Bezerra de Menezes
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Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti (Riacho do Sangue (atual Solonópole), Ceará, 29 de agosto de 1831 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 11 de abril de 1900), médico, militar, escritor, jornalista, político e expoente do Espiritismo no Brasil.
[editar] Biografia
Filho de Antonio Bezerra de Menezes e de Fabiana de Jesus Maria Bezerra, após completar os seus estudos básicos na terra natal, partiu para a então capital do Império, a fim de matricular-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (5 de fevereiro de 1851).
Mesmo com grandes dificuldades para custear os estudos, fez residência na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, vindo a formar-se em 1856. No ano seguinte, a 1 de junho, tomou posse como membro na Academia Imperial de Medicina, de cujos Anais foi redator, entre 1859 e 1861.
Em 1858 ingressou no Exército Brasileiro, no posto de Cirurgião-tenente, assistente do Cirurgião-mor, Dr. Manoel Feliciano Pereira de Carvalho. Nesse mesmo ano, a 6 de novembro, casou-se com Maria Cândida de Lacerda, que viria a falecer no início de 1863, deixando-lhe dois filhos.
Neste período a sua competência profissional, aliada ao carinho e generosidade que dispensava aos menos favorecidos, granjearam-lhe o respeito e o reconhecimento de numerosos amigos, que viriam logo a conduzi-lo para a Política, elegendo-se Vereador na Câmara Municipal do Rio de Janeiro (1860, 1864, 1873-1881) e Deputado Provincial (também pelo Rio de Janeiro) por diversas legislaturas (1867, membro da Comissão de Obras Públicas e, entre 1878 e 1885, a partir de 1882 membro das Comissões de Obras Públicas, Redação e Orçamento, totalizando quase trinta anos de atividade parlamentar.
Em 1865 desposou, em segundas núpcias, a Sra. Cândida Augusta de Lacerda Machado, com quem teve mais sete filhos.
De 1878 a 1881 foi Presidente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, cargo que, à época, correspondia ao de Prefeito Municipal, administrando a cidade mais importante do país. Sem deixar de exercer a Medicina e a Política, empreendeu ainda a construção da Estrada de Ferro Macaé-Campos.
Tendo ganho O Livro dos Espíritos do próprio tradutor no Brasil, Dr. Joaquim Carlos Travassos (foi quem primeiro verteu a obra para o português), leu-o de um fôlego. Desta experiência deixou registrado:
- "Lia. Mas não encontrava nada que fosse novo para meu Espírito. Entretanto, tudo aquilo era novo para mim!... Eu já tinha lido ou ouvido tudo o que se achava no "O Livro dos Espíritos". Preocupei- me seriamente com este fato maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita inconsciente, ou, mesmo como se diz vulgarmente, de nascença".
Após estudar por alguns anos as obras de Allan Kardec, em 16 de agosto de 1886, aos cinqüenta e cinco anos de idade, perante grande público (estimado, conforme as fontes, entre mil e quinhentas e duas mil pessoas) no salão de conferências da Guarda Velha, no Rio de Janeiro, em longa alocução, justificou a sua opção em abraçar o Espiritismo.
Entre 1887 e 1894 assinou semanalmente, sob o pseudônimo de Max, artigos sobre o Espiritismo em O Paiz, periódico de maior circulação da época, dirigido por Quintino Bocaiúva. Essas crônicas foram posteriormente reunidas em livro, em três volumes, pela Federação Espírita Brasileira, sob o título "Espiritismo: estudos philosophicos", publicados na cidade do Porto, em Portugal.
Em sua produção literária, destacam-se ainda:
- A casa assombrada (romance)
- Casamento e mortalha (romance)
- Diagnóstico do Cancro (tese)
- A Loucura sob novo prisma (estudo etiológico sobre as perturbações mentais)
- Uma carta de Bezerra de Menezes (réplica a seu irmão que lhe exprobava a conversão ao Espiritismo)
Como escritor deixou artigos sobre variados temas, antes e depois de sua conversão, inclusive na pesquisa histórica e biográfica.
Na década de 1880 o incipiente movimento espírita brasileiro estava marcado pela total dispersão de seus adeptos e das entidades em que se reuniam. Havia, ainda, uma clara divisão entre os espíritas ditos místicos (mais afeitos a uma visão religiosa sobre o espiritismo), e os chamados científicos (mais propensos a um olhar filosófico e científico sobre a proposta espírita).
Em 1889 Bezerra de Menezes foi apontado como o único capaz de eliminar o espírito de cizânia então existente, vindo a ser eleito presidente da Federação Espírita Brasileira, cargo a que foi reconduzido em 1895, quando se agigantava a maré de discórdia e das radicalizões no meio espírita no país, função que exerceu até seu falecimento.
Carinhosamente apelidado de Médico dos pobres, o seu espírito de desprendimento não o permitiu acumular bens materiais, e foi em meio a grandes dificuldades financeiras que um acidente vascular cerebral o acometeu, na manhã de 11 de abril de 1900. Não faltaram aqueles, pobres e ricos, que socorreram a família, capitaneados pelo Senador Quintino Bocaiúva.
[editar] O "Kardec Brasileiro"
Para muitos espíritas brasileiros, Bezerra de Menezes é símbolo do verdadeiro seguidor do espiritismo. Destacam-lhe a índole caridosa, sensata e perseverante diante de toda sorte de dificuldades, vencendo os desafios com as armas do amor ao próximo. Essas características, somadas à sua militância na divulgação e na reestruturação do espiritismo no país, fizeram com que fosse considerado o Kardec Brasileiro, numa homenagem devida à relevância que teve para o movimento espírita brasileiro.
Em várias partes do Brasil seu nome é reconhecido ainda hoje, e evoca para muitos espíritas a lembrança de um passado rico, não em ouro, mas em lições de caridade e devoção à fé abraçada. Hoje, segundo crêem os adeptos da Doutrina Espírita e consoante informes de várias obras psicografadas, o Espírito Bezerra de Menezes continuaria suas obras no chamado Plano Espiritual.
[editar] Bibliografia
- ABREU, Canuto. Bezerra de Menezes: subsídios para a História do Espiritismo no Brasil até o ano de 1895. São Paulo: FEESP, s.d.. 96p.
- ACQUARONE, Francisco. Bezerra de Menezes: o médico dos pobres (3a. ed.). São Paulo: Editora Aliança, 1979. 152p. ISBN 8570080018
- GAMA, Ramiro. Lindos casos de Bezerra de Menezes (2a. ed.). Rio de Janeiro: Editora Espiritualista, 1964. 182p. il.
- MENEZES, Bezerra de. Uma carta de Bezerra de Menezes (4a. ed.). Rio de Janeiro: FEB, 1984. 100p.
- MENEZES, Bezerra de. A loucura sob novo prisma: estudo psíquico-fisiológico (2a. ed.). São Paulo: FEESP, 1982. 166p.
- MENEZES, Adofo Bezerra de. Os carneiros de Panúrgio: romance filosófico-político (4a. ed.). São Paulo: FEESP, 1988. 188p.
- SOARES, Sylvio Brito. Vida e Obra de Bezerra de Menezes. Rio de Janeiro: FEB, 1963. 152p. il.
- XAVIER, Francisco Cândido. Bezerra, Chico e Você (4a. ed.). São Bernardo do Campo (SP): Grupo Espírita Emmanuel, 1976. 140p. il.