História do Afeganistão
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A história do Afeganistão é marcada pela miscigenação e pelo confluir da influência de diversos povos e civilizações asiáticas, devido à sua posição geográfica, numa zona de transição e de movimentos migratórios. De 2000 a.C. a 1500 a.C. (aproximadamente), a região já servia de passagem para tribos indo-europeias que se dirigiam para o Penjabe através dos desfiladeiros do Hindu Kush. Do século VI a.C. ao IV a.C. tornou-se parte do Império Persa, iraniano, dos Aqueménidas, subdividido nas províncias de Drangiana, Ária e Aracósia.
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[editar] Civilização greco-búdica
Podemos considerar que o primeiro gérmen nacionalista afegão nasceu durante este período, com a reforma religiosa de Zoroastro (século IV a.C.), que originou um reino monárquico organizado de tribos arianas. Em 329 a.C., a região é conquistada por Alexandre da Macedónia que aí estabeleceu várias cidades designadas por Alexandria. Essas cidades terão dado origem, provavelmente, a Kandahar e a Cabul. A primeira Alexandria aí fundada, a “Alexandria dos Arianos” terá dado origem à actual Herat. Depois da morte de Alexandre, a Bactriana foi governada pelos Selêucidas até 250 a.C., ainda que as satrapias de Kandahar, Cabul, Herat e Balochistão tenham sido cedidas por Seleucas Nicator, em cerca de 305 a.C., a Chandragupta, fundador do império Maurya (Mauria) e avô de Açoka (Asoca). Este último, que adoptou o budismo como religião, é o autor do mais antigo documento escrito da história do Afeganistão, em grego e aramaico. Em 250 a.C. forma-se, durante o seu reinado, o reino independente de Bactriana que se estenderá até cerca de 125 a.C.. Este será um período particularmente florescente em termos culturais, com a afirmação de uma civilização greco-búdica nascida da troca de influências helénicas e indianas. A região terá tido, durante esta época, uma escrita própria. A partir do final do século II a.C. ou início do século I a.C. que invasões de tribos nómadas indo-europeias vindas da Alta Ásia (primeiro, os Citas, depois, os Partos) darão fim a esta civilização. Nos dois primeiros séculos da era Cristã, a região foi integrada no império dos Kushana, nómadas tornados sedentários vindos da China, que se estabeleceram a sul do Amu Dária. Os Kushana alargaram o seu domínio ao Noroeste da Índia, difundindo o budismo como religião de estado, e mantiveram-se na região até ao século VI. O império, que teve o seu auge no reinado de Kanishka, tornou-se num local de passagem de grande importância no intercâmbio entre o império Romano, a Índia e a China. As rotas das caravanas da Ásia Central, como a “Rota da seda”, ajudaram, por seu lado, à difusão do budismo na China.
[editar] Início da civilização islâmica
A zona ocidental da região foi, desde o século III, acometida pelos Sassânidas, havendo a realçar a invasão de de Shapur I ao império dos Kushana. No final do século IV, início do século V, a Báctria é assolada por uma horda de Hunos brancos que segue em direcção à Índia, onde os Sassânidas, aliados aos turcos, os derrotam em 568. A região é então partilhada por várias potências, de forma algo complexa. O bramanismo hindu terá nessa altura uma importância decisiva, sendo reafirmada com a dinastia dos Kabul Xá, substituindo o budismo. Quando os árabes conquistam a região, no século VII (a conquista de Herat dá-se a 651), encontrarão, assim, alguma resistência à implantação do islamismo que, contudo, impor-se-á definitivamente na primeira metade do século VIII. A região passará a ser designada pelos árabes como Khorassan (País de Leste).
Formaram-se, então, duas dinastias autónomas: os Safáridas e os Samânidas. Os últimos termiram o seu poderio no século X, passando a região a ser controlada por diversas dinastias turcas. No século XIII, os Mongóis invadem o território, liderados por Gengis Khan, causando uma devastação que será depois continuada por Tamerlão, à frente dos turco-mongóis. Estes últimos, contudo, serão absorvidos pela cultura islâmica, promovendo mais tarde um certo renascer civilizacional.
