História de Macau
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
A História (Humana) de Macau tem pelo menos 6000 anos. Ela é muito rica e diversificada porque Macau, desde da chegada dos portugueses no séc. XVI, foi sempre uma importante porta de acesso para a entrada da civilização ocidental na China, contactando com a civilização chinesa, e vice-versa. Este pequeno pedaço de terra proporcionou uma importante plataforma para a simbiose e o intercâmbio de culturas ocidentais e orientais. Esta intensa simbiose e intercâmbio moldaram uma identidade única e própria para Macau.
Macau foi já povoada por pescadores e camponeses chineses quando os portugueses estabeleceram-se em 1557 nesta localidade. Eles, "ocupando gradualmente" (expressão usada na Lei Básica da RAEM) Macau, rapidamente trouxeram prosperidade a este pequeno pedaço de terra que se localiza junto à foz do Rio das Pérolas, tornando-a numa grande cidade comercial. Macau é considerado o primeiro entreposto europeu em solo chinês e tinha um grande valor, principalmente ao nível comercial e estratégico, para os portugueses porque era um importante intermediário no comércio entre a China, a Europa e o Japão.
Mesmo atacado várias vezes por outras potências europeias, nomeadamente pelos holandeses, esta cidade atingiu o seu auge durante os finais do séc. XVI e os inícios do séc. XVII. Mas, durante o séc. XIX, Macau começou a entrar rapidamente em declínio por causa do estabelecimento de Hong-Kong pelos ingleses. Esta nova colónia britânica cedo tornou-se no porto ocidental mais importante da China. Mesmo assim, Macau, em 1865, construiu o primeiro farol do mar do Sul da China, o Farol da Guia.
Durante o séc. XX, Macau lançou a sua moeda local, a pataca. Foi emitida pelo Banco Nacional Ultramarino em 1905. Esta colónia portuguesa não foi invadido pelas tropas japonesas, evitando assim os grandes horrores da Segunda Guerra Mundial. Após a implantação da República Popular da China (1949), esta cidade experimentou vários "incidentes" e motins provocados pelos chineses residentes pró-comunistas que queriam reunir Macau à China. Mas, Macau conseguiu sobreviver a estes acontecimentos, sendo finalmente restituída à China em 1999, após intensas negociações entre Portugal e a República Popular da China, tornando-se numa Região Administrativa Especial.
[editar] Antes da chegada dos portugueses
Através de estudos arqueológicos, descobriu-se muitos artefactos que apontam que os chineses já se estabeleceram em Macau à 4000 a 6000 anos atrás e em Coloane à 5000 anos atrás.
Segundo certos registos históricos, pelo menos a partir do séc. V, navios mercantes chineses de Cantão que comerciavam com povos do Sudeste Asiático paravam muitas vezes em Macau ou perto dele para se abastecerem de água e de comida.
Em 1277, cerca de 50000 apoiantes e alguns membros da Dinastia Song, fugindo dos invasores mongóis, chegaram a Macau e construíram várias povoações, sendo o maior e o mais importante delas localizado na região de Mong-Há (que se localiza no Norte de Macau). Pensa-se que o templo mais antigo de Macau, o Templo de Kun Iam (Deusa da Misericórdia), localizava-se precisamente em Mong-Há.
Durante a Dinastia Ming, muitos pescadores oriundos de Cantão e de Fujian estabeleceram-se em Macau e foram eles que construíram o famoso Templo de A-Má.
[editar] O estabelecimento português de Macau
Macau, mesmo naquela altura já povoada por um número considerável de chineses (na sua maioria pescadores), só floresceu com a chegada dos portugueses. Eles estabeleceram-se em Macau entre 1554 e 1557, sob o pretexto de secar a sua carga, durante a Era dos Descobrimentos iniciada pelo Infante D. Henrique (O Navegador). O primeiro português a chegar ao Sudeste da China foi Jorge Álvares, em 1513. A esta visita seguiu-se o estabelecimento ilegal e temporário (só durante alguns meses por ano) na área de inúmeros comerciantes portugueses construindo edifícios de apoio em madeira que depois iriam ser destruídos quando os comerciantes, acabados de fazer os seus negócios, partirem. Os portugueses ainda não eram autorizados de permanecer, obtendo somente o estatuto de "visitante".
