Mediunidade
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Segundo o espiritismo, a mediunidade é a faculdade natural que permite ao homem comunicar-se com os espíritos. Manifestando-se de forma mais ou menos ostensiva em cada indivíduo, usualmente apenas aqueles que a possuem num grau mais elevado são chamados médiuns.
Um espírito que desejasse se comunicar entraria em contato com a mente do médium e, por esse meio, se comunicaria oralmente (psicofonia), pela escrita (psicografia), ou ainda se fazendo visível ao médium (vidência). Allan Kardec descreve também fenômenos de ordem física, como batidas (tiptológicos), e materializações, como a escrita e a voz diretas, em que o texto ou o som apareceriam "do nada" para todos os presentes. Outras formas de comunicação com os espíritos podem ser encontradas em O Livro dos Médiuns, segunda obra de Allan Kardec.
O Racionalismo Cristão, doutrina nascida a partir dos ensinamentos de Allan Kardec e da então recém-criada Doutrina Espírita, classifica a mediunidade e a possibilidade de se comunicar com espíritos em duas categorias principais, a saber: "Espíritos Superiores" e os "Espíritos Obsessores".
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[editar] Outras designações
Enquanto no meio espírita utiliza-se a palavra médium para designar o indivíduo que serve de instrumento de comunicação entre os encarnados e os desencarnados, outras doutrinas e correntes filosóficas utilizam nomes como psíquico, clarividente, intuitivo, sensitivo,... no entanto, o significado destes termos é sempre o mesmo.
[editar] Parapsicólogos Forenses
Os parapsicólogos forenses, também conhecidos como investigadores psíquicos (do inglês Psychic Witness), são médiuns que trabalham em conjunto com a polícia na investigação de crimes de difícil solução (inexistência de testemunhas, escassez de provas, excesso de suspeitos,...). O papel destes médiuns, segundo Sérgio Pereira Couto em artigo na revista Ciência Criminal [1], "consiste basicamente em captar sensações sobre o que aconteceu nos locais e passar as informações para que os detetives tomem as devidas providências administrativas, incluindo a detenção de suspeitos para interrogatório".
Com o sucesso dos seriados em canais pagos que tratam do tema, as polícias de diversos estados americanos passaram a admitir em público o uso de médiuns em investigações onde a tecnologia mostra-se insuficiente.
O Discovery Channel elaborou um documentário para tratar deste tema, reportando as atividades de 15 investigadores psíquicos no apoio às polícias de diversos estados americanos, como a Califórnia, Ohio, a Pensilvânia, a Louisiana e o Arizona.
Sally Headding, formada em psicologia clínica e Ph.D. pela Universidade de Berkeley (Californa) e uma respeitada clarividente americana, aponta que atualmente o principal problema desta popularidade nos EUA é o surgimento de uma série de falsos médiuns que se apresentam para ajudar a polícia em casos de grande repercusão. No entanto, Sally afirma que os verdadeiros médiuns dificilmente procuram a polícia, ao contrário, são convidados por esta para colaborar nas investigações.
No Brasil, o uso de médiuns em processos da justiça é reconhecido oficialmente apenas no estado de Pernambuco, onde a constituição estadual, além de legitimar o testemunho de médiuns, prevê como obrigação daquele estado e dos seus municípios a prestação de "assistência a pessoa dotada desse talento, [desde que] comprovado por profissionais especializados". Esta comprovação é justamente um artifício para que se tenha certeza de não se tratar de um caso de charlatanismo.
Textos psicografados por médiuns como Chico Xavier e Jorge José Santa Maria (da Sociedade Beneficiente Espírita Amor e Luz, no município de Porto Alegre) já foram incorporados a processos criminais na forma de provas documentais.
[editar] Estudos científicos
O neurocientista Núbor Orlando Facure acredita ser a mediunidade um fenômeno fisiológico, universal e comum a todas as pessoas, e que pode se manifestar de diferentes maneiras. Nos estudos que realiza busca compreender a relação entre os núcleos de base dos automatismos psico-motores e aqueles que geram o fenômeno da mediunidade. Em entrevista dada à revista Universo Espírita (N°35, Ano 3), Facure aponta que os neurônios em espelho podem ser os responsáveis pela "sintonia" que permite "sentirmos no lugar do outro". No entanto, Facure admite que isto são apenas conjecturas e que atualmente não existem provas científicas para comprovar que o fenômeno se dê desta forma[2].
