Sono
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- Nota: Para outros significados de Sono, ver Sono (desambiguação).
Sono (do latim somnu, com o mesmo significado) é um estado ordinário de consciência complementar ao da vigília (ou estado desperto), em que há repouso normal e periódico, caracterizado, tanto no ser humano como nos outros animais superiores, pela suspensão temporária da atividade perceptivo-sensorial e motora voluntária.
Ao dizer-se complementar, em conjugação com ordinário, quer-se significar tão-somente que, na maioria dos indivíduos (com destaque, aqui, para os humanos), tais estados de consciência alternam-se, complementam-se ordinaria, periodica e regularmente.
O Estado de sono é caracterizado por um padrão de ondas cerebrais típico, essencialmente diferente do padrão do estado de vigília, bem como do verificado nos demais estados de consciência.
Dormir, assim — nesta acepção —, significa passar do estado de vigília para o estado de sono.
No ser humano, o ciclo do sono é formado por cinco estágios e dura cerca de noventa minutos (pode chegar a 120 minutos). Ele se repete durante quatro ou cinco vezes durante o sono.
Ao dormir, os sentidos perdem-se na seguinte ordem: visão, paladar, olfato, audição e tato. O tato desperta ao mais leve toque sobre a pele. É o vigia do corpo adormecido.
Ao despertar, os sentidos voltam nesta ordem: tato, audição, visão, paladar e olfato.
Do que se tem registro na literatura especializada, o período mais longo que uma pessoa já conseguiu ficar sem dormir foi de onze dias. Napoleão Bonaparte dormia quatro horas por noite; Albert Einstein precisava de dez horas de sono.
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[editar] Introdução
Pode definir-se sono como "um período de repouso para o corpo e a mente, durante o qual a volição e a consciência estão em inactividade parcial ou completa" (DORLAND citado por ROPER; LOGAN; TIERNEY, 1993, 466). Já FRIEDMAN (1995, 1827), define sono como "sendo o desencadear deliberado de uma alteração ou redução do estado consciente, que dura, em média 8 horas (...) tendo início sensivelmente à mesma hora, em cada período de 24 horas, e (...) resultando, geralmente, em sensação de energia física, psíquica e intelectual restabelecida".
Existem, pois, várias definições do sono apresentadas por diferentes autores, e, no geral, complementam-se umas às outras.
De acordo com FONTAINE, BRIGGS e POPE-SMITH (2001), o sono é importante para a recuperação da saúde em situação de doença, enquanto a privação deste pode afetar a regeneração celular assim como a total recuperação da função imunitária.
O sono divide-se em dois estágios fisiologicamente distintos:
- REM (Rapid Eye Movement ou "Movimento Rápido dos Olhos"); e
- NREM (Non Rapid Eye Movement ou "Movimento Não Rápido dos Olhos").
[editar] O sono REM
O sono REM, caracteriza-se por uma intensa atividade registada no Eletroencefalograma (EEG) seguida por flacidez, paralisia funcional, dos músculos esqueléticos. Nesta fase, a atividade cerebral é semelhante à do estado de vigília. Deste modo, o sono REM é também denominado por vários autores como sono paradoxal, podendo mesmo falar-se em estado dissociativo.
Nesta fase do sono, a atividade onírica é intensa, sendo sobretudo sonhos envolvendo situações emocionalmente muito fortes.
É durante essa fase que é feita integração da atividade cotidiana, isto é, a separação do comum do importante. Este representa 20 a 25% do tempo total de sono e surge em intervalos de sessenta a noventa minutos. É essencial para o bem-estar físico e psicológico do indivíduo.
[editar] O sono NREM
O sono NREM ocupa cerca de 75% do tempo do sono e divide-se em quatro períodos distintos conhecidos como estágios 1, 2, 3 e 4.
- Estágio 1
Começa com uma sonolência. Dura aproximadamente cinco minutos. A pessoa adormece. É caracterizado por um EEG semelhante ao do estado de vigília. Esse estágio tem uma duração de um a dois minutos, estando o individuo facilmente despertável. Predominam sensações de vagueio, pensamentos incertos, mioclonias das mãos e dos pés, lenta contração e dilatação pupilar. Nessa fase, a atividade onírica está sempre relacionada com acontecimentos vividos recentemente.
- Estágio 2
Caracteriza-se por a pessoa já dormir, porém não profundamente. Dura cerca de cinco a quinze minutos. O EEG mostra frequências de ondas mais lentas, aparecendo o complexo K. Nessa fase, os despertares por estimulação táctil, fala ou movimentos corporais são mais difíceis do que no anterior estágio. Aqui a atividade onírica já pode surgir sob a forma de sonho com uma história integrada.
