História da Argentina
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A História da Argentina tem início com a chegada dos primeiros seres humanos à região, estimada em onze mil anos antes da Era Comum (antes de Cristo).
A região noroeste de seu atual território formava parte do Império Inca e as pampas eram dominadas por ameríndios nômades. Em fevereiro de 1516 o navegante espanhol Juan Díaz de Solís pilotou sua embarcação ao estuário do Rio da Prata e reclamou a região em nome da Espanha.
A colonização espanhola se deu ao longo dos séculos XVI e XVII. O nome Argentina vem de argentum, prata em latim, visto a grande quantidade do metal encontrada na região junto aos indígenas.
A independência da Espanha ocorreu em 1816 e deu origem a inúmeras disputas internas. A proclamação da primeira Constituição se deu em 1853, ainda hoje vigente, com as modificações ocorridas em 1994.
Ao longo da metade do século XIX até metade da década de 40 a história do país foi marcada por conflitos internos entre conservadores militares e liberais civis, merecendo destaque o início do movimento peronista ao final da Segunda Guerra Mundial.
Entre 1955 e 1983 alternaram-se no poder inúmeros presidentes civis e militares, com golpes frequentes e implantação de ditaduras violentas. Desde então a democracia argentina vem acompanhada de grande desordem econômica, que atingiu seu extremo durante a presidência de Fernando de la Rúa com uma recessão sem precedentes no país.
Atualmente a Argentina apresenta alto crescimento econômico e já retomou ao patamar anterior à última moratória.
[editar] Pré-História
56% da população contemporânea argentina possui ao menos um antepassado entre os povos pré-colombianos. A história e herança indígena na Argentina tende a ser marginalizada por uma tradição histórica e uma cultura predominante que definiu o povo argentino como um "povo europeu transplantado" (Darcy Ribeiro).
[editar] Populações Pré-Colombianas
O cientista argentino Florentino Ameghino (1854-1911) elaborou uma teoria que afirmava serem os Pampas o local de origem do homem moderno (o Homo Pampeus). Esta ideia foi posteriormente refutada pela comunidade científica.
Os primeiros seres humanos a chegar no atual território argentino parecem ter vindo pelo extremo sul da Patagônia, provenientes do que hoje é o Chile. A presença humana mais antiga se encontra em Piedra Museo (Santa Cruz) e remonta a 11.000 anos a.C. Junto com os sítios arqueológicos de Monte Verde (Chile) e Pedra Furada (Brasil) constituem, até o momento, os locais de povoamento mais antigos da América do Sul e sustentam a teoria de povoamento recente da América.
Outro remoto assentamento foi localizado em Los Toldos, também na província de Santa Cruz, com restos que datam do Décimo milénio a.C.
Estes primeiros habitantes do território argentino caçavam milodontes (Milodon darwinii) – semelhantes a um grande urso com cabeça de camelo; já extinto – e hipidions (Hippidion principale) – cavalos sul-americanos que desapareceram há 10.000 anos – além de guanacos, lhamas e emas.
Próximo dali também é possível ver as pinturas de mãos e guanacos estampadas 7300 a.C. na Cova das Mãos (Rio Pinturas, Santa Cruz). Trata-se de uma das expressões artísticas mais antigas dos povos sul-americanos e foi declarada Património Mundial pela UNESCO.
Por volta de 9000 a.C. já havia se iniciado o povoamento dos pampas, ao passo que a zona noroeste do território argentino começou a ser habitada em 7000 a.C.
[editar] Zonas Culturais
Os povos primitivos argentinos se dividiram em dois grandes grupos: os caçadores e coletores, que habitavam a Patagônia, o Pampa e o Chaco; e os agricultores, instalados a noroeste, regiões próximas à Cordilheira dos Andes, as serras de Córdoba e, mais tarde, a Mesopotâmia argentina.
[editar] Culturas andinas do Oeste e Noroeste
Cultura de Ansilta. Uma das primeiras culturas a desenvolver uma agricultura precária no atual território argentino foi a Cultura de Ansilta, onde hoje se encontram Mendoza, San Juan e San Luis. A surpreendente e misteriosa Cultura de Ansilta prolongou-se por mais de 2.000 anos, entre o ano 1798 a.C. até o ano 500, o que significa um extraordinário caso de continuidade. É provável que sejam antecessores das etnias da linhagem huarpe.
Cultura Condorhuasi. No ano 200 a.C. aparece a Cultura Condorhuasi, na atual Catamarca. Foi uma sociedade de pastores de lhamas onde a agricultura era apenas complementar. Tiveram violentos rituais, em que utilizavam de modo xamanista alucinógenos como o angico e realizavam sacrifícios humanos. Estiveram entre os primeiros em realizar ligas metálicas. Atualmente chamam a atenção suas esculturas antropomorfas de pedras. Desapareceu entre o ano 200 e 500
Cultura Tafi (200 a.C.-800 d.C.). Aparece no que hoje é o território de Tucumán. Eram agricultores que cultivavam, entre outras coisas, milho, em bem elaborados andenes e terraças, além de domesticar lhamas.
Cultura da Ciénaga (1-600). No século I apareceu a primeira sociedade plenamente agrícola que já se desenvolveu no atual território – a Cultura de Ciénaga, também na região de Catamarca. Tinham plantações de milho e sistemas de irrigação por canais. Tinham rebanhos de llamas ou lhamas e as utilizavam em caravanas para realizar intercâmbios entre aldeias. Construíram pequenas aldeias com no máximo 30 casas e foram antecedentes diretos da Cultura de Aguada.
Cultura da Aguada. Entre os séculos IV e X se desenvolve a Cultura da Aguada no território das atuais províncias de Catamarca e La Rioja, definida como "a mais andina das culturas do noroeste argentino", vinculada ao horizonte cultural Tiwanaku. A Aguada caracterizou-se por desenvolver uma extraordinária arte ao redor da figura do jaguar. Segundo José Pérez Gollán a Aguada é o momento histórico das culturas do Noroeste, em que surge uma nova forma política: os chamados "senhorios" ou "chefaturas", por estarem dominadas por um "senhor", que dominava uma determinada região pelo controle do excedente econômico e os recursos simbólicos. Nas suas representações destaca-se a presença do sacrificador.
Sua economia sustentava-se em uma expansiva agricultura de terraças irrigadas por complexos sistemas hidráulicos. Produziam milho, feijão, abóbora e mandioca. Trocavam produtos com lugares muito distantes – San Pedro de Atacama ou o Vale de Copiacó, usando um sistema de transporte baseado em lhamas. A metalurgia era muito avançada e descobriram o bronze antes da chegada dos espanhóis. Desaparece próximo a 900.
Cultura Santa Maria (1200-1470): a existência de terraças de cultivo e sistemas de irrigação muito complexos permitiu a Santa Maria ter uma grande população e acumular excedentes que eram armazenados em silos subterrâneos. Cultivaram o milho, a batata, o feijão, a quinoa e a abóbora; coletavam intensivamente alfarrobeira (Ceratonia siliqua) e Geoffroea decorticans. Foram exímios produtores de gado e utilizavam a forragem. Realizaram uma ampla troca de produtos com outros povos distantes usando suas caravanas de lhamas. Alcançaram um notável desenvolvimento da metalurgia do cobre, ouro e prata, além de serem conhecidos em toda a região por bronzes de excelente qualidade. Santa Maria alcançou uma grande complexidade sociopolítica: um senhor – cujo poder era hereditário –, guerreiros e sacerdotes. A cultura Santamariana coincida em grande parte com a etnia pazioca, conhecida também por sua denominação em quechua de diaguitas.
A Invasão Inca (1400-1520). A Formação de Tucumán: um século antes da chegada dos espanhóis à América, o noroeste andino do que hoje é a Argentina registrava a presença de uma grande quantidade de povos sedentários com identidades, culturas e civilizações próprias; entre eles contavam-se os pazioca, atacamenhos, omaguacas e huarpes. No século XV grande parte do território desses povos foi invadido pelos quechuas e anexado à zona meridional do Collasuyu (região meridional do território inca).
As Culturas Andinas independentes (1400-1520): Fora do território inca existiram no atual território argentino outras populações sendentárias com influências culturais andinas, como por exemplo os lule-toconoté (em guerra com os quechua) e os sanavirões na área que atualmente corresponde às províncias de Tucumán, a oeste de Santiago del Estero e norte de Córdoba, assim como os comechingões nas serras de Córdoba e San Luis.
Santuários Incas de Alta Montanha: Um dos mais interessantes pontos incas do território argentino foi o centro de rituais mais elevado do mundo, o vulcão Llullaillaco, a 6.710 metros, onde se realizavam sacrifícios humanos. Para os incas as montanhas eram huacas (lugares sagrados) e por essa razão estabeleceram um sistema de santuários nos cumes das montanhas mais altas dos Andes. Em 1999 uma equipe de arqueólogos realizou o resgate de três múmias incas, uma jovem (a donzela), uma menina (a Menina do Raio) e um menino, sacrificados no cume do vulcão, consagrados a Inti (deus do sol), Illapa (deus do raio) e Viracocha (o criador). Ceruti explica que "escolhiam-se meninos porque eram símbolos de pureza ante os deuses, e as meninas eram criadas na Casa das Virgens do Sol, onde viviam desde os oito anos de idade até o momento do sacrifício. O consumo de folhas de coca e o álcool de chicha adormecia as vítimas eleitas. Ao menos nesse caso não morreram com um golpe no crânio, nem por asfixia ou estrangulamento. Seneramente, ficaram adormecidas e morreram congeladas". Os meninos saíram a pé de Cuzco, acompanhados por um grupo de sacerdotes, em algum momento próximo ao ano de 1500.
O Senhorio de Tastil. Tastil (Salta) é considerada a maior cidade pré-colombiana do atual território argentino. Com uma população de 3.000 habitantes do conjunto lickan-antay, sustenta-se que o Senhorio de Tastil chegou a contar com uma série de colônias na atual região de Salta e Jujuy. Tastil ficou subitamente desabitada ao final do século XIV – no momento de seu apogeu – antes da invasão quechua. Não há consenso entre os estudiosos sobre as causas de seu colapso.
[editar] Culturas da Mesopotâmia
[editar] Os Guaranis
Na Mesopotâmia argentina assentaram-se, também recentemente, os Guaranis, provenientes da Amazônia e parte do grupo cultural conhecido como Tupi-Guarani. Estabeleceram-se no território argentino ao final do século XV e começo do XVI, vindos de noroeste principalmente pelos rios e outros cursos de água. Subdividiram-se em distintos grupos dependendo da região que habitavam, como os guaranis das ilhas (nas ilhas do Delta do Paraná), os de Carcarañá, de Santa Ana (ao norte de Corrientes), os cáingang ou cainguás (na região mesopotâmica) e os chiriguanos (no Chaco).
Viviam em aldeias (tekuas) que constituíam verdadeiras unidades tribais por ser entidades econômicas independentes. Cada aldeia guarani estava dirigida por um chefe político chamado mburuvichá e um chefe religioso chamado pajé. Sua organização social estava encabeçada por um cacique (tuvichá) hereditário.
Eram excelentes navegadores de canoas, caçadores da selva, coletores, pescadores e praticavam a agricultura. Entre os cultivos principais destacavam-se a mandioca (mandi'ó), a batata (jetý), a cabaça (andai), a abóbora (kurapepê), o milho (avati), o feijão (kumandá), o algodão (mandyju) e a erva mate (ka'á), usado para preparar a bebida que até hoje se conhece.
