História do Paquistão
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O Paquistão é um dos dois Estados criados com a dissolução do império colonial britânico da Índia, em 1947. Esta é a história do Paquistão a partir do início dos movimentos políticos que levariam à independência daquele país. Para a história do Paquistão anterior a 1885, ver o artigo História da Índia.
[editar] Antecedentes da independência
O governo britânico passou a exercer o controle direto da Índia a partir da revolta dos sipais, de 1857, quando revogou as prerrogativas de que gozava, desde 1756, a Companhia das Índias Orientais. O Partido do Congresso foi criado em 1885 com o propósito de representar a imensa maioria hindu do subcontinente indiano; em reação, a Liga Muçulmana (All-India Muslim League) foi instituída em 1906 para preservar os interesses daquela minoria. Apesar do crescente número de conversões ao islã, os muçulmanos ressentiam-se da posição dominante dos hindus na indústria, no comércio, na educação e no setor público. Quando o Congresso e a Liga se decidiram, ambos, pela independência, não lograram acordar uma fórmula que permitisse a proteção dos direitos políticos, econômicos e religiosos dos muçulmanos.
A origem do nome Paquistão é motivo de debate. Para alguns, significa "o país dos puros" (pak, "puro"; stan, "terra, país") em urdu[1]. Para outros, proviria de um acrônimo para os territórios de população muçulmana no sul da Ásia, criado por Choudhary Rahmat Ali, nacionalista muçulmano e estudante de Cambridge, divulgado pela primeira vez em 28 de janeiro de 1933: P de Punjabe; A para as terras afegãs; K de Kashmere (Caxemira); S de Sind; e tan de Baluchistan (Baluchistão).
Atribuída a Syed Ahmad Khan, político muçulmano, antigo magistrado e criador de escolas e universidades, a idéia de um Estado separado foi formalizada pelo poeta e filósofo Allama Muhammad Iqbal durante um discurso perante a sessão anual da Liga Muçulmana em 1930, em Allahabad. Em 23 de março de 1940, em Lahore, a Liga , presidida por Muhammad Ali Jinnah, adotou oficialmente a teoria das Duas Nações, por meio da Declaração de Lahore.
[editar] Nascimento do Paquistão
A Segunda Guerra Mundial constituiu-se em oportunidade para os nacionalistas indianos, perante um governo britânico desejoso da cooperação indiana durante o conflito. Gandhi e o Congresso lançaram então o movimento Quit India ("Deixem a Índia", bordão dirigido aos britânicos), ao qual a Liga Muçulmana não se associou de maneira formal. Seguiu-se um período de violência descontrolada na Índia, provocado pela repressão ao movimento de desobediência civil de Gandhi e agravado pela fome catastrófica que levaria à morte três milhões de pessoas na Bengala, em 1943.
[editar] Partição e independência
Decididos a abandonar a Índia a partir de 1945, os britânicos depararam em 1946 com a multiplicação dos confrontos sangrentos entre a comunidade muçulmana, de um lado, e as comunidades siques e hindus, de outro. A Liga, que continuava a exigir a criação de um Estado distinto nas regiões de maioria islâmica, sagrou-se vencedora na maior parte das zonas eleitorais muçulmanas nas eleições de 1946. Os britânicos decidiram-se, então, em favor da partição do país, apesar da oposição de Nehru e Gandhi. A Lei de Independência Indiana (Indian Independence Act) aprovada pelo parlamento britânico, entrou em vigor à 00:00 h do dia 15 de agosto de 1947, momento em que o Reino Unido transferiu a soberania local para os novos Estados independentes da Índia e do Paquistão, que se tornam então membros da Commonwealth.
O novo Estado de maioria muçulmana viu-se imediatamente dividido em duas regiões distintas, separadas por 1 700 km: o Paquistão Oriental (que se declararia independente em 1971 com o nome de Bangladesh), e o Paquistão Ocidental, composto pelo Sind, Punjabe Ocidental, Baluchistão, província da Fronteira Noroeste e alguns outros territórios menores.
