João Neves da Fontoura
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
João Neves da Fontoura (Cachoeira do Sul, 16 de Novembro de 1887 — Rio de Janeiro, 31 de março de 1963) foi advogado, diplomata, jornalista, político e escritor brasileiro.
Índice |
[editar] Biografia
Nasceu João Neves da Fontoura na interiorana cidade Gaúcha de Cachoeira, filho do Coronel Isidoro Neves da Fontoura e de D. Adalgisa Godoy da Fontoura. Seus primeiros estudos deram-se no Ginásio Nossa Senhora da Conceição, no município de São Leopoldo.Pela parte materna foi neto de Zulmira Fioravanti, e a sua vez bisneto de Antônio Angelo Christino Fioravanti, advogado e político influente no Rio Grande do Sul, e trisneto do Dr. Marcos Christino Fioravanti, médico veneziano, e o primeiro Fioravanti a chegar no Brasil em 1803 e se radicando em Santo Antonio da Patrulha, no Rio Grande do Sul, mudando-se em 1835 para São Borja, RS.
Formado em 1909, em Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito de Porto Alegre, onde ingressara em 1905, tendo ali participado do Bloco Academico Castilhista, vinculado ao PRR – Partido Republicano Riograndense – o mesmo ao qual era vinculado Getúlio Vargas. Iniciou a carreira política e pública ainda estudante, sendo nomeado pelo então governador Borges de Medeiros como Promotor na capital, cargo que exerceu durante um ano - deixando o cargo para retornar à sua cidade natal, onde o pai era chefe político. Ali exerceu a advocacia e continua na política, ocupando a Prefeitura cachoeirense de 1912 a 16. Foi redator nos jornais “Rio Grande” (de sua cidade), e “O Debate”, de Porto Alegre, onde fundou a revista “Pantum”.
Após 1921 foi um dos deputados estaduais mais ativos, participando, em 1924 do levante tenentista. Em 1927 é eleito Vice-Presidente do estado, ao lado de Getúlio e, no ano seguinte, Deputado Federal. Abre-se-lhe, então, a perspectiva de participar ativamente no cenário político nacional, como representante do PRR e interlocutor de Vargas, visando ampliar a participação do Rio Grande nas decisões federais.
[editar] A Revolução de 30
Vivia o Brasil o auge da política do café-com-leite, e para a sucessão do Presidente Washington Luís havia sido indicado para sucedê-lo o nome do paulista Júlio Prestes. Para a Vice-presidência foi indicado um baiano, Vital Soares, o que contrariou os políticos mineiros, que contavam com a manutenção da alternância de poder e reclamavam para si tal indicação. Participa Fontoura ativamente, em maio de 1929, das articulações oposicionistas, compostas pelos dois estados dissidentes (Minas e Rio Grande do Sul, aos quais juntou-se, sem grande peso mas de forma posteriormente decisiva, a Paraíba), que formaram a chamada Aliança Liberal, num acordo conhecido como “Pacto do Hotel Glória” (numa referência ao hotel carioca, onde se deram as reuniões), que lançou a candidatura de Vargas.
Decisiva a participação de Fontoura nas negociações com os mineiros, como interlocutor dos gaúchos. Em setembro daquele ano foi oficializada a candidatura de Vargas, e Fontoura participa freneticamente da campanha, pelos demais estados. Realizado o pleito, em março de 1930, vence com folga o candidato oficial.
Articula João Neves, junto a Oswaldo Aranha e Flores da Cunha, intensa campanha pela imprensa, denunciando como fraudulenta a eleição, passando a articular a insurreição. Os fatos são precipitados, em 26 de julho de 30, com o assassinato, numa confeitaria do Recife, de João Pessoa – o candidato a vice, de Getúlio e governador paraibano.
Em 3 de outubro estoura o movimento armado, sendo tomado o Quartel-general de Porto Alegre, com apenas 50 homens – concomitantemente à eclosão de revoltas em Minas e na Paraíba, contando em Pernambuco com o apoio de Juarez Távora. Na frente sulista, regista Fontoura a chegada na notícia da queda de Washington Luís (vide excerto, abaixo). Vargas segue ao Rio, a fim de assumir o centro decisório mas, ao invés de transferir o governo ao vice – João Neves da Fontoura – passa-o para Oswaldo Aranha.
[editar] A Revolução Constitucionalista
Talvez por isso tenha recusado a nomeação, que viera depois, como interventor no estado – assumindo a burocrática função de consultor jurídico do Banco do Brasil. Afasta-se progressivamente do governo, sendo acompanhado por muitos outros elementos gaúchos que pedem demissão.
Aproxima-se Fontoura dos paulistas (ligados ao PRP – Partido Republicano Paulista), que defendiam o cumprimento da Constituição republicana e ensaiavam uma resistência. Sua decisão ocorre de forma definitiva após o ataque, feito sob a complacência de Vargas, ao jornal “Diário”, que foi empastelado.
A nomeação de João Alberto como interventor paulista deflagrou a reação política dos derrotados por Vargas, eclodindo a Revolução Constitucionalista a 9 de julho de 1932. Adere Fontoura ao movimento que, derrotado, força-o a um exílio na Argentina por cerca de 2 anos.