Os guaranis guiavam seus atos – e ainda guiam – pela Terra sem Mal, a base de sua cultura guerreira e suas práticas canibais. O povo guarani ingressou violentamente na região da foz do Rio da Prata, gerando um conflito permanente com as populações primitivas não guaranis que habitavam a área. Sua estratégia guerreira fundava-se em um sistema de massivos ataques. Antes deste faziam cair sobre as forças adversárias uma chuva de flechas e pedras. Logo vinha uma investida direta com lanças, porretes ou garrotes.
No século XV, a sociedade guarani passava por um período de mudança. Comeraçam a aparecer instituições unificadoras que provavelmente a longo prazo haveriam levado ao surgimento de um Estado. Surgiram os karai (palavra que inicialmente significava alguém supostamente dotado de poderes mágicos e logo passou a significar "senhor"), profetas aceitos por todas as tekuas (aldeias), que se enfrentavam entre si num permanente ciclo de busca da Terra sem Mal. Os Karais percorriam as aldeias predicando uma mensagem de aviso de importantes mudanças, e não pertenciam a nenhuma tekua em particular – eram Pan-Guaranis.
Cem anos depois, com a invasão européia na região, chegam os jesuítas que, em certo sentido, vêm competir diretamente com os karai. Ainda que estrangeiros, trazem uma mensagem unificadora. Sobretudo há algo muito importante: os guaranis que aceitavam sua convivência passavam automaticamente a estarem cobertos pelas leis do Rei da Espanha.
O idioma guarani ainda é falado extensivamente no noroeste argentino, sobretudo na província de Corrientes e no Paraguai, além de ter um poderoso impacto na fala cotidiana dos argentinos. Palavras como "che", que se associa mundialmente ao modo de falar argentino, são de origem guarani.
[editar] Culturas do Chaco
Na região norte do Chaco instalaram-se cinco culturas ou famílias linguísticas: guaycurú, mataco-macá, tupi-guarani, arauac e lule-vilela. À Cultura Guaycurú pertencem qom'lek, pilagás, mocovíes e os abipones. Distinguiam-se por suas habilidades guerreiras e com a chegada dos espanhóis incorporaram o cavalo, resistindo à colonização. Os espanhóis os chamavam de "frentones" (especialmente aos qomlek) porque depilavam a frente. Ocupavam o território oriental e sul da região do chaco. À Cultura Mataco-Macá integram os wichis ("mataco"), chulupies e chorotes; localizavam-se na região ocidental do Chaco. Chiriguanos pertenciam à Cultura Tupi-Guarani, a oeste da região. Na mesma área assentaram-se os chané, da Cultura Aruaques. A noroeste, ficavam os vilelas, desaparecidos durante a Colônia.
Muitas destas culturas ainda guardam a memória do grande cataclisma produzido por uma chuva de meteoritos gigantes no século XXXVIII a.C. na zona conhecida como Campo do Céu.
[editar] Culturas do Pampa e da Patagônia
Na região dos pampas e Patagônia destacaram-se os het ("pampas antigos" ou "querandies"), os Tehuelches (tsonek) e sobretudo os Mapuches – estes controlavam o norte da Patagônia até o fim do século XIX. Os estudos antropológicos dos grupos caçadores e coletores, tradicionalmente considerados mais simples que os povos agricultores, puseram de manifesto a complexidade que alcançaram culturas de um alto grau de simbolismo, como os sélknam, aush, yaganes e kawésqar, da Terra do Fogo.
[editar] Cultura e Colonização Espanhola
[editar] A Conquista Espanhola (1516-1665)
Os primeiros europeus chegaram à região com a expedição de Américo Vespúcio, que contornou a entrada do Rio da Prata em 1502. Posteriormente, o navegador espanhol Juan Díaz de Solís, em busca de uma passagem para o Pacífico, descobriu o Rio da Prata em 1516, e ao desembarcar no atual território do Uruguai foi atacado e morto pelos charruas. Os sobreviventes embarcaram novamente até a Espanha, mas muitos destes naufragaram e se refugiaram na Ilha de Santa Catarina, atual Florianópolis.
Fernão de Magalhães percorreu a totalidade do litoral argentino, encontrando-se com os Tehuelches, aos que por sua altura foram denominados Patagões, em relação a um personagem fictício da época, além de descobrir o estreito que leva seu nome. Acredita-se que navios de sua expedição, desviados por um temporal, haveriam chegado às Ilhas Malvinas; em sua expedição viajou Antonio Pigafetta, autor das primeiras descrições geográficas destas terras. Em 1526 uma expedição com o objetivo de repetir a viagem de Magalhães e Elcano, capitaneada pelo italiano Sebastião Caboto, encontrou-se com os náufragos de Santa Catarina, os quais os contaram histórias ocorridas nos locais, segundo os quais, remontando o chamado "Mar de Solís", chegava-se a uma terra chamada "Serra de Prata". Tentados por possíveis riquezas, os expedicionários decidiram ir em sua busca. Assim, internaram-se no "Mar de Solís" (o Rio da Prata), ao que nomearam "Mar Doce". Na ribeira do rio Paraná fundaram o forte Sancti Spiritu, próximo à atual cidade de Coronda (Santa Fé). Percorreu o Paraná, chegando ao Paraguai. Sem sucesso, voltou à Espanha em 1530, onde se difundiram as lendas da Serra de Prata e "O Rei Branco".
Após a conquista do Peru, a Coroa entregou as terras da América do Sul em "Capitanias", concedidas aos patronos. Em 1534 a parte norte da atual Argentina foi entregue a Pedro de Mendoza; a região que vai do Estreito de Magalhães até o Pólo Sul passava a ser outorgada a Pedro Sarmiento de Gamboa. Mendoza chegou ao Rio da Prata em 1536 e fundou o Porto de Santa María del Buen Ayre, em honra à virgem de Bonaria, da cidade de Cagliari, patrona dos navegantes. Acredita-se que a cidade havia assentado o atual Parque Lezama de Buenos Aires.
A relação com os pampas e querandies que habitavam a área foi cordial no começo, com o abastecimento de mantimentos na expedição graças a eles; mas como esses povos eram nômades e levavam uma economia de subsistência, logo houveram tensões devido às demandas espanholas para o que os "índios" não tinham para dar. Assim, enquanto os capitães da expedição percorriam a região em busca de ouro e prata, aqueles que ficaram na cidade guerreavam constantemente com os locais. Nesta situação, devido a uma cruel matança de nativos, estes cercam a cidade, levando seus ocupantes à fome e ao canibalismo.
Juan de Ayolas percorreu o Paraná, nas margens do qual fundou o forte Corpus Christi, próximo às ruínas do Sancti Spíritus. Ao norte do Paraguai, sobre o rio de mesmo nome, fundou Candelaria, de onde saiu em direção ao Alto Peru, já governador delegado, visto que Mendoza voltou à Espanha devido à sua saúde — morrendo em alto-mar. De Candelaria Domingos Martínez de Irala e Juan Salazar de Espinosa continuaram a exploração, cujos resultados foram a fundação de Assunção (1537) e o descobrimento da desejada "Serra da Prata", à época já ocupada por espanhóis: Potosí.
Em 1537, com a morte de Mendoza, a coroa ditou a Cédula Real de 12 de setembro de 1537, dizendo que no caso da morte de Ayolas, o cargo de governador ficaria à disposição dos votos dos habitantes. Com a morte deste, Irala foi eleito governador, ordenando o despovoamento de Buenos Aires, ocorrido em 1541.
No caso de outra capitulação que cobria o território argentino, a cargo de Simón de Alcazaba e um grupo denominado "os leões", teve destino trágico. No início de 1535 a expedição chegou ao Golfo de São Jorge, atual Chubut, onde fundou o forte denominado Nueva León, de onde se realizaram várias expedições. Porém, devido às inclemências do clima e do terreno, os poucos sobreviventes se amotinaram, mataram Alcazaba e se dedicaram à pirataria.
Sarmiento de Gamboa fundou Filipolis (Ou Real Felipe) e Nome de Jesus no Estreito de Magalhães (atualmente sob jurisdição chilena), tendo pouco sucesso devido ao clima e atividade de corsários ingleses (Sarmiento de Gamboa foi sequestrado por eles). Com tais fatos, pode-se dizer que o processo de Capitanias falho — exceto por parte dos sobreviventes de Santa Maria de Buenos Aires: este foi o núcleo europeu que fundou Assunção do Paraguai e, a partir de Assunção, se repovoaria "O Litoral" e Buenos Aires, assim como a fundação de Santa Cruz de la Sierra.
O interior argentino começou a ser explorado pouco depois da conquista do Peru. Em 1536 Diego de Almagro percorreu o norte em busca de uma passagem para o Chile. Foi Diego de Rojas o primeiro a realizar uma exploração com destino ao território conhecido hoje como Tucumán. Entrando pela Quebrada de Huamahuaca em 1543, Rojas foi morto em um conflito com os indígenas em Santiago del Estero. A expedição continuou a mando de Francisco de Mendoza, com que chegaram ao Rio Paraná. Mendoza foi morto por seus homens devido ao seu tratamento despótico e os sobreviventes retornaram ao Peru. O governo peruano encomendou uma terceira expedição, iniciando sua marcha em 1549 com o objetivo de colonizar o território. A "entrada" deste teve sucesso em 1550 com a fundação da cidade Do Barco aos pés da Serra do Aconquija (atual Tucumán).
Pouco tempo depois chegou ao lugar Francisco de Villagra, representante de Pedro de Valdivia, alegando que aquelas terras correspondiam à jurisdição da Capitania Geral do Chile. Núñez del Prado decidiu transladar a cidade mais ao norte, nos Vales Calchaquies, de difícil acesso e onde haviam se refugiado várias tribos nativas da perseguição espanhola. A hostilidade dos diaquitas determinou que a cidade Do Barco fosse mudada uma segunda vez, novamente ao sul, estabelecendo-se nas margens do Rio Doce (atual Santiago del Estero). Informado de tal fato, Valdivia enviou Francisco de Aguirre para substituir Núñez del Prado, a quem despachou apressado ao Peru. Com a posse da cidade resolveu fazer um 3º traslado, 2 km ao sul, em um lugar mais elevado, renomeando-a Santiago del Estero (1553).
A província de Tucumán seguiu dependente do Chile por 10 anos. Nesse período, fundaram-se três cidades como defesa de Santiago del Estero: Cañete, Londres e Córdoba del Calchaqui, mas a hostilidade do governador Castañeda com os índios gerou uma rebelião destes sob a direção de Juan Calchaqui, cacique do Omaguacas, que destruíram as cidades estabelecidas como defesa. Em 1563, quando Felipe II decretou que Tucumán seria dependente da Audiência de Charcas, foi nomeado governador novamente Francisco de Aguirre. Este decidiu reconstruir as cidades que haviam sido destruídas e, em 1565, Diego de Villaroel fundou San Miguel de Tucumán, onde antes havia existido Cañete. O sucessor de Aguirre buscou se desprender da tutela de Charcas, orientando a colonização para o Atlântico para se relacionar diretamente com a Espanha. Assim, em 1573, fundou a cidade de Córdoba de Tucumán.