[editar] Polêmicas
Apesar da existência do livro "O Evangelho segundo o Espiritismo" (escrito por diversos espíritos através de outros tantos médiuns espalhados pelo mundo, e reunidos por Allan Kardec nesse livro), e segundo algumas outras crenças diferentes do Espiritismo, Jesus Cristo teria condenado todas as formas de comunicações com os "espíritos". Estas crenças baseiam os seus argumentos na interpretação de que a Bíblia mostraria que todos os "espíritos" seriam demônios comandados por Satanás, com o simples intuito de realizar diversos tipos de "enganos". Mas este argumento é contraditorio no fato de que já foram psicografados diversos textos com ensinamentos sublimes, totalmente de acordo com os ensinamentos de Jesus, e um demonio não faria isto.
Ainda segundo estas crenças, esses demônios se disfarçariam de grandes celebridades já falecidas, de parentes falecidos, identificando-se como grandes espíritos de luz, ou seja, enganando a fé das pessoas ao narrar fatos acontecidos em suas vidas.
[editar] A resposta da Doutrina Espírita
As religiões de matriz judaico-cristã entendem que, com a Lei dada a Moisés no Antigo Testamento, Deus interditou à Antiga Israel as comunicações com o Mundo dos Espíritos e o uso de poderes sobrenaturais por eles concedidos. "... não haverá no meio de ti ninguém que faça passar pelo fogo seu filho ou sua filha, que interrogue os oráculos, pratique adivinhação, magia, encantamentos, enfeitiçamentos, recorra à adivinhação ou consulte os mortos (necromancia)" (Deuteronômio 18:10-14). Afirmam ainda que essa proibição é confirmada no Novo Testamento, através das referências contidas nos Evangelhos e no livro de Actos aos "espíritos impuros".
A citação do apóstolo Paulo na sua carta aos Gálatas, no capítulo 5, versículo 20, afirma que quem pratica "feitiçaria" (ou bruxaria - o termo grego usado é "farmakía") não herdará o Reino de Deus". (Na Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, o termo é vertido por "espiritismo", no entanto, esta aplicação da palavra não pode referir-se de forma alguma especificamente à Doutrina Espírita, uma vez que o termo apenas seria criado no século XIX por Allan Kardec).
É comum encontrar referências ao uso do termo Espiritismo para denominar outras doutrinas e cultos que não sejam aquela codificada por Allan Kardec (Ver o item Diversos usos do termo Espiritismo do artigo Espiritismo para exemplos).
Já para a Doutrina Espírita, a Bíblia não condena a prática mediúnica em si - pois esta seria fundamentada em um fenómeno natural - e sim o uso dos recursos mediúnicos para finalidades frívolas. Condenação esta que o Espiritismo inclusive concorda.
Quanto à citada necromancia, sabe-se que esta envolvia a retirada de restos mortais dos locais onde estavam enterrados os mortos, para lhes invocar o espírito e fazer-lhes interrogatórios. A doutrina espírita não pratica necromancia, fazendo antes uso de comunicação livre, quando se manifesta o espírito que tiver necessidade, através do médium que se dispõe a recebê-lo.
[editar] Quanto à identidade dos Espíritos
Quando se afirma que os demônios tomariam identidades falsas para enganar os médiuns, é pertinente colocar a questão: "enganar para qual objetivo?", uma vez que as comunicações que constam principalmente no livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo" só tratam de amor, caridade e de leis morais. O seguinte texto, presente no mesmo livro, permite uma melhor dissipação de quaisquer dúvidas em relação a esta problemática:
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- "Um dia, Deus, em sua caridade inesgotável, permitiu ao homem ver a verdade varar as trevas. Este dia foi a chegada do Cristo. Depois da luz viva as trevas voltaram. O mundo, entre alternativas do conhecimento da verdade e obscuridade da ignorância, perdeu-se novamente. Então, tal como os profetas do Antigo Testamento, os Espíritos se puseram a falar e a vos advertir: O mundo está abalado em suas bases, o trovão provocará estrondo. Sede firmes!"
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- "O Espiritismo é de ordem divina, visto que repousa nas próprias leis da Natureza, e acreditai que tudo o que é de origem divina tem um objetivo grande e útil. Vosso mundo se perdia. A Ciência, desenvolvendo-se, à custa dos valores de ordem moral, estava vos conduzindo ao bem-estar material em proveito do Espírito das trevas. Vós o sabeis, cristãos: o coração e o amor devem andar unidos à Ciência. O reino do Cristo, infelizmente, após dezoito séculos, e apesar do sangue de tantos mártires, ainda não chegou. Cristãos, voltai ao Mestre que vos quer salvar. Tudo é fácil para aquele que crê e ama. O amor o enche de uma alegria indescritível. Sim, meus filhos, o mundo está abalado; os bons Espíritos vos dizem sempre; curvai-vos sob o sopro que anuncia a tempestade a fim de não serdes derrubados, isto é, preparai-vos e não vos assemelheis às virgens loucas (veja em Mateus, 25:1, a parábola das dez virgens), que foram apanhadas desprevenidas à chegada do esposo."
