Irmãs Fox
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As irmãs Kate (1836 – 1892), Leah (1814 – 1890) e Margaret (1833 – 1893) Fox tiveram um importante papel no desenvolvimento do moderno espiritualismo ocidental.
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[editar] A família Fox
Em 11 de dezembro de 1847, a família Fox instalou-se em modesta casa no vilarejo de Hydesville, Estado de New York, distante cerca de 30 quilômetros da cidade de Rochester.
O nome da família Fox origina-se do sobrenome "Voss", depois "Foss" e finalmente "Fox". Eram de origem alemã, de parte paterna; e francesa, holandesa e inglesa, de parte materna. Seus antecessores foram notoriamente dotados de faculdades paranormais.
O grupo compunha-se do chefe da família, Sr. John D. Fox, da esposa Sra. Margareth Fox e de mais duas filhas: Kate, com 11 anos e Margareth, com 14 anos. O casal possuia mais filhos e filhas. Entre estas, convém destacar Leah, que morava em Rochester, onde lecionava música. Devido aos seus casamentos, foi sucessivamente conhecida como Mrs. Fish, Mrs. Brown e Mrs. Underhill.
Leah escreveu um livro, "The Missing Link" (New York, 1885), no qual ela faz referência às faculdades paranormais de seus parentes anteriores.
Inicialmente, tomaram parte nos acontecimentos somente Kate e Margareth, mas, posteriormente, Leah juntou-se a elas e teve participação ativa nos episódios subseqüentes ao de Hydesville.
[editar] A casa de Hydesville antes dos Fox
Lucretia Pulver era uma jovem que servira como dama de companhia do casal Bell, quando eles tinham habitado a referida casa até 1846. Ela contou uma curiosa história de um mascate que se hospedara com os Bells, referindo que, na noite em que um vendedor passou com aquele casal, Lucretia foi mandada dormir na casa dos pais. Três dias depois, tornaram a procurá-la, dizendo-lhe que o mascate fora embora. Ela nunca mais viu esse homem.
Depois disso, passado algum tempo, aproximadamente em 1844, começaram a registrar-se fenômenos estranhos naquela casa. A mãe de Lucretia, Sra. Ann Pulver, que mantinha relações com a família Bell, relata que, em 1844, quando visitara a Sra. Bell, indo fazer tricô em sua companhia, ouvira desta uma queixa. A Sra. Bell dissera-lhe que se sentia muito mal e quase não havia dormido à noite. Quando lhe perguntara qual a causa, a Sra. Bell tinha declarado que se tratava de rumores inexplicáveis; parecera-lhe ter ouvido alguém a andar de um quarto para outro; tinha acordado o marido e o feito levantar-se e trancar as janelas. A princípio, tentou afirmar à Sra. Pulver que possivelmente se tratasse de ratos. Posteriormente, confessara não saber qual a razão de tais rumores, para ela inexplicáveis.
A jovem Lucretia Pulver também testemunhou os fenômenos insólitos observados naquela casa.
Os Bells terminaram por mudar-se.
Em 1846, instalou-se ali a família Weekman, composta pelo Sr. Michael Weekman, a Sra. Hannah Weekman e suas filhas. Alguns dias após terem-se alojado na referida casa, passaram a ser perturbados por ruídos insólitos: batidas na porta da entrada, sem que ninguém visível o estivesse fazendo; passos de alguém andando na adega ou dentro de casa.
A familia Weekman, como era de se esperar, não permaneceu muito tempo naquela casa sinistra. Em fins de 1847 deixou-a vaga, saindo de lá definitivamente.
Desse modo, a 11 de dezembro de 1847, a referida casa passou a ser ocupada pela família Fox.
[editar] A noite das primeiras transcomunicações
Inicialmente os Fox não sofreram nenhum incômodo em sua nova residência. Entretanto, algum tempo depois, mais precisamente nos dois primeiros meses de 1848, os mesmos ruídos insólitos que perturbaram os antigos inquilinos voltaram a manifestar-se outra vez. Eram batidas leves, sons semelhantes a arranhões nas paredes, assoalhos e móveis, os quais poderiam perfeitamente ser confundidos com rumores naturais produzidos por vento, estalos do madeiramento, ratos, etc. Por isso a familia Fox não deveria ter-se sentido molestada ou alarmada. Entretando, tais ruídos cresceram de intensidade, a partir de meados de março de 1848. Batidas mais nítidas e sons de arrastar de móveis começaram a se fazer ouvir, pondo as meninas em sobressalto, ao ponto de se negarem a dormir sozinhas no seu quarto e passarem a querer dormir no quarto dos pais. A princípio, os habitantes da casa, ainda incrédulos quanto à possivel origem sobrenatural dos ruídos, levantavam-se e procuravam localizar causas naturais para os mesmos.