O Imperador chinês Chi-Tsung, em 1557, autorizou finalmente os portugueses de estabelecerem-se em Macau e concedeu também um considerável grau de auto-governação para eles, por estes terem conseguído derrotar os piratas chineses liderados pelo célebre Chang Tse-Lac que actuavam na região do Delta do Rio das Pérolas. Assegurada a autorização, os portugueses rapidamente se sedentarizaram, construindo uma povoação no Sul da Península de Macau. Mas, mesmo assim, as autoridades chinesas defendiam que Macau era uma parte integrante do Império Celestial Chinês, por isso os portugueses foram obrigados de pagar aluguer e certos impostos aos chineses, desde de 1573. Esta é uma das versões mais aceites sobre a origem do estabelecimento comercial português de Macau. Existem muitas outras que negam esta versão, dizendo que os portugueses estabeleceram-se em Macau sem o conhecimento e a autorização do Imperador mas por meio de subornos aos funcionários locais, os mandarins, de Cantão.
Para supervisionar o estabelecimento português de Macau, nomeadamente no que diz respeito à recolha de impostos lançados pelas autoridades de Cantão sobre todos os produtos chineses e sobre todos os produtos exportados pelos portugueses, as autoridades chinesas enviavam um grupo de mandarins, e estes exerciam uma grande influência na administração de Macau. Estes mandarins exerciam também controlo e jurisdição sobre todos os chineses residentes em Macau. A maioria deles habitavam no Norte da Península.
O estabelecimento comercial português tinha um valor imenso, especialmente quando as autoridades da China proibiram o comércio directo com o Japão por mais de cem anos, ao mesmo tempo os portugueses ganharam o monopólio do comércio entre a China, o Japão e a Europa. Nestas circunstâncias, Macau tornou-se um porto importante no comércio entre a Europa, a China e o Japão.

Assim nasceu Macau, o primeiro entreposto comercial europeu (depois cultural e religioso) entre o Ocidente e o Oriente. O seu nome parece ter origem no nome do templo da deusa A-Má; Amagau (Baía de A-Má), Amacao, Macao e, por fim, Macau. Durante mais de 400 anos de história, Macau foi orgulhosamente o baluarte da presença e cultura portuguesa no longínquo Oriente.
Macau tornou-se também um importante ponto de partida de missionários católicos para os diferentes países da Ásia, nomeadamente a China e o Japão. Além da evangelização, estes missionários promoveram também o intercâmbio ético, cultural e científico entre o Ocidente e o Oriente. Foi fundada o Colégio de São Paulo no séc. XVI e o Seminário de São José no séc. XVIII. Estas duas instituições tinham a função de formar missionários e padres. Devido à grande importância de Macau, o Papa Gregório XIII criou a Diocese de Macau em 23 de Janeiro de 1576. Actualmente, o Seminário, devido à falta de vocações sacerdotais, encerrou-se e o Colégio foi destruído por um incêndio em 1835.
[editar] Tentativas de invasão holandesa
Macau, por ser considerado uma importante posição estratégica, foi atacado por várias vezes pelos holandeses (inimigos de Espanha e simultaneamente os de Portugal devido à união destes dois países entre 1580 a 1640) que queriam controlar o comércio entre a Europa e o Extremo-Oriente. Estavam invejosos pelo monopólio que os portugueses gozavam.
A tentativa mais famosa de invasão holandesa começou no dia 22 de Junho de 1622 por 800 soldados que desembarcaram na praia de Cacilhas. Avançaram com cautela para o centro da Cidade, sofrendo pesado bombardeio de canhões da Fortaleza do Monte. Após 2 dias de combate, no dia 24 de Junho, um padre jesuíta disparou um tiro de canhão e acertou com precisão um vagão carregado de pólvora pertencente aos holandesas, desconcertando as forças invasoras. É também neste dia que a pequena guarnição militar de Macau (composta aproximadamente por 200 soldados e por algumas fortalezas, nomeadamente a Fortaleza do Monte e a Fortaleza da Guia) derrotou as forças invasoras. Os holandeses, derrotados, jogaram-se ao mar na tentativa de alcançar os barcos. Muitos se afogaram e um dos barcos, superlotado, afundou-se. Dizem os registos portugueses que morreram algumas dezenas de portugueses e que morreram em combate ou afogados cerca de 350 holandeses. Para Macau, desprevenida, a vitória foi considerada um milagre. Após a vitória, os moradores de Macau passaram a comemorar o dia 24 de Junho, dia da vitória, como o "Dia da Cidade". É também neste dia que comemora o São João Baptista, o Padroeiro da Cidade. Conta a lenda que pelo seu manto, foram desviados os tiros dos inimigos, salvando a Cidade dos invasores holandeses. Este dia é feriado público e comemorado todos os anos com grandes festas e alegria até 1999, data da transferência da soberania de Macau para a China. Após a transferência, este dia deixou de ser feriado público e virtualmente esquecido.
