SantÃssima Trindade
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A Trindade é a doutrina acolhida pela maioria das igrejas cristãs que acredita no único Deus preconizado em três pessoas distintas: o Pai, o Filho e o EspÃrito Santo.
Para os seus defensores, é um dos dogmas centrais da fé cristã sendo considerado um dos mistérios mais difÃceis de interpretar e compreender.
Apesar de alguns considerarem a doutrina da Trindade como uma forma de adoração politeÃsta, as denominações cristãs trinitárias consideram-se monoteÃstas. As outras duas grandes religiões monoteÃstas, o JudaÃsmo e o Islamismo, bem como algumas denominações cristãs, não aceitam a doutrina trinitária.
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[editar] Fundamentos BÃblicos
A doutrina trinitária professa que o conceito da existência de um só Deus, onipotente, onisciente e onipresente, revelado em três Pessoas distintas, pode-se depreender de muitos trechos da BÃblia. Um dos exemplos mais referidos é o relato sobre o batismo de Jesus, em que as chamadas "Três Pessoas da Trindade" se fazem presentes, com a descida do EspÃrito Santo sobre Jesus, sob a forma de uma pomba, e com a voz do Pai Celeste dizendo: "Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo" (Lucas 3, 21-22; Mateus 3, 17) e na fórmula tardia, mas canónica, de Mateus 28, 19: «Portanto ide, fazei discÃpulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do EspÃrito Santo». Sublinha-se que o termo "Trindade" não se encontra na BÃblia.
Ainda segundo os seguidores desta doutrina, ao longo da BÃblia há todo um conjunto de passagens que revelam quer a divindade, quer a pessoalidade de cada uma das três pessoas divinas:
- No que concerne à divindade de Deus-Filho, referem-se, por exemplo, à sua onisciência (Colossenses 2, 3), à sua onipotência (Mateus 28, 18), à sua omnipresença (Mateus 28, 20), ao facto de perdoar os pecados (Marcos 2, 5-7; conferir a afirmação de IsaÃas 1, 18) e ser dador da vida (João 10, 28) em Ãntima unidade - e não igualdade - diferenciada com o Pai: «Eu e o Pai somos um» (João 17, 21-22). Contudo, mais do que estas simples passagens isoladas, a afirmação da plena divindade de Jesus - pois a sua pessoalidade nunca foi seriamente posta em causa - é o resultado da reflexão, na Fé, sobre a sua missão redentora;
- No que concerne à divindade do EspÃrito Santo, os seguidores desta doutrina, reportam-se, por exemplo, à sua omnisciência (1 CorÃntios 2, 10-11), à sua omnipotência (1 CorÃntios 12, 11), à sua omnipresença (João 14, 10) e sobretudo ao facto de ser EspÃrito "de" verdade (João 16, 13) e "de" vida (Romanos 8,2), prerrogativas que, tais como as apresentadas para Deus-Filho, para a BÃblia são única e exclusivamente divinas;
- No que concerne à pessoalidade da terceira pessoa da Trindade, assunto que foi muito debatido ao longo dos primeiros séculos do cristianismo, é comum referirem-se a atributos d'Este que, tal como os que no Antigo Testamento são aduzidos para a pessoalidade do Deus do Antigo Testamento, YHWH - cuja divindade e pessoalidade nunca foram alvo de crÃticas substanciadas entre os cristãos -, testemunham o seu caracter pessoal: Ele glorificará Cristo (João 16, 14); ensina a comunidade (Apocalipse 2, 7) e os fieis (Lucas 12, 12), distribui os dons segundo o seu desÃgnio (1 CorÃntios 12, 11), fala nas escrituras do Antigo Testamento (Hebreus 3, 7; 1 Pedro 1, 11-12), é enviado pelo Pai em nome de Jesus aparecendo como distinto de ambos (1 João 2, 1) pois não é Cristo sob outra forma de existência, mas seu interprete ou testemunha (João 15, 26). Mas mais importante do que as passagens isoladas é o conjunto que revela-O como Aquele que tem a missão de recordar, universalizar e realizar em cada pessoa a obra de Jesus, o que não ocorre mecanicamente, mas somente onde houver a liberdade do EspÃrito, dado que «onde está o EspÃrito do Senhor, aà há liberdade» (2 CorÃntios 3, 17). Para os cristão trinitários, esta liberdade do EspÃrito exclui que Este possa ser um princÃpio impessoal, um meio ou instrumento, mas antes pressupõe a sua independência relativa.