No Rio da Prata, a colonização concentrou-se no Paraguai, onde os guaranis eram numerosos e sedentários, passíveis de ser encomendados. Ao longo do governo de Irala, o governador Juan de Garay tinha a mesma idéia que Cabrera, de forma que em 1573 marchou para repovoar Buenos Aires. No caminho para a foz do Paraná encontrou-se com Cabrera, a quem reconheceu o direito sobre a área. Garay decidiu então fundar no lugar uma cidade intermediária: Santa Fe da Vera Cruz. A tarefa de Garay completou-se em 1580, quando fundou a cidade de Trinidad e Porto de Santa Maria del Buen Ayre, que com o tempo seria conhecida como Buenos Aires.
Na região do Cuyo, à época sob autoridade do Chile, o governo fundou em 1561 a cidade de Mendoza, por Pedro de Castillo. Anos mais tarde, em 1594, seria fundada San Luis de la Punta de los Venados, atribuída a Luis Jofré de Loaysa, completando a colonização do Cuyo, habitada por pacíficos huarpes — que sofreram duramente o julgo imposto pelos conquistadores (trabalho e morte nas minas do Chile), até que uma mestiçagem quase completa com os europeus trouxe a paz.
A colonização continuou de maneira paulatina, fundando-se cidades que séculos mais tarde dariam origem às províncias argentinas: Hermando de Lerma fundou em 1582 a cidade de San Felipe de Lerma no vale de Salta; em 1588 o processo se extende à província do Rio da Prata, com a fundação de San Juan de Vera de las Siete Corrientes; em 1591 Juan Ramirez de Velasco funda a cidade de Todos los Santos de la Nueva Rioja e, em 1592, é fundada San Salvador de Jujuy por Francisco de Argañaraz. A última das cidades argentinas é San Fernando del Valle de Catamarca, fundada em 1683 por Fernando Mate de Luna.
Durante todo o período da conquista não se conseguiu penetrar nos Vales Calchaquies, onde haviam se refugiado os povos originais da Argentina. A escassa população espanhola em Tucumán deixou a situação mais dificil. A primeira das revoltas calchaquies iniciou-se em 1630 com a ascenção do caquique Chalemin, e manteve-se até 1643, com intensas lutas, o incêndio de La Rioja e a segunda destruição de Londres. A segunda rebelião começou por conta de um aventureiro andaluz que negociou com o governador Alonso de Mercado y Villacorta a exploração dos vales calchaquies com o título de Inca para conseguir dominar os indígenas — acordo este desaprovado pelo Vice-rei do Peru. Após lutas cruéis, Mercado y Villacorta derrotou o andaluz e dizimou as tribos, sendo a última a dos quilmes, derrotados em 1665 e deportados a uma missão próxima a Buenos Aires, onde hoje está a cidade de Quilmes.
[editar] A Colônia e o Vice-Reinado (1665-1810)
A repressão dos indígenas nos vales Calchaquies, a entrega em mita de muitos deles para trabalhar nas minas de Potosí, o processo de mestiçagem e a grande aculturação fizeram que as encomiendas dessem lugar a um campesinato relativamente livre. Na segunda metade do século XVI, tanto o Alto Peru e Tucumán como o Paraguai exigiam a criação de um porto no Atlântico Sul para poder estabelecer laços de comércio mais próximos com a Espanha e diminuir seu isolamento. É por estes motivos — e pela ameaça de incursões estrangeiras no Rio da Prata — que a Coroa Espanhola autoriza a segunda fundação de Buenos Aires. Desde então a cidade se converteu na saída natural dos produtos altoperuanos (entre eles a prata) e do Paraguai. Estabeleceu-se então, na década de 1580, um lucrativo comércio entre Tucumán e o Brasil através da cidade. Porém, devido à saída não autorizada de metais preciosos por esta via, em 1594 a coroa proíbe o comércio no porto de Buenos Aires, com algumas exceções para evitar o desabastecimento da população: a autorização de embarcar duas embarcações anuais com produtos da região (couro, principalmente) e uma certa tolerância com o contrabando.
[editar] O Contrabando
É justamente este último (o contrabando) o que seria a principal atividade econômica de Buenos Aires colonial pré-vice-reinado, e um constante objeto de perseguição de algumas autoridades. Entre estas destacou-se Hernando Arias de Saavedra (Hernandarias), primeiro governador do Rio da Prata nascido na América. Sua constante luta contra os contrabandistas criollos e portugueses na região foi em vão. É por ele que em 1617 ocorre a cisão da província em duas: O Paraguai e o Rio da Prata (territórios das atuais cidades de Buenos Aires, Santa Fe e Corrientes).
O contrabando se realizava de forma bastante aberta: geralmente um barco português, holandês ou francês ancorava nas proximidades da cidade e solicitava as reparações necessárias, as quais pagava como parte a carga que levava. Muitos comerciantes fizeram grandes fortunas em Buenos Aires, devido à necessidade de bens materiais e insumos que eram necessários em Tucumán e no Alto Peru — era altamente oneroso o transporte dos insumos através das fragatas e galeões, que deveriam atravessar o istmo do Panamá, embarcados até Lima e ainda cruzar os Andes (e várias aduanas secas). Uma aduana seca estabelecida em Córdoba em 1622 foi a reação para deter a demanda por bens contrabandeados.
A fundação da cidade de Colônia do Sacramento pelos portugueses à frente de Buenos Aires em 1680, veio reafirmar o crescimento do contrabando. Tomada meses depois pelo governador do Rio da Prata com um contingente de índios de Misiones, foi restituída à coroa Portuguesa no ano seguinte, através de um tratado. A Colônia foi tomada novamente em 1705, diante do afluxo da Guerra da Sucessão Espanhola, para ser devolvida novamente em 1715, desta vez sob a influência da Tratado de Utrecht. A briga entre Espanha e Portugal pelo Rio da Prata continuou em 1724, quando o governador espanhol Bruno Mauricio de Zavala funda a cidade de Montevideo para evitar a tomada da baía por um contingente proveniente do Brasil. Em 1750, a Espanha, pelo Tratado de Permuta, troca a Colônia pelo Mato Grosso e parte das missões jesuítas, originando uma guerra entre Bandeirantes (história) e guaranis, sendo este tratado revogado em 1761; em 1762, por conta da Guerra dos Sete Anos, o governador Pedro de Cevallos toma pela terceira vez a Colônia, que é devolvida no ano seguinte à coroa Espanhola em troca de Havana e Manila, tomadas pelos ingleses.
Em 1776 a Espanha se dá conta da necessidade em expulsar os portugueses do Rio da Prata, quando decide pela criação do Vice-Reinado da Prata, tendo como capital a cidade de Buenos Aires. Dessa forma, Pedro de Cevallos é enviado na chefia de um importante exército, que foi aumentado com um contingente de guaranis, acostumados a lutar contra os portugueses. Cevallos toma Colônia e a destrói, jogando sal no local de forma simbólica (a exemplo de Cartago), já que brevemente a cidade seria repovoada por criollos. Enquanto preparava o ataque à província do Rio Grande do Sul, firma-se em 1777 o Tratado de Santo Ildefonso, que repete as cláusulas do Tratado de Permuta.
[editar] As Missões Jesuítas
Em 1609 foi fundada a primeira das Missões jesuítas guaranis. As trinta missões chegaram a ser, no século XVIII, um verdadeiro empório comercial, um "estado dentro do Estado", como denominavam seus detratores, que se estabeleceu como um sistema de organização econômica e social distinto ao das colônias que as rodeavam. Visto o respeito com que os jesuítas tiveram pela organização social comunitária dos guaranis, conseguiu-se que as missões tivessem a base do seu crescimento. As missões eram povos indígenas, administrados pelos mesmos guaranis (sob o olhar paternalista dos missionários), onde a terra se dividia em duas: a tupá mbaé (propriedade de Deus), comunitária, e a avá mbaé (propriedade do homem), para a exploração familiar. O excedente era comercializado por todas as colônias do entorno (Plata, Tucumán, Brasil e até Alto Peru e Espanha) e proporcionava aos jesuítas capital para a expansão das missões e a manutenção de seus colégios e universidades (como tinham em Córdoba, centro regional da Companhia de Jesus).
Os principais produtos comercializados pelas missões eram a erva mate, o tabaco, o couro e as fibras têxteis. Houve um grande assédio às missões por parte dos bandeirantes — caçadores de índios e riquezas provenientes do Brasil — que pretendiam vendê-los em São Paulo, cidade que, ironicamente, era uma missão jesuíta em sua fundação. As missões tiveram um papel chave na defesa do Paraguai e do Rio da Prata da expansão portuguesa. Justamente, depois da batalha de Mbororé, em 1644 (que durou 10 dias), na qual um exército guarani derrotou uma bandeira, foi permitido aos indígenas o uso de armas de fogo (porém apenas as de menor calibre). Tais exércitos das Missões foram de grande utilidade durante os combates entre Espanha e Portugal no Rio da Prata.
Além do trabalho, reza e culpa, os jesuítas também ensinaram aos guaranis música e arte. Assim, após a expulsão dos jesuítas do território, muitos guaranis mudaram-se para as cidades coloniais, como Corrientes, Assunção ou Buenos Aires, onde se destacaram como compositores e maestros de música, joalheiros e pintores. Em 1767 a Espanha expulsa a Companhia de Jesus de suas possessões, com o qual os povos índios passaram a depender dos governadores civis espanhóis, que os exploraram à revelia, até ao ponto em que no proncípio do século XIX quase todas as missões estavam despovoadas e em ruínas.
[editar] Economia Colonial
Durante a época colonial e até o regulamento de comércio livre de 1778, a economia de Tucumán e Cuyo estava dedicada a produção de insumos e bens de consumo para os mercados do Alto e Baixo Peru, Buenos Aires e Paraguai. Assim, vinhos e aguardente de Cuyo, mulas de Córdoba, tecidos de Salta e Tucumán, carretas de Córdoba e Tucumán, etc. eram produzidos sob o amparo do protecionismo espanhol. No século XVIII, sob os Bourbons, a atividade começou a variar, buscando proteger os interesses comerciais dos produtores peninsulares nos mercados cativos coloniais.
Em um primeiro momento, a atitude foi eliminar a concorrência: na localidade de Aimogasta conserva-se a "oliva histórica", segundo a tradição, o único sobrevivente da tala ordenada por Carlos III para eliminar a concorrência das azeitonas espanholas em La Plata (curiosamente, o espanhol Antonio de Alcedo, em sua obra Dicionário Geográfico-histórico das Índias Ocidentais ou América, de 1786-1789, menciona que La Rioja "teve durante um tempo algumas olivas, e vendo os vizinhos a grande utilidade que os produzia o azeite deram em economizá-lo de modo que nem para as lamparinas da Igreja queriam o dar, colocando sebo em seu lugar; desde então foi castigo do Céu ou causalidade apenas que haja hoje vestígio delas").