A partição deu causa a enormes deslocamentos populacionais. Mais de seis milhões de muçulmanos indianos refugiaram-se no novo Estado paquistanês, enquanto que igual número de hindus e siques abandonaram o Punjabe rumo à Índia, devido à violência e aos massacres de fundo étnico que deixaram mais de 500 000 vítimas. Não obstante, um terço dos muçulmanos continuou a residir na Índia.
[editar] Formação do Estado e a questão da Caxemira
Muhammad Ali Jinnah, denominado Qaid-i-Azam ("Luz da Nação"), tornou-se o governador-geral do novo Estado, com Liaquat Ali Khan no cargo de primeiro-ministro. O Paquistão deu início a sua vida nacional sem funcionários públicos qualificados e sem infra-estrutura administrativa na capital improvisada de Carachi. Mesmo assim, foi confrontado com a necessidade de lidar com refugiados, dar partida numa economia autônoma e instituir e treinar forças armadas.
Após o fim do domínio britânico, o dirigente hindu do Jammu e Caxemira, marajá Hari Singh, da dinastia Dogra, pediu o auxílio do exército indiano para rechaçar as incursões de tribos pachtuns provenientes do Paquistão e apoiadas por parte da população local e, veladamente, pelo exército paquistanês. Em 26 de outubro de 1947, em que pese o fato de a maioria da população de Jammu e Caxemira (78 por cento) ser muçulmana, o marajá assinou o tratado de adesão à Índia, abrindo caminho para que as forças indianas entrassem naquele principado. O Paquistão não aceitou a decisão do marajá caxemira, que marcou o início de uma série de conflitos armados entre as forças armadas indianas e paquistanesas. O cessar-fogo negociado sob a égide da ONU entrou em vigor em janeiro de 1949 e, com base na chamada linha de controle (que separa as forças dos dois países), a Índia manteve o controle de dois terços da Caxemira, que passaram a formar o estado federal indiano de Jammu e Caxemira, com capital em Srinagar; o Paquistão administra o terço restante, que subdividiu em Caxemira Livre (com capital em Muzaffarabad) e Territórios do Norte (com capital em Gilgit).
[editar] Tentativa democrática (1947-1958)
De imediato, o país sofreu com a instabilidade no plano político e foi confrontado com grandes dificuldades econômicas. Jinnah morreu em 1948 e o primeiro-ministro Liaqat Ali Khan foi assassinado em outubro de 1951 por um fanático afegão. A escassez de líderes não foi resolvida nem com os primeiros-ministros Nazimuddin (1951-1953) e Muhammad Ali (1953-1955), nem com o governador-geral Ghulam Muhammad (1951-1955).
Uma onda de descontentamento percorreu o Paquistão Oriental, que se sentia posto de lado por um governo federal geograficamente distante. A Liga Muçulmana fracassou em diversas eleições, especialmente em 1954: um novo pleito então foi organizado e formou uma nova Assembléia Nacional que já não era controlada pela Liga. Com Chaudhri Muhammad Ali no cargo de primeiro-ministro e Iskander Mirza como governador-geral, a Assembléia Nacional elaborou uma nova constituição.
Com a promulgação daquela constituição, em 23 de março de 1956, o Paquistão tornou-se a primeira república islâmica do mundo; Mirza foi eleito presidente provisório. A instabilidade política prosseguiu, porém, devido à falta de uma maioria clara na Assembléia, que levava a freqüentes mudanças de governo, bem como à corrupção generalizada no meio político e à precária situação econômica, apesar da ajuda internacional.
Confrontado com a impossibilidade de controlar a agitação no Paquistão Oriental, o Presidente Mirza voltou-se para o comandante das forças armadas, General Muhammad Ayub Khan. Em 8 de outubro de 1958, Mirza revogou a constituição e declarou a lei marcial.
[editar] Golpe militar e criação do Bangladesh (1958-1972)
[editar] o Regime Ayub
Vinte dias depois, os militarem forçaram o Presidente Mirza a exilar-se, permitindo que o General Muhammad Ayub Khan assumisse o poder no Paquistão e instituísse uma ditadura militar. Seguiu-se uma série de reformas, como a agrária, um plano de desenvolvimento econômico, restrições à poligamia e ao divórcio e, em 1962, uma nova constituição que estabeleceu como línguas oficiais o bengali e o urdu. Islamabade tornou-se a capital nacional e Daca, a capital legislativa.
