Macaense
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- Nota: Para outros significados de Macaense, ver Macaense (desambiguação).
Macaenses |
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População total |
~ 30 mil |
Regiões com população significativa |
Macau: ~10 mil Estrangeiro: ~20 mil |
Línguas |
Maioritariamente o português e o cantonês; minoritariamente, o Patuá macaense. |
Religiões |
Predominantemente católicos. |
Grupos étnicos relacionados |
portugueses, chineses, malaios, indianos, africanos, cingaleses. |
Macaense não é simplesmente um habitante natural da Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China. Macaenses ou "filhos da terra" são todos aqueles que nasceram e moravam em Macau e que eram descendentes europeus oriundos de famílias com linhagem portuguesa (a maioria deles têm também antepassados chineses e uma boa parte deles têm até antepassados malaios, africanos, cingaleses e indianos) ou que estão intimamente ligados à comunidade portuguesa enraizada em Macau. Esta última categoria de macaenses contam-se os descendentes oriundos de famílias chinesas convertidos ao Cristianismo que assimilaram-se à comunidade macaense, inclusivamente adoptando apelidos de língua portuguesa. O grupo étnico macaense é considerado como mistiço e Euroasiático. A maioria absoluta deles são católicos. Ser macaense é necessário também ter um conhecimento e contacto com a cultura macaense e portuguesa e saber falar também português (e/ou patuá macaense). Alguns até exigem que ser macaense é necessário receber uma educação portuguesa de tipo ocidental. Uma pessoa é verdadeiramente macaense quando a comunidade macaense lhe reconhece como sendo uma parte dela.
A definição de macaense é abstracta, histórica e subjectiva e sempre foi difícil de definir porque esta definição é fortemente influenciada, além de factores biológicos (a ascendência), por factores de diversas dimensões: a língua, a gastronomia, a religião (católica), uma "cultura macaense própria" e referenciais históricos e territoriais específicos. Estes factores mencionados constituem também um conjunto de indicadores de referência para a diferenciação dos macaenses às outras etnias. Esta definição não é estática, ela é dinâmica e evolui ao longo dos tempos.
Geralmente, os "filhos da terra" tendem indentificar-se como nacionais portugueses. Henrique de Senna Fernandes, um ilustre escritor e advogado macaense, pronuncia-se sobre este assunto, afirmando que “Portugal é a minha pátria e Macau é a minha mátria”.
A percentagem de macaenses em Macau é muito pequena (96% ou mais da população de Macau é de etnia chinesa) por isso esta comunidade é considerado como uma comunidade minoritária. Alguns membros ilustres desta comunidade estimam que o número de macaenses em Macau é aproximadamente de 10 mil e o número de macaenses no estrangeiro por volta de 20 mil.
Índice |
[editar] História
Crê-se que a comunidade macaense apareceu nos primeiros tempos da colónia portuguesa de Macau, possivelmente na segunda metade do séc. XVI. Quanto à sua origem étnica, existem duas posições polares: de um lado, há historiadores (como Ana Maria Amaro) que defendem que as primeiras gerações de macaenses não foram "produto" da miscigenação entre homens portugueses e mulheres chinesas, mas sim com mulheres de outras etnias asiáticas (indiana, malaia, cingalesa...), enquanto que existem outros (como o Monsenhor Manuel Teixeira) que defendem precisamente o contrário.
Esta comunidade mistiça foi algumas vezes marginalizada e discriminada pelos chineses e até pelos portugueses, principalmente durante os primeiros séculos da colónia. Naquela época, os macaenses não podiam desempenhar cargos altos na administração da colónia, tais como os cargos importantes do Leal Senado, a poderosa câmara municipal da Colónia de Macau. Só nos finais do séc. XVIII é que se viu um aumento do número de macaenses a ocuparem cargos importantes na administração e a participarem mais na vida cívica e política da Cidade. No séc. XX, eles predominaram na Função Pública da Cidade, com um número considerável de postos importantes da administração ocupada por eles. Assim, os macaenses tornaram-se num importante grupo apoiante à administração portuguesa de Macau visto que eles têm conhecimento da vida socio-cultural da Cidade, principalmente da vida da comunidade chinesa, e dominam bem o português e o cantonês (o dialecto chinês mais falado na Cidade). Além da função pública, eles desempenharam também profissões relacionadas com o Direito e o ensino português local. Durante este período, os portugueses e os macaenses tornaram-se num grupo privilegiado da Cidade e tinham mais facilidades em procurar emprego. Mas após a transferência (1999), este privilégio acabou-se.