Após esta tentativa de invasão holandesa, o Governo de Lisboa, a partir de 1623, passou a enviar um Governador português para Macau. Antes da sua chegada, esta pequena cidade era administrada e governada directamente pelo "Leal Senado", a primeira câmara municipal de Macau. A pequena guarnição militar de Macau foi também reforçada. Estas medidas revelaram uma maior preocupação e participação do Governo de Lisboa na administração e protecção desta longínquo e pequeno estabelecimento português. Mas, mesmo assim, o poder local, residido no Leal Senado, continuou a manter uma grande autonomia relativamente ao poder central metropolitano de Lisboa, representado em Macau pelo Governador, e continuou a exercer um papel fundamental na administração da Cidade.
A bandeira portuguesa esteve sempre içada em Macau, desde a sua fundação até 1999, mesmo durante a ocupação filipina a Portugal, por isso D. João IV, Rei de Portugal, recompensou este acto de confiança e lealdade gratificando Macau, em 1654, com o título de "CIDADE DO SANTO NOME DE DEUS DE MACAU, NÃO HÁ OUTRA MAIS LEAL".
[editar] Declínio da sua importância
Durante o séc. XVIII, Macau perdeu uma boa parte da sua prosperidade e importância económica, causado por vários factores e acontecimentos:
- o sistema comercial português centrado em Lisboa sofreu declínio devido à elevada concorrência entre este e os outros sistemas desenvolvidos por outras potências europeias, nomeadamente a Inglaterra e a Holanda;
- a expulsão, em 1637, dos portugueses da cidade japonesa de Nagasaki, pondo fim ao lucrativo comércio "Macau-China-Japão";
- os portugueses perderam Malaca e várias possessões na Índia, logo diminuindo a quantidade de produtos exóticos, principalmente as especiarias, negociáveis com a China que influem regularmente para Macau.
Mas, mesmo assim, este estabelecimento comercial continuava a ser auto-suficiente, pedindo raras vezes subsídios à sua metrópole (Portugal), e inclusivamente algumas vezes dando ajuda financeira às outras colónias portuguesas do Oriente.
A importância do porto de Macau foi reduzida drasticamente na Primeira Guerra de Ópio em 1841 quando Hong Kong se tornou no porto ocidental mais importante na China. Este acontecimento chocou fortemente Macau, levando-a a uma semi-paralisia que só iria a ser superada em meados do séc. XX, quando ela começou de novo a experimentar desenvolvimento económico e entrada significativa de capitais estrangeiros.
[editar] Consolidação da autoridade portuguesa e expansão territorial

No séc. XIX, Portugal, naquela altura já politicamente estável, vindo a já evidenciada fraqueza do Império Chinês e crescente influência (e ameaça ao equilíbrio da região) britânica, começou a preocupar-se finalmente no reforço da soberania portuguesa em Macau e na definição das estruturas político-administrativas da Cidade para prevenir que Macau caia nas mãos de outras potências europeias. Este desejo de Portugal foi concretizado no dia 20 de Setembro de 1844, com a promulgação de um Decreto real assinado pela Rainha D. Maria II. Este documento definia que o Governador era o principal orgão político-administrativo da Cidade e não o Leal Senado, e ingressou finalmente Macau na organização administrativa ultramarina portuguesa, passando a formar, juntamente com Timor e Solor, uma província autónoma, com sede em Macau com o nome de "Província de Macau, Timor e Solor". Antes desta ingressão, Macau fazia parte do Estado Português da Índia.
Após este decreto, sucederam-se uma série de acontecimentos: os portugueses radicados deixaram de pagar impostos chineses e aluguer de Macau; Portugal declarou a Cidade um porto franco em 1845; e finalmente, em 1849, o Governador João Ferreira do Amaral expulsou os mandarins da Cidade, pondo fim à autoridade chinesa de Macau, culminando o processo do reforço da soberania portuguesa. A partir desta data, o Governo de Macau passou a exercer jurisdição sobre todos os habitante chineses da Cidade de Macau e a lançar impostos sobre eles. O Governador ordenou inclusivamente a construção de uma estrada que visava conectar a Cidade amuralhada de Macau, que se localizava no Sul da Península, às "Portas do Cerco", um posto fronteiriço localizado no extremo-norte que separa a Península de Macau e a China Continental. Ele ordenou também a reconstrução deste posto fronteiriço, dando-lhe um forte toque arquitectónico português. Mas, Ferreira do Amaral pagou caro para este processo: no mesmo ano em que ele decretou a expulsão dos mandarins, foi assasinado, sendo o único Governador de Macau a morrer enquanto ocupava o cargo.