Com a descoberta do caminho marítimo para a Índia, a rota da seda deixa de ter a importância que tinha e leva ao abandono do Khorassan. O grupo étnico dos Pachtu começa então a ganhar alguma importância em relação às outras etnias, principalmente depois de Mir Waïss e do seu filho, Mir Mahmud, que conquistou a capital do Irão, Isfahan. O seu sucessor será considerado um tirano, de modo que é deposto por Nadir Xá, que prosseguirá a política de conquistas (Kandahar e Cabul, em direcção a Deli, na Índia).
[editar] Os Ingleses no Afeganistão (c. 1830-1919)
Os Ingleses transformaram-se na potência principal no sub-continente indiano depois do tratado de Paris de 1763, mas a coleção de pequenos príncipes e de tribos guerreiras que compunham o Afeganistão não lhes interessou até ao século XIX. Em 1809, sem saber em que direcção iam as ambições de Napoleão, ainda fizeram um pacto com o líder de uma das facções em que se tinha estilhaçado a dinastia Durani, na região. Foi então que o Império Russo começou a ganhar vantagem na região afegã para pressionar a Índia britânica.
A potência principal no Afeganistão era Dost Mohammed Khan. Entre 1818 e 1835 tinha unido a maioria dos povos afegãos sob o seu domínio. Em 1837, os Ingleses tinham-lhe proposto uma aliança por temerem uma invasão Russo-Persa do Afeganistão. Entretanto os Ingleses e Dost Mohammed desentenderam-se e os Ingleses decidiram invadir o país.
Em 1839, entre abril e agosto, os Ingleses conquistaram as planícies e as cidades de Kandahar no sul, Ghazni e Kabul, a capital. Dost Mohammed rendeu-se e foi exilado na Índia, e os britânicos colocaram Shah Shuja no poder. Mas grande parte do país continuava a opor-se ativamente aos Ingleses, sendo o filho de Dost Mohammed, Akbar Khan, o mais ativo.
Em novembro de 1841, um antigo oficial britânico, Sir Alexander 'Sekundar' Burnes, e os seus ajudantes foram mortos por uma multidão em Kabul. As forças britânicas acantonadas no exterior de Kabul não agiram de imediato. Nas semanas seguintes os generais britânicos Elphinstone e McNaghten tentaram negociar com o Akbar Khan, mas McNaghten foi morto numa das reuniões. Em janeiro de 1842, Elphinstone seguiu uma estratégia incomum: os Ingleses e os seus seguidores saíram de Cabul e tentaram voltar a Peshwar. A caravana era composta por 15 a 30.000 pessoas. Apesar de Akbar Khan ter dado garantias de segurança, os ingleses foram atacados durante toda a viagem. Oito dias após ter deixado Kabul um sobrevivente conseguiu chegar a Jalalabad. Shah Sujah foi assassinado e Dost Mohammed reconquistou o trono, governando até 1863.
Dost Mohammed foi sucedido pelo filho Sher Ali (Akbar Khan morreu em 1845). Depois de uma algumas lutas internas em 1860, Sher Ali aproximou-se da Rússia czarista, que tinha estendido sua influência ao Turquemenistão. Em consequência desta amizade política, em novembro de 1878 os Ingleses invadiram outra vez o Afeganistão e voltaram a tomar Cabul. Sher Ali fugiu para o norte do Afeganistão mas morreu em Mazar-i-Shariff antes que pudesse organizar todas as forças. Os Ingleses apoiaram o filho de Shir Ali, Yaqub Khan, como o sucessor e o forçaram a assinar o Tratado de Gandumak. Era um tratado extremamente desfavorável e colocou os povos afegãos contra aos ingleses.
Por volta de 1881 os ingleses tinham bastado a si mesmos e a despeito da vitoriosa carnificina na batalha de Maiwand, em julho de 1880, saíram. Os Ingleses dominaram algum território e mantiveram sua influência, mas em um golpe a seu favor, colocaram Abdur Rahman no trono. Um homem leal aceitável para Ingleses, russos e para o povo afegão. Governou o Afeganistão de forma firme até 1901 e foi sucedido por seu filho Habibullah.
