscal-geral (1613), guarda do selo (1617) e grande chanceler (1618). Neste mesmo ano, foi nomeado barão de Verulam e em 1621, barão de St. Albans. Também em 1621, Bacon foi acusado de corrupção e condenado ao pagamento de pesada multa e proibido de exercer cargos públicos. Como filósofo, destacou-se com uma obra onde a ciência era exaltada como benéfica para o homem. Em suas investigações, se ocupou especialmente com a metodologia científica e com o empirismo. É muitas vezes chamado de fundador da ciência moderna. Sua principal obra filosófica é o Novum Organum.

Francis Bacon foi um dos mais conhecidos e influentes rosacruzes e também um alquimista, tendo ocupado o posto mais elevado da Ordem Rosacruz, o de Imperator. Estudiosos apontam como sendo o real autor dos famosos manifestos rosacruzes, Fama Fraternitatis (1614), Confessio Fraternitatis (1615) e Núpcias Alquímicas de Christian Rozenkreuz (1616).


Índice

[editar] Primeiros Anos

Francis Bacon foi o oitavo filho de Sir Nicholas Bacon e Ann Cook e seus próprios pais influenciaram-lhe de modo antagônico. Sua mãe, apesar de reconhecidamente culta, era calvinista e puritana. Em vista disso, estimulou o jovem Bacon para a severidade. A leitura da Bíblia era uma obrigação diária que veio a refletir-se até mesmo em seu estilo literário. Sua mãe foi, até certo ponto, opressora, preocupando-se não apenas com as companhias do filho e seu tipo de vida, mas até mesmo com suas leituras quando já era adulto. Já seu pai, desempenhava a função de Guarda do Grande Selo e seu tio, lorde Burghley, foi ministro da rainha Elizabeth I durante quatro décadas. Esse lado da família, ensinou-lhe o comportamento mais mundano de um verdadeiro cortesão.

Em 1573, aos doze anos de idade, Bacon é enviado para o Trinity College da Universidade de Cambridge, reduto preferido da nobreza e funcionários do Estado. Aí ficou até 1575, onde recebeu sólidos ensinamentos sobre filosofia antiga e escolástica. Foi nesse período que não apenas descobriu como também adquiriu aversão ao pensamento de Aristóteles.

Ao mesmo tempo, Bacon começava a perceber a grande mudança que se desenvolvia desde os fins da Idade Média e conheceu obras sobre mineralogia, metalurgia, química, geologia, agricultura e outras áreas técnicas. Posteriormente, Bacon dirá no Novum Organum que a técnica mudara o mundo.

Em 1577, após concluir os estudos, o pai de Bacon enviou-o para a França, a fim de trabalhar junto ao embaixador Sir Amyas Paulet. Era o início de uma carreira diplomática na qual Bacon alcançaria os mais altos cargos do reino.

[editar] Política

A estada de Bacon na França foi mais curta que o previsto. Pouco depois de chegar, alguns maus negócios conduzidos pelo pai deixaram a família em situação financeira precária. Não tendo como arcar com seus gastos, retornou à Inglaterra e ingressou na Gray's Inn, uma espécie de corporação de advogados e escola de Direito.

Concluiu o curso em 1582 e passou a advogar. Em 1584, elegeu-se deputado para o Parlamento Inglês. Por esta época, já demonstrava grande maturidade na análise dos assuntos de Estado, como prova sua carta Carta de conselhos à rainha Elizabeth, escrita em 1584-85. Em 1589 retornou para Gray's Inn como professor.

Pouco depois, recebeu o título de conselheiro da Coroa e em 1593 proferiu um discurso na Câmara dos Comuns criticando os impostos. Em vista disso, Elizabeth I travou-lhe a carreira, recusando-se a nomear Bacon para as funções de Assistente Procurados Geral da Coroa e Procurador da Coroa. Por outro lado, o conde de Essex, de quem Bacon tornara-se conselheiro em 1591, protegia-lhe e presenteou-o com um solar e um parque em Twickenham, às margens do Tâmisa. Neste solar, Bacon dedicou-se ao trabalho intelectual e redigiu seus Ensaios, verdadeiro clássico da literatura inglesa.

