Língua mirandesa
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Mirandês | ||
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Falado em: | Portugal | |
Região: | concelhos de Miranda do Douro, Vimioso e Mogadouro | |
Total de falantes: | 15000 | |
Classificação genética: | Indo-europeia Itálica Românica Itálo-ocidental Ocidental Galo-ibérica Ibero-românica Ibero-ocidental Asturo-leonês Mirandês |
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Estatuto oficial | ||
Língua oficial de: | Portugal (reconhecida). | |
Códigos de línguas | ||
ISO 639-1: | -- | |
ISO 639-2: | mwl | |
ISO/DIS 639-3: | mwl | |
SIL: | MWL |
A língua mirandesa é uma língua românica falada no Norte da Península Ibérica. É falada em Portugal, por quinze mil pessoas nas aldeias do concelho de Miranda do Douro e de três aldeias do concelho de Vimioso, num espaço de 484 km², estendendo-se a sua influência por outras aldeias dos concelhos de Vimioso, Mogadouro, Macedo de Cavaleiros e Bragança.
O mirandês tem três dialectos (mirandês central ou normal, mirandês setentrional ou raiano, mirandês meridional ou sendinês) e a maioria dos seus falantes são bilíngues ou trilíngues, pois falam o mirandês, o português e o castelhano.
Os textos recolhidos, por exemplo, mostram a envolvência de traços fonéticos, sintácticos ou vocabulares das diferentes línguas e que o português é mais cantado porque considerado, pelos mirandenses, como língua culta, fidalga, importante.
Tendo a língua mirandesa uma forte tradição oral, passando de pais para filhos ao longo dos tempos, só em 1882, por José Leite de Vasconcelos, ilustre filólogo, arqueólogo e etnógrafo português, começou a ser escrita e investigada. (Ele abre a História literária mirandesa publicando uma mão-cheia de poesias suas e de Camões num livro intitulado, "Flores Mirandesas": traduz muitas peças de Camões; recolhe nas aldeias de Miranda vários contos, histórias, lendas, fábulas, provérbios, adivinhas, cantigas d'amor, de humor, de devoção, etc.; escreve ainda o ensaio "O Dialecto Mirandês", com o qual ganhou o galardão das Sociedades das Línguas Românicas de Montpellier, e os "Studos de Filologie Mirandesa" I e II, 1901.)
Manuel Sardinha (traduz poesias de Antero de Quental); Bernardo Fernandes Monteiro (traduz os quatro Evangelhos: São Lucas, São Marcos, São Mateus e São João, quase totalmente inéditos, tendo Trindade Coelho publicado excertos nos jornal "O Repórter", em 1896, e Gonçalves Viana outros na "Revista de Educação e Ensino" com texto por ele revisto, escreve ainda textos vários em prosa que publica no jornal "O Mirandez"); António Maria Mourinho (publica um livro de poesias de sua autoria "Nossa Alma e nossa Terra", 1961; e "Scoba Frolida An agosto/Lhiênda de Nôssa Senhora de l Monte de Dues Eigreijas", 1979; "Ditos Dezideiros", 1995; Manuel Preto "Bersos Mirandeses", 1993; Moisés Pires "Eilementos de Gramática Mirandesa", inédito; e "Pequeinho Bocabulário Mirandês-Pertuês", 2004) entre outros, seguiram-lhe os passos, estando agora a escrita a florescer. Foi dentro desse espírito que este ano se estabeleceu uma Convenção Ortográfica, inteiramente patrocinada pela Câmara Municipal de Miranda do Douro e levada a cabo por um grupo de entendidos linguistas, que tem em vista estabelecer regras claras para escrever, ler e ensinar mirandês bem como estabelecer uma escrita o mais unitária possível e consagrar o mirandês como língua minoritária de Portugal.
O desenvolvimento, a vida moderna, a TV e as pressões do português e do castelhano são perigos que ameaçam o mirandês nos dias de hoje. Por isso, em sua defesa, se têm tomado algumas medidas:
- o ensino oficial nas escolas preparatórias do concelho de Miranda do Douro, como opção, desde o ano de 1986/1987, graças a uma autorização ministerial de 9 de Setembro de 1985;
- a publicação, pela Câmara Municipal de Miranda do Douro, de vários livros sobre e em mirandês;
- a realização, pela Câmara Municipal, de um festival da canção e de um concurso literário anuais;
- o seu uso em festas e celebrações da cidade (discursos, missas, etc.) e de vez em quando, na imprensa, rádio e televisão;
- a publicação em mirandês de um volume de Asterix;
- a tradução para mirandês de todas as placas toponímicas da cidade, efectuada em 2006 pela Câmara Municipal
O seu estudo por centros de investigação portugueses como o centro de linguística da Universidade de Lisboa com o projecto "Atlas Linguístico de Portugal", e a Universidade de Coimbra, que levou a cabo o "Inquérito Linguístico Bolêo". Divulgação nos meios de comunicação. Conferências, etc.
Embora ainda sem um estatuto jurídico e sendo escassas as medidas de protecção e promoção oficiais da Língua Mirandesa, o certo é que, fruto desse trabalho, a língua está, nos últimos tempos, a ser muito estudada, a revitalizar-se e a ganhar um estatuto de afirmação dentro e fora da sua região.
Algumas diferenças fonológicas em relação ao português são:
- manutenção do f inicial: FAME = fame;
- palatização da consoante inicial L: LINGUA = lhengua;
- manutenção das consoantes l e n em posição intervocálica: LUA = lhuna, MAU = Malo;
- palatização das consoantes duplas ll/nn/mn: CASTELO = castiêlho, ANO = anho, DANO = danho;
- ditongação da vogal breve e em posição tónica: FERRO = fiêrro, etc.
[editar] Referências
- Vasconcelos, José Leite de. Mirandês. Opúsculos,Volume IV – Filologia (Parte II), Coimbra, Imprensa da Universidade, 1929.(BDC)
- Ceolin, Roberto. Um enclave leonês na paisagem unitária da língua portuguesa