- Estágio 3
Tem muitas semelhanças com o estágio 4, daí serem quase sempre associados em termos bibliográficos quando são caracterizados. Nessas fases, os estímulos necessários para acordar são maiores. Do estágio 3 para o estágio 4, há uma progressão da dificuldade de despertar. Esse estágio tem a duração de cerca de quinze a vinte minutos.
- Estágio 4
São quarenta minutos de sono profundo. É muito difícil acordar alguem nessa fase de sono. Depois, a pessoa retorna ao terceiro estágio (por cinco minutos) e ao segundo estágio (por mais quinze minutos). Entra, então, no sono REM.
Este estágio NREM do sono caracteriza-se pela secreção do hormônio do crescimento em grandes quantidades, promovendo a síntese protéica, o crescimento e reparação tecidular, inibindo, assim, o catabolismo (cf. BOLANDER, 1998). O sono NREM tem, pois, um papel anabólico, sendo essencialmente um período de conservação e recuperação de energia física.
[editar] O ciclo do sono
Um ciclo do sono dura cerca de noventa minutos, ocorrendo quatro a cinco ciclos num período de sono noturno. Segundo LAVIE (1998, 45), o número de ciclos por noite depende do tempo do sono, acrescentando, ainda, que "o sono de uma pessoa jovem é, habitualmente, composto por quatro ou cinco desses ciclos, com tendência à redução com o avançar da idade". No entanto, o padrão comum varia entre quatro a cinco ciclos.
Durante o sono, o individuo passa, geralmente por ciclos repetitivos, começando pelo estágio 1 do sono NREM, progredindo até o estágio 4, regride para o estágio 2, e entra em sono REM. Volta de novo ao estágio 2 e assim se repete novamente todo o ciclo (Figura 1).
Nos primeiros ciclos do sono, os períodos de NREM (mais concretamente o estágio 3 e 4) têem uma duração maior que o REM. À medida que o sono vai progredindo, os estágios 3 e 4 começam a encurtar e o período REM começa a aumentar. Na primeira parte do sono predomina o NREM, sendo os períodos REM mais duradouros na segunda metade.
[editar] Fatores do ambiente que interferem no sono
Segundo Phipps (1995) o sono é uma das muitas ocorrências biológicas que tem lugar à mesma hora, cada 24 horas. Este é marcado por uma intensa actividade cerebral e pela ocorrência de determinadas funções que são muito importantes para o organismo.
A necessidade diária de sono varia, não só de indivíduo para indivíduo (variação inter-individual), como também no mesmo indivíduo (variação intra-individual) de dia para dia. Existem vários factores que contribuem para a alteração do padrão de sono, nomeadamente factores físicos, sócio-culturais, psicológicos, ambientais, etc. Segundo um estudo efectuado por DLIN e colaboradores (citados por THELAN, 1996), dentro do ambiente temos então:
- Ruído
O ruído pode ser visto como um perigo ambiental que cria desconforto e pode interferir com o sono e repouso do doente, uma vez que activa o sistema nervoso simpático cuja estimulação é responsável pelo estado de vigília ou alerta do indivíduo.
- Luz
Muitas são as pessoas que apresentam um nível de sensibilidade elevado à luz, sendo por isso facilmente perturbadas durante o sono mesmo que seja uma luz de pouca intensidade.
- Temperatura
É importante que possa existir um maior controle sobre a temperatura do ambiente externo, e que este controlo seja feito de forma cuidadosa. Tendo em conta que a temperatura corporal atinge o seu pico ao final da tarde ou princípio da noite e depois vai baixando progressivamente atingindo o ponto mais baixo ao início da manhã, uma diminuição ou um aumento da temperatura ambiente faz, geralmente, acordar a pessoa ou cria-lhe um certo desconforto que o impossibilita de dormir.
[editar] Referências Mitológicas
Segundo mitologias gregas, o deus Hipnos seria a própria personificação do sono, e Oniro, a do sonho.
[editar] Algumas dicas para dormir melhor
- Procure dormir e despertar sempre nos mesmos horários para facilitar o seu relógio interno (relógio biológico).
- Evite bebidas alcóolicas.
- Não tome medicações estimulantes. Bebidas que contenham cafeína, tais como café, e teína, tais como chá preto e chá mate, devem ser evitados antes de dormir, bem como refrigerantes (especialmente as cafeinadas, tais como Coca-Cola).
- Não fume.
- O quarto de dormir deve ser silencioso, escuro e com temperatura amena.