Os problemas no Paquistão Oriental continuaram. A Liga Awami (socialista) reuniu os descontentes bengalis em detrimento da Liga Muçulmana. Apesar de alguns avanços diplomáticos, as relações com a Índia continuavam tensas, em parte por conta da questão da Caxemira, e também devido aos conflitos inter-comunitários dentro do território indiano, como o massacre de milhares de muçulmanos em Madhya Pradesh, em 1961. As relações com o Afeganistão também se deterioraram entre 1961 e 1963, após incidentes de fronteira incentivados pela URSS, que desejava a criação de um "Pachtunistão" independente.
Após uma segunda guerra travada em 1965 por motivo da Caxemira, o presidente Ayub Khan e o primeiro-ministro indiano Lal Bahadur Shastri assinaram a declaração de Tashkent, mediada pela URSS, segundo a qual as duas partes acordavam um cessar-fogo, a retirada para as posições pré-conflito e o reatamento de relações diplomáticas. A questão da Caxemira continuou em aberto. Zulfikar Ali Bhutto, ministro do exterior durante a guerra, demitiu-se por causa do que entendeu ser o abandono da Caxemira pelo Paquistão e formou o Partido Popular Paquistanês (PPP), mais próximo do socialismo.
O Presidente Ayub Khan demitiu-se em março de 1969 após grande convulsão interna ocorrida no fim de 1968, transmitindo o poder ao General Muhammad Yahya Khan, que decretou nova lei marcial.
[editar] Terceira guerra indo-paquistanesa e independência do Bangladesh
Nas eleições de 1970, a Liga Awami do Xeque Mujib-ur-Rahman conquistou 153 dos 163 assentos atribuidos ao Paquistão Oriental, enquanto que o PPP de Bhutto passou a dominar o restante da Assembléia. A sessão inaugural da nova legislatura foi por duas vezes adiada por Yahya Khan, quem terminou por anular os resultados eleitorais. A Liga Awami foi proibida e o Xeque Mujib-ur-Rahman, detido no Paquistão Ocidental.
Nessas condições, o Paquistão Oriental declarou então a sua independência, com o nome de Bangladesh, em 26 de março de 1971. Em reação, o governo central paquistanês declarou lei marcial no Paquistão Oriental e determinou que o exército ocupasse aquele território. A guerra civil subseqüente deixou centenas de milhares de civis mortos e 10 milhões de refugiados, acolhidos pela Índia. Esta prestou seu apoio ao Bangladesh e finalmente entrou no conflito em dezembro de 1971. Após uma guerra de quinze dias - a terceira entre Paquistão e Índia - as tropas paquistanesas renderam-se e declarou-se um cessar-fogo. Um acordo assinado em Shimla em 1972 contribuiu para reduzir as tensões e o Xeque Mujib-ur-Rahman foi solto e autorizado a retornar ao Bangladesh, que foi reconhecido pelo Paquistão em 1974.
[editar] Governo civil e Ali Bhutto (1971-1977)
Em seguida à derrota frente à Índia, Yahya Khan demitiu-se do cargo de presidente em favor de Zulfikar Ali Bhutto, do Partido Popular Paquistanês (PPP), conformando-se então o retorno dos civis à alta administração do país. Em 1973, adotou-se uma nova constituição, de modelo federalista. A figura presidencial tornou-se principalmente simbólica, com os poderes do Estado transferidos para o primeiro-ministro, para cujo cargo a Assembléia Nacional elegeu Bhutto.
Desde 1972, Bhutto dera início a um vasto programa de nacionalizações, principalmente das indústrias de base, e a um ambicioso projeto de reforma agrária. Todos os bancos foram nacionalizados em janeiro de 1974. Os militares foram alijados dos cargos de decisão política mas o orçamento destinado à defesa nacional foi ampliado para 6 por cento do PIB. Não obstante, as iniciativas de Bhutto geraram descontentamento, em especial entre os empresários, ressentidos com as nacionalizações, e entre os religiosos, que rejeitavam a política de tendência socialista.
