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Culinária do Brasil

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Jantar de uma família no Rio de Janeiro, por Jean-Baptiste Debret.
Jantar de uma família no Rio de Janeiro, por Jean-Baptiste Debret.

A culinária do Brasil é fruto de uma mistura de ingredientes europeus, indígenas e africanos[1]. Muitas das técnicas de preparo e os ingredientes mais usado são de origem indígena, sofrendo adaptações por parte dos escravos e dos portugueses. Esses faziam adaptações dos seus pratos típicos substituindo os ingredientes que faltassem por correspondentes locais. A feijoada, prato típico do país, é um exemplo disso[2]. Os escravos trazidos ao Brasil desde fins do século XVI, somaram à culinária nacional elementos como o azeite-de-dendê e o cuscuz. A leva de imigrantes recebida pelo país entre os séculos XIX e XX, vindos em grande número da Europa, trouxe algumas novidades ao cardápio nacional e concomitantemente fortaleceu o consumo de diversos ingredientes.

A alimentação diária, feita em três refeições, envolve o consumo de café-com-leite, pão, frutas, bolos e doces, no café da manhã, feijão com arroz no almoço, refeição básica do brasileiro, aos quais são somados, por vezes, o macarrão, a carne, a salada e a batata e, no jantar, sopas e também as várias comidas regionais.

As bebidas destiladas foram trazidas pelos portugueses ou fabricadas na terra como a cachaça. O vinho é também muito consumido, por vezes somado à água e açúcar, na conhecida sangria. A cerveja por sua vez começou a ser consumida em fins do século XVIII e é hoje uma das bebidas alcoólicas mais comuns.


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De outras regiões...
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Veja também:

Cozinhas - Refeições
Wikilivros: Livro de receitas

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Índice

[editar] História

No período colonial os portugueses assimilaram os ingredientes dos nativos na África, Ásia e América para sobreviver em terras estranhas, mas também por curiosidade. No Brasil a produção interna de alimentos era limitada, pois a economia estava toda voltada para a exportação.

A culinária colonial constituinte das bases culinárias do país pode ser dividida em quatro correntes[3]: a do litoral açucareiro; a do norte; a dos bandeirantes que partiam de Vila de Piratininga; e a quarta, da pecuária.

No norte, os habitantes dependiam mais dos conhecimentos indígenas para sobreviver e para a coleta das drogas do sertão e, por isso, sua alimentação incluía pratos e ingredientes exóticos como a carne de peixes como o pirarucu, a carne de jacarés, tartarugas — além de seus ovos — e do peixe-boi do qual se fazia também a manteiga, e frutas.

Como o terreno próximo a Vila de São Paulo do Piratininga era inadequado ao cultivo da cana de açúcar, a economia voltou-se para o interior, para a procura de ouro, pedras preciosas e apresamento dos indígenas e, por isso, puderam desenvolver-se lavouras de subsistência. O sistema de plantação dos tupis — aonde se cultivam pequenas áreas estratégicas — foi aproveitado pelos viajantes: plantava-se uma área para que houvesse alimento na viagem de volta[4]. A própria história influenciou a culinária de cada região.

[editar] Indígenas

A alimentação indígena tinha como alicerce a mandioca, na forma de farinha e de beijus[5], mas também de frutas, pescado, caça, milho, batata e pirões e, com a chegada dos portugueses do inhame trazido da África.

Todos os povos indígenas conheciam o fogo[6] e o utilizavam tanto para o aquecimento e a realização de rituais quanto para preparar os alimentos. As principais formas de preparo da carne eram assá-la em uma panela de barro sobre três pedras (trempe)[7], em um forno subterrâneo (biaribi), espetá-la em gravetos pontudos e colocá-la para assar ao fogo — de onde teria vindo o churrasco do Rio Grande do Sul[7][8] — colocá-la sobre uma armação de madeira até ficar seca para que assim pudesse ser conservada (moquém) ou algumas vezes cozê-la. No biaribiri colocavam uma camada de folhas grandes em um buraco e sobre elas a carne a ser assada e sobre essa carne ainda, uma camada de folhas e outra de terra, acendendo sobre tudo um fogueira[9] de onde teria surgido o modo de preparar o barreado[9]. Por vezes a carne cozida servia para o preparo de pirões, mistura de farinha de mandioca, água e caldo de carnes. Havia duas formas de prepará-lo, cozido ou escaldado[10]. Na primeira, o caldo é misturado com a farinha aos poucos e mexido até ganhar consistência adequada, na segunda, simplesmente misturam-se os dois, resultando em um pirão mais mole.