O comércio livre teve consequências desastrosas para a economia do interior da atual república Argentina, sendo que poucos setores, como o da aguardente, tecidos de lã e peças de montaria puderam sobreviver. Por outro lado, os comerciantes de Buenos Aires tiveram súbito aumento de sua atividade, o que trouxe um auge comercial, populacional e cultural à capital do novo Vice-Reino. A transferência da aduana seca de Córdoba para Jujuy em 1696 estabeleceu, para sempre, a área econômica sob domínio portenho e a fronteira norte da futura Argentina. Nos pampas, durante a colônia, a principal atividade econômica era a criação de gado. No princípio, devido a existência de milhares de cabeças de gado cimarrão, esta atividade se efetuava através das "vaquerías", viagens que penetravam nas planícies para capturar e abater o gado bovino, muitas vezes deixando para trás as carnes de menor valor econômico. Quando o número deste gado começou a se reduzir, apareceram as estâncias e o gado marcado, e de uma maior utilização do animal, com o surgimento das fábricas de sebo e charqueadas
[editar] Organização Social
A sociedade colonial apresentou aspectos dissonantes de acordo com a região. No interior, determinou-se uma sociedade de castas fortemente diferenciadas: os fazendeiros brancos eram o topo social e centralizados do poder nas cidades; eram educados e refinados, enquanto os campesinos mestiços estavam em condições quase servis. A população negra era muito escassa, reduzida quase em sua totalidade ao serviço doméstico, salvo em cidades mais mercantis como Córdoba. No momento da independência, existiam algumas encomiendas no Noroeste Argentino. Em contraponto, no litoral, e especialmente em Buenos Aires, os estancieiros não representavam a nata da sociedade, visto que eram produtores medianos, de caráter rude devido à atividade junto ao gado e que residiam na maior parte do tempo nas campanhas. A elite portenha estava representada pelos comerciantes.
Com a instalação do Vice-Rei e o comércio livre, instalou-se uma burocracia a quem só tinha acesso nativos da Espanha, exceto em posições mais baixas onde se admitiam criollos; e a multiplicação do comércio com a Espanha levou à instalação de várias casas comerciais espanholas na cidade, competindo diretamente com os comerciantes criollos, de menores recursos. Começava assim a dicotoma entre os criollos e os espanhóis. Nesta época, quase um terço da população era negra em Buenos Aires, e se alguns se dedicavam a tarefas domésticas e outros a tarefas agropecuárias, a grande parte era instruída em algum ofício (como sapateiro, por exemplo), ou se dedicavam ao comércio ambulante, trabalhando desta forma para beneficiar a seus amos.
O grupo humano que predominantemente definiu a colônia Argentina (ainda que não estivesse presente em todas as regiões) foi o gaúcho, No ambiente dos pampas, onde a mestiçagem foi minoritária, e onde o foco estava centrado hegemonicamente na cidade e não no campo, como foi o mundo pampeano prévio à aparição da estância como modo econômico produtivo paradigmático, aqueles que levavam a marca no sangue do indígena estavam destinados a serem excluídos das cidades. Nascidos dos encontros das vaquerias e das tolderias, seu mundo era o campo. O gaúcho é um ser semi-nômade, que em ocasiões mantêm uma família em um lugar fixo, mas que na maior parte do tempo perambula, trabalhando de tempos em tempos — mais após o fim das vaquejadas, para logo partir quando já não necessita mais do trabalho para sobreviver. Desde o século XVIII é visto pelas autoridades como parte dos "vagos e vagabundos", criminosos a quem se deve combater. Mas será mais adiante que se plantará o problema do gaúcho, pois no universo colonial não é um problema, visto que é parte do modo de vida tradicional pampeano.
A criação do Vice-Reinado do Rio da Prata trouxe um auge à cidade de Buenos Aires, onde, em poucos anos, instalaram-se a administração burocrática vice-reinal, a aduana (1778), o Consulado (1794), obra de iniciativa de Manuel Belgrano, a Audiência (Tribunal de Justiça) em 1785, a Academia de Náutica e a Escola de Desenho (1798). O primeiro jornal nasce em 1801, o Telégrafo Mercantil, que duraria pouco devido à censura do Vice-rei. O segundo, o Semanario de Agricultura, Industria y Comercio tem a mesma sorte. A população da cidade cresce de 9.568 habitantes em 1744 para 32.069 em 1778; mais de 40.000 em 1797 e quase 100.000 em 1810.
[editar] Surgimento do Estado Nação
[editar] Invasões Inglesas
As guerras napoleônicas também repercutiram na Argentina. Em 1797 o vice-rei Antonio Olaguer y Feliú autorizou o comércio com países neutros, devido às dificuldades no comércio com a Espanha por conta das hostilidades. Isto trouxe ao comércio navios estadunidenses, e o aumento da presença britânica no comércio portenho. Com a entrada aberta da Espanha na guerra ao lado da França, a Grã-Bretanha começou a fazer planos para obter mais influência nas colônias espanholas. Em 1806, após a tomada da colônia holandesa no Cabo da Boa Esperança, o comandante Home Pophan, junto ao general William Carr Beresford zarparam até o Rio da Prata, aparentemente por iniciativa própria. A frota toma primeiro Montevideo, para depois se dirigir a Buenos Aires.
O vice-rei Rafael de Sobremonte, ao saber da tomada de Montevideo, especulou que os ingleses não iriam se atrever a se lançarem sobre a capital do vice-reino, e decidiu destinar a maior parte das tropas de Buenos Aires a Montevideo, para retomar a futura capital uruguaia. Quando foi anunciado o desembarque das tropas inglesas na capital, o vice-rei a abandonou junto às rendas do vice-reino, prontas para serem enviadas à Espanha (as quais terminaram barradas nos caminhos próximos à cidade de Luján), com a intenção de organizar um exército e retomar Buenos Aires.
Em junho de 1806 os ingleses tomam Buenos Aires, e em um primeiro momento são recebidos com entusiasmo pelos partidários da independência. Ao se darem conta que os ingleses pretendiam transformar La Plata em uma colônia britânica, somaram-se a grupos que formavam uma iminente rebelião. Santiago de Liniers, que até então era comandante do porto de Enseada, cruzou a Banda Oriental onde se organizava um exército que partiu para Buenos Aires. No caminho, somaram-se milhares de homens entusiasmados, participantes da batalha campal que tomou conta de distintas ruas bonairenses, até encurralar os ingleses no Forte da Cidade e os obrigar à rendição. Retomada a cidade, a Corte (Audiencia) decide assumir o governo civil e entregar a Capitania Geral a Liniers, o qual o vice-rei acata retirando-se por precaução a Montevideo.
Em 1807 chega ao Prata uma segunda expedição inglesa, esta oficial, formada por 11 mil soldados ao mando do general John Whitelocke, que originalmente tinha por destino a tomada do Chile e o reforço de Buenos Aires, mas ao tomar conhecimento da derrota de Popham e Beresford decide retomar a cidade. Esta segunda expedição toma novamente Montevideo e ao desembarcar em Buenos Aires e desfazer as forças muito menores que faziam a resistência, ingressam na cidade por diversas ruas, confiantes de sua supremacia. Todavia encontraram resistência nos habitantes da cidade, que jogaram água fervente nas cabeças dos invasores, evitando assim a tomada da cidade. Com a derrota dos invasores, um cabildo aberto destitui Sobremonte de seu cargo e o envia para a Espanha para ser julgado. Substituindo-no, tomou posse como vice-rei interino Liniers, logo ratificado pelo rei.
Considera-se que geralmente as invasões inglesas são o prelúdio da Independência argentina por vários fatores, entre os quais a capacidade de auto-defesa, a criação de milícias criollas e a convicção de que os argentinos estavam em condição de determinar seu próprio destino.
[editar] O Processo de Independência
As notícias da Revolução Francesa e da Guerra da Secessão nos Estados Unidos insertou idéias liberais na América Latina. A Argentina começou seu processo de independência da Espanha em 25 de maio de 1810, em um episódio denominado Revolução de Maio, empenhando-se em guerras contra os espanhóis e seus partidários (realistas); a revolução não teve uma calorosa acolhida em todo o vice-reino: outras regiões do Rio da Prata estavam tão interessadas em se tornarem independente de Buenos Aires como da Espanha. Em 1811 o Paraguai produziu sua própria declaração de Independência.
Em 1812 as vitoriosas batalhas em que Manuel Belgrano libertou Tucumán e Salta asseguraram o êxito da independência e permitiram que José Gervasio Artigas reunisse o primeiro Congresso da Independência em Arroyo de la China, atual Concepción, Uruguai, em março e abril de 1815. As campanhas militares lideradas pelo general José de San Martín e Simón Bolívar entre 1814 e 1817 incrementaram as esperanças de independência da Espanha, que foi declarada finalmente em Tucumán em 9 de julho de 1816. A desordem reinava nas províncias da atual Argentina. Em 1820, José de San Martín preparava um exército destinado a libertar o Chile e o Peru declarando sua independência. Em 26 de junho de 1822 celebrou-se a histórica reunião com Simón Bolívar.
[editar] Declaração da Independência
Os argentinos consideram San Martín — que realizou a campanha de independência da Argentina, Chile e Peru — como herói de sua emancipação e "Pai da Pátria".
Após a derrota dos espanhóis, os unitários e os federais iniciaram um longo conflito para determinar o futuro da Nação. Em 1820, com a Batalha de Cepeda, iniciou-se um período de autonomias provinciais e guerras civis; a união entre as províncias só se mateve graças aos chamados tratados interprovinciais. As lutas internas no país em formação sucederam-se por mais de quarenta anos. Os caudilhos provinciais dominaram o mapa político ao longo do século XIX e manejavam seus redutos com exércitos próprios.
Em 1826 o Congresso nomeava o primeiro presidente constitucional, Bernardino Rivadavia, de tendências centralistas. Com a cessão do atual Uruguai para o Brasil, foi destituído, assumindo Manuel Dorrego, partidário das autonomias provinciais, que encerrou o conflito com o Império Brasileiro reconhecendo a independência da Banda Oriental. Os unitários sublevados fuzilaram Dorrego, o que iniciou uma nova guerra civil entre unitários e federais.
Em 1829 Juan Manuel de Rosas, federal, assume o governo da província de Buenos Aires, mantendo-se no poder até 1832 e posteriormente de 1835 a 1852. Rosas foi derrotado após uma revolução liderada pelo General Justo José de Urquiza, apoiada pelo Uruguai e Brasil. Finalmente, em 1853, foi sancionada a Constituição Argentina, que se mantém até os dias atuais, com algumas modificações.
[editar] O Surgimento da Argentina Moderna
[editar] A Organização Nacional e a Guerra do Paraguai (1853-1870)
Com a oposição de Buenos Aires, que se regia como um Estado Independennte, Urquiza organizou o Congresso Constituinte de Santa Fé (1853), que aprovou no ano seguinte uma Constituição de caráter republicano, representativo e federal. Urquiza foi proclamado presidente da Confederação, ainda que surgissem dificuldades entre as províncias e Buenos Aires. Emendada a Constituição, Santiago Derqui foi eleito Presidente e Urquiza e Bartolomé Mitre nomeados governadores de Entre Ríos e Buenos Aires, respectivamente. Novos conflitos internos abriram as hostilidades e na Batalha de Pavón (1861) Mitre derrotou Urquiza. Mitre foi nomeado presidente constitucional por um período de seis anos; em 1868 foi sucedido por Domingo Faustino Sarmiento. Em 1865, a Argentina uniu-se ao Brasil e ao Uruguai no que ficou conhecido como Guerra do Paraguai (chamada Guerra da Tríplice Aliança na Argentina e Grande Guerra no Paraguai), derrotando este país, liderado pelo presidente Francisco Solano López (1870).
Sarmiento foi sucedido por Nicolás Avellaneda, que se empenhou em controlar os territórios ainda ocupados pelos indígenas. Durante a década seguinte, o General Julio Argentino Roca estabeleceu o controle do governo nacional sobre os Pampas ao aniquilar os povos indígenas a quem originalmente pertenciam as terras na Campanha do Deserto. Em 20 de setembro de 1880, o Congresso Nacional declarou Buenos Aires capital da República Argentina.