Em 1972, o serviço de informações paquistanês descobriu que a Índia estava perto de desenvolver uma bomba nuclear; em reação, Bhutto formou um grupo de engenheiros com o propósito de fazer o mesmo. Em 1974, após o teste nuclear indiano, Bhutto prometeu que o Paquistão teria a sua bomba "mesmo que tenhamos que comer capim e folhas". Durante o governo Bhutto, uma séria revolta ocorrida no Baluchistão foi reprimida com o auxílio presumido do xá do Irã, temeroso de que a rebelião contaminasse o Sistan e Baluchistão iraniano.
Nas eleições gerais de 1977 - o segundo pleito geral da história do Paquistão - nove partidos de oposição aliaram-se contra o PPP. O resultado, porém, favoreceu o o partido de Bhutto, que elegeu 150 deputados numa Assembléia de 200 assentos. A oposição contestou violentamente os resultados, que teriam sido marcados, alegava, pela fraude e coação. Estalaram então manifestações e distúrbios no país.
Frente a esta situação, o General Muhammad Zia-ul-Haq decidiu impor a lei marcial no Paquistão, em 5 de julho de 1977.
[editar] Regime militar Zia (1977-1988)
[editar] Processo de islamização
Bhutto foi preso, julgado e condenado à morte pelo suposto assassinato do pai de um dissidente do PPP. Após passar alguns meses prometendo eleições, Zia terminou por decretar a dissolução dos partidos políticos em 1979, mesmo ano que Bhutto foi executado.
Zia procedeu a um processo de islamização do país. Pouco a pouco, instituíram-se impostos de origem religiosa, como a esmola obrigatória exigida pelo Alcorão. Criou-se um tribunal federal para aplicar a charia. A blasfêmia contra Maomé passou a ser punível com a pena de morte. A chamada Majlis-i-Shoora substituiu a Assembléia Nacional em 1980, perdendo suas funções legislativas para tornar-se um conselho do presidente. A língua árabe e os estudos islâmicos passaram a ser matérias obrigatórias na maior parte dos estabelecimentos de ensino superior. A mídia também foi incluída neste processo, com a instalação de jornais televisivos em árabe, a exigência de que as apresentadoras cubrissem a cabeça e a difusão pela TV do chamado à oração. No exército, patentes do oficialato são conferidas a teólogos.
Os partidos de centro e de esquerda, por inspiração do PPP, criaram o Movimento pela restauração da democracia (MRD) em 6 de outubro de 1981, exigindo o fim da lei marcial, novas eleições e o restabelecimento da constituição de 1973. Em 1984, Zia convocou um referendo sobre o tema da islamização do país com base numa pergunta juridicamente complexa: se seria desejável que o Paquistão fosse um estado islâmico e, em caso de voto afirmativo, Zia receberia o cargo de presidente por um prazo de cinco anos. O referendo ocorreu em dezembro de 1984 e consagrou a posição de Zia, apesar do boicote do MRD.
[editar] Restauração de uma ordem constitucional
As eleições de 1985, também boicotadas pelo MRD, permitiram a restauração de uma Assembléia Nacional dotada de poderes legislativos. O Presidente Zia nomeou Muhammad Khan Junejo para o cargo de primeiro-ministro em março de 1985. A lei marcial é revogada. Apesar de ingentes esforços, Junejo não logrou reformar o sistema político, devido ao controle exercido por Zia. Em novembro de 1985, uma emenda constitucional confere ao presidente o direito de nomear o primeiro-ministro, os governadores provinciais e os altos magistrados, além de permitir-lhe pedir ao chefe de governo que obtenha um voto de confiança na Assembléia e nomear um gabinete interino. Recebeu também poderes discricionários para dissolver a Assembléia. Com isso, o sistema de governo do Paquistão passou, na prática, de parlamentarista a presidencialista.