Vendedora de tacacá no mercado do Ver-o-Peso, Belém.
Vendedora de tacacá no mercado do Ver-o-Peso, Belém.

Ao lado da farinha e do beiju, a caça era outra das principais fontes de alimento[11]. As principais carnes eram as de mamíferos[12] como o porco-do-mato, o queixada, o caititu, a paca, o veado, macacos e a anta, que servia a comparações com o boi, a anta estrangeira[13]. Eram preparadas com pele e vísceras, o pêlo queimado pelo fogo e os miúdos, órgãos internos, depois retirados e repartidos[14].

A pesca, de peixes, moluscos e crustáceos, era realizada com arco a pequenas distâncias, sem haver uma espécie mais apreciada que outras[15]. Os maiores eram assados ou moqueados e os menores cozidos sendo o caldo utilizado para fazer pirão[16]. Por vezes, secavam os peixes e socavam-nos até fazer uma farinha que podia ser transportada durante viagens e caçadas[16]. A paçoca era produzida da mesma maneira, pilando-se a carne com a farinha de mandioca, alimento posteriormente adaptado com castanhas de caju, amendoins e açúcar no lugar da carne e transformado em um doce[17].

Para temperar o alimento usavam a pimenta ou uma mistura de pimenta e sal pilada chamada ionquet, inquitaia, juquitaia, ijuqui[18]. Sempre era colocado após o preparo e mesmo comido junto com o alimento, colocando-se um naco de comida na boca e em seguida o tempero. O sal era obtido a partir de difíceis processos de secagem da água do mar, em salinas naturais[19] — sal mineral — ou a partir da cinza de vegetais.

Entre os alimentos líquidos indígenas encontra-se a origem do tacacá, do tucupi, da canjica e da pamonha. O primeiro surge a partir do sumo da mandioca cozida, chamado manipueira, misturado com caldo de peixe ou carne, alho, pimenta e sal[20] e o segundo a partir da fervura mais demorada do mesmo sumo. A canjica era uma pasta de milho puro até receber o leite, o açúcar e a canela dos portugueses[21] ganhando adaptações de acordo com o preparo, como o mungunzá, nome africano para o milho cozido com leite, e o curau, feito com milho mais grosso[21]. A pamonha era um bolo mais grosso de milho ou arroz envolvido em folhas de bananeira[22]. Fabricavam também bebidas alucinógenas para reuniões sociais ou religiosas como a jurema no Nordeste[23]. Com seus ingredientes e técnicas a culinária indígena formaria a base da culinária brasileira e daria sua autenticidade[8], com a mandioca sendo o ingrediente nacional[8], pois incluído na maioria dos pratos.

[editar] Escravos

A alimentação cotidiana na África por volta do século XVI incluía arroz, feijão, milhetos, sorgo e cuscuz. A carne era em sua maior parte da caça[24] abundante de antílopes, gazelas, búfalos, aves, hipopótamos e elefantes. Pescavam pouco[25], de arpão, rede e arco. Criavam gado ovino, bovino e caprino[26], mas a carne dos animais de criação era em geral destinada ao sacrifício[27] e trocas; serviam como reserva monetária[26]. Preparavam os alimentos, assando, tostando ou cozendo-o[25] e para temperar a comida tinham apreço pelas pimentas[25], mas também utilizavam molhos de óleos vegetais, como o azeite-de-dendê que acompanhavam a maioria dos alimentos[28].

O escravo era apresentado aos gêneros brasileiros antes mesmo de deixar a África[29], recebendo uma ração de feijão, milho, aipim, farinha de mandioca e peixes[29] para a travessia. A base da alimentação escrava não variava de acordo com a função que fosse exercer, quer fosse nos engenhos, nas minas ou na venda[30]. Essa base era a farinha de mandioca. Ela variava mais em função de seu trabalho ser urbano ou rural e de seu proprietário ser rico ou pobre. A alimentação dos escravos nas propriedades ricas incluía canjica, feijão-preto, toucinho, carne-seca, laranjas, bananas, farinha de mandioca e o que conseguisse pescar e caçar; nas pobres era de farinha, laranjas e bananas[31]. Nas cidades, a venda de alguns pratos poderia melhorar a alimentação do escravo através dos recursos extras conseguidos[32], mas eles não tinham a liberdade de plantar os produtos da terra para consumo em pedaço cedido pelo senhor como os escravos do campo[33]. Os temperos usados eram o açafrão, o óleo de dendê e o leite de coco. Este último tem sua origem nas Índias[34] e seria usado na costa leste da África já no século XVI, sendo trazido para o Brasil aonde é utilizado para regar peixes, mariscos, o arroz-de-coco, o cuscuz, o mungunzá e ainda diversos outras iguarias.