Na primeira metade do séc. XIX, os portugueses passaram a exercer também jurisdição sobre o Norte de Macau (naquela altura ocupada pelos chineses). Queriam inclusivamente ocupar terrenos que se localizavam para além das Portas do Cerco, mas não conseguiram. A ilha de Taipa foi ocupada pelos portugueses em 1851 e a ilha de Coloane em 1864. Quando os portugueses chegaram à ilha de Coloane, os piratas chineses controlavam grande parte desta ilha pouco povoada. A presença portuguesa passou a ser fortificada com a vitória dos soldados portugueses sobre os piratas chineses, em 1910, causando a expulsão dos últimos.
Durante a segunda metade do séc. XIX, as principais potências europeias humilharam o já fraco Governo Imperial Chinês da Dinastia Qing, forçando-lhe a assinar os chamados "Tratados Desiguais" que defendiam somente os interesses das potências europeias, em detrimento dos interesses do Governo Chinês. Nestes tratados, o Governo Chinês era obrigado a abrir os seus portos comerciais, a aceitar a ocupação europeia em certas terras chinesas e aceitar a divisão da China em "áreas de influência" europeia (enfraquecendo o Governo Chinês). Porventura aproveitando a situação, em 1887, Portugal, que queria há muitos anos estabelecer um tratado com a China, diligenciou junto do Governo Chinês a assinatura do "Tratado de Amizade e Comércio Sino-Português", o qual reconhece e legitima a ocupação perpétua de Macau e das suas dependências pelos portugueses. Este tratado, com 54 artigos e também chamado de "Tratado de Amizade e Comércio entre a China e Portugal", foi assinado por Sun Xuwen, o representante da China, e Tomás de Sousa Rosa, o representante de Portugal.
Em 1890, os portugueses ocuparam oficialmente a Ilha Verde, que se localizava a 1 quilómetro a Oeste da Península de Macau. Devido aos aterros, esta ilha foi totalmente absorvida pela Península em 1923.
Em pleno séc. XIX, os portugueses começaram também a expandir a sua influência às ilhas de Lapa, Dom João e Montanha (adjacentes a Macau), oferecendo protecção e serviços (ex: educação) aos poucos chineses aí residentes em troca de impostos. Na altura, estas 3 ilhas já eram habitadas por missionários portugueses, sendo a ilha da Lapa habitada já nos finais do séc. XVII. Elas foram oficialmente ocupadas pelos portugueses em 1938, sob o pretexto de proteger os portugueses e missionários lá residentes. Mas, em plena Segunda Guerra Mundial, os portugueses foram expulsos em 1941 pelo Exército Imperial Japonês (não foi registado luta armada e mortes) que constantemente lançavam ameaças ao Governo da Colónia de Macau. Após a expulsão dos portugueses, os japoneses passaram a ocupar estas ilhas que eles desejavam. No final da Grande Guerra, com a derrota do Japão, os portugueses não conseguiram reocupar as ilhas de Lapa, D. João e Montanha, sendo elas restituídas à China.
Em 1951, Macau passou a ser designada de "província ultramarina" pelo Governo de Portugal daquela época.
[editar] Segunda Guerra Mundial
A população de Macau aumentou para o dobro na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) devido à afluência de pessoas que fugiram à ocupação japonesa do sudeste asiático. A principal proveniência dos refugiados era das cidades vizinhas, Guangzhou (Cantão) e Hong Kong. O Japão respeitou a neutralidade de Portugal, cujas posições geográficas estratégicas dos Açores e do continente enquanto extremo ocidental da Europa e respectivo acesso ao continente americano terão motivado esta decisão do Eixo. Mesmo que os japoneses não tivessem intenção de ocupar Macau, eles não tardaram em estabelecer uma embaixada na Cidade. Esta embaixada, além das suas funções diplomáticas, servia também de centro de espionagem e de detenção de figuras chinesas anti-ocupação japonesa (muitas destas figuras fugiram da China para Macau). A embaixada exerceu também grande infuência no Governo Português de Macau. Ainda assim, existia uma forte tensão entre o Governo de Macau e o Exército Japonês. Os portugueses sempre temiam o assalto das tropas japonesas a Macau porque a Guarnição Militar não tinha capacidade de defender esta pequena colónia portuguesa.