Sua relação com o conde de Essex foi controvertida. Em grande parte, a ascensão política de Bacon devia-se à proteção do conde. Quando este caiu em desgraça junto a rainha Elizabeth I, Bacon acabou por colaborar com sua execução. Acusado de traição, Bacon foi encarregado de preparar a acusação legal. O conde de Essex era acusado de manter entendimentos com o pretendente escocês ao trono da Inglaterra e Bacon tentou dissuadi-lo de tais ligações. Não tendo êxito, acabou por acusar o velho amigo e protetor que foi condenado a morte e executado em 1601. Em seguida, publicou Esclarecimentos acerca da imputações relacionadas ao recém-falecido conde de Essex. Neste escrito, Bacon se defende das acusações de deslealdade e afirma que apenas cumprira seu dever. Sua justificativa foi que um homem honesto prefere Deus a seu rei, seu rei a seu amigo.

[editar] Ápice político e queda

Todavia, o controverso episódio rendeu-lhe benefícios. Com a morte de Elizabeth I, Jaime I ascende ao trono e Bacon torna-se seu conselheiro. Ocupa diversos cargos, recebe o título de sir, exerce as funções de Guarda do Grande Selo (a mesma função que seu pai outrora exercera). Em 1617 foi Lorde Protetor e finalmente, em 1618, Bacon torna-se Lorde Chanceler, o mais alto posto do reino britânico.

Sua lealdade ao rei foi total. Acreditava em um Estado amplo, moderno e centralizado em uma monarquia poderosa. Chegou mesmo a justificar teoricamente o absolutismo real e opôs-se a Sir Edward Coke, que defendia um poder maior para o Parlamento.

A política do reino e suas próprias posições políticas renderam-lhe inimigos. O Parlamento estava cada vez mais descontente com a administração real. O rei, obviamente, era intocável. As críticas deveriam cair sobre os conselheiros e, especialmente, seu chanceler. Em uma manobra bem articulada, Bacon foi acusado de receber suborno de litigantes com processos em andamento. Os auxiliares do rei, como Bacon, opinavam sobre autorizações para comércio e manufaturas, monopólios e patentes comerciais. Apesar da tolerância, não era moral nem legalmente admissível que os juízes recebessem presentes. Bacon reconheceu sua culpa, mas alegou que os presentes recebidos não haviam influenciado seu julgamento. Sua alegação, contudo, não impediu sua desgraça. Foi obrigado a deixar os cargos que ocupava. Em 2 de maio de 1621, foi-lhe tomado o Grande Selo e, no dia seguinte, excluíram-no de todos os postos e o encarceraram na Torre de Londres. Ali ficou poucos dias, graças a intervenção do rei.

[editar] Filosofia

Frontispício da Instauratio magna, Londres, 1620
Frontispício da Instauratio magna, Londres, 1620

O pensamento filosófico de Bacon representa a tentativa de realizar aquilo que ele mesmo chamou de Instauratio magna (Grande restauração). A realização desse plano compreendia uma série de tratados que, partindo do estado em que se encontrava a ciência da época, acabaria por apresentar um novo método que deveria superar e substituir o de Aristóteles. Esses tratados deveriam apresentar um modo específico de investigação dos fatos, passando, a seguir, para a investigação das leis e retornavam para o mundo dos fatos para nele promover as ações que se revelassem possíveis. Bacon desejava uma reforma completa do conhecimento. A tarefa era, obviamente, gigantesca e o filósofo produziu apenas certo número de tratados. Não obstante, a primeira parte da Instauratio foi concluída.

A reforma do conhecimento é justificada em uma crítica à filosofia anterior (especialmente a Escolástica), considerada estéril por não apresentar nenhum resultado prático para a vida do homem. O conhecimento científico, para Bacon, tem por finalidade servir o homem e dar-lhe poder sobre a natureza. A ciência antiga, de origem aristotélica, também é criticada. Demócrito, contudo, era tido em alta conta por Bacon, que o considerava mais importante que Platão e Aristóteles.

A ciência deve restabelecer o imperium hominis (império do homem) sobre as coisas. A filosofia verdadeira não é apenas a ciência das coisas divinas e humanas. É também algo prático. Saber é poder. A mentalidade científica somente será alcançada através do expurgo de uma série de preconceitos por Bacon chamados ídolos. O conhecimento, o saber, é apenas um meio vigoroso e seguro de conquistar poder sobre a natureza.