[editar] A evolução do Dogma
[editar] Do Kerigma aos sÃmbolos de Fé
Desde o acontecimento pascal e sua proclamação catequética - génese da experiência e da reflexão trinitária - até à formulação conceptual do mistério trinitário, um longo percurso foi trilhado. Na verdade, desde a proclamação primitiva da morte e ressurreição de Jesus de Nazaré (Atos 2, 22-36), passando pelas primeiras afirmações do Novo Testamento da plena divindade de Jesus - (Romanos 9, 5; Tito, 2, 13) -, da pessoalidade do EspÃrito Santo - (João 14, 16) - e o surgir das primeiras fórmulas trinitárias - (2 CorÃntios 13, 13) - até ao Credo Niceno-Constantinapolitano, um tortuoso caminho foi burilado pelas primeiras gerações de cristãos.
Embora a Igreja primitiva fosse plenamente consciente do caracter trinitário da soteriologia - a doutrina da salvação - (veja-se Inácio de Antioquia, "Carta aos Efésios", 9, 1; 18, 2 e a "Primeira Carta de Clemente Romano" 42; 46, 6), do ponto de vista historico, um dos primeiros a utilizar no Ocidente cristão o termo "Trindade", para expressar a unidade divina que existe nas três pessoas distintas, foi Tertuliano, no inÃcio do século III, na sua obra "Adversus Praxeas" (2,4; 8,7), onde ele utilizou o termo latino de "trinitas". Antes dele, e no Oriente cristão, só há o registo do termo grego "ΤÏιας" nos escritos de Teófilo de Antioquia ("Três Livros a Autolycus", 2, 15) datado de meados do século II.
Na realidade, mais do que a partir da especulação teórica e abstracta - que mais tarde viria a ser preponderante -, a afirmação teológica da "Trindade" ocorreu sobretudo a partir do uso dos textos bÃblicos em âmbiente liturgico eclesial. Esta doutrina, de facto, foi-se apoiando e alicerçando no âmbito da práxis baptismal (veja-se "Didaké" 7, 1; Justino, "Apologia" 1, 61, 13) e eucarÃstica (veja-se Justino, "Apologia" 1, 65.67; Hipólito, "Tradição Apostólica" 4-13 ).
Somente depois da pacificação do Império Romano, sob Constantino I, é que ocorreu aquela convergência de factores - a paz, as facilidades de comunicação e diálogo entre as diversas Igrejas e teólogos, entre outros - que permitiu a elaboração de um edificio conceptual - a definição precisa das noções de "ousia"/"natureza", "hipostasis"/"pessoa", "homoousios"/"consubstancialidade", bem como a sua mútua relação e aplicação teológica - apto para a descrição e explanação da Divindade revelada em Jesus Cristo.
[editar] Os sÃmbolos de Fé
A primeira formulação dogmática do pensamento teológico cristão trinitário, no que concerne à relação entre cada uma das três Pessoas divinas, foi postulada como um artigo de fé pelo credo de Niceia (proclamado em 325 no ConcÃlio de Niceia) - realizado para dirimir as questões levantadas por Ario que negava a divindade plena do Filho -, bem como pelo Primeiro ConcÃlio de Constantinopla de 381 - realizado para, em oposição aos pneumatômacos, afirmar a plena divindade pessoal do EspÃrito Santo - e apresentada no credo de Atanásio (depois de 500 d.C.).
Estes credos foram progressivamente formulados e ratificados pela Igreja dos séculos III e V, em reação a noções algumas delas envolvendo a natureza da Trindade, a posição de Cristo nela e a divindade do EspÃrito, tais como as do arianismo, do docetismo, do modalismo e a dos pneumatômacos - nome dado à queles que negavam a divindade pessoal da terceira pessoa da Trindade -, que foram depois declaradas como heréticas na medida em que atentariam contra o essêncial da Revelação. Estes credos foram mantidos não só na Igreja Católica e Ortodoxa, mas também, de algum modo, pela maioria das igrejas protestantes, sendo inclusive citados na liturgia de igrejas luteranas e Igrejas Reformadas.