Apesar da neutralidade de Macau, o porto de hidroaviões existente na altura foi bombardeado, tendo sido alegado erro acidental, e as ilhas de Lapa, Dom João e Montanha foram ocupadas pelo Exército Japonês. Para além disto, as principais consequências da Segunda Guerra Mundial em Macau foram apenas as ligadas à sobre população e à falta de bens de importação, dos quais os alimentos eram os mais prementes. Após a Segunda Grande Guerra, a população de Macau começou a diminuir devido ao regresso de muitos refugiados chineses para as suas respectivas terras natais.
[editar] Incidente das Portas do Cerco
Em 1952, teve lugar o Incidente das Portas do Cerco. Foi uma série de pequenos conflitos armados entre os barcos armados e soldados portugueses estacionados nas Portas do Cerco (posto fronteiriço entre Macau e a China Continental) e as forças armadas chinesas.
Tudo começou quando Portugal, um aliado dos E.U.A., pressionou o Governo de Macau a controlar a circulação de mercadorias, principalmente bens considerados estratégicos (ex: combustíveis...), para a China continental que sofria um embargo imposto pelas potências ocidentais e pela ONU. As autoridades chinesas, descontentes do controlo imposto por Macau, começaram a ameaçar as autoridades portuguesas da Cidade, pondo em acção o seu poderoso mecanismo de propaganda política e mobilizando forças militares para reforçar o controlo das fronteiras.
Isto tornou as relações entre Macau e a República Popular da China (RPC) muito tensas e os militares de ambos os lados começaram a confrontar-se, abrindo fogo e tornando as fronteiras muito perigosas e um autêntico campo de batalha. Esta situação confusa, reinada de "incidentes" (pequenos conflitos armados) e de ameaças, arrastou durante meses, tendo sido intensificado nos meses de Maio, Junho e principalmente em Julho, quando as autoridades chinesas impuseram unilateralmente um bloqueio às trocas comerciais e às comunicações terrestres, fluviais e marítimas. Este bloqueio causou uma grande falta de bens básicos, principalmente alimentares, em Macau.
Este confronto foi finalmente resolvido, através de intensas negociações entre a administração portuguesa de Macau e a RPC por meio de intermediários diplomáticos locais (constituidos por membros ilustres da elite sino-macaense de Macau) e também das autoridades britânicas, no mês de Agosto de 1952. O Governo de Macau pediu formalmente desculpa às autoridades chinesas e às vítimas e teve que pagar uma pequena indemnização. Nestas negociações foram também resolvidas a questão da marcação de fronteiras.
Com este incidente, a RPC conseguiu impedir o aumento do controlo da circulação de bens entre Macau e China, e conseguiu também mostrar à administração portuguesa que a sua manutenção nesta Cidade dependia fortemente da vontade dos dirigentes comunistas da RPC. Este incidente também fez aumentar e consolidar o estatuto e a importância da elite macaense e chinesa, principalmente Pedro José Lobo, Ho Yin e Ma Man-kei.
[editar] Grande Prémio de Macau
Em 1954, a Cidade organizou pela primeira vez o Grande Prémio de Macau que consiste numa série de espectaculares corridas de automóveis e motociclos, desde a corrida dos carros clássicos, passando pelos Super-Cars até à Fórmula 3 (a mais esperada). O Grande Prémio, que dura quatro dias, tornou-se numa atracção turística importante de Macau e a Cidade continua a organizá-la em todos os meses de Novembro. Desde o ano de 1954, os melhores pilotos do mundo são convidados a participar num dos circuitos mais emocionantes e perigosos do Mundo. Trata-se de um circuito que percorre o meio da cidade, intercalando longas rectas (Porto Exterior) com as sinuosas curvas do monte da Guia. A curva do Hotel e Casino Lisboa de Macau é o local onde mais acidentes são registados.
[editar] Motim "1-2-3" e as suas consequências
Em 1966, os residentes chineses tentaram obter uma licença para a construção de uma escola privada na ilha da Taipa. Os residentes, na impossibilidade de obter uma licença de construção, começaram, ilegalmente, a edificação da escola. No dia 15 de Novembro de 1966, a polícia da Cidade utilizaram formas violentas de prender os responsáveis da escola, os operários de construção, os residentes chineses aí presentes e os jornalistas.