[editar] Classificação das ciências

Preliminarmente, Bacon propõe a classificação das ciências em três grupos:

  • a poesia ou ciência da imaginação;
  • história ou ciência da memória;
  • filosofia ou ciência da razão.

A história é subdividida em natural e civil e a filosofia é subdividida em filosofia da natureza e em antropologia.

[editar] Ídolos

No que se refere ao Novum Organum, Bacon preocupou-se inicialmente com a análise de falsas noções (ídolos) que se revelam responsáveis pelos erros cometidos pela ciência ou pelos homens que dizem fazer ciência. É um dos aspectos mais fascinantes e de interesse permanente na filosofia de Bacon. Esses ídolos foram classificados em quatro grupos:

1) Idola tribus (ídolos da tribo). Ocorrem por conta das deficiências do próprio espírito humano e se revelam pela facilidade com que generalizamos com base nos casos favoráveis, omitindo os desfavoráveis. São assim chamados porque são inerentes à natureza humana, à própria tribo ou raça humana. Astrologia, alquimia e cabala são exemplos dessas generalizações;

2) Idola specus (ídolos da caverna). Resultam da própria educação e da pressão dos costumes. Há, obviamente, uma alusão à alegoria da caverna platônica;

3) Idola fori (ídolos da vida pública). Estes estão vinculados à linguagem e decorrem do mau uso que dela fazemos;

4) Idola theatri (ídolos da autoridade). Decorrem da irrestrita subordinação à autoridade (por exemplo, a de Aristóteles). Os sistemas filosóficos careciam de demonstração, eram pura invenção como as peças de teatro.

[editar] O método

O objetivo do método baconiano é constituir uma nova maneira de estudar os fenômenos naturais. Para Bacon, a descoberta de fatos verdadeiros não depende do raciocínio silogístico aristotélico mas sim da observação e da experimentação regulada pelo raciocínio indutivo. O conhecimento verdadeiro é resultado da concordância e da variação dos fenômenos que, se devidamente observados, apresentam a causa real dos fenômenos.

Para isso, no entanto, deve-se descrever de modo pormenorizado os fatos observados para, em seguida, confrontá-los com três tábuas que disciplinarão o método indutivo: a tábua da presença (responsável pelo registro de presenças das formas que se investigam), a tábua de ausência (responsável pelo controle de situações nas quais as formas pesquisadas se revelam ausentes) e a tábua da comparação responsável pelo registro das variações que as referidas formas manifestam). Com isso, seria possível eliminar causas que não se relacionam com o efeito ou com o fenômeno analisado e, pelo registro da presença e variações seria possível chegar à verdadeira causa de um fenômeno. Estas tábuas não apenas dão suporte ao método indutivo mas fazem uma distinção entre a experiência vaga (noções recolhidas ao acaso) e a experiência escriturada (observação metódica e passível de verificações empíricas). Mesmo que a indução fosse conhecida dos antigos, é com Bacon que ela ganha amplitude e eficácia.

O método, no entanto, possui pelo menos duas falhas importantes. Em primeiro lugar, Bacon não dá muito valor à hipótese. De acordo com seu método, a simples disposição ordenada dos dados nas três tábuas acabaria por levar à hipótese correta. Isso, contudo, raramente ocorre. Em segundo lugar, Bacon não imaginou a importância da dedução matemática para o avanço das ciências. A origem para isso, talvez, foi o fato de ter estudado em Cambridge, reduto platônico que costumava ligar a matemática ao uso que dela fizera Platão.

[editar] Obras

A produção intelectual de Bacon foi vasta e variada. De modo geral, pode ser dividida em três partes: jurídica, literária e filosófica.

[editar] Obras jurídicas

Figuram entre seus principais trabalhos jurídicos os seguintes títulos: The Elements of the common lawes of England (Elementos das leis comuns da Inglaterra), Cases of treason (Casos de traição), The Learned reading of Sir Francis Bacon upon the statute os uses (Douta leitura do código de costumes por Sir Francis Bacon).