Prato apreciado no Brasil atualmente, o cuscuz era conhecido em Portugal e na África antes da chegada dos portugueses ao Brasil[35]. Surgido no norte da África, entre os berberes[36], ele podia ser feito de arroz, sorgo, milhetos ou farinha de trigo[36] e consumido com frutos do mar. Com o transporte do milho da América ele passou a ser feito principalmente deste. No Brasil é por regra, consumido doce, feito com leite e leite de coco, a não ser o cuscuz paulista, consumido com ovos cozidos, cebola, alho, cheiro-verde e outros legumes[37].

[editar] Imigrantes

Dos imigrantes chegados ao Brasil do século XIX ao início do século XX, alemães, italianos, espanhóis, sírio-libaneses, japoneses, os alemães e italianos deixam maiores influências na culinária nacional. Os alemães não muito numerosos, vindos de diferentes regiões da Alemanha e limitados ao Sul e Sudeste do país apenas reforçam o consumo de gêneros já utilizados pelos portugueses[38] como a cerveja, a carne salgada, sobretudo de porco, e as batatas[38]. Ao mesmo tempo em que mantêm o consumo de alguns gêneros como as salsichas, a mortadela, o toucinho e a cerveja, mostram-se adaptativos substituindo o que lhes falta da terra natal por matérias-primas locais[38]. As comidas típicas da Alemanha não se difundem pelo país[38].

Os italianos por sua vez, em maior número e mais espalhados pelo território nacional conseguem impor as massas de farinha de trigo e os molhos[39]. O macarrão italiano tornou-se alimento complementar[39], ao lado da farofa, do feijão, do arroz e das carnes. Além do macarrão, outras massas italianas foram trazidas como a pizza, o ravioli e a lasanha e outras comidas que não massas como os risottos e a polenta[39]. Divulgaram também o sorvete como doce e sobremesa[40]. Fortaleceram o gosto pelo queijo, usado em todas as massas[41], tanto que o queijo passa a ser consumido junto com doces e frutas, como com a goiabada, ou sozinho, assado[41].

[editar] Alimentação diária

Frutas brasileiras por Albert Eckhout.
Frutas brasileiras por Albert Eckhout.

Durante o período colonial, o passadio da maior parte da população não era muito variado e incluía a farinha de mandioca, feijões e carnes-secas[3]. O feijão-preto é de origem sul-americana[2] apesar de outras espécies já serem conhecidas na Europa como o feijão-fradinho, a de consumo mais comum em Portugal. O feijão era plantação tipicamente doméstica e sua plantação e colheita estavam a cargo das mulheres, pois os homens ocupavam-se de outras plantações e do gado[2]. Ao lado da mandioca na forma de farinha, era, como é até hoje, elemento principal da alimentação diária[2], espalhando-se pelo território nacional acompanhando as migrações populacionais, para o interior do Nordeste com a pecuária, para o Centro-Oeste e Sudeste com o ouro e para o Sul, devido a questões fronteiriças nos séculos XVIII e XIX[2]. A dos escravos era composta basicamente de mandioca e milho cozidos ou na forma de farinha, feijões, bananas e laranjas e outras tubérculos. Apenas nos dias festivos havia grande abundância e diversidade de pratos à mesa[8].

Sem serem consideradas alimentos[42], as frutas faziam parte do cardápio nacional de diversas formas: ao natural, na forma de doces e na de bebidas, alcoólicas ou não[43], embora o hábito de beber suco seja trazido pelos portugueses, franceses e holandeses[20]. Muitas frutas foram trazidas pelos portugueses como a jaca, a manga e o jambo no século XVIII e algumas brasileiras levadas para outras colônias[43]. As frutas acompanham os pratos salgados, como a feijoada e as carnes, e preparados[44], influência indígena e africana na alimentação[45]. Algumas frutas reservavam-se para a infância[46] e muitas superstições envolviam o consumo de outras. Como o alimento não podia ser conservado por muito tempo ao ar livre, os colonos desenvolveram doces em compota e carnes secas e salgadas. Atualmente, no entanto, as frutas são consumidas em sobremesas, sorvetes e vitaminas.