Essas três presidências fundam a Argentina moderna: dão incentivo massivo à imigração européia (principalmente italiana), investem vigorosamente na educação primária (a Argentina logrou ser em pouco tempo o país de população mais educada e culta da América Latina) e, durante aqueles anos, a Argentina começa a ganhar a fama de celeiro do mundo, exportando carnes, grãos e lãs para a Europa e os Estados Unidos.
[editar] A Geração de 80
Após a presidência de Julio Argentino Roca, assumiu Miguel Juaréz Celman (1886), deposto em 1890 devido à revolução — que foi sufocada e substituído pelo vice-presidente Carlos Pellegrini. Sucederam no cargo Luis Sáenz Peña (1892), José Evaristo Uriburu (1895), Julio Argentino Roca (1898), Manuel Quintana (1904), José Figueroa Alcorta (1906), Roque Sáenz Peña (1910) e Victorino de la Plaza (1914).
Duas forças se combinaram para criar a nação moderna argentina ao final do século XIX: a introdução de técnicas modernas de agricultura e a integração da Argentina à economia mundial. Os investimentos estrangeiros e a imigração européia formentaram o progresso econômico da época. Os investimentos, principalmente de origem inglesa, foram destinnados a áreas como o desenvolvimento ferroviário e os portos. Os imigrantes — que trabalhavam para desenvolver os recursos da Argentina, principalmente nos pampas ocidentais — chegaram de toda a Europa, assim como nos Estados Unidos. Entre os anos 1880 e 1929 o país teve prosperidade econômica, orientada cada vez mais para a exportação de matérias primas e importação de manufaturados.
Os governos de Roca e subseqüentes foram aliados dos oligarcas argentinos, especialmente os grantes proprietários de terra. As forças conservadoras dominaram a política local até 1916, quando a lei Sáenz Peña de sufrágio universal permitiu o triunfo eleitoral de seus tradicionais rivais, os radicais, liderados por Hipólito Yrigoyen. Os radicais, que haviam protagonizado diversas tentativas revolucionárias contra o regime oligárquico, abriram as portas da expansão econômica para a classe média.
[editar] O Centenário da Independência
Apesar da prosperidade econômica argentina, o país estava marcado por grandes desigualdades regionais e sociais.
Em 1910 completou-se o centenário da Revolução de Maio, passo inicial para a independência. O Governo argentino, presidido por José Figueroa Alcorta, decidiu organizar as festividades da data, como um acontecimento internacional ao qual estiveram presentes personalidades de todo o mundo. Compareceram a Infanta Isabel, da Espanha; o presidente do Chile, Pedro Montt e representantes de numerosos países. Os presidentes da Bolívia e do Brasil estiveram ausentes devido às más relações diplomáticas com a Argentina. A capital, Buenos Aires, foi o centro dos festejos, com diversas cerimônias organizadas pelo governo e particulares.
Paralelamente às festividades, os sindicatos expressaram seu descontentamento com a desigualdade social e econômica. A CORA e a FORA, dirigidas por correntes socialista, sindicalista revolucionária e anarquista, realizaram protestos e ameaçaram promover uma greve geral. Pediam o fim da Lei de Residência, que dava ao governo a possibilidade de expulsar estrangeiros sem o devido processo legal. O governo impôs estado de sítio e a polícia reprimiu os manifestantes. Os partidos operários se fragmentaram e a greve não se realizou.
Para a elite argentina, o ato do Centenário foi uma demonstração do poder e grandeza que perduraria por alguns anos.
[editar] Os Governos Radicais (1916-1930)
Com a chegada dos Radicais ao poder, houve uma declaração de princípios: a Causa contra o Regime, a Reparação Histórica, a recuperação da ética e o respeito ao Federalismo.
No conceito de "Causa contra o Regime", a "causa" era a causa radical, e seus ideais eram a honra do país, a pureza do sufrágio, a reorganização nacional, a democracia e o respeito à Constituição e às leis. O "regime" era o governo do Partido Autonomista Nacional (PAN); contra este regime chega a "causa" (a União Cívica Radical, UCR), sanando os danos cometidos pelos antecessores. A retórica radical propôs ideais difíceis de alcançar, realizando poucas ações concretas.
[editar] O Primeiro Governo de Hipólito Yrigoyen(1916-1922)
Com a promulgação da Lei Sáenz Peña, a Argentina teve suas primeiras eleições livres, com sufrágio universal e secreto. Yrigoyen foi eleito e assumiu a presidência em 1916. Este período é conhecido pela história argentina como "A Etapa Radical", que se segue até 1930, com o primeiro golpe de estado do país. O governo privilegiou um setor anteriormente esquecido, a classe média. Entre as ações mais importantes do 1º mandato de Yrigoyen estão a criação da Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF), a reforma universitária e a criação da Marinha Mercante Nacional.
O país teve grande fomento econômico neste período devido à Primeira Guerra Mundial, devido à exportação de produtos primários.
[editar] O Governo de Marcelo T. de Alvear (1922-1928)
As eleições presidenciais ocorreram em 2 de abril de 1922. A UCR obteve 450.000 votos; já a Concentração Nacional (conservadores) obteve 200.000 votos; o Partido Socialista, 75.000 votos — mesmo número que o Partido Democrata Progressista.
Marcelo Torcuato de Alvear desenvolveu uma presidência diferente de seu antecessor: as medidas de transformação econômica, política e social delineadas no governo de Yrigoyen foram atenuadas, quando não revertidas, como no caso da Reforma Universitária ou quando o presidente vetou o projeto de lei que extendia a jubilação a amplos setores laboriais que o enfrentaram com o movimento sindical.
Houve grande conflito entre os partidários da UCR, fragmentando o partido. De um lado, os antipersonalistas, que apoiavam o presidente; do outro, os aliados de Yrigoyen, os personalistas. As duas ramificações da UCR apresentaram candidatos distintos para a eleição presidencial de 1928, entre eles o próprio Yrigoyen, concorrendo a um segundo mandato, sendo reeleito com aproximadamente o dobro de votos de seu oponente.
[editar] O segundo governo de Hipólito Yrigoyen (1928-1930)
Hipólito Yrigoyen é reconduzido ao cargo em 12 de outubro de 1928. No ano seguinte se inicia a Grande Depressão mundial. O radicalismo do presidente não conseguiu reagir à crise. A divisão e o enfrentamento entre setores internos do radicalismo criou um nível de violência política inédito desde o fim das guerras civis, o que afetou a legitimidade do governo.
O presidente ordena intervenção federal nas províncias de Mendoza e San Juan, governadas por movimentos radicais dissidentes. Ao final, um personalista assassinou um senador da Província de Mendoza. O crime causou estupor no país. Yrigoyen sofreu um atentado anarquista ao sair de sua casa em direção à sede do Governo. No início de 1930 houve um novo assassinato em uma província sob intervenção federal: o advogado Manuel Ignacio Castellano, oponente de Yrigoyen.
As eleições parlamentares de março causam uma derrota acachapante do radicalismo na cidade de Buenos Aires, onde o Partido Socialista Independente obtém a vitória. O radicalismo personalista foi derrotado pela oposição em todo o país por cerca de 40 mil votos.
Com a crise econômica e política, o governo de Yrigoyen ficou extremamente debilitado, faltando ainda quatro anos para novas eleições presidenciais. A UCR encontrava-se totalmente dividida e o governo não dialogava com a oposição.
Trinta e sete dias após a YPF intervir no mercado petroleiro, com a fixação do preço e rompimento dos trustes, ocorreu o primeiro golpe de Estado da Argentina, em 6 de setembro de 1930. Assim, o general José Félix Uriburu derrota o governo constitucional, iniciando uma série de golpes de estado e governos militares que se extenderão até 1983.
[editar] A Década Infame
Os treze anos seguintes estariam dominados pelas consequências do golpe do general José Félix Uriburu, que ficou pouco tempo no poder, substituído brevemente por Agustín Pedro Justo, que ficou no cargo até 1937. No plano econômico mundial, o protecionismo impera entre os paises. A Inglaterra anuncia a Convenção de Ottawa, que dá vantagens alfandegárias às suas colônias: devido à grande dependência argentina com o país, foi firmado o pacto Roca-Runciman em 1933, cedendo o setor ferroviário do país em troca de privilégios para a exportação da carne argentina.
Com o uso aberto de fraude eleitoral e repressão, a União Cívica Radical, conduzida por Marcelo T. de Alvear, foi sistematicamente excluída do governo. Com o radicalismo apareceram fortes correntes nacionalistas com os apoiadores de Yrigoyen, que formaram o grupo F.O.R.J.A.(Fuerza de Orientación Radical de la Joven Argentina). Também surgem os primeiros núcleos da intransingência radical, que conduzirá a UCR na década seguinte e que neste momento tem como centro Amadeo Sabattini, governador da província de Córdoba (1936-1940).
Lisandro de la Torre, do Partido Socialista, juntamente com seu aliado, o Partido Democrata Progressista, denunciaram no Congresso os sucessivos atos de corrupção em benefício da elite realizados pelo regime, o que incluiu o assassinato do senador Enzo Bordabehere dentro do Senado.
O movimento operário argentino também se organiza nesta época, formando a Confederação Geral do Trabalho (CGT), sobre o sindicato de atividade e novas idéias nacionalistas e de relações com os partidos políticos populares.
Até 1939, quando se iniciou a Segunda Guerra Mundial, a Argentina estava governada por Roberto Ortiz, um radical "antipersonalista", além de ter firmado um pacto de paz entre o Paraguai e a Bolívia, que haviam se enfrentado nos anos anteriores na Guerra do Chaco. Esta política pacífica e sem beligerência se manteve ja que até 1942 o país adotou uma linha neutra, sem qualquer tipo de intervenção. Curiosamente em 1939, nas proximidades de Buenos Aires, naufragou o encouraçado alemão Admiral Graf Spee, perseguido de perto por três embarcações inglesas.
Entre 1940 e 1943 Ramón Castillo ocupa a presidência. Inicia-se neste período o novo modelo econômico chamado ISI (Industrialização por Substituição de Exportações). Formou-se a UIA (União de Industriais Argentinos), que foi tomando mais poder com o desenvolvimento da indústria, fomentado pelo governo.
[editar] O Peronismo (1945-1955)
[editar] Antecedentes: A Revolução de 4 de Julho de 1943 (1943-1946)
A politica argentina entre 1943 e 1944 começou a dar demonstrações de apoio à Alemanha, que começava a ser derrotada na Europa mas sustentado com matérias primas de origem argentina. Também houve apoio ao Japão, mas estes se findaram em 1944 com a chegada ao poder de Pedro Pablo Ramírez, um militar argentino que havia lutado para a Alemanha na Primeira Guerra Mundial e que rompeu relações diplomáticas com os dois países, que eram derrotados na Europa e no Pacífico. Somente em 1945, último ano do conflito, é que a Argentina fez declaração formal de guerra à Alemanha.
Muitos sustentam que a Argentina recebeu grandes integrantes nazistas vindos da Europa. Sabe-se que Adolf Eichmann esteve no país, onde foi capturado em 1960 pela Mossad usando o falso nome de Ricardo Klement.