[editar] Obras literárias

Sua obra literária fundamental são os Essays (Ensaios), publicados em 1597, 1612 e 1625 e cujo tema é familiar e prático. Alguns de seus ditos tornaram-se proverbiais e os Essays tornaram-se tão famosos quanto os de Montaigne. Outros opúsculos, no âmbito literário: Colours of good and evil (Estandartes do bem e do mal), De sapientia veterum (Da sabedoria dos antigos). No âmbito histórico destaca-se History of Henry VII (História de Henrique VII) .

[editar] Obras filosóficas

As obras filosóficas mais importantes de Bacon são Instauratio magna (Grande restauração) e Novum organum. Nesta última, Bacon apresenta e descreve seu método para as ciências. Este novo método deverá substituir o Organon aristotélico.

Seus escritos no âmbito filosófico podem ser agrupados do seguinte modo:

1) Escritos que faziam parte da Instauratio magna e que foram ou superados ou postos de lado, como: De interpretatione naturae (Da interpretação da natureza), Inquisitio de motu (Pesquisas sobre o movimento), Historia naturalis (História natural), onde tenta aplicar seu método pela primeira vez;

2) Escritos relacionados com a Instauratio magna, mas não incluídos em seu plano original. O escrito mais importante é New Atlantis (Nova Atlântida), onde Bacon apresenta uma concepção do Estado ideal regulado por idéias de caráter científico. Além deste, destacam-se Cogitationes de natura rerum (Reflexões sobre a natureza das coisas) e De fluxu et refluxu (Das marés);

3) Instauratio magna, onde Bacon procura desenvolver o seu pensamento filosófico-científico e que consta de seis partes: (a) Partitiones scientiarum (Classificação das ciências), sistematização do conjunto do saber humano, de acordo com as faculdades que o produzem; (b) Novum organum sive Indicia de interpretatione naturae (Novo método ou Manifestações sobre a interpretação da natureza), exposição do método indutivo, trabalho esse que reformula e repete o Novum organum; (c) Phaenomena universi sive Historia naturalis et experimentalis ad condendam philosophiam (Fenômenos do universo ou História natural e experimental para a fundamentação da filosofia), versa sobre a coleta de dados empíricos; (d) Scala intellectus, sive Filum labyrinthi (Escala do entendimento ou O Fio do labirinto), contém exemplos de investigação conduzida de acordo com o novo método; (e) Prodromi sive Antecipationes philosophiae secundae (Introdução ou Antecipações à filosofia segunda), onde faz considerações à margem do novo método, visando mostrar o avanço por ele permitido; (f) Philosophia secunda, sive Scientia activa (Filosofia segunda ou Ciência ativa), seria o resultado final, oragnizado em um sistema de axiomas.

[editar] Morte e legado de Bacon

Francis Bacon esteve envolvido com investigações naturais até o fim de sua vida, tentando realizar na prática seu método. No inverno de 1626 estava envolvido com experiências sobre o frio e a conservação. Desejava saber por quanto tempo o frio poderia preservar a carne. A idade havia debilitado a saúde do filósofo e ele acabou não resistindo ao rigoroso inverno daquele ano. Morreu em 9 de abril, vítima de uma bronquite.

Efetivamente, Bacon não realizou nenhum grande progresso nas ciências naturais. Mas foi ele quem primeiro esboçou uma metodologia racional para a atividade científica. Sua teoria dos idola antecipa, pelo menos potencialmente, a moderna sociologia do conhecimento. Foi um pioneiro no campo científico e um marco entre o homem da Idade Média e o homem Moderno. Ademais, Bacon foi um escritor notável. Seus Essays são os primeiros modelos da prosa inglesa moderna. A hipótese surgida no século XIX, que deseja atribuir a Bacon a autoria das peças de Shakespeare, é hoje considerada totalmente sem fundamento.

[editar] Linha do tempo

1558 — Morte de Maria I, que é sucedida por Elizabeth I.

1561 — Nasce Francis Bacon.

1576 — Bacon viaja para França.

1582 — Giordano Bruno publica As sombras das idéias.

1588 — Derrota da Invencível Armada.

1596 — Nasce Descartes.

1600 — Giordano Bruno é condenado e executado.

1618 — Bacon é Lorde Chanceler e barão de Verulam.

1623 — Nasce Blaise Pascal.

1626 — Morte de Bacon.


Wikiquote
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[editar] Ver também

[editar] Ligações externas

Portal de história da ciência. Os artigos sobre história da ciência, tecnologia e medicina.
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