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Augusto Elias da Silva

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Augusto Elias da Silva (Portugal, c. 1848[1]Rio de Janeiro, 18 de dezembro de 1903), fotógrafo português radicado no Rio de Janeiro, pioneiro do Espiritismo no Brasil.

Tendo emigrado para o Brasil, aportou no Rio de Janeiro em data ignorada.

Com relação à sua prática doutrinária, ele próprio descreveu o seu envolvimento com os fenômenos espíritas:

"Cidadão redator:
Amigo e confrade.
Têm sido últimamente publicadas, por alguns de nossos confrades, as razões pelas quais se converteram às nossas crenças; é muito para louvar que esses confrades, pondo de parte mal entendidos preconceitos, venham públicamente afirmar suas convicções, a despeito da coorte de nossos contraditores, os quais fazem uso e abuso da arma do ridículo, a fim de nos forçarem ao silêncio.
Não é minha opinião que essas afirmações sejam importante subsídio como elemento de propaganda doutrinária, porém creio que tem suas vantagens como elemento comprobatório da diversidade de fenômenos que por toda a parte se apresentam, forçando os ávidos de conhecimentos a procurar descortinar os, até há pouco ocultos, segredos do mundo espiritualista. É por esse motivo que igualmente me julgo no dever de empunhar mal aparada pena, e, em estilo sem o atavismo estético dos cultores das letras, expor também as razões que concorreram para firmar as minhas convicções.
Em 1881, fui convidado a assistir a uma sessão [espírita] na sala da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade, rua da Alfândega nº 120. As minhas convicções nesta época eram as do mais lato indiferentismo religioso, não tendo a menor parcela de dúvida sobre a não existência da alma. Não admitindo os fenômenos das diversas religiões, só via nelas agrupamentos de ociosos e amigos de dominar, explorando a ignorância das massas, geralmente supersticiosas e inclinadas ao sobrenatural.
Abro um parêntesis para declarar que estas idéias até hoje só se modificaram tão somente quanto aos fundamentos das seitas religiosas, isto é, quanto à imortalidade da alma, tais são, com raríssimas exceções, os desvios que tenho notado na história da vida sacerdotal de todos os tempos.
Porém, vamos ao caso. A essa sessão assistiam umas cinqüenta pessoas e entre elas algumas de reconhecida capacidade científica. Dos trabalhos que presenciei, ficou-me a mais dolorosa impressão; Deus me perdoe os falsos juízos que então formei da ilustre diretoria que dirigia os destinos da Sociedade.
O desejo de desmascarar os membros da Sociedade, se os reconhecesse especuladores, ou então convencê-los do seu erro, se fossem visionários, levou-me a solicitar que me permitissem a continuação da freqüência às suas sessões.
Na segunda que assisti, trabalhou como médium sonâmbulo a esposa do nosso confrade Monteiro de Barros, médium que não tendo nessa ocasião produzido trabalho algum intelectual, em estado sonambúlico, caiu ajoelhada da cadeira em que se achava, e nessa posição ficou mais de vinte minutos, braços erguidos, na mais absoluta imobilidade. Pelos trabalhos de minha profissão conheço a dificuldade de tal posição no estado normal e a esse fato, embora longe de modificar minhas idéias, devo o grande benefício de minha crença na imortalidade da alma, pois foi ele que em mim despertou o desejo de investigação das leis que o determinaram.
Solicitando explicações sobre esse fato, foi-me aconselhado à leitura das obras do imortal Kardec. Pela leitura, despertou-se-me o desejo de verificar experimentalmente as teorias que ia bebendo, e comecei a freqüentar as sessões dos grupos e sociedades então existentes, onde gradativamente fui recebendo as provas mais robustas da manifestação dos que eu chamava mortos.
Entre os fatos observados, citarei alguns, conquanto muito comuns, mas que bastante concorreram para dissipar as dúvidas que eu nutria quanto ao agente das manifestações. Em um grupo solicitei fosse evocado um meu parente e amigo falecido havia muito tempo. Um médium psicógrafo, para mim completamente estranho, foi o encarregado de obter a comunicação, a qual nada conteve de particular, limitando-se a conselhos morais, porém assinada por extenso, sendo a assinatura duma exatidão inexcedível confrontada com outras do evocado, feitas durante a vida terrena.
Em outra sessão manifestou-se espontâneamente um meu amigo, solicitando que orasse por ele, dizendo que sofria muito por ter cometido atos que eu ignorava completamente. Procedi à mais rigorosa investigação desse fatos, chegando à conclusão de serem eles verdadeiros.
Um outro espírito, também espontâneamente manisfestado, declarou o nome e a casa em que morava, quando desencarnou. No dia imediato, uma comissão, da qual fiz parte, dirigiu-se à casa indicada, na qual ainda morava a família do falecido.
Uma multidão de fatos, alguns mais extraordinários, tenho conhecido, porém, se me refiro a estes somente, é porque foram eles que me desvendaram os horizontes resplandecentes do mundo espiritual, estimulando-me ao estudo da Doutrina Espírita.
Elias da Silva."[2]

Elias da Silva veio a tornar-se membro ativo da Comissão Confraternizadora da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade. Fundou, a seguir, o Grupo Espírita Menezes, nome dado em homenagem a Antônio Carlos de Mendonça Furtado de Menezes, que fora um dos diretores da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade, e cujo bondoso Espírito, desencarnado em 11 de dezembro de 1879, dirigia então os trabalhos do referido Grupo. Esta Sociedade, em 1885, fundiu-se à Federação Espírita Brasileira, para a qual se transferiram os seus sócios.