[editar] Pratos típicos

Os hábitos alimentares variam de região para região de acordo com a história, tanto que é normal desconhecerem-se os quitutes de outras regiões. Assim, no litoral do Nordeste há grande influência africana na culinária, com destaque para o acarajé, vatapá e molho de pimenta; no Norte há uma maior influência indígena, no uso da mandioca e de peixes; no Sudeste há pratos diversos como o feijão tropeiro e angu ligados aos bandeirantes , em Minas Gerais, e a pizza em São Paulo, influência dos imigrantes; e no Sul do país há forte influência da culinária italiana, em pratos como a polenta e também da culinária alemã. O churrasco é típico do Rio Grande do Sul.

[editar] Norte

Os pratos do Norte do Brasil têm maior influência dos ingredientes indígenas. Pratos conhecidos incluem o picadinho de jacaré (prato feito com a carne do jacaré), o pirarucu de casaca, preparado com azeitonas, ovos e cheiro-verde, o tacacá, o açaí, o pato no tucupi, prato consumido geralmente na época do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, e a maniçoba.

Ver também: Culinária do Pará

[editar] Nordeste

Moqueca.
Moqueca.

Pratos característicos da Região Nordeste do Brasil incluem o vatapá, a moqueca (ambos com frutos do mar e azeite-de-dendê), o acarajé (um bolinho de feijões brancos e cebola fritado no azeite de dendê recheado com camarões, pimenta vermelha, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional como patrimônio imaterial em 2004, e caruru (quiabo e castanhas de caju, camarões, pimenta e alho), iguaria de origem indígena adaptado pelos escravos nos engenhos e servido aos orixás[8] e o sarapatel. Outras comidas comuns são a farofa, a paçoca, a canjica, a pamonha, a carne-de-sol, a buchada de bode, o queijo coalho e a rapadura. Um bolo originário de Pernambuco[8], mas que posteriormente espalhou-se pelo país é o bolo de rolo, feito com farinha de trigo e recheado . No Maranhão, desenvolveu-se o cuxá com base em uma erva africana, a vinagreira, recebe ainda o caruru e a língua-de-vaca, outra erva.

No restante da costa, há menos influência da culinária africana, mas os mariscos e as frutas tropicais são constantes. As mais conhecidas são as mangas, mamões, goiabas, laranjas, maracujás, abacaxis, fruta-do-conde, e cajus (a fruta e a castanha).

Ver também: Culinária da Bahia

[editar] Centro-Oeste

O pequi é muito popular na culinária do estado de Goiás comido geralmente com o arroz. Peixe e carne das fazendas da região dominam o cardápio, juntamente com soja, arroz, milho e mandioca.

[editar] Sudeste

Em Minas Gerais, os pratos regionais incluem milho, carne de porco, queijo minas, o pão de queijo, o feijão tropeiro, angu, o tutu à mineira, uma pasta de feijão com farinha de mandioca e bananas fritas. Uma comida típica de São Paulo é o virado à paulista, o qual é feito com arroz, tutu de feijão (massa de feijão com farinha de mandioca), couve-de-folhas salgada e pedaços de carne de porco. Na cidade de São Paulo é possível encontrar grande variedade de culinárias, da francesa à chinesa.

O prato local no Espírito Santo é a moqueca capixaba (a qual inclui principalmente peixe e tomates), diferente do prato baiano apenas no preparo, pois o último receberia azeite-de-dendê e leite de coco[8].

[editar] Sul

No Rio Grande do Sul já é tradicional o churrasco, ou seja, carne bovina assada em churrasqueiras. A comida tradicional do estado do Paraná é o barreado, carne cozida em panelas de barro, por vezes colocadas debaixo da terra para cozinharem sob o calor do sol, e comida com farinha.

[editar] Feijoada

Ver artigo principal: Feijoada.

Ao contrário da já assentada concepção do surgimento do prato nas senzalas, feito a partir das sobras de carne da casa-grande a feijoada teria surgido no século XIX a partir da adaptação do cozido à portuguesa, prato que remonta ao Império Romano e encontra seus semelhantes na Itália, casouela, na França, cassoulet, e na Espanha, paella[2]. Neste caso, os portugueses acrescentaram ao prato o feijão-preto, pois a mistura de carnes com legumes e feijão era um tabu alimentar para os colonos e, além disso, o rabo, as orelhas e os pés de porco não eram considerados restos e eram muito apreciados na Europa[2][8].