Antes de 1975, muitos soldados oriundos de Portugal chegavam constantemente a Macau para reinforçar a guarnição militar da Cidade e também para cumprirem o seu serviço militar. Muitos deles preferiram estabelecer-se em Macau, casando com mulheres macaenses ou chinesas que conseguiam dominar um pouco de português. Por isso, antes de 1975, muitos macaenses têm pais de etnia portuguesa. Mas, em 1975, a situação mudou drasticamente com a desmilitarização da Cidade, originando uma diminuição da chegada de portugueses a Macau. Por isso, a partir da década de 80, muitos macaenses passaram a ter pais macaenses ou de etnia chinesa. Actualmente, são poucos que continuam a ter pais de etnia portuguesa.
Um número considerável de portugueses residentes e de macaenses deixaram Macau antes ou logo após a tranferência de soberania de Macau para a China(1999), emigrando-se para Portugal ou para outros países estrangeiros, nomeadamente o Canadá.
[editar] Cultura, Culinária e Língua
A cultura dos macaenses, que é muito rica, é única do Mundo porque resultou da simbiose, intercâmbio e coexistência de culturas ocidentais (principalmente a portuguesa, mas também a malaia, a indiana, a cingalesa...) e orientais (principalmente a chinesa). Esta mistura de culturas revela-se também na culinária dos macaenses. Esta culinária única do Mundo nasceu quando as esposas orientais dos portugueses tentavam fazer comidas portuguesas com os ingredientes locais. Evidentemente, as suas próprias tradições culinárias influiram nestas comidas. Lacassá de talharins e porco afumado, "Min Chi" (carne picada), "Tacho" (sopa de carne e legumes), arroz gordo, pato cabidela, sopa de barbatana de tubarão, carne de porco doce e frango frito são algumas das comidas macaenses populares.
Os Macaenses têm a sua própria língua, patuá macaense, que é um crioulo formado no séc. XVI baseado no português, com influências de cantonês, malaio e muitas outras línguas orientais. Este crioulo está em vias de extinção, com cada vez menos macaenses que dominam este crioulo. Actualmente muitos macenses falam só o cantonense e o português. Em Macau, existem várias instituições culturais e um grupo de macaenses que querem salvar este crioulo, um dialecto único de Macau e um dos melhores símbolos representativos da identidade única dos macaenses.
[editar] Situação pós-1999
Actualmente, uma situação preocupante começa a desenvolver-se rapidamente dentro da comunidade macaense: um número crescente de macaenses começam a perder parte ou quase toda a sua herança portuguesa devido principalmente às suas decisões de abandonar o sistema educacional português, um dos principais transmissores da língua e cultura portuguesa, e de adoptar uma educação baseada em cantonês, mandarim ou inglês porque o português é cada vez menos utilizado em Macau, apesar de ser uma das línguas oficiais desta terra chinesa. Estes macaenses tendem em aproximar-se aos chineses, ao ponto de alguns afirmarem que são chineses. É isto que a comunidade macaense em geral teme: a diluição e possível perda da sua cultura e identidade únicas, formada a partir do longo intercâmbio entre o Ocidente e o Oriente.
Por esta razão é que, nos últimos anos, surgiu uma nova estratégia levado a cabo por várias instituições e associações macaenses para salvaguardar a identidade deste pequena comunidade: a recuperação, reconstrução e delimitação de elementos de diversa natureza para que os macaenses possam diferenciar-se à grande maioria chinesa. É o caso, por exemplo, da recuperação e promoção do patuá, ou ainda da realização de diversos eventos de carácter religioso, histórico e cultural, tendo como principal objectivo unir e, racionalmente, incorporar e institucionalizar os elementos distintivos dos "filhos da terra".
[editar] Ver também
- História de Macau
- Escola Portuguesa de Macau (a única escola que oferece um ensino secundário baseado na língua portuguesa e onde existem um número considerável de macaenses)
- Macaense de Macaé (Brasil)
- Bandeira do Leal Senado (Macau) - esta bandeira tem um valor representativo e histórico para muitos macaenses porque representava a cidade em que nasceram.
[editar] Fontes
[editar] Livros
- O Senado da Câmara de Macau de Charles Ralph Boxer
[editar] Websites e outros links externos
- [1] ou [2] PROJECTO MEMÓRIA MACAENSE
- Fronteiras de Identidade: o caso dos macaenses
- Artigo sobre macaenses na Wikipedia anglófona
- Notícias das Casas de Macau na Revista MACAU
- Entrevista em inglês de 3 mulheres macaenses sobre a sua identidade e o futuro da comunidade macaense em Macau
- Artigo da Asianweek em inglês sobre alguns Macaenses ilustres