Na convenção de São Petersburgo em 1907 a Rússia concordou que o Afeganistão ficasse fora de sua esfera de influência. Habibullah, que conseguiu manter a neutralidade do Afeganistão durante a Primeira Guerra Mundial e assistiu ao primeiro movimento pela adopção de uma constituição no país, foi assassinado por nacionalistas em 1919 e substituído por seu filho Amanullah Khan. Amanullah declarou a independência total e provocou a terceira guerra Anglo-Afegã. Após muita discordância, os ingleses concordaram com autonomia plena. Em agosto de 1919, o tratado foi assinado. Amanullah fez também reformas profundas na política interna do país, ao abolir a servidão. Chegou, inclusive, a tocar no estatuto da mulher, o que provocou descontentamentos e o obrigou a exilar-se.
Seguiu-se o reinado ditatorial de Nadir Xá, assassinado em 1933. O seu filho, Mohammad Zahir Xá, tentou seguir uma política mais aberta, tomando uma posição relativamente neutral, no âmbito da Guerra Fria, em relação aos EUA e à União Soviética. Com a saída dos britânicos do subcontinente indiano, o primo do rei, Daud Khan, aproxima-se da União Soviética, depois de resolvidas algumas questões em relação à fronteira com o recém formado Paquistão.
A formação de dirigentes e o fornecimento de armas passa a ser da competência dos soviéticos. Em 1964, o Afeganistão adopta a sua constituição, da competência do governo de Mohammad Yussuf, que estabelece um regime parlamentar (monarquia constitucional). As primeiras eleições, de sufrágio secreto, seguem-se a esta medida. É ainda de referir o trabalho do primeiro-ministro Hashim Maiwandwal, a nível da economia e da manutenção da política de neutralidade.
Em 1973, na sequência de uma crise económica provocada por anos seguidos de seca, o general Daud Kahn, organiza um golpe de Estado e proclama a República. As modificações manifestadas na sociedade afegã também ajudaram ao golpe de Estado: a família real tinha, insolitamente, estabelecido relações de colaboração com a esquerda contrária à monarquia tradicional, apoiada nos chefes das tribos mais influentes (principalmente, os Pashtuns). Daud prosseguirá uma política de aproximação aos países muçulmanos, principalmente com a Arábia Saudita, o que não será visto com agrado pela União Soviética e levará ao fim do seu governo, a 27 de Abril de 1978, com a ascensão ao poder do Partido Democrático e Popular, comunista - no que ficaria conhecido como a "Revolução do Saur" (período que vai de 22 de Abril a 22 de Maio).
[editar] Afeganistão moderno (1979 a 2000)
![Blindados soviéticos retiram-se do Afeganistão em 1988. Foto de Mikhail Evstafiev](../../../upload/shared/thumb/e/e0/Evstafiev-afghan-apc-passes-russian.jpg/250px-Evstafiev-afghan-apc-passes-russian.jpg)
O Afeganistão foi invadido e ocupado pela União Soviética em 27 de dezembro de 1979, em que Hafizullah Amin é morto num ataque soviético ao pálacio do governo e é substituido por Brabak Karmal pró-russo. Nos anos seguintes as forças governamentais e os 118 000 soldados soviéticos tomam o controle das principais cidades e vias de comunicação, mas todas as operações militares realizadas revelam-se insuficientes para derrotar os rebeldes Mujahideen nas montanhas.
Apesar da destruição maciça provocada na região, os sovieticos foram forçados a retirar-se dez anos mais tarde (a 5 de fevereiro de 1989) devido a um exército desmoralizado e falta de sustentação logística. As forças anti-comunistas dos mujahideen foram supridas e treinadas pelos Estados Unidos, Arábia Saudita, Paquistão, China e outros países da região. Lutas subseqüentes entre as várias facções do mujahadin, permitiram que os fundamentalistas dos Taliban pudessem se apropriar da maioria do país. Além da rivalidade civil continuada, o país sofre de enorme pobreza, de uma infraestrutura devastada, e da exaustão de recursos naturais.