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- "A revolução que se prepara é mais moral do que material; os Espíritos, mensageiros do Senhor, inspiram a fé para que todos vós, companheiros da Doutrina, iluminados e ardentes, façais ouvir a vossa voz humilde. Sois o grão de areia, mas, sem grãos de areia, não haveria montanhas, portanto, que estas palavras: “Somos pequenos”, não tenham mais sentido para vós. Cada um tem sua missão, cada um tem seu trabalho. A formiga não constrói seu formigueiro, e os animaizinhos insignificantes não erguem continentes? A nova cruzada começou: apóstolos da paz universal e não da guerra, São Bernardos modernos, olhai e andai para a frente! A lei dos mundos é a lei do progresso." Fénelon (espírito) - Poitiers, 1861
No item Aceitação da autoria do artigo sobre psicografia fala-se sobre como pesquisas científicas que foram realizadas na Universidade Estadual de Londrina, Estado do Paraná, comprovaram a identidade de inúmeros espíritos através das suas assinaturas em textos psicografados por Chico Xavier.
[editar] Quanto a Jesus ter condenado a comunicação com espíritos
A suposta condenação de Jesus quanto à comunicação com espíritos, que adversários do Espiritismo mencionam, não encontra base em nenhum dos Evangelhos, se considerarmos as traduções tradicionais da Bíblia, sejam as dos Católicos (Vulgata ou dos Monges de Maredsous), seja a dos Evangélicos (João Ferreira de Almeida) seja a ecumênica (Bíblia de Jerusalém).
A condenação apenas poderá ter algum sustento tomando como fundamento o exemplo das denominações cristãs trinitaristas, que consideram Jesus e Deus como um só, acreditando assim que a condenação existente no Antigo Testamento da Bíblia terá sido um decreto proferido pelo próprio Jesus antes da sua vinda à Terra.
Os observadores ligados ao espiritismo questionam no entanto, a contradição que seria o facto de Jesus condenar algo que ele próprio terá feito ao conversar com os espíritos dos profetas Elias e Moisés, já falecidos na altura, no monte Tabor, tal como descrito no Evangelho de Mateus, capítulo 17, versículos 1 a 13.
[editar] Algumas interpretações bíblicas
Segundo os Evangelhos e as epístolas do Novo Testamento da Bíblia, Jesus e alguns apóstolos terão proferido afirmações que podem ser interpretadas como sendo contraditórias aos ensinamentos postulados pelo espiritismo ou pela doutrina espírita.
As citações abaixo encontram-se, no entanto, em total concordância com os ensinamentos contidos em O Livro dos Médiuns, uma vez que, se um espírito fala palavras pomposas, mas que não são aceitas pelo crivo da razão e do bom senso, conclui-se que se trata de um espírito mistificador ou, como se lê nos evangelhos, de um "falso profeta", sendo que, a Doutrina Espírita acredita que os espíritos são as almas dos homens. Assim, se existem homens perversos, existem espíritos perversos, se existem homens falsos e mentirosos, também existem espíritos falsos e mentirosos. Nem a Doutrina Espírita nem a Bíblia proibem a comunicação com os espíritos, apenas advertem para necessidade de discernir com sabedoria se o que eles dizem é bom ou não em lugar de aceitar, ingenuamente, tudo o que venha deles.
[editar] Evangelho de Mateus
- Capítulo 7, versículo 15 - "Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores."
- Capítulo 24, versículo 11 - "Igualmente hão de surgir muitos falsos profetas, e enganarão a muitos"
- Capítulo 24, versículo 24 - "porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos."
[editar] Epístola de Paulo ao Gálatas
- Capítulo 1, versículos 6 a 8 "Estou admirado de que tão depressa estejais desertando daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho, o qual não é outro; senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema."
[editar] Segunda epístola de Pedro
- Capítulo 2, versículo 1 - "Mas houve também entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá falsos mestres, os quais introduzirão encobertamente heresias destruidoras, negando até o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição."
[editar] Primeira epístola de João
- Capítulo 4, versículos 1 a 3 "Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos vêm de Deus; porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo. Nisto conheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não é de Deus; mas é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que havia de vir; e agora já está no mundo."
[editar] Notas e referências
- ↑ Sérgio Pereira Couto, Revista "Ciência Criminal", ano 1, N° 2.[1]
- ↑ Facure, Núbor. Artigo Os Enigmas da Mente. Revista Universo Espírita, Ano 3, N°35. Páginas 8-12.
[editar] Ver também
- Psicografia
- Psicofonia
- Psicometria
- Psicopictografia
- Espiritismo
- Doutrina Espírita
- Racionalismo Cristão
- João Teixeira de Faria