Na noite de 31 de março de 1848, desencadeou-se uma série de sons muito fortes e continuados. Deu-se então o primeiro lance do fantástico episódio, que ficou como um marco inamovível na história da fenomenologia paranormal. A garota de sete anos de idade - Kate Fox - em sua espontaneidade de criança, teve a audácia de desafiar a "força invisível" a repetir, com os golpes, as palmas que ela batia com as mãos! A resposta foi imediata, a cada estalo, um golpe era ouvido logo a seguir! Alí estava a prova de que a causa dos sons seria uma inteligência incorpórea. Para se apreciar bem o sabor desta incrível aventura, vamos transcrever alguns trechos do depoimento da Sra. Margareth Fox:
- "Na noite de sexta-feira, 31 de março de 1848, resolvemos ir para a cama um pouco mais cedo e não nos deixamos perturbar pelos barulhos; íamos ter uma noite de repouso. Meu marido, que aqui estava em todas as ocasiões, ouviu os ruídos e ajudou a pesquisar. Naquela noite fomos cedo para a cama - apenas escurecera. Achava-me tão alquebrada e com falta de repouso que quase me sentia doente. Meu marido não tinha ido para a cama quando ouvimos o primeiro ruído naquela noite. Eu apenas me havia deitado. A coisa começou como de costume. Eu distinguia de qualquer outro ruído jamais ouvido. As meninas, que dormiam em outra cama no quarto, ouviram as batidas e procuraram fazer ruídos semelhantes, estalando os dedos. Minha filha menor, Kate, disse, batendo palmas: 'Senhor Pé Rachado, Faça o que eu faço.' Imediatamente seguiu-se o som, com o mesmo número de palmadas. Quando ela parou, o som logo parou. Então Margareth disse, brincando: 'Agora faça exatamente como eu. Conte um, dois, três, quatro' e bateu palmas. Então os ruídos se produziram como antes. Ela teve medo de repetir o ensaio. Então Kate disse, na simplicidade infantil: 'Oh! mamãe! eu ja sei o que é. Amanhã é 1 de abril e alguém quer nos pregar uma mentira.'
- "Então pensei em fazer um teste que ninguém seria capaz de responder. Pedi que fossem indicadas as idades de meus filhos, sucessivamente. Instantaneamente foi dada a exata idade de cada um, fazendo pausa de um para outro, a fim de separar, até o sétimo, depois do que se fez uma pausa maior e três batidas mais fortes foram dadas, correspondendo à idade do menor, que havia morrido.
- "Então perguntei: É um ser humano que me responde tão corretamente? Não houve resposta. Perguntei: É um espírito? Se for, dê duas batidas. Duas batidas foram ouvidas assim que fiz o pedido. Então eu disse: Se for um espírito, produzindo um tremor na casa. Perguntei: Foi assassinado nesta casa? A resposta foi como a precedente. A pessoa que o assassinou ainda vive? Resposta idêntica, por duas batidas. Pelo mesmo processo verifiquei que fora um homem, que o assassinaram nesta casa e os seus despojos enterrados na adega; que a família era constituída de esposa e cinco filhos, dois rapazes e três meninas, todos vivos ao tempo de sua morte, mas que depois a esposa morrera. Então perguntei: Continuará a bater se chamarmos os vizinhos para que também escutem? A resposta afirmativa foi alta."
- "Desse modo, foram chamados vários vizinhos, os quais, por sua vez, convocaram outros, de maneira que, mais tarde e nos dias subseqüentes, o número de curiosos era enorme. Naquela noite compareceram o Sr. Redfield, o Sr. e a Sra. Duesler e os casais Hyde e Jewell."
- "Mr. Duesler fez muitas perguntas e obteve as respostas. Em seguida indiquei vários vizinhos nos quais pude pensar, e perguntei se havia sido morto por algum deles, mas não obtive resposta. Após isso, Mr. Duesler fez perguntas e obteve as respostas. Perguntou: Foi assassinado? Resposta afirmativa. Seu assassino pode ser levado ao tribunal? Nenhuma resposta. Pode ser punido pela lei? Nenhuma resposta. A seguir disse: Se seu assassino não pode ser punido pela lei, dê sinais. As batidas foram ouvidas claramente. Pelo mesmo processo Mr. Duesler verificou que ele tinha sido assassinado no quarto do leste, há cinco anos passados, e que o assassínio fora cometido à meia noite de um terça-feira, por Mr......; que fora morto com um golpe de faca de açougueiro na garganta; que o corpo havia sido enterrado; tinha passado pela despensa, descido a escada e [sido] enterrado a dez pés abaixo do solo. Também foi constatado que o móvel fora dinheiro."