O credo de Niceia, que é uma formulação clássica desta doutrina, usou o termo "homoousia" (em Grego: da mesma substância) para definir a relação entre as três pessoas. A ortografia desta palavra difere em uma única letra grega, "iota", da palavra usada por não-trinitários do mesmo tempo, "homoiousia", (Grego: de substância semelhante): um facto que se tornou proverbial, representando as profundas divisões ocasionadas por aparentemente pequenas imprecisões, especialmente em Teologia.
[editar] Investigação teológica e a respectiva conclusão de Santo Agostinho
A Igreja anuncia e ensina o mistério da SantÃssima Trindade com base em citações bÃblicas, mas desencoraja uma profunda investigação no sentido de querer decifrá-lo.
Santo Agostinho, grande teólogo e doutor da Igreja, tentou e esforçou-se exaustivamente em compreender e desvendar este enigma. Após muito tempo de reflexão, esforço e trabalho, chegou à conclusão que nós, devido à nossa mente extremante limitada, nunca poderÃamos compreender e assimilar plenamente a dimensão (infinita) de Deus somente com as nossas próprias forças e o nosso raciocÃnio. Concluiu que a compreensão plena e definitiva deste grande enigma só é possivel quando, na vida eterna, nos encontrarmos no ParaÃso com o Pai, o Filho e o EspÃrito Santo.
[editar] Operações e funções das Pessoas da S.S. Trindade
As três Pessoas da SantÃssima Trindade estabelecem uma comunhão e união perfeita, formando um só Deus, e constituem um perfeito modelo transcendente para as relações interpessoais. Elas possuem a mesma natureza divina, a mesma grandeza, sabedoria, poder, bondade e santidade, mas, em algumas vezes, certas actividades são mais reconhecidas em uma pessoa do que em outra. As funções, as suas principais actividades desempenhadas e o seu modo de operar está registado nas Sagradas Escrituras e claramente resumido no Credo Niceno-Constantinopolitano, o credo oficial de muitas denominações cristãs.
- PAI – Não foi criado e gerado. É o “princÃpio e o fim, princÃpio sem princÃpio†da Vida e está em absoluta comunhão com o Filho e com o EspÃrito Santo. Foi o Pai que enviou o seu Filho, Jesus Cristo, para salvar-nos da morte espiritual, pelo sacrifÃcio vicário. Isto revela o amor infinito de Deus sobre os homens e o não-abandono aos seus filhos adoptivos. O Pai, a primeira pessoa da Trindade, é considerado como o pai perfeito. É atribuÃdo a esta pessoa divina a criação do mundo.
- FILHO – Procede do Pai e é eternamente consubstancial (pertencente à mesma natureza e substância) a Ele. Não foi criado pelo Pai, mas gerado porque encarnou-se, assumindo a Sua natureza humana. O Filho, a segunda Pessoa da Trindade, é considerado como o filho perfeito. É atribuÃdo ao Filho a redenção (salvação) do mundo.
- ESPÃRITO SANTO – Procede do Pai e do Filho. Esta Pessoa divina personaliza o Amor Ãntimo e infinito de Deus sobre os homens. Manifestou-se primeiramente no Baptismo e na Transfiguração de Jesus e plenamente revelado no dia de Pentecostes. Habita nos corações dos fiéis e estabelece entre estes e Jesus uma comunhão Ãntima, tornando-os unidos num só Corpo. O EspÃrito Santo, a terceira Pessoa da Trindade, é considerado como o puro nexo de amor. Atribui-se a esta pessoa divina a santificação da Igreja e do mundo com os seus dons.
[editar] CrÃticas à doutrina da Trindade
Várias denominações cristãs discordam da doutrina trinitariana, fornecendo soluções diversas para a natureza de Deus. As principais são os unicistas, os Cristadelfianos e as Testemunhas de Jeová, incluindo vários movimentos pára-protestantes e os seguidores da Mensagem de William Branham.
[editar] Ver também
- A Natureza de Jesus Cristo
- Trimurti - Conjunto ou Triade (mas não "Trindade") de três deuses hindus (mas não de um «único Deus subsistente em três pessoas»), que na sua forma representativa mais análoga à doutrina da SantÃssima Trindade remonta ao século VI por influxo de monges nestorianos que se radicaram na India no inÃcio desse século (conferir: Dittakavi Subrahmanya Sarma - Hinduism through the ages, p. 215)
- Didaquê - Escrito do primeiro século que reforça a fórmula batismal evangélica no nome das três pessoas da Trindade: «baptise-se em nome do Pai, e do Filho, e do EspÃrito Santo» (Didaquê, VII,1.3).