- Desligue a TV antes de se deitar.
- A alimentação antes de dormir deve ser leve e de fácil digestão.
- A atividade física facilita o sono se for feita regularmente pelo menos 4 horas antes de dormir.
- Procure relaxar: ouvir música, conversar com familiares, tomar um banho morno, podem facilitar o relaxamento necessário para o sono.
- Não tome remédios para dormir por conta própria. Só use medicamentos quando receitados e controlados por seu médico de confiança.(REIMÃO, 1998)
[editar] Referências bibliográficas
- BOLANDER, Verolyn R., Necessidades Humanas, in BOLANDER, Verolyn R – Sorensen e Luckmann- Enfermagem fundamental: Abordagem Psicofisiológica, 1ª Edição, Lisboa: Lusodidacta, 1998, ISBN: 972-96610-6-5, pp. 307- 327.
- CRUZ, Arménio Guardado; SILVA, Carlos Fernandes – Consequência do Trabalho por Turnos, Revista Sinais Vitais, Coimbra, ISSN: 0872-8844, N.º 3, 1995 (Maio), pp. 37-42.
- FONTAINE, D.K., BRIGGS, L. P., POPE-SMITH, B., Designing humanistic critical care environments. Critical Care Nursing Quarterly, Washington, D. C. ISSN 0887-9303. 24:3 (November 2002) 21-34.
- FRIEDMAN, D. B., Distúrbios do Sono I, in PHIPPS, W. J. – Enfermagem Médico-Cirúrgica- Conceitos e Prática Clínica. 2ª Edição em Português, Lisboa: Lusodidacta, 1995, ISBN: 972-96610-6-5, pp. 1827-1843.
- LAVIE, Peretz – O Mundo Encantado do Sono, Lisboa: Climepsi Editores, 1998, ISBN: 972-8449-10-0, 255 p.
- PHIPPS, W. J.; et al. – Enfermagem Médico-Cirúrgica- Conceitos e Prática Clínica. 2ª Edição em Português, Lisboa: Lusodidacta, 1998, ISBN: 972-96610-6-5, pp. 2389-2391.
- REIMÃO R. Sleep: Latin American References 1895-1995. São Paulo, Frôntis Editorial, 2000.
- REIMÃO R, ed. Sono: estudo abrangente. 2 ed. São Paulo,Atheneu Editora, 1996
- REIMÃO R. Durma Bem. São Paulo, Atheneu Editora, 1998.
- REIMÃO R, ed. Medicina do Sono. São Paulo, Lemos Editorial, 1999.
- REIMÃO R. Melatonina e sono. Rev Bras Neurol Psiquiatr 2000; 4(3): 93-100.
- REIMÃO R, ed. Avanços em Medicina do Sono. São Paulo, Associação Paulista de Medicina, Zeppelini Editorial, 2001.
- REIMÃO R, ed. Sono: Atualidades. São Paulo, Associação Paulista de Medicina, 2006. 238 p.
- ROPER, N., LOGAN, W.W., TIERNEY, A.J. - Modelo de Enfermagem, 3a Edição, Alfragide: Editora McGraw-Hill de Portugal, 1995, ISBN: ?, pp. 396-415.
- ROSSINI S., REIMÃO R. - Chronic insomnia in fibromyalgia patients psychological and adaptive aspects. Rev Bras Reumatol 2002; 42 (9): 285-288.
- ROSSINI S., ROVERE H.D., COELHO A.T., REIMÃO R. A Clínica, a Pesquisa e o Ensino em Medicina do Sono: Inserção do Grupo de Pesquisa Avançada em Medicina do Sono do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. In V Simpósio Internacional de Sono, XIV Simpósio Brasileiro de Sono, VII Congresso Paulista de Sono, 2006. Sono: Atualidades. São Paulo, Associação Paulista de Medicina, 2006.p.200-1.
- THELAN, L.A. [et al.] - Enfermagem em Cuidados Intensivos, Diagnóstico e Intervenção, 2a Edição, Lisoa: Lusodidacta, 1996, ISBN: 872-96610-2-2, pp. 137-156.
- VEIGA, J.M. - Cuidados de Enfermagem no Sono. Revista Sinais Vitais, Coimbra, ISSN: 0872-8844, N.o 3, 1995 (Maio), pp. 33-36.
[editar] Ligações externas
[editar] Ver também
- Apnéia do sono
- Bruxismo
- Consciência
- Enurese noturna
- Insônia
- Narcolepsia
- NREM
- REM
- Ronco
- Sonho
- Sonambulismo
- Vigília