Em 1943 ocorre novo golpe de estado na Argentina, pelas mãos do GOU (Grupo de Oficiais Unidos), jovens militares de tendências filofascistas, anticomunistas e ultracatólicas. O golpe é levado por Arturo Rawson, que imediatamente foi substituído por Pedro Ramírez. O então coronel Juan Domingo Perón ocupa inicialmente um cargo como secretário no Ministério da Guerra, em seguida diretor do Departamento de Trabalho e mais adiante Ministro da Guerra e vice-presidente.
Edelmiro Farrel, assumindo uma política de aproximação com os Estados Unidos, tentou sufocar a política de trabalho levada adiante por Perón com apoio dos sindicatos, prendendo-no na ilha Martín García.
Pode-se ter como data de início do movimento peronista 17 de outubro de 1945, quando as movimentações populares organizadas pela CGT de Angel Borlenghi conseguiram a libertação de Perón, que estava encarcerado por setores militares opostos a sua influência crecente no governo.
[editar] O Primeiro Governo de Juan D. Perón (1946-1955)
Nas eleições de 1946 Perón se apresentou como candidato do Partido Laborista (Trabalhista), tendo como vice um radical da dissidente Junta Renovadora. As eleições polarizaram o país: por um lado o peronismo, os sindicalistas da CGT e grupos yrigoyenistas do radicalismo, UCR Junta Renovadora ou FORJA e dos conservadores das províncias do interior; pelo outro lado a União Democrática, que contava com a participação da UCR e os partidos Socialista e Democrata Progressista, além do apoio do Partido Comunista, os conservadores da Província de Buenos Aires, e o embaixador dos Estados Unidos, Spruille Braden. Perón foi eleito com 56% dos votos.
Após assumir a presidência, Perón começa rapidamente a consolidar seu poder. Internamente, dissolve o Partido Trabalhista e o integra ao novo Partido Peronista (chamado brevemente de Partido Único da Revolução), que contará com três vertentes: a sindical (da CGT, única assossiação sindical permitida), a política e, a partir de 1952, quando o direito de voto foi extendido às mulheres, a vertente feminina. Mais tarde se considerará a Juventude Peronista como quarta vertente do Movimento. Por outra parte, procedeu-se a remoção via juízo político dos membros da Corte Suprema e em 1949 convocou-se eleições para a Assembléia Constituinte que ditou uma nova Carta Constitucional de acordo com os princípios do mandatário.
O governo peronista foi particularmente duro com a oposição política e sindical: muitos dos seus dirigentes foram presos. Nas universidades do país removeram-se professores dissidentes e impulsionou-se a CGU — Central Geral Universitária — como representante dos estudantes em oposição à majoritária FUA (Federação Universitária Argentina). Com um critério similar, criou-se a UES (União de Estudantes Secundários). A partir de 1950, a situação econômica começa a piorar. Ainda assim, Perón volta a se eleger em 1951.
Em 1949 Perón reformou a Constituição de 1853, de maneira que pôde ser reeleito em 1951. Neste ano, Eva Perón tentou acender à nomeação de vice-presidente no segundo mandato de Perón. Apesar do respaldo da CGT, a oposição militar a conduziu à sua célebre renúncia em um ato na Avenida 9 de Julio. Evita morreu de câncer uterino, aos 33 anos, em 1952. Seu corpo foi embalsamado e mantido em exposição até o golpe militar que expulsou seu marido do poder em 1955. Clandestinamente o cadáver foi enviado à Itália e enterrado com nome falso em Milão. Em 1972 foi devolvido a Perón. Atualmente se encontra no cemitério de La Recoleta em Buenos Aires.
[editar] O Estado de Bem-Estar e a Economia no Primeiro Peronismo
A chegada do peronismo ao poder pela democracia produziu-se em pleno período pós-guerra, o qual significava a debilidade econômica da Europa em ruínas e a forte liderança dos Estados Unidos no hemisfério ocidental. Neste cenário, a Argentina se encontrava pela primeira vez em sua história na posição de credor dos países centrais, graças a suas exportações de carne e grãos às potências beligerantes. O principal devedor era o Reino Unido, que diante da emergência declarou sua iliquidez, bloqueando a livre disponibilidade de seus montantes. O governo peronista optou por utilizar estes créditos para adquirir empresas de serviço públicas de capital britânico, que de qualquer forma seus proprietários desejavam transferir, visto a inaptidão de continuar intervindo capitais.
A bonança econômica da Argentina continuava, impulsionada pelo crecente mercado que se havia formado pela baixa das importações provenientes dos países em guerra. Isto permitiu ao governo aplicar uma vasta política de bem-estar que incluía a efetivação de novos direitos sociais, como períodos de férias e descanso, planos de moradia, investimentos em saúde e educação, etc. Ao passo que todos estes benefícios eram largamente expostos em publicidade e capitalizados pelas figuras de Perón e sua mulher, que comandava uma fundação de assistência social financiada basicamente com fundos estatais e aportes empresarias (geralmente de caráter obrigatório), também as nacionalizações e estatizações dos serviços públicos, como as ferrovias britânicas, eram proclamadas como conquistas de soberania e independência econômica.
O tempo, porém, evidenciou que o modelo econômico não era sustentável, já que o Erário se destinava quase exclusivamente à distribuição de benefícios diretos para os assalariados — o que impedia novos investimentos e o crescimento da produção. O contexto mundial deixou de ser favorárel, já que os Estados Unidos, mediante o Plano Marshall, colocava seus excedentes agrícolas na Europa, o que limitava o acesso ao mercado dos alimentos argentinos.
A partir de 1950 a situação econômica começa a piorar e um novo ministro de Economia, Alfredo Gómez Morales, aplicou medidas de corte ortodoxas, como o ajuste do gasto público. Perón, que havia declarado uma vez que "cortaria suas mãos" antes que endividasse a Nação comprometendo sua independência econômica, contraiu um empréstimo com o Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento, além de firmar contratos de exploração pretolífera com companhias estadunidenses.
Com esta situação o governo começa a ter dificuldades políticas; um golpe militar (a Revolução Libertadora), liderado por Eduardo Lonardi, ocorre em 1955. Assim, Perón teve que se exilar, fixando-se por fim na Espanha — e mesmo no exílio continuou sendo popular para os argentinos.
[editar] De 55 a 76: Violência, Instabilidade e Conflito
Durante os anos 60 e 70 todos os governos eleitos foram derrubados por golpes militares. O conflito social e a violência política se intensificaramm. Paradoxalmente a economia registrou um dos mais altos índices de crescimento do mundo (Gerchunoff et al). A partir da segunda metade da década de 60 os problemas sociais se agravam e aparece a insurgência guerrilheira de ERP e Montoneros, além de outras organizações armadas. Em 1972 Perón volta ao país e o claro triunfo do Peronismo nas eleições de 1973 é afetado pela morte do mesmo no ano seguinte. O país caminhava para uma tragédia.
[editar] A Revolução Libertadora (1955-1958)
Em 6 de setembro de 1955 as Forças Armadas, a mando do general Eduardo Lonardi, derrubam Perón e estabelecem a chamada Revolução Libertadora. Poucos dias depois o general Pedro Eugenio Aramburu tirou Lonardi do cargo, tomou a presidência e revogou a Constituição Nacional reformada em 1949. O governo militar foi assessorado por uma Junta Consultiva Nacional, integrada por todos os partidos políticos com exceção dos que apoiavam o peronismo ou o comunismo.
Em 1956 o governo militar ordenou o fuzilamento de 31 militares e civis peronistas que haviam tentado dar um golpe de estado.
Em 1957 ocorrem eleições para reforma da Constituição, com o peronismo sendo ilegalizado. A União Cívica Radical do Povo, dirigida por Ricardo Balbín, obteve a primeira minoria, ainda que a quantidade de votos em branco do eleitorado peronista tivesse sido levemente superior. A União Cívica Radical Intransigente, dirigida por Arturo Frondizi, sustentou que a revogação da Constituição e a convocação de uma Constituinte com a proscrição do Peronismo eram atos ilegais, abandonando a Assembléia Constituinte em 1957. A Assembléia validou a revogação das reformas constitucionais de 1949, restabelecendo a Constituição de 1853 e agregou o artigo 14 bis, sobre proteção ao trabalho.
[editar] Presidência de Frondizi (1958-1962)
Em 1958 Arturo Frondizi, pela União Cívica Radical Intransigente e com um projeto desenvolvimentista, ganhou as eleições presidenciais com apoio do peronismo ilegalizado. Seu governo foi economicamente alinhado com os Estados Unidos — fazendo parte da Aliança para o Progresso — e diplomaticamente independente, com apoio a Cuba após a imposição do embargo econômico estadunidense.
As reformas na indústria de base e infraestrutura implementadas durante o seu governo permitiram que a Argentina, na década seguinte, tivesse o mais alto índice de crescimento econômico do mundo. Devido à anulação da lei que proibia o Peronismo de existir legalmente e sua negativa em anular as eleições legislativas de 1962, onde o Peronismo teve grande vitória, foi destituído pelas Forças Armadas e preso.
[editar] Golpe militar e presidência de Guido (1962-1964)
O governo de Frondizi foi derrubado em 1962 por um golpe militar, depois da vitória do peronismo em várias eleições provinciais. Aproveitando a confusão, a Corte Suprema designou José María Guido, que era presidente provisório do Senado, como novo presidente do país, em seguida substituído por uma Junta de Comandantes.
[editar] A Presidência de Arturo Illia (1963-1966)
Em 7 de julho de 1963 ocorrem novas eleições presidenciais, com a proscrição do peronismo, sendo eleito Arturo Umberto Illia, candidato da União Cívica Radical do Povo.
Illia assumiu em 12 de outubro de 1963. Seu primeiro ato de governo consistiu em eliminar as restrições que pesavam sobre o peronismo. Desde a Revolução Libertadora as manifestações deste partido estavam proibidas pelo Decreto 4161/56 — cinco dias após Illia ocupar o cargo, realizou-se um ato comemorativo pelo 17 de outubro na Praça Miserere sem nenhuma limitação. Também foram revogadas as restrições eleitorais, habilitando a participação do peronismo nos comícios legislativos de 1965. Também revogou-se a proibição ao Partido Comunista e se promulgou penalidades à discriminação e violência racial.
Em 15 de junho de 1964 é publicada a lei do salário mínimo, vital e móvel, que previa a constituição do Conselho do Salário, integrado por representantes do Governo, empresariado e sindicatos. Também foi promulgada a Lei de Abastecimento, destinada a controlar os preços da cesta básica e a fixação de valores mínimos de gratificações e pensões.
Arturo Frondizi iniciou em seu governo uma política de exploração petrolífera baseada na concessão de territórios a empresas privadas, reservando à empresa estatal YPF a atividade de exploração e compra da produção das empresas concessionárias. Illia em sua plataforma eleitoral agregava que a política de concessões era contrária aos interesses nacionais, comprometendo-se a anular os contratos de concessão, o que ocorreu em 15 de novembro de 1963.
A participação da educação nas despesas do Orçamento argentino subiu de 12% em 1963 para 23% em 1965. Em novembro de 1964 inicia-se o Plano Nacional de Alfabetização, com o objetivo de diminuir a taxa de analfabetismo que era à época cerca de 10% da população adulta. Em junho de 1965 o Programa contava com 12.500 centros de alfabetização e seu trabalho alcançava 350.000 alunos de dezoito a oitenta e cinco anos de idade.