Depois deste acontecimento, no dia 1 de Dezembro, um grupo pró-comunista de professores e estudantes chineses, influenciado pela Revolução Cultural de Mao Tse-tung, fizeram grandes protestos em frente ao Palácio do Governador, e alguns radicais até entraram à força no local de trabalho do Governador e pronunciaram, durante o caminho, frases maoístas e canções revolucionárias. No dia 3 de Dezembro, o Governo deu ordens para prendê-los. Esta ordem gerou uma vaga de descontentamento e protestos por parte da comunidade chinesa. Eles deitaram abaixo a estátua do Coronel Vicente Nicolau de Mesquita, que se localizava no Largo do Senado (o centro da Cidade) e incendiaram preciosos documentos dos Arquivos do Leal Senado e da Santa Casa da Misericórdia. As leis marciais foram declaradas pelo Governo e os soldados portugueses foram mobilizados para controlar a situação. Nestes protestos, houve 11 mortos e cerca de 200 feridos. O incidente é vulgarmente chamado de Motim de "1-2-3", referindo-se aos 3 dias que ocorreram o motim popular.
Após o motim ser controlado pelos soldados, a comunidade chinesa (grande parte da população de Macau era constituído por chineses), para continuar a pressionar e protestar contra o Governo, adoptou a política dos "3 Não"s - não entregar impostos, não prestar serviços ao Governo, não vender produtos aos portugueses. Com esta política, começou a confusão e o medo em Macau, principalmente dentro da comunidade portuguesa e macaense. Muitas famílias portuguesas, amendontradas, começaram a preparar-se para abandonar a Cidade e emigrarem-se para Portugal ou para Hong-Kong. O medo era tal e a situação era tão difícil para o Governo Português de Macau que ele propôs a devolução imediata da colónia para a China se a situação não melhorasse.
Alguns membros ilustres da elite chinesa local, nomeadamente o Comendador Ho Yin, reagiram-se rapidamente, optando por fazer o melhor que possível para acalmar a população chinesa de Macau e para convencer os portugueses de não abandonar o território, prevenindo assim o colapso da administração de Macau. Estes actos da elite chinesa foram apoiados pelo Governo Popular Central Chinês de Pequim, que exercia uma grande influência na comunidade chinesa local e que não desejava o colapso de Macau, principalmente a sua administração.
O Governo Comunista Chinês, apesar de ter uma ideologia contrária ao do Estado Novo Português, tentou assegurar a presença portuguesa em Macau, impendindo inclusivamente uma invasão dos guardas vermelhos da RPC a Macau, porque, antes da modernização e da abertura da República Popular da China (começada em 1978), este pequeno enclave português, juntamente com Hong-Kong, eram os dois únicos portos de entrada de divisas estrangeiras e de remessas dos emigrantes chineses, de produtos que não podiam entrar directamente na China, de exportação de produtos chineses para o Ocidente e de efectuação de contactos informais com as outras potências.
Mas, mesmo assim, a comunidade chinesa local recusou de negociar com o Governo de Macau, que pretendia normalizar a situação. Ele, não tendo mais nenhuma escolha, estabeleceu uma série de negociações com as autoridades chinesas da República Popular da China por meio de intermediários diplomáticos, entre os quais o Comendador Ho Yin. As duas partes chegaram finalmente a acordo no dia 29 de Janeiro de 1967, culminando com o pedido de desculpas feito pelo Governo de Macau para a comunidade chinesa. Este acordo reconhecia, pela primeira vez, a igualdade entre os portugueses e os chineses (com o acordo assinado, estes úlimos começaram a poder participar na administração da colónia), anulou o "Tratado de Amizade e Comércio Sino-Português" (assinado em 1887 e que garantia a ocupação pérpetua de Macau pelos portugueses) e proibiu o Governo de Macau de dar apoio e asilo político aos nacionalistas do Kuomintang.
Esta versão mencionada do incidente é uma das mais aceites, mas, porém, existem outras versões e relatos sobre este célebre motim. Após estas sequências de acontecimentos, os chineses nunca mais levantaram nenhum motim e Macau passou a viver um período de calma e de coexistência entre a comunidade portuguesa, macaense e chinesa.
[editar] Depois da Revolução dos Cravos até à transferência de soberania da Cidade
Depois da Revolução dos Cravos em 1974, Portugal declarou a independência imediata de todos os seus territórios ultramarinos. A China rejeitou esta transferência imediata, tendo apelado para o estabelecimento de negociações que permitissem uma transferência harmoniosa. A diferença entre o sistema capitalista de Macau e o comunista da China continental poderá estar na base desta decisão. Com o decorrer das negociações, o estatuto de Macau redefiniu-se para “território chinês sob administração portuguesa” e a transferência foi agendada para a data de 20 de Dezembro de 1999, através do documento "Declaração Conjunta Sino-Portuguesa sobre a Questão de Macau" (assinado no dia 13 de Abril de 1987), depositada nas Nações Unidas e entretanto publicada no Boletim Oficial de Macau a 7 de Junho de 1988, onde se estabeleciam uma série de compromissos entre os dois países para Macau, entre os quais a garantia de uma grande autonomia futura e a conservação das especificidades de Macau durante 50 anos. A data escolhida permitia entre outras coisas: prolongar a presença portuguesa no Oriente, transformando Portugal na última nação Ocidental a retirar as suas possessões da China; fazer a transferência de Macau pouco depois da de Hong Kong e que foi usada pela China como forma de retaliação ao Reino Unido devido à suavidade com que as negociações e transferência de Macau foram conseguídas, por contraste com a de Hong Kong; e readquirir o controle de todos os territórios chineses que estiveram sob domínio ocidental antes do início do século XXI.