À época, a divulgação dos fenômenos espíritas era alvo de tenaz resistência, principalmete por parte da religião oficial do Estado, o Catolicismo. Entre os ataques mais veementes destacaram-se, na Corte:

  • a Pastoral do Bispo da Diocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, Dom Pedro Maria de Lacerda, datada de 15 de julho de 1881, onde aquele prelado qualificava os espiritistas de possessos, dementes e alucinados. A ela respondeu a Revista da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade, em vários números, a partir de agosto de 1881 (p. 236).
  • a Pastoral do mesmo prelado, com data de 15 de junho de 1882, na qual o Antigo Testamento era engenhosamete citado para contraditar as comunicações mediúnicas, e tão violento era o zelo daquele prelado, que registrou, referindo-se aos espíritas: "Devemos odiar por dever de consciência".

Com o apoio e o incentivo de sua sogra, D. Maria Baldina da Conceição Batista, e de sua esposa, D. Matilde Elias da Silva, com quem teve um filho (chamado de Augusto), ambas também espíritas, Elias da Silva lançou o jornal Reformador, a 21 de janeiro de 1883, às próprias expensas, instalando a redação e o prelo em seu atelier fotográfico à então rua da Carioca, 120 – 2º andar (ex-São Francisco de Assis) onde também residia com a família.

Ver artigo principal: Reformador.

Possuidor de caráter firme e sempre disposto a defender os menos afortunados, Elias da Silva sempre participou de movimentos altruísticos, como o protesto que encaminhou, em junho de 1883, ao Governo Imperial contra um ato de fanatismo praticado contra um pastor protestante, perseguido pela polícia da então Província da Paraíba, a mando de um padre católico.

Na noite de 27 de dezembro desse mesmo ano[3] reuniu em sua residência, como de hábito, semanalmente, além da esposa e da sogra, os companheiros que mais de perto o auxiliavam na publicação do Reformador. Nesse encontro firmou-se entre os presentes o ideal de fundar-se uma nova Sociedade, que federasse os Grupos então existentes, através de "um programa equilibrado ou misto" e que difundisse por todos os meios o Espiritismo, principalmente pela imprensa e pelo livro.

Desse modo, a 1 de janeiro de 1884, uma terça-feira, reunidos na residência de Elias da Silva alguns espíritas entre os quais Francisco Raimundo Ewerton Quadros, Manuel Fernandes Figueira, Francisco Antônio Xavier Pinheiro, João Francisco da Silveira Pinto, Romualdo Nunes Vitório, Pedro da Nóbrega, José Agostinho Marques Porto, era definitivamente instalada a Federação Espírita Brasileira.

Ver artigo principal: Federação Espírita Brasileira.

No princípio, as reuniões ordinárias da Diretoria, às quais compareciam também alguns sócios fundadores mais chegados, realizavam-se na residência do próprio Elias da Silva, e só a partir de 17 de dezembro de 1886 passaram a ser efetuadas na casa de Santos Moreira, numa sala gentilmente por ele cedida, já que Elias estava prestes a ausentar-se da Corte. Ainda por esse motivo foi que Elias, reeleito para o cargo de Tesoureiro em 2 de janeiro de 1885 e em 5 de janeiro de 1886, pediu aos amigos, em fins de 1886, que não o incluíssem na chapa para a eleição da nova Diretoria de 1887. Por essa razão, foi substituído nas funções da Tesouraria por F. A. Xavier Pinheiro. O Reformador, entretanto, continuou ainda à rua da Carioca, 120. O nome de Elias da Silva, que raramente deixava de figurar nas Atas das Sessões, não mais constou depois de 31 de dezembro de 1886.

De volta à Corte, Elias da Silva voltou a ocupar o cargo de Tesoureiro nas eleições de 2 de março de 1888. Este foi o último ano em que exerceu funções na Diretoria da entidade, por sua própria deliberação, embora continuasse a freqüentar as sessões da FEB.

Faleceu vítima de tuberculose pulmonar[4].

[editar] Referências

  1. A data é estimada a partir da idade declarado na guia de óbito da Santa Casa da Misericórdia e no Livro de Registro do Cemitério de São Francisco Xavier. Tendo falecido aos 55 anos de idade, estima-se o seu nascimento em 1848.
  2. Reformador, 1 set., 1891.
  3. “Reformador”, 1924. p. 497.
  4. Causa-mortis de acordo com a guia de óbito da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro

[editar] Ver também


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