[editar] Reaproximação com Vargas
Os efeitos da revolta paulista levaram Getúlio a convocar uma Assembléia Constituinte, em 1933, aprovando-se a Carta em 1934, ano em que ocorrem novas eleições para o Congresso. Nela concorre Fontoura, sendo eleito deputado federal, em 1935.
Ali integra a minoria oposicionista, opondo-se ao presidente e ao estado de sítio por ele decretado, suspendendo os efeitos da Constituição recém-aprovada. No ano seguinte é eleito para a Academia, reaproximando-se do antigo companheiro e apoiando as medidas que culminaram no golpe que instituiu o Estado Novo, e fez de Vargas o ditador do Brasil. Volta, assim, ao antigo cargo de consultor do Banco do Brasil, em 1937, e assume novo destino em sua vida: a carreira diplomática.
[editar] Diplomacia
Durante o Estado Novo foi o representante brasileiro em diversas ocasiões: em 1940 esteve na Conferência de Havana, representou o país nas posses presidenciais no Panamá e em Cuba. Em 1943 foi nomeado embaixador em Portugal, permanecendo em Lisboa até 30 de outubro de 1945, quando resignou-se.
Afastado Vargas do poder, e voltando o país ao regime democrático, filia-se ao PSD e é nomeado pelo Presidente Dutra Ministro das Relações Exteriores, em 1946, representando o país na Conferência de Paz, realizada em Paris. Chefiou, ainda, a Delegação do Brasil na IX Conferência Internacional Americana.
Retornando Vargas à disputa, no pleito de 3 de outubro de 1950, forma dissidência no PSD, apoiando o antigo aliado em detrimento do candidato da própria legenda, Cristiano Machado – facilmente derrotado, junto aos demais concorrentes (Eduardo Gomes e João Mangabeira), dada a grande popularidade do líder gaúcho. É, em 1951, nomeado novamente Ministro das Relações Exteriores, cargo que exerceu até 53. Ainda em 51 preside a Delegação do Brasil, no Congresso da União Latina, ocorrido no Rio. Defendeu o alinhamento do país à política externa norte-americana.
[editar] Ocaso
Afastando-se da vida pública, definitivamente radicado no Rio de Janeiro, limita-se a escrever artigos conservadores nas páginas do jornal O Globo, e à produção de suas “Memórias”.
[editar] Homenagens e títulos
Além da Academia Brasileira, integrou Fontoura a Academia Rio-Grandense de Letras e foi membro correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, da Academia de Letras do Uruguai e da Academia de la Lengua, colombiana.
Era Doutor Honoris Causa da Universidade de Columbia.
[editar] Bibliografia
- O Segredo Profissional (1909);
- A Jornada Liberal (1931);
- Por São Paulo e Pelo Brasil (1932);
- Acuso (1933);
- A voz das Oposições Brasileiras (1935);
- Dois Perfis (1938);
- Pareceres Jurídicos, 2 vols. (1942);
- Orações Dispersas (1944);
- Poeira das Palavras (1953);
- Memórias,
[editar] Excerto
-
- “Estendi-me numa rede e logo fechou em torno a roda do chimarrão, à espera do almoço. A conversa versou, é claro, a respeito da iminente operação militar sobre Itararé. Cada qual emitia sua opinião, referia notícias trazidas pelas últimas patrulhas, que penetraram no território inimigo.
-
- Muitos dos meus companheiros mais chegados, como Camilo Martins Costa, Leopoldo Sousa, Glicério Alves, Marajó de Barros, Miguel Teixeira e vários outros, se achavam no local quando cerca de dez horas vi Maurício Goulart, que saía correndo do estado-maior e se dirigia ao nosso grupo. Agitava os braços com o aspecto alegre de uma boa mensagem. De longe gritou-nos: "Caiu o Washington Luís." Fomos ao encontro dele. De Curitiba e Ponta Grossa procedia o aviso de que o Presidente da República havia sido deposto aqui no Rio. Secamente, sem pormenores.
-
- Meu primeiro movimento foi de incredulidade, ainda que esta hipótese estivesse dentro das nossas perspectivas, desde o entendimento de Collor com os generais Tasso Fragoso, Francisco Ramos de Andrade Neves e Malan d’Angrogne, nos fins de setembro, como antes relatei.”
-
-
- (in: Memórias, Vol. II, 1963)
-
-
- Meu primeiro movimento foi de incredulidade, ainda que esta hipótese estivesse dentro das nossas perspectivas, desde o entendimento de Collor com os generais Tasso Fragoso, Francisco Ramos de Andrade Neves e Malan d’Angrogne, nos fins de setembro, como antes relatei.”
[editar]
Academia Brasileira de Letras
Segundo ocupante da Cadeira que tem por Patrono José de Alencar. Eleito a 19 de março de 1936, veio a tomar posse em 12 de junho de 1937, recebido por Fernando Magalhães.
Precedido por Coelho Neto |
ABL - cadeira 2 1936 - 1963 |
Sucedido por Guimarães Rosa |
[editar] Ligações externas
- Biografia - (página da Fundação Getúlio Vargas)