Antes da transferência de Macau e Hong Kong, a China fez uma série de alterações económicas no sentido de se aproximar do sistema capitalista e abrir-se ao comércio internacional. Aquando da transferência a China redefinira a sua imagem segundo o slogan "um país, dois sistemas". Este permite que algumas regiões chinesas, incluindo Macau, possuam uma grande autonomia e continuidade do seu modo de vida, estando apenas limitadas no que se refere às suas relações exteriores e à defesa, situação idêntica, de resto, à que tinham aquando da administração portuguesa.
Para preparar Macau para a transferência de soberania, Portugal, a par das negociações com a China, incentivou o Governo de Macau a fazer muitas reformas, entre as quais a reestruturação do sistema político-administrativo de Macau, a desmilitarização da Cidade e a promoção da participação da população (quer portuguesa quer chinesa quer qualquer etnia) na administração de Macau. A Guarnição Militar Portuguesa retirou-se de Macau no ano de 1975 com a extinção do seu orgão de comando, o Comando Territorial Independente de Macau (CTIM). Os militares que quiseram ficar em Macau foram depois incorporados nas Forças de Segurança de Macau (FSM). O Governo de Macau promulgou, em 1976, o Estatuto Orgânico de Macau [1] (EOM), com vista em criar um novo modelo político, rompendo assim com o velho modelo altamente colonial (centrado no Governador) vigente naquela altura. Nesse mesmo ano, em consequência com a aprovação do EOM, a Assembleia Legislativa de Macau foi criada para exercer a função legislativa da Cidade. É responsável de fazer leis e tem o poder de questionar, "travar" e "julgar" o Governador, e após a transferência (1999), o Chefe do Executivo.
Em 1981, foi criada a Universidade de Macau e ela, de uma instituição privada, passou a universidade pública em 1991.
[editar] Notas históricas sobre o Jogo
Em 1847, o Governo de Macau, sabendo que a Cidade de Macau não tinha capacidade para competir com Hong-Kong, legalizou o jogo, numa tentativa de transformar a colónia num centro de férias, lazer e entretenimento para os habitantes e ricos comerciantes das vizinhanças, principalmente de Hong-Kong. O Governo queria reanimar esta pequena colónia portuguesa. Desde então, o jogo tornou-se na mais importante actividade económica da Cidade. Em 1937, o Governo concedeu o monopólio no sector de jogos à companhia chinesa de entretenimento "Taixing". Esta companhia era demasiado conservadora e não soube aproveitar o máximo a potencialidade económica deste sector.
Em 1962, o monopólio no sector dos jogos passou para a companhia chinesa de Stanley Ho, a "Sociedade de Turismo e Diversões de Macau" (STDM). O primeiro casino de grande escala foi oficialmente aberta em 1970 por esta companhia, cujo nome é "Casino Lisboa". A licença deste monopólio foi renovado em 1986 e expirou no ano de 2001.
A partir desta data, novas companhias de jogos, principalmente as norte-americanas (exs: Sands Las Vegas e o Wynn), começaram a investir fortemente no sector de jogos e contribuiram para originar uma grande competição e crescimento neste sector económico de grande importância para Macau. Isto veio a contribuir muito para o grande crescimento económico que Macau está actualmente a experimentar. Em 2004 as somas envolvidas no jogo de casinos em Macau ultrapassaram pela primeira vez as de Las Vegas (cada uma cerca de 5 mil milhões de dólares), tornando Macau no principal centro mundial da indústria do jogo de casinos.
[editar] Após a transferência de soberania

A transferência da soberania de Macau entre Portugal e a China aconteceu no dia 20 de Dezembro de 1999, como estava previsto através da "Declaração Conjunta". Tendo acontecido dois anos após a transferência de soberania de Hong Kong, foi um processo mais suave que o de Hong Kong, não tendo havido confrontos políticos de nota entre os dois governos durante as negociações diplomáticas, nem distúrbios sociais, ao contrário de Hong Kong, cuja população possui uma tradição mais reivindicativa e participativa.