Também foram promulgadas leis para o controle do preço dos medicamentos, além de impor limites para a remessa de divisas ao exterior e compra de insumos. As empresas também deveriam prestar contas de seus custos e formalizar todos os contratos que concediam regalias à produção. Tais leis tiveram grande peso político para a destituição de Illia da presidência da Argentina por meio de um golpe militar.
Illia promoveu políticas econômicas que visavam o ordenamento do setor público, diminuição da dívida externa e de impulso à industrialização. O Produto Interno Bruto argentino evoluiu −2,4% em 1963, 10,3% em 1964 e 9,1% em 1965. O desemprego diminui de 8,8% em 1963 para 5,2% em 1966.
As eleições legislativas sem restrição partidária ocorrem em 1965, com vitória do Peronismo sobre a União Cívica Radical por mais de meio milhão de votos. Isso agita a situação interna das Forças Armadas, tanto pela existência de facções militares e peronistas que tinham um estreito vínculo político como pela existência de setores militares fortemente antiperonistas.
Concomitantemente, agrega-se uma forte campanha de desmoralização do governo impulsionada por setores econômicos através de certos meios de comunicação. Estes jornalistas apelidam o presidente como "a tartaruga", caracterizando sua gestão como sem energia e lenta, com alento aos militares para eliminar a administração do partido militar. Desta forma, a política de Illia torna-se seriamente debilitada.
Em 28 de junho de 1966 ocorre o golpe — com protestos de setores da imprensa e do sindicalismo — em meio à indiferença da população. O general Julio Alsogaray se apresenta às 5 horas deste dia no despacho presidencial e convida Illia a se retirar, que a princípio se nega, mas às 7h20, ao ver o gabinete invadido por policiais com pistolas lança-chamas e a Casa Rosada cercada por tropas, opta por se retirar. No dia seguinte assume o General Juan Carlos Onganía.
O golpe conduziu uma série de presidentes apoiados pelo Exército. Alejandro Lanusse, em 1971, foi apoiado por vários setores e tentou restabelecer a democracia em um ambiente de contínuos protestos de peronistas da classe trabalhadora.
[editar] As Presidências de Cámpora, Perón e Isabel Martínez (1973-1976)
Em 11 de março de 1973 a Argentina teve eleições gerais pela primeira vez em 10 anos, com um acachapante triunfo do peronismo, ainda que o próprio Juan Perón tenha sido proibido de se apresentar como candidato. Poucos meses depois, em 13 de julho deste ano, o presidente Héctor José Cámpora renuncia para permitir novas eleições sem restrições, nas quais Perón, recentemente chegado do exílio, em 20 de junho de 1973 (mais conhecido como dia do Massacre de Ezeiza, cuja investigação judicial nunca chegou a se materializar), vence por ampla maioria nas eleições de segundo turno de 23 de setembro de 1973.
Perón morreu em 1 de julho de 1974. Sua mulher, María Estela Martínez de Perón, o sucedeu com uma administração cercada de problemas econômicos, conflitos dentro do partido e o crescente terrorismo praticado por insurgentes e movimentos paramilitares. Um novo golpe militar a retirou do poder em 24 de março de 1976.
[editar] Processo de Reorganização Nacional (1976-1983)
[editar] Jorge Rafael Videla (1976-1981)
O país se encontrava num caos político posteriormente à morte de Perón. Grupos extremistas realizavam seqüestros e assassinatos, levando a sociedade a um terror poucas vezes visto no país. Nesta situação surge o Processo de Reorganização Nacional, presidido originalmente por Jorge Rafael Videla, que se caracterizou por acentuada repressão, levando a cabo constantes perseguições, torturas e execuções de presos políticos. Assim como os outros países do Cone Sul, o governo argentino integrou a Operação Condor.
A administração de Videla foi marcada por violações sistemáticas aos direitos humanos, principalmente nos meios estudantis, além de questões de limites de fronteira com o Chile, que estiveram próximas de virar um conflito armado — matéria diplomaticamente mediada por João Paulo II. Houve também desmantelamento dos sindicatos e polarização na divisão de classes sociais.
É durante o seu governo que surge, devido aos inúmeros desaparecidos políticos, as Mães da Praça de Maio, associação de mães que durante anos reivindicou do governo o paradeiro de seus filhos. As caminhadas ocorriam todas as quintas-feiras e só deixaram de ser realizadas em 2006.
Economicamente o país desenvolveu uma economia mais ampla, competitiva e moderna, adaptando-se às correntes mundiais. Houve grande avanço das obras públicas.
[editar] Os Últimos Anos Militares
Em 1982, durante a presidência de Leopoldo Galtieri, iniciou-se a Guerra das Malvinas contra o Reino Unido, disputando-se a soberania das ilhas. O absoluto fracasso das tropas argentinas e a morte de aproximadamente 600 jovens soldados propulsionou o golpe definitivo ao regime militar. Com a volta da democracia em 10 de dezembro de 1983, estimou-se que o número de vítimas do governo era de cerca de 10 mil pessoas. A marca mais profunda das ditaduras foi a repressão sobre setores específicos da sociedade, especialmente os elementos politicamente mais ativos, como jornalistas e sindicalistas.
Cabe destacar que como em quase toda a América Latina, e devido à grande confusão anterior, graças ao temor que organizações armadas geraram na população, o Processo de Reorganização Nacional foi apoiado pela maioria do povo argentino, assim como também se realizaram festejos pela Guerra das Malvinas. Na atualidade este processo é condenado por grande parte da população.
[editar] O Retorno da Democracia
A derrota na Guerra das Malvinas obrigou o regime militar a convovar eleições democráticas. Contudo, as violações massivas aos direitos humanos realizadas entre 1976 e 1983, assim como uma ampla tradição em golpes militares, farão complexo o processo de transição à democracia, com reiteradas insurreições militares. Em 1989, pela primeira vez na história, um presidente de um partido entregou o poder a um presidente de outro partido. A situação voltou a se repetir em 1999, mostrando uma notável consolidação da democracia na Argentina.
Neste período a Argentina protagonizará uma importante mudança político-institucional e econômica, ao fundar junto com o Brasil, Paraguai e Uruguai o Mercosul, Mercado Comum do Cone Sul.
Apesar do avanço democrático, os governos eleitos pelo povo têm se mostrado insuficientes para atender os problemas socio-econômicos da população. A pobreza, que em 1974 era de 5%, subiu a 25% em 1983, atingindo o pico de 56% da população em 2002. O desemprego, que era de 6% em 1975 e 18% em 1995, chegou a espantosos 31% em 2002.
[editar] O Governo de Raúl Alfonsín (1983-1989)
Em 30 de outubro de 1983 realizaram-se eleições para escolha das autoridades democráticas. Raúl Alfonsín, candidato pela União Cívica Radical, foi eleiito com 52% dos votos, contra 40% do Partido Justicialista (peronista). O radicalismo também obteve maioria na câmara dos Deputados, porém o peronismo a conseguiu no Senado. Em 10 de dezembro de 1983 assumiu o novo governo democrático.
[editar] Direitos humanos, transição à democracia e sublevantes militares
O governo de Raúl Alfonsín teve que enfrentar o problema da transição à democracia em um país com grande tradição de governos militares que havia chegado à tragédia do terrorismo de estado e da guerra.
Em 15 de dezembro de 1983, o presidente sanciona os decretos 157 e 158. Pelo primeiro, ordenava-se acusar os dirigentes das organizações guerrilheiras ERP e Montoneros; o segundo ordenava processo contra as três juntas militares que dirigiram o país desde o golpe militar de 24 de março de 1976 até a Guerra das Malvinas. No memsmo dia criou uma Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (CONADEP), integrada por diferentes personalidades com a missão de relevar, documentar e registrar casos e provas de violações aos direitos humanos, para fundar a acusação às juntas militares.
Em setembro de 1984 a CONADEP produz o informe "Nunca Más"[1]. Em 4 de outubro de 1984 a Câmara Federal (tribunal civil) toma a decisão de retirar do tribunal militar que estava acusando as juntas para fazer cargo diretamente ao mesmo. A acusação realizou-se entre 22 de abril e 14 de agosto de 1985, cuidando-se de 281 casos. Em 9 de dezembro publicou-se a sentença, condenando Jorge Videla e Eduardo Massera à prisão perpétua; Roberto Viola a 17 anos de prisão; Armando Lambruschini a 8 anos de prisão e Orlando Ramón Agosti a 4 anos de reclusão. Pelas características que teve, a condenação das juntas militares realizada por um governo democrático constitui um feito sem precedentes no mundo, que contrastou fortemente com as transições negociadas ocorridas no Uruguai, Chile, Brasil, Espanha, Portugal e África do Sul.
O governo de Alfonsín esteve pernamentemente ameaçado por setores das Forças Armadas que se negavam a aceitar a acusação por violações dos direitos humanos durante o regime militar anterior. Na Semana Santa de 1987 produziu-se uma grande rebelião militar encabeçada por jovens oficiais que se denominavam "caras pintadas". Ao mesmo tempo que os chefes militares demostravam que não estavam dispostos a obedecer as ordens do presidente Alfonsín e reprimir a insurreição, milhões de pessoas saíram às ruas para se opor ao levante militar. Durante vários dias o país esteve à beira da guerra civil. Finalmente Alfonsín, sem poder militar para frear um golpe de estado, negocia secretamente com os líderes militares uma série de medidas para evitar que se realizassem novos julgamentos contra militares por violações aos direitos humanos. Estas medidas se concretizaram nas leis de Obediência Devida e Ponto Final, não sem antes sofrer outras duas insurreições militares durante 1988 (18 de janeiro e 1 de dezembro) e um permanente estado de insubordinação das Forças Armadas.
[editar] Obra de governo
Durante o governo de Alfonsín restabeleceu-se a autonomia universitária quebrada em 1966, pôs-se em marcha o Plano Nacional de Alfabetização e o Plano Alimentar Nacional (PAN), além da sanção de leis de guarda compartida e divórcio matrimonial. Em 1987 o Congresso sanciona uma lei de transferência da capital do país para Viedma — capital da província de Rio Negro — como parte de um projeto para mudar o eixo político-econômico centralista que caracteriza o país, que fracassou.
No plano internacional destacou-se o protagonismo argentino no impulso ao Grupo Contadora (da América Central) para unificar a posição dos devedores frente aos credores e negociar a dívida externa; os acordos com o governo democrático do Brasil, que incluiriam posteriormente na formação do Mercosul (1991); a política externa de apoio aos processos de paz na América Latina e ajuda aos governos democráticos para consolidar o processo de transição à democracia na região; a firmação do Tratado de Paz e Amizade com o Chile (1985), que pôs fim a uma disputa de limites territoriais com aquele país, e com o qual a Argentina esteve a ponto de ir à guerra em 1978 e a presidência da 43ª Assembléia Geral das Nações Unidas (1989).
Na área econômica Alfonsín assume seu governo no momento em que produzia-se a grande crise mundial da dívida externa. Durante o governo militar a dívida externa argentina havia crescido de 7 bilhões de dólares em 1976 para 66 bilhões de dólares em 1983. Somado a isso, grande parte do aparato produtivo, sobretudo do setor industrial, havia quebrado. Diante dessa situação, Alfonsín decidiu aplicar em 1985 um plano econômico, o Plano Austral, que ele mesmo qualificou como "economia de guerra".