- "Quanta a quantia: cem dólares? Nenhuma resposta. Duzentos? Trezentos? etc. Quando mencionou quinhentos dólares as batidas confirmaram."
- "Foram chamados muitos dos vizinhos que estavam pescando no ribeirão. Estes ouviram as mesma perguntas e respostas. Alguns permaneceram em casa naquela noite. Eu e as meninas saímos. Meu marido ficou toda a noite com Mr. Redfield. No sábado seguinte a casa ficou superlotada. Durante o dia não se ouviram os sons, mas ao anoitecer recomeçaram. Diziam que mais de trezentas pessoas achavam-se presentes. No domingo os ruídos foram ouvidos o dia inteiro por todos quantos se achavam em casa."
Estes são os principais trechos do depoimento da Sra. Margareth Fox, que se revestem de interesse por dar uma descrição viva dos acontecimentos de Hydesville na noite de 31 de março de 1848.
[editar] As escavações na Adega
Através de combinação alfabética com as pancadas produzidas, chegou-se à identidade da vítima. Tratava-se de um mascate de nome Charles B. Rosma, o qual tinha trinta e um anos quando, há quatro anos passados, fora assassinado naquela casa e enterrado na adega. O assassino fora um antigo inquilino. Só poderia ter sido o Sr. Bell... Mas onde a prova do fato, o cadáver da vítima? Os mais interessados em esclarecer o caso resolveram escavar a adega, visando encontrar os despojos do suposto assassinado.
As escavações, porém, não levaram a resultados definitivos, pois deram n'água, sem que se tivessem encontrado quaisquer indícios. Por essa razão foram suspensas.
No Verão de 1848, o próprio Sr. David Fox, auxiliado por alguns interessados, retomou o empreendimento. A uma profundidade de um metro e meio, encontraram uma tábua. Aprofundada a cova, encontraram restos de carvão, cal, cabelos e alguns fragmentos de ossos que foram reconhecidos por um médico como pertencentes a um esqueleto humano; mais nada.
As provas do crime eram precárias e insuficientes, razão talvez pela qual o Sr. Bell não foi denunciado.
[editar] A descoberta do esqueleto
Na edição de 23 de novembro de 1904, do Boston Journal, foi notificada a descoberta do esqueleto de um homem cujo espírito se supunha ter ocasionado os fenômenos na casa da família Fox em 1848. Alguns meninos de uma escola achavam-se brincado na adega da casa onde residiram os Fox, casa que tinha a fama de ser mal-assombrada. Em meio aos escombros de uma parede - talvez falsa - que existira na adega, os garotos encontraram as peças de um esqueleto humano.
Junto ao esqueleto foi achada um lata de um produto costumeiro usado por mascates. Esta lata encontra-se agora em [Lily Dale], na sede central regional dos Espiritualistas Americanos, para onde foi transportada da velha casa de Hydesville.
Como pode ver-se, cinquenta e seis anos depois, em 22 de novembro de 1904 (data do encontro do esqueleto do mascate), cessou a dúvida, sendo confirmadas as informações obtidas em 1848 a respeito do crime ocorrido naquela casa. Este episódio constitui-se em um notável caso de Transcomunicação Direta (TCD).
[editar] O movimento espiritualista espalha-se
As duas meninas, Margareth e Kate, foram afastadas de sua casa, pois suspeitava-se que os fenômenos eram ligados sobretudo à sua presença. Margareth passou a morar com seu irmão David Fox. Kate mudou-se para Rochester, onde ficou em casa de sua irmã Leah, então casada e agora Sra. Fish. Entretanto, os ruídos insistiam em acompanhar as irmãs Fox; onde quer que elas se encontrassem, registravam-se os fenômenos. Agora se observava mesmo uma espécie de contágio, pois, Leah Fish, a irmã mais velha, passou a apresentar também os mesmos fenômenos. Em pouco tempo, começaram a ser observados no seio de outras famílias:
- "Era como uma nuvem psíquica, descendo do alto e se mostrando nas pessoas suscetíveis. Sons idênticos foram ouvidos em casa do Rev. A. H. Jervis, ministro metodista residente em Rochester. Poderosos fenômenos físicos irromperam na familia do Diácono Hale, de Greece, cidade vizinha de Rochester. Pouco depois Mrs. Sarah A. Tamlin e Mrs. Benedict de Auburn, desenvolveram notável mediunidade (...)."
O movimento espalhar-se-ia, mais tarde, pelo mundo, conforme fora afirmado em uma das primeiras comunicações através das irmãs Fox. As próprias forças invisíveis insistiram para que se fizessem reuniões públicas onde elas pudessem manifestar-se ostensivamente. Era uma nova mensagem que vinha do mundo dos Espíritos, conclamando os homens para uma outra posição filosófico-religiosa.