Macau tornou-se uma Região Administrativa Especial (RAE) da República Popular da China, actuando sobre o princípio de "um país, dois sistemas" e seguindo os compromissos estabelecidos por Portugal e China durante a ratificação da "Declaração Conjunta". Esta RAE passou a ser governada, chefiada pelo Chefe do Executivo de Macau, substituindo o cargo de "Governador de Macau", que foi abolido em 1999, logo após a transferência de soberania. A Lei Básica da Região Administrativa Especial de Macau, promulgada pelo Congresso Nacional Popular da China no ano de 1993, é o actual texto constitucional do sistema jurídico da RAEM.
Após a transferência, Macau foi novamente militarizada, não por tropas portuguesas, mas por tropas do Exército de Libertação Popular da República Popular da China.
O novo Governo da RAEM aboliu logo os 2 municípios (Concelho de Macau e o Concelho das Ilhas). Em sua substituição, o Governo criou um novo órgão administrativo, o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), e que está subordinado à Secretaria da Administração e Justiça. As freguesias de Macau mantiveram-se como divisões regionais e simbólicas e ainda oficialmente aceite pelo novo Governo.
Antigamente, durante a administração portuguesa, a criminalidade não conseguía ser controlada e era um risco sério para o turismo, por isso, logo após a formação do novo Governo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), ele decidiu combater ferozmente contra o crime, principalmente os crimes organizados pelas Tríades. O novo Governo conseguiu atingir os seus objectivos no combate ao crime, com o número de crimes a baixar imenso, principalmente a criminalidade violenta que desceu 70% no ano 2000 e outros 45% no ano 2001. Macau tornou-se muito mais seguro e isto trouxe de novo confiança aos turistas.
Em 2005/2006, o número de crimes, principalmente crimes não-organizados (roubos, violência doméstica e sexual...), começou novamente a aumentar devido ao crescimento do número de trabalhadores estrangeiros (eles vivem em condições de vida difíceis) e de "visitantes" oriundos das regiões chinesas próximas de Macau (alguns deles, que vivem em condições de pobreza, começaram a deslocar-se para a Cidade, não para praticar turismo, mas sim para efectuar crimes, especialmente roubos, numa tentativa de melhorar as condições de vida deles e das suas famílias). O Governo da RAEM começou de novo a implementar medidas para combater o crime, mas combater o crime não-organizado é muito mais difícil de combater e controlar os crimes organizados.
Actualmente, a Escola Portuguesa de Macau é a única escola secundária portuguesa existente nesta Cidade e a única que oferece um ensino baseado em português.
Desde 2002, Macau experimenta um grande crescimento económico devido ao aumento do número de turistas (na sua maioria oriundos da China) que visitam a Cidade e à entrada de muitos investimentos no sector de jogos e no sector imobiliário de Macau.
No dia 15 de Julho de 2005, o Centro Histórico de Macau foi, finalmente, inscrito na Lista do Património Mundial da Humanidade da UNESCO e designado como o 31º sítio do Património Mundial da China. Após a inclusão, houve grandes comemorações em Macau.
Macau, desde sempre, efectuava e continua a efectuar muitos aterros para reclamar, "ganhar" mais terra à foz do Rio das Pérolas para ter mais espaço de construção, por isso a sua área superficial está em constante aumento. Actualmente possui um área de 28,2 km².
[editar] Ver também
[editar] Referências
- Artigo da Wikipedia sobre a História de Macau
- Cronologia em inglês da História de Macau
- Um artigo dos finais do séc. XX sobre a História de Macau
- Tentativa de invasão holandesa de 1622
- Incidente das Portas do Cerco
- Um artigo português sobre o Motim "1-2-3" e as suas consequências
- Um artigo jornalístico em português sobre as causas do prolongamento da administração portuguesa de Macau
- Um outro artigo jornalístico em português sobre as causas do prolongamento da administração portuguesa de Macau
- Decreto real de 20 de Setembro de 1844
- Um artigo em inglês sobre a História de Macau
- History lesson for Portugal, um artigo escrito em 1999
- O Senado da Câmara de Macau de Charles Ralph Boxer
[editar] Outras ligações externas
- Informações sobre Macau, incluindo a sua História, emitido em 2002
- Evolução da Cartografia de Macau
- Vídeo da cerimónia de transferência de soberania
- Uma entrevista em inglês sobre o Padre Manuel Teixeira, um dos mais famosos historiadores do séc. XX de Macau
- Um artigo sobre o Ouvidor Miguel José d'Arriaga