Nos últimos dois anos o país sofre com a seca. Estas circunstâncias conduziram três a quatro milhões de afegãos a sofrerem de inanição.
Fracassam, em meados de 1999, as negociações de paz - patrocinadas pela Arábia Saudita - entre o governo fundamentalista islâmico do Taliban e a Frente Islâmica Unida de Salvação do Afeganistão (Fiusa), agrupamento de facções étnicas e tribais de oposição sob a liderança do ex-ministro da Defesa Ahmed Shah Massud.
A fase mais recente da guerra civil afegane - que já dura duas décadas - tem início em 1992, quando uma aliança de movimentos guerrilheiros derruba o regime pró-comunista de Mohammad Najibullah. As negociações para a formação de um governo de coalizão degeneram em confrontos, e, em 1996, o Taliban (milícia sunita de etnia patane, a mais numerosa do país) assume o poder e implanta um regime fundamentalista islâmico. Cerca de 1 milhão de pessoas morrem na guerra. Outros 2,5 milhões estão refugiados em países vizinhos.
Sob o governo do Taliban, o país corre o risco de transformar-se no epicentro de conflitos regionais. O Irã ameaçou deslocar tropas em defesa da minoria xiita afegane. O governo indiano acusa o Taliban de apoiar os separatistas muçulmanos na Caxemira. E a Federação Russa denuncia o envolvimento do Afeganistão com os separatistas muçulmanos da Chechênia e do Daguestão. Os EUA, que armaram os guerrilheiros islâmicos durante a invasão soviética do Afeganistão (1979-1989), agora pressionam o Taliban para que extradite o milionário saudita Osama Bin Laden, responsabilizado por ataques terroristas a suas embaixadas na África.
O colapso de um acordo de paz de 1999, que deveria levar a uma coalizão entre o Taliban e a Fiusa, reforça o isolamento do Afeganistão - cujo governo é apoiado apenas por Arábia Saudita, EAU e Paquistão, seu principal aliado. A ONU impõe sanções econômicas ao país em novembro de 1999 até que Bin Laden seja entregue a um tribunal internacional.
A 16 de abril de 2001, Mohamed Rabani, 2º da hieraquia Taliban, morre de câncer no fígado. A 10 de setembro, a oposição armada Frente Unida anuncia que o líder Ahmed Shah Massud sofreu o atentado no dia anterior por 2 falsos jornalistas árabes da Argélia; suspeita-se que o atentado foi ordenado pelo Bin Laden.
[editar] 11 de Setembro de 2001
Por volta das 17 hs e 15m do Afeganistão, a notícia do atentado nos Estados Unidos não é publicada, tornando-se único país a não falar do assunto. Na madrugada do dia 12 de setembro, um bombardeio atribuído por forças da Frente Unida às 1 h e 45m, ataca o Aereoporto de Cabul, sendo transmitindo pela CNN, chegou ser atribuído por EUA, que negaram o ataque.
![Um A-10 Thunderbolt II na Base Aérea de Bagram](../../../upload/shared/thumb/4/4d/Bagram_Air_Base.jpg/180px-Bagram_Air_Base.jpg)
Em resposta aos ataques de 11 de Setembro nas Torres Gêmeas do World Trade Center de Nova Iorque, primariamente por causa de Osama bin Laden, líder da Al Qaeda, protegido pelo Taliban, os Estados Unidos, forças aliadas e o grupo resistente afegão da Aliança do Norte lançaram uma campanha militar a 7 de outubro de 2001, às 20 hs e 57m do Afeganistão. Os EUA começaram a bombardear posições militares, caçando e prendendo terroristas no Afeganistão e enviando-os para a base militar na Baía de Guantánamo em Cuba. Por serem combatentes ilegais, os terroristas não têm direito ao tratamento de prisioneiros de guerra. A operação americana no Afeganistão tem sido um sucesso, desmantelando boa parte do grupo terrorista Al Qaeda, que era sediado no país.