As tensões acerca da questão afegã se acumulavam entre o Presidente Zia e o Primeiro-Ministro Junejo. Em 1979, quando as forças soviéticas invadiram o Afeganistão, Zia adotara a postura de baluarte contra o comunismo e acolhera em território paquistanês um afluxo maciço de refugiados afegãos. Os Estados Unidos haviam reagido à invasão soviética por meio da concessão de considerável auxílio financeiro e material ao regime anti-comunista afegão e aos militantes (mujaheddin), e também ao governo paquistanês, aliado dos americanos na Guerra Fria pelo menos desde a década de 1950. A evolução democrática do regime pode ser explicada pelas pressões americanas que acompanhavam o auxílio financeiro. Entrementes, o êxodo maciço de civis afegãos para o Paquistão deu causa a enormes dificuldades para um país de economia precária e de organização política instável. Junejo tentou consolidar um consenso nacional, ao consultar o conjunto das forças políticas paquistanesas, inclusive Benazir Bhutto, quem sucedera ao pai à frente do PPP. Esta movimentação não contava, porém, com a aprovação do Presidente Zia, que terminou por demitir o governo Junejo e, em seguida, por dissolver os legislativos federais e provinciais.
O acaso interveio quando a aeronave que transportava o Presidente Zia, o embaixador americano e oficiais militares americanos e paquistaneses caiu em 17 de agosto de 1988. Nos termos da constituição, assumiu interinamente a presidência Ghulam Ishaq Khan, presidente do Senado, que convocou eleições para novembro daquele ano.
[editar] Uma democracia incerta (1988-1999)
[editar] Benazir Bhutto (1988)
O PPP venceu as eleições de novembro de 1988, sem lograr obter uma maioria absoluta. Com o apoio de partidos menores, Benazir Bhutto foi nomeada primeira-ministra - a primeira mulher a exercer tal cargo num Estado muçulmano. Apesar de sua grande popularidade, Bhutto foi confrontada com numerosas dificuldades, como a violência étnica, problemas devidos à ocupação soviética do Afeganistão, a contínua tensão com a Índia. Os militares, por sua vez, hesitavam em sustentar um regime que apresentava uma aparência de corrupção e ineficiência. A coalizão governamental terminou por dissolver-se, com um voto de censura apresentado pelos partidos menores. Surgiu um conflito entre o Presidente Ishaq Khan e a primeira-ministra a respeito das nomeações dos militares de alta patente e dos altos magistrados. Em 6 de agosto de 1990, o presidente destituiu Bhutto e seus ministros e dissolveu a Assembléia Nacional e os legislativos provinciais.
[editar] Mian Muhammad Nawaz Sharif (1990)
As eleições de novembro de 1990 resultaram na vitória da coalizão dirigida por Mian Muhammad Nawaz Sharif, ex-ministro-chefe do Punjabe e líder da Aliança Democrática Islâmica (IJI). A IJI dispunha de maioria de três-quartos na Assembléia Nacional e do controle dos quatro parlamentos provinciais. Gozava, ainda, do apoio dos militares e do Presidente Ishaq Khan. Nawaz Sharif adotou um programa de privatização, de desregulação e de incentivo ao setor privado e ao investimento estrangeiro. Os efeitos deste programa foram contrabalançados pela drástica redução do auxílio americano, em virtude do Pressler Amendment, que visava a impedir a continuação do projeto nuclear paquistanês. Enquanto o governo buscava modernizar á economia do país, o legislativo aprovou em maio de 1991 uma lei que reforçava o estatuto da charia. A dificuldade em conciliar os diversos interesses dentro da coalizão governamental e as acusações de corrupção contra o primeiro-ministro fizeram o presidente demitir o governo em abril de 1993, por má administração, corrupção e nepotismo. O Supremo Tribunal cassou esta decisão em maio e restabeleceu o governo Nawaz Sharif. A crise resolveu-se com a demissão de presidente e primeiro-ministro em 18 de julho de 1997.
[editar] Retorno de Benazir Bhutto (1993)
O governo de Moin Qureshi, ex-vice-presidente do Banco Mundial, logrou adotar, em pouco tempo, um conjunto de reformas econômicas e sociais que surpreenderam favoravelmente a comunidade internacional e contaram com forte apoio interno.