[editar] Espiritualismo e Espiritismo
A onda espiritualista passou da América para a Europa, cujo terreno já se encontrava preparado pelo desenvolvimento cientifico, e onde os fenômenos de transcomunicação (TC) iriam ser estudados mais tarde, com rigor e profundidade pelos fundadores da Psychical Research e da Metapsíquica.
A forma sob a qual as manifestações de Transcomunicação se apresentaram ordinariamente na Europa, foi a das mesas girantes, dando lugar, em particular, ao Espiritismo na França, graças às investigações científicas e ao método didático do ilustre intelectual lionês, Hyppolyte Leon Denizard Rivail (Allan Kardec).
Ao contrário do Espiritismo, o Espiritualismo não incorporou a idéia da reencarnação. Ele admite apenas a continuidade da vida após a morte, sem Inferno ou Céu, porém em contínuo aprendizado e evolução no chamado Mundo Espiritual. Além disso, o Espiritismo não apenas aceita o renascimento, como admite a Lei do Carma, considerando serem estes os fatores naturais da evolução do Espirito. Embora Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espirita, considere Sócrates e Platão como precursores da idéia do Cristianismo e do Espiritismo, a sua atenção para a realidade da comunicação dos Espíritos foi despertada pelo fenômeno das mesas girantes.
[editar] Repercussão entre intelectuais
A partir do episódio das irmãs Fox, a Transcomunicação passou atrair a atenção de um pequeno grupo de cientistas no Ocidente. Inicialmente, tais investigadores achavam-se, em sua maioria, imbuídos de forte cepticismo acerca dos fenômenos paranormais que passaram a ganhar popularidade inusitada na Europa. Somente a curiosidade diante da estranheza de tais ocorrências conseguiu levar esses poucos cientistas a observá-las. Logo no começo, as pesquisas conduziram à formação de três categorias de pessoas, conforme as suas opiniões acerca da natureza dos referidos fenômenos.
O primeiro grupo consistiu nos que viram nesses fatos uma confirmacao de suas crenças na sobrevivência, na comunicabilidade e progresso dos Espíritos. A natureza do Homem, para eles, era dual, e continha um componente espiritual além do material. Desta interpretação, surgiu um aspecto religioso como decorrência imediata do reconhecimento da natureza espiritual da criatura humana. O Espiritualismo, na Inglaterra, e o Espiritismo, na França, são exemplos dessa interpretação, embora ambos reivindiquem, também, para as suas doutrinas, aspectos filosóficos e científicos.
Um segundo grupo constituiu-se, em sua maioria, por cidadãos de acentuado interesse científico. Alguns já eram cientistas profissionais, professores e investigadores em diversas áreas de conhecimento teórico e prático. Outros, com títulos e formação superior, embora não especialistas em disciplinas científicas, sentiram-se também interessados em investigar de maneira racional os referidos fatos, denominados, na época, como "fenômenos psíquicos". Dai a designação usual desta atividade: "Psychical Research" (Pesquisa Psíquica). Na França, Charles Richet deu-lhe outro nome: "Metapsíquica". Neste segundo grupo, figuravam, indistintamente, os espiritualistas, os indiferentes e os materialistas. Apenas os seguintes objetivos pareciam movê-los: confirmar ou negar os propalados fenômenos e, no caso afirmativo, descobrir a sua real causa eficiente.
Finalmente, um terceiro grupo, compreendendo a maioria dos interessados, colocou-se em franco antagonismo relativamente aos dois primeiros. Compunha-se de cientistas, intelectuais em geral, jornalistas e pessoas comuns. Alguns eram fiéis ou chefes de religiões instituídas. Grande número desses cidadãos, especialmente os intelectuais, achava-se impregnado de filosofias materialistas e haviam absorvido as idéias positivistas. Revelaram-se profundamente cépticos e procuraram liquidar com a crença nos aludidos fenômenos. Para eles, os fenômenos paranormais eram manifestações de superstição, ilusões e fraudes, ou alienação mental. Para alguns religiosos, poderiam ser armadilhas do "demônio", ou tentativas de indíviduos mal intencionados que visavam abalar as bases das religiões tradicionais. Outros chegavam a acreditar que se tratava da revivescência da Magia e do Ocultismo, numa tentativa de domínio de opinião pública.
[editar] Conclusão
Foi neste clima que se desenrolaram as primeiras transcomunicações modernas, cuja iniciativa, ao que parece, partiu do chamado Plano Espiritual. As manifestações mais em evidência foram as chamadas Mesas Girantes. Este episódio inaugurou o Período Espirítico, conforme a periodização de Charles Richet. Segundo este pesquisador, tal período vai das irmãs Fox até às pesquisas de Sir William Crookes, em 1872.