O Plano Austral conseguiu conter a inflação durante algum tempo, mas não pôde resolver os problemas estruturais da economia argentina no período. O congelamento dos salários, a decisão inicial de Alfonsín de atacar os sindicatos, a persistência da lei sindical fascista da ditadura e a identificação dos sindicatos com a oposição peronista levaram a um grande impasse entre o governo radical e a Central Geral dos Trabalhadores (CGT), expressa com 13 greves gerais. Por fim, o governo radical negocia com os sindicatos e sanciona por unanimidade a nova Lei Sindical.
Os graves problemas econômicos expressam-se em uma taxa de inflação de 343% em 1988 e o início de um processo hiperinflacionário a partir de fevereiro de 1989 superior a 3000% ao ano, o que fez aumentar a pobreza a um nível histórico até então: 47,3% em outubro de 1989 na Grande Buenos Aires.
É neste contexto econômico que se realizaram as eleições presidenciais de 14 de maio de 1989, com a vitória do candidato opositor, o peronista Carlos Menem, com 51% dos votos. A magnitude do caos econômico-social obrigou Alfonsín a antecipar a passagem do cargo, renunciando em 8 de julho daquele ano.
Pela primeira vez na história da Argentina realizava-se uma sucessão entre dois mandatários civis constitucionais de diferentes partidos políticos.
[editar] O Governo de Carlos Saúl Menem (1989-1999)
Menem governou a Argentina entre 1989 e 1999. Seu primeiro mandato começou em 1989, após vencer seu concorrente da União Cívica Radical por 15 pontos porcentuais. Recebeu o governo em 8 de julho de 1989, com o país mergulhado no caos econômico e inflacionário iniciado no governo de Alfonsín.
Durante seu primeiro mandato, Menem se concentrou em estabilizar a situação inflacionária do país. Para tanto, sancionou a Lei de Convertibilidade, impulsionada pelo seu ministro da economia Domingo Cavallo, que tinha o objetivo de equilibrar a equivalência entre o dólar e o peso argentino. Além disso, privatizou inúmeras empresas, abriu o mercado e firmou o Tratado de Assunção, que deu origem ao Mercosul, na intenção de formar um forte bloco econômico sul-americano e estabelecer um mercado comum entre seus membros. Também em seu primeiro mandato ocorreram os atentados à Embaixada de Israel (1992) e à Associação Mutual Israelita Argentina — AMIA (1994), em que morreram quase 100 pessoas.
Com a reforma constitucional de 1994, Menem se lançou à reeleição em 1995, vencendo seu opositor — José Octavio Bordón, da FREPASO — com 20 pontos porcentuais de diferença
O segundo mandato de Menem esteve caracterizado pelo aumento dos indicadores negativos, como o desemprego, a pobreza e o trabalho sem registro. Além disso a dívida externa aumentou em quase 82 bilhões de dólares. Estes problemas continuaram crescendo até a queda do sucessor de Menem, Fernando de la Rúa, em 2001. Ao final de 1998, quando a Corte Suprema decide que Menem não pode ser presidente pela terceira vez consecutiva, iniciou-se uma recessão de quatro anos que se tornaria a mais longa e destrutiva da história argentina.
[editar] A Crise Econômica
[editar] A Sucessão de De la Rúa
De forma interina, assume a Presidência do país o presidennte provisório do Senado, Ramón Puerta. Em 23 de dezembro a Assembléia Legislativa se reune, e nomeia presidente provisório o então governador da província de San Luis pelo Partido Justicialista Adolfo Rodríguez Saá. Em seu discurso no Congresso argentino, o novo presidente anuncia a moratória, ou suspensão do pagamento das obrigações por empréstimos a diferentes organismos internacionais de crédito, e a particulares que estivessem em posse de títulos da dívida externa argentina.
A estabilidade do novo governo e das forças de segurança é novamente posta em xeque diante do surgimento de novos conflitos nas proximidades da Casa Rosada e do Congresso Nacional: os manifestantes continuavam se aproximando dos edifícios do governo. São ouvidas repulsas contra os membros da Corte Suprema de Justiça, contra membros do novo gabinete e contra senadores e deputados, que não contavam com apoio popular. O lema mais retomado pelos manifestantes era o "Que se vayan todos", o que resumia o descontentamento que sofriam os políticos por parte de grande maioria da população. Alguns conflitos ocorreram dentro do Congresso Nacional, onde houve pequenos incêndios e quebra de cristais e mobiliário. Sem o apoio de importantes governadores, e também de integrantes de seu partido, Rodríguez Saá decide apresentar a renúncia ao cargo em 30 de dezembro de 2001.
Assume a presidência de forma interina o então presidente da Câmara de Deputados Eduardo Camaño. O Partido Justicialista propôe Eduardo Duhalde como presidente provisório. Em 31 de dezembro a Assembléia Legislativa aprova a proposta por grande maioria, e Duhalde assume o cargo em 2 de janeiro de 2002, permanecendo como presidente até maio de 2003.
[editar] O Governo de Néstor Kirchner
Em 27 de abril de 2003 realizou-se o primeiro turno das eleições presidenciais. Cinco candidatos reuniram a maioria dos votos: Carlos Menem (24%), Néstor Kirchner (22%), Ricardo López Murphy (16%), Adolfo Rodríguez Saá (14%) e Elisa Carrió (14%).
Carlos Menem, o candidato vencedor do primeiro turno, não se apresentou ao segundo turno — com sua queda contínua nas pesquisas, intencionava "deslegitimar" a eleição de seu oponente. Assim, foi declarado eleito presidente Néstor Kirchner, que assumiu seu mandato em 25 de maio de 2003. A data certa da conclusão de seu mandato é confusa: alguns analistas sustentam que seu mandato vence em 25 de maio de 2007, enquanto outros sustentam que vence em 10 de dezembro de 2007.
Kirchner assumiu confirmando Roberto Lavagna e outros membros do gabinete de Duhalde no seu governo. A linha econômica apresentada, com desvalorização do peso e compra de moeda para reservas internacionais, impulsionou as exportações e fez o Produto Interno Bruto aumentar cerca de 9% ao ano. Os índices de desemprego e pobreza do país vêm se reduzindo sensivelmente. Apesar disso, o salário real argentino encontra-se em seu pior nível histórico.
Em 30 de dezembro de 2004 um incêndio atingiu uma boate no centro de Buenos Aires — chamada República Cromañón — matando 194 pessoas e deixando cerca de mil feridos. Foi a segunda maior tragédia de causas não naturais do país, e provocou posteriormente o afastamento de Anibal Ibarra, então prefeito de Buenos Aires, do cargo, alegando-se "mau desempenho de suas funções". Ibarra, aliado de Kirchner, denunciou o seu afastamento como "um golpe institucional".[2]
O presidente tem significativo apoio popular, ao mesmo tempo que uma oposição fervorosa, fomentada principalmente pelo ex-presidente Carlos Menem. Sua postura agressiva já o fez entrar em conflitos com o Fundo Monetário Internacional e com a Igreja Católica, que criticou sua postura quanto à condenação dos responsáveis pela tortura no período militar. [3]Kirchner disse que alguns religiosos "não estavam quando se torturava durante a ditadura", sugerindo que eles cuidassem da própria instituição.[4]
A Argentina enfrenta na atualidade uma de suas mais graves crises diplomáticas com o Uruguai, devido à construção de duas plantas de celulose de capital europeu às margens do rio Uruguai. O investimento é o maior da história do vizinho, porém habitantes da localidade argentina de Gualeguaychú, separada de Fray Bentos (Uruguai) pela ponte Internacional Libertador San Martín, iniciaram dezenas de protestos para impedir a construção da fábrica, alegando enorme risco ambiental; para tanto, vêm fazendo sucessivos bloqueios na passagem entre os dois países. O governo argentino acionou o Tribunal Internacional de Justiça, na Bélgica, para tentar paralisar as obras, sem sucesso. No momento, o problema diplomático decorrente deste episódio está sendo mediado pelo rei da Espanha, Juan Carlos I. Kirchner chamou o presidente do Uruguai, Tabaré Vazquez, de "intransigente", além de criticar o Banco Mundial, que liberou 170 milhões de dólares em empréstimo para financiar a construção da fábrica da finlandesa Botnia.[5][6][7]
Apenas 12 anos após o atentado à AMIA (Associação Mutual Israelita-Argentina) a justiça argentina acusou formalmente os responsáveis. O atentado a bomba, ocorrido em 1994 em Buenos Aires, resultou na morte de 85 pessoas e mais de 300 feridos. Segundo a promotoria argentina, os mandantes e executores foram o governo do Irã e o grupo islâmico xiita Hezbollah. Dentre os pedidos de prisão expedidos, estão o do ex-presidente do Irã, Ali Akbar Hashemi Rafsanjani. As declarações do governo argentino foram rechaçadas por um porta-voz do Hezbollah em Beirute, dizendo que as acusações são parte de um complô sionista.[8]
Kirchner tranformou o Día Nacional de la Memoria por la Verdad y la Justicia, 24 de março, em feriado no ano de 2005, com o objetivo de recordar as vítimas produzidas durante o Processo de Reorganização Nacional. Os poderes argentinos têm atuado significativamente na punição de participantes da tortura no país, principalmente durante este período — acusando formalmente ex-presidentes e militares. Com a revogação das leis de anistia para os governantes e força de segurança da época, a Suprema Corte abriu caminho para a condenação de alguns de seus participantes. Em janeiro de 2007, um juiz argentino pediu a prisão da ex-presidente Isabellita Perón, acusando-a de assinar decretos durante seu governo que permitiram aos serviços militares praticar a tortura em "elementos subversivos", além da ação do grupo de extrema direita Aliança Anticomunista Argentina contra opositores de seu governo. Morando na Espanha desde 1981, Isabellita foi presa no país após pedido da Interpol, porém teve concendida a liberdade provisória devido à sua idade e saúde. A extradição, segundo o juiz, seria pedida pelo governo argentino em um prazo de 40 dias.[9]
[editar] Referências
[editar] Ligações Externas
- ↑ Instituto Nunca Más.
- ↑ Prefeito de Buenos Aires é destituído em decisão inédita
- ↑ Governo argentino autoriza acesso a arquivos das Forças Armadas
- ↑ Kirchner faz crítica e abre crise com a igreja na Argentina
- ↑ Kirchner chama Vázquez de "intransigente" e critica Banco Mundial
- ↑ Argentina pede ajuda do rei da Espanha em crise com Uruguai
- ↑ Amorim vê "evolução" na crise uruguaio-argentina em torno de celulose
- ↑ Promotores argentinos acusam Irã de atentado em 94, BBC Brasil
- ↑ Mais um juiz pede a prisão de Isabelita Perón, BBC Brasil
[editar] Bibliografia
História Geral
- CISNEROS, Andrés; ESCUDE, Carlos.. Historia de las Relaciones Exteriores Argentinas (1806-2000). Buenos Aires: CEMA, 2000. (Texto completo)
- GOROSTEGUI DE TORRES, Haydee (Org.); Vários autores. Historia Integral Argentina. Buenos Aires: CEAL, 1976.
- LUNA, Félix (Dir); Vários autores. Memorial de la Patria; 1804-1973; 28 livros. Buenos Aires: La Bastilla, . ISBN 950-07-0973-2
- ROSA, José María. Historia Argentina (1492-1946), 13 Volumes. Buenos Aires: Juan C. Granda, 1965.
- SIERRA, Vicente D.. Historia de la Argentina (1492-1852), 9 Volumes. Buenos Aires: Editorial Científica Argentina, 1967.