[editar] Folclore e superstições alimentares

A maioria das superstições brasileiras à mesa tem origem portuguesa[47]. Algumas tribos indígenas evitavam apenas comer seus animais totem e os escravos tinham o costume de não deixar restos de comida no prato para que não pudessem ser utilizados por seus inimigos[47].

A base das restrições envolve a mistura de comidas e a ingestão de bebidas após certos alimentos[48]. A salada de frutas, por exemplo, era mal vista devido a isso[49]. Da mesma forma, a ingestão de cachaça após certos alimentos como leite, mangas, melancias, bananas e farinha[50], ou o leite com pinhas, banana-anã, jacas e principalmente, mangas[50]. O leite, aliás, por ser visto como um alimento completo não necessitaria de outros e por isso a mistura faria mal à saúde[51]. Outras restrições envolvem o comer em excesso[52] que causaria doenças, como o consumo da cana-de-açúcar e de melancias ao sol e ainda outros alimentos teriam efeitos medicinais, como a cachaça que cortava os efeitos da gripe e dos resfriados[53] e as frutas cítricas[54].

Algumas crenças envolviam o credo religioso católico, quando evitavam falar "nomes feios" à mesa[55], comer despido[55], ou de chapéu[55], por acreditar que fosse uma ofensa a Jesus, ao Anjo da Guarda ou a algum santo que estivesse presente durante as refeições[56]. Ainda devido a religião era o tabu dos treze convivas à mesa[55], isso porque durante a Última Ceia, havia treze pessoas à mesa[57].

Aquando da utilização do fogão à lenha algumas superstições envolviam o acendimento e o apagamento da chama. Por exemplo, a utilização de papel para acender o fogo, fazia com que a comida ficasse sem sabor[58]. Não se devia apagar o fogo com água[59], ou pisando-se sobre as brasas[58], nem acendê-lo pelo meio[59] ou atiçá-lo com objetos metálicos[59]. Jogava-se alho ao fogo para afugentar o diabo quando o fogo estivesse soltando faíscas[59].

Durante o preparo, há ainda a crendice da boa e da má mão[60]. Ter boa mão é preparar a comida com qualidade, de forma rápida[60]. Culpa-se a má mão quando não se acertam os temperos ou o preparo[60]. Ainda outras crenças envolvendo o preparo incluem o mexer a comida em uma única direção e por uma única pessoa[59] e a proibição de bater na borda da panela com a colher o que poderia ameaçar o preparo, "fazê-lo desandar"[59].

[editar] Bebidas

Caipirinha, feita somando-se cachaça, açúcar, gelo e limão.
Caipirinha, feita somando-se cachaça, açúcar, gelo e limão.

As bebidas alcoólicas indígenas e africanas não eram destiladas, apenas fermentadas[61]. Havia por sua vez, três principais bebidas consumidas na África: o vinho da palma da palmeira do dendê; uma mistura de sementes, do sorgo e de milhetos amassados; e uma feita de milho[62]. Com a criação da indústria do açúcar, os portugueses criaram também a indústria do álcool no Brasil[63].

Para beber água os indígenas dirigiam-se a fontes, riachos e poços[64] e além de bebidas refrescantes feitas somando-se frutas, como o aluá e o açaí, faziam bebidas alcoólicas mascando mandioca, milho e batatas cozidas e deixando-os fermentar, após o quê a massa era fervida[65] tarefa, entretanto, exclusiva das mulheres. As bebidas alcoólicas eram utilizadas em rituais para consumo em grupo. Cada cabana produzia a sua bebida e os indígenas iam de cabana em cabana bebendo em épocas de colheita[66]. Também não costumavam beber enquanto comiam[64].

Entre o século XVII e o início do XVIII, a borra da cana recebia o nome de cagassa ou cachassa, nome de origem espanhola[67], país onde a borra do vinho recebia esse nome. Com a abundância dessa sobra do processo de produção do açúcar, os portugueses cogitaram destilá-la à imitação das técnicas de produção do rum e da tafia ou ratafia, bebida consumida na América Central[68]. O nome se popularizou na segunda metade do século XVIII[69] e já no século XIX havia inúmeros pequenos engenhos espalhados pelo país para a fabricação de rapadura e aguardente[69].