As eleições do outono de 1993 reconduziram Benazir Bhutto ao cargo de primeira-ministra, com o apoio de nova coalizão ainda mais frágil do que a anterior, com diversos pequenos partidos. O retorno do PPP ao poder foi reforçado com a eleição de Farooq Leghari para presidente. Não obstante, o partido de Nawaz Sharif opôs-se ao governo por meio de greves gerais, e uma administração provincial incerta terminou por desacreditar a coalizão. Em 1995, um grupo de oficiais foi preso sob a acusação de preparar uma revolução islâmica. No plano internacional, Bhuto aproximou-se dos Estados Unidos, mas o prosseguimento do programa nuclear paquistanês reacendeu as tensões com a Índia. Bhutto foi demitida em 1996, com seu governo acusado pelo Presidente Leghari de casos de corrupção e de má gestão econômica.
[editar] Retorno de Nawaz Sharif (1997)
O partido de Nawaz Sharif venceu as eleições de fevereiro de 1997 e obteve maioria de dois terços da Assembléia Nacional. Sharif dedicou-se então a reduzir os poderes presidenciais concedidos pela oitava emenda à constituição, que permitia ao chefe de Estado demitir o governo e nomear os altos escalões militares. A reforma provocou a queda do Presidente Leghari, que renunciou em dezembro daquele ano, e do presidente do Supremo Tribunal, cujo órgão se opusera à iniciativa do novo primeiro-ministro. Muhammad Rafiq Tarar, alinhado com Sharif, foi eleito presidente em 1998. Teve início então um processo de restrição dos direitos políticos que incluiu uma campanha de calúnia contra a oposição e de amordaçamento da imprensa (inclusive ataques físicos contra jornalistas). No campo internacional, a Índia procedeu a cinco explosões nucleares subterrâneas em 1998, provocando, em reação, uma série de testes nucleares paquistaneses no Baluchistão. Os Estados Unidos impuseram sanções econômicas a ambos os países. A questão da Caxemira voltou à baila com um novo conflito indo-paquistanês em 1999: combatentes caxemiras, apoiados por tropas paquistanesas, lançaram uma série de ataques bem-sucedidos próximo à cidade de Kargil; após semanas de combates, terminaram por retirar-se em agosto daquele ano do território controlado pela Índia. Em 12 de outubro de 1999, após tentar demitir o General Pervez Musharraf do cargo de chefe do estado-maior do exército, Nawaz Sharif foi deposto por um golpe militar liderado pelo general, que suspendeu a constituição e, embora o termo "lei marcial" não tenha sido empregado, iniciou um novo período de controle militar da política nacional.
[editar] Regime Pervez Musharraf (1999 em diante)
Nawaz Sharif foi acusado de traição e condenado à prisão perpétua; a pena foi comutada em 2000 para a de exílio na Arábia Saudita. Musharraf proclamou-se presidente em junho de 2001. Após os ataques terroristas do 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos incentivaram o Paquistão a cooperar na luta contra Bin Laden e o regime Talibã do Afeganistão. A aproximação do governo paquistanês aos interesses americanos provocou distúrbios muçulmanos reprimidos com severidade, em especial na fronteira afegã. Em janeiro de 2002, Musharraf criticou o extremismo religioso e seus efeitos na sociedade paquistanesa, e decidiu não mais tolerar nenhum grupo envolvido em terrorismo. Um plebiscito realizado em abril de 2002 legitimou a sua posição por nove anos à frentes do país, embora a lisura do pleito tenha sido posta em dúvida. Em agosto daquele ano, Musharraf impôs cerca de trinta emendas reforçaram os seus poderes e enfraqueceram a oposição. As eleições de outubro de 2002 foram um sucesso para o PPP de Benazir Bhutto; em contraste, a PMLQ (Pakistan Muslim League-Qaid), que apóia Musharraf, atingiu apenas a segunda colocação, e uma coalizão islâmica anti-americana chegou em terceiro lugar. Musharraf sofreu duas tentativas de assassinato em dezembro de 2003, quando acordou com os partidos islâmicos reveter parcialmente as emendas à constituição. A economia paquistanesa - em especial as exportações de têxteis - continuou a ressentir-se das relações internacionais anormais e da perpétua agitação política interna.
[editar] Perspectivas
O Paquistão jamais logrou estabelecer um regime democrático estável. Desde a partição em 1947, a oligarquia militar impôs regularmente a sua vontade, apoiando-se, por vezes de maneira obscura, numa tendência islâmica fundamentalista, quando tal tendência não foi abertamente encorajada, como no caso do regime Zia.
[editar] Caxemira e a questão nuclear
A controvérsia acerca da Caxemira opõe a Índia e o Paquistão desde a partição. Aquela, que rejeita o referendo local, reivindica o território na sua totalidade ao argumento de que a natureza fundamentalmente federal e laica da sua constituição permitiria acolher qualquer população muçulmana. Este é acusado de empreender uma guerra subversiva ao incitar combatentes islamistas[2] e ao apoiá-los por intermédio dos serviços secretos paquistaneses. Por outro lado, o Paquistão entende que a maioria muçulmana da população da Caxemira lhe conferiria uma legitimidade natural sobre aquele território.
Duas das três guerras travadas pelos dois países foram motivadas pela questão da Caxemira. Ademais, a corrida armamentista nuclear é explicada essencialmente pela existência da controvérsia caxemira: meio de dissuação que permite a ambas as partes adotar postura arrogante, a bomba atômica constitui-se também em ameaça grave para o conjunto do subcontinente e para o equilíbrio mundial. Uma episódio armado sério foi evitado a custo entre dezembro de 2001 e outubro de 2002 quando a Índia mobilizou suas tropas ao longo da fronteira comum com o Paquistão em seguida ao ataque terrorista contra o parlamento em Nova Délhi.
Pela primeira vez, em outubro de 2002, realizaram-se eleições livres em Jammu e Caxemira, vencidas pelos autonomistas. Em 23 de novembro de 2003, o Paquistão anunciou um cessar-fogo unilateral na linha de controle, imediatamente aceito pela Índia. Em dezembro de 2003, Pervez Musharraf declarou-se pronto a abandonar temporariamente uma das mais antigas reivindicações paquistanesas, a saber, a realização de um referendo na Caxemira, caso isto facilite uma solução pacífica da controvérsia. Em seguida, a Índia deu a entender que reconhecia a existência da questão de Caxemira, o que poderia significar que aquele país estaria preparado para admitir que o território não necessariamente integraria as suas fronteiras.
O terremoto de 8 de outubro de 2005 causou, segundo cálculos ainda provisórios, 73 276 mortos e 69 260 feridos na Caxemira Livre (Paquistão). O país solicitou ajuda internacional e seu vizinho indiano abriu a fronteira e enviou socorro: 25 toneladas de material, entre medicamentos e alimentos. A Índia também prometeu um auxílio da ordem de 25 milhões de dólares ao Paquistão. Tais ações de cooperação humanitária terão, talvez, uma influência positiva sobre o futuro das relações bilaterais.
[editar] Afeganistão, Al-Qaida e a problemática islamista
A situação do Paquistão na cena internacional mudou radicalmente após os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos. O regime tornou-se o centro das atenções e dispõe de uma ajuda financeira em nível jamais visto - para um país em que 43 por cento das despesas públicas são dedicados ao pagamento da dívida externa, a cooperação com os EUA na luta contra a Al-Qaida e os talibãs afegãos é difícil de recusar, embora o Paquistão tenha no passado, em grande medida, apoiado o regime talibã. Muitos observadores apontam o Paquistão como uma aparente base financeira e operacional dos movimentos terroristas islamistas do mundo. Entretanto, desde janeiro de 2002, Musharraf exprimiu seu desejo de ver o país voltar a uma atitude mais distante com o islã, no quadro de um compromisso social com a religião, sem sem colocar em causa a importância fundamental desta para o Paquistão. Como república islâmica, o país está profundamente dividido entre sua aderência ao islã e a sua tolerância histórica para com o fundamentalismo islâmico, de um lado, e, de outro, as necessidades econômicas e financeiras que o conduzem a se apresentar como aliado fiel dos EUA e a participar da busca dos dirigentes da al-Qaida em seu território.
[editar] Ligações externas
[editar] Notas
- ↑ Outras fontes afirmam que os termos pak e stan são de origem persa.
- ↑ O termo "islamista", não lexicografado, é usado aqui para referir-se ao fundamentalismo islâmico.