As bebidas mais populares eram, por exemplo, a sangria, mistura de vinho com açúcar e água[70] e os licores de técnica local ou importados da França e de Portugal e que só ganharam prestígio no Segundo reinado, quando eram servidos ao fim dos jantares da aristocracia[71].Outras bebidas foram introduzidas no país acompanhando os estrangeiros, com a abertura dos portos em 1808[72]. A cerveja tornou-se comum no século XIX, mas havia sido introduzida no país desde fins do século XVIII[72]. Havia diversas cervejarias a princípio nas cidades litorâneas, mas depois nas maiores cidades e a Antártica e a Brahma foram fundadas em 1888 e 1904 respectivamente[73]. Era consumida apenas em bares e botequins até a popularização da geladeira[71].

O café, cafezinho, demorou a se popularizar[74] sendo consumido a princípio como remédio ou sedativo[74]. Formou-se o hábito de ser servido para visitas, preparado na hora e também tomado em padarias e confeitarias.

[editar] Referências

[editar] Notas

  1. Cascudo, Luis da Câmara. História da alimentação no Brasil, p.17. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1983.
  2. 2,0 2,1 2,2 2,3 2,4 2,5 2,6 Elias, Rodrigo. Breve história da feijoada in Nossa História, pp. 34-37, Ano 1, nº4. Editora Vera Cruz: São Paulo, 2004.
  3. 3,0 3,1 Pinto e Silva, Paula. A Cozinha da Colônia in Nossa História, pp.20-23. Ano 3, nº 29. Editora Vera Cruz: São Paulo, 2006.
  4. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p.108.
  5. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p.104.
  6. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p.95.
  7. 7,0 7,1 Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p.97.
  8. 8,0 8,1 8,2 8,3 8,4 8,5 8,6 8,7 Pombo, Nívia. Cardápio Brasil in Nossa História, pp 32-35. Ano 3, nº 29. Editora Vera Cruz: São Paulo, 2006.
  9. 9,0 9,1 Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p.101.
  10. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit, p.118.
  11. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p.139.
  12. Cascudo, Luis da Câmara.op. cit., p.162.
  13. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit, p.163.
  14. Cascudo, Luis da Câmara. op cit, p.159-160.
  15. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., pp. 165-166.
  16. 16,0 16,1 Cascudo, Luis da Câmara.op. cit., p. 159.
  17. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 164.
  18. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 134.
  19. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 137.
  20. 20,0 20,1 Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 150.
  21. 21,0 21,1 Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 151.
  22. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 152.
  23. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 155.
  24. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 186.
  25. 25,0 25,1 25,2 Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 187.
  26. 26,0 26,1 Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 191.
  27. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 190.
  28. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., pp. 196-197.
  29. 29,0 29,1 Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 222.
  30. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 223.
  31. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 225.
  32. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 226.
  33. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 228.
  34. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 205.
  35. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 211.
  36. 36,0 36,1 Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 208.
  37. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 207.
  38. 38,0 38,1 38,2 38,3 Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p.668.
  39. 39,0 39,1 39,2 Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p.669.
  40. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p.670.
  41. 41,0 41,1 Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p.671.
  42. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 672.
  43. 43,0 43,1 Dourado, Guilherme Mazza. Direto do pé in Nossa História, pp.24-26. Ano 3, nº 29. Editora Vera Cruz: São Paulo, 2006.
  44. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 676.
  45. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 677.
  46. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 678.
  47. 47,0 47,1 Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 791.
  48. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 793.
  49. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 794.
  50. 50,0 50,1 Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 795.
  51. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., pp. 797-798.
  52. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 796.
  53. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 798.
  54. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 800.
  55. 55,0 55,1 55,2 55,3 Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 882.
  56. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 898.
  57. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 883.
  58. 58,0 58,1 Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 895.
  59. 59,0 59,1 59,2 59,3 59,4 59,5 Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 894.
  60. 60,0 60,1 60,2 Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 897.
  61. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 803.
  62. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 804.
  63. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 807.
  64. 64,0 64,1 Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 148.
  65. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 143.
  66. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 147.
  67. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 809.
  68. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 808.
  69. 69,0 69,1 Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 810.
  70. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 814.
  71. 71,0 71,1 Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 816.
  72. 72,0 72,1 Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 816.
  73. Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 817.
  74. 74,0 74,1 Cascudo, Luis da Câmara. op